Capítulo 6

Stone angel

A tormenta...

Beta: Bella Lamounier

Kaoru apertava com força desmedida o pano de prato branco contra o peito. Não podia ser verdade... Kenshin não tinha o direito de procurá-la após tantos anos. Não agora que ele já não fazia mais nem parte de seus sonhos e que estava certa de que o relacionamento deles ficara renegado ao passado.

-Kaoru...

-O que você está fazendo aqui, senhor Himura?-falou ela, seca, sem nenhum sorriso.

-Eu sei que não devia...

-Se o senhor sabe então porque esta aqui?-perguntou, sarcástica.-Não é justo...

-Eu sei, Kaoru.-cortou, cabisbaixo.-Sei que sente apenas repúdio por minha pessoa, mas precisava vê-la.

Anos de silêncio e agora, do nada, ele reaparecia em sua vida como se tivesse ido à esquina comprar cigarro. Kenshin não havia mudado em nada. Mesmo convivendo com uma mulher que julgava ser uma bruxa, não aprendera a respeitar a individualidade alheia. Era um idiota, sem dúvida.

-Depois de tantos anos isso me parece meio piegas, Himura.

-Deve ser difícil para você acreditar em minhas palavras... Mas...-calou-se, indo até ela lentamente.-eu me arrependo profundamente de não ter lutado pelo o nosso amor.

Kenshin envelhecera drasticamente, mas sua presença de espírito continuava a encantá-la.

Burra, burra, burra, estava frente a frente com o homem que a deixara sozinha e grávida... E ainda conseguia ver beleza naquele velho quase calvo e barrigudo. Só podia ser uma besta igual a ele mesmo... Devia fugir dele e pedir que jamais voltasse a pisar em sua casa. Era arriscado demais.

-Você nunca me amou. -falou ela, visivelmente triste.-Apenas iludiu uma menina inocente para satisfazer o seu fetiche. Amar, na verdade, você nunca amou, apenas estava entediado com a sua possessiva esposa e eu, uma órfã apaixonada, estava à sua disposição.

-Não, Kaoru!-argumentou pertinho dela, podia sentir a sua respiração, o seu cheiro. Sentira saudade daquela mulher tão querida. – Eu sei que você não acredita em mim, mas eu a venho procurando durante anos...

Exasperada, Kaoru afastou-se dele a fim de conter o magnetismo que contagiara cada parte de seu corpo com o simples toque em seu braço.

-E porque tudo isso agora?-perguntou, revoltada.-Eu sofri e lutei, Kenshin, passei por momentos difíceis, desde que a sua adorável esposa retirou a minha bolsa de estudos... Estava sozinha, sem emprego, com a dignidade lá em baixo, enquanto você desfrutava as suas férias na Europa...

-Eu não desfrutei nada, Kaoru. Aqueles foram os piores meses da minha vida...

-Não só da sua.-falou, cortante.-Sofri, mas consegui te esquecer, Kenshin.

-Não minta, Kaoru.-falou, tentando segurá-la pelo braço.

Revoltada com ousadia dele, Kaoru, revidou com um leve tapa na mão de Kenshin.

-E você não me toque.

Cansado, Kenshin levou as mãos à cabeça.

-Eu reconstruí a minha vida, Kenshin.-falou em tom baixo.-Deus colocou um homem bom no meu caminho, que além de me dar lindas filhas me fez ver qual é o verdadeiro sentido do amor.

Kaoru se arrependeu logo em seguida de ter tido tais palavras. A dor nos olhos de Kenshin era tão latente que a machucou também. Além de tudo estava ocultando a verdade...Haru não era filha de Okki, mas sim daquele homem...

-Kaoru...Sei que não fui um homem honrado com você, sei também que já não me ama mais.-falou com os olhos vidrados nela.- Passei anos à sua procura, e foi através de sua filha que a reencontrei...

Seu coração parou de bater por alguns milésimos de segundos.

"Já parou para pensar que ele pode ser agora o professor de Haru?"

Kenshin conhecia a sua menina. Sentindo o calor e o medo subir e invadir todos os poros de seu corpo, Kaoru deixou-se cair no sofá.

-Haru?

-Sim, Haru Okki!-falou com um meio sorriso.-Bonita, inteligente, igual a você quando era jovem.

-C-como você a conheceu?

-Ela veio a minha procura ontem.-explicou, preocupado com o estado nervoso de Kaoru.-Foi por meio dela que a encontrei...

Estava com os nervos à flor da pele, contudo, não podia deixar transparecer o seu medo.

-Além de linda, é uma mulher digna.-completou ele, sorrindo.-Tenho inveja do seu marido, afinal ele construiu uma linda família com a mulher que amo e admiro.

-Kenshin, por favor.

-Certo, Kaoru.-resmungou, triste.-Eu perdi você e a chance de um dia ter uma família de verdade.

Silêncio...

-Porém, é por amá-la muito que eu devo alertá-la.

Kaoru ficou gelada, alguma coisa estava acontecendo com a sua menina...

-Está acontecendo algo com Haru?-perguntou, receosa. Temia descobrir que era ele o tal namorado misterioso.

Paralisada, Kaoru, sentiu o sangue fugir de seu corpo. A visão embaçada não conseguia mais focalizar nada a não ser a própria consternação.

-Fale, Kenshin...-pediu em um fio de voz.

Refletindo, o professor, não encontrou palavras para amenizar o choque que iria causar naquela adorável mulher. Que continuava tão bela como há quase dezoito anos atrás. A beleza madura e tranqüila o encantava. Contudo não podia poupá-la da verdade. Não queria cometer outro erro. Era a hora de desfazer todo o mal que havia cometido contra aquela mulher.

-Haru é uma boa menina...

-Fale de uma vez por todas, Kenshin!

-O destino é cruel, Kaoru. Ele nos uniu e separou logo depois. Nada foge dele... E eu sabia que os nossos destinos estavam ligados irremediavelmente e para sempre.

Ele sabia...Ele sabia que Haru era filha dele. Então porque esse olhar inocente. Porque não falava de uma vez, pensou ela mordendo os lábios.

-Eu temo por ela que é tão frágil. Sayu é cruel quando alguém invade o que acha que é seu por direito. –pegando nas mãos geladas de Kaoru, Kenshin suspirou.-Temo pelo amor que une nossos filhos, Kao. Não quero que Sayu destrua o amor puro de Kaito e Haru... E espero contar com a sua ajuda.

Estava frente a frente com o seu pior medo...

Haru... Kaito Himura... Juntos.

Seu maior pesadelo...

Toda aquela informação foi demais para os nervos de Kaoru, que cansada caiu no colo de Kenshin.

OoooooO

-Ora seu preguiçoso, até Inauro levantou, e você ficar ai fazendo biquinho porque eu me nego a fazer café.-resmungou Haru com um meio sorriso, enquanto vestia o roupão pesado.-É melhor se levantar, senão vou denunciar você para o conselho.

-Deviam proibir o sexo feminino de falar.-comentou Kaito, contrafeito, cobrindo a cabeça com travesseiro.

-Não vem com o seu chauvinismo, meu amor, porque desta vez não vou ficar irada com o seu vocabulário.

Amava, Haru, mas o que não gostava era aqueles trejeitos de irmã mais velha que ela reservava apenas a ele. Ora, ela já o conhecia perfeitamente bem para saber que odiava acordar cedo... As manhãs deviam ser proibidas e ilegais.

-Anda logo, Haru, ou senão vai perder a palestra.

-Quer me ver longe não é mesmo, Kaito...!

-Não é essa questão, pequena.-falou ele com os olhos fechados.-Após a noite de ontem vou precisar de pelo menos mais doze horas de sono para recupera o fôlego. Já não sou tão jovem assim...

-Quem ouve pensa que eu sou ninfomaníaca.-completou sarcasticamente.

-E não é?-perguntou ele.-Ontem a senhorita quase me matou.

-Ora, querido...

-Olha, querida... De quer ver seu futuro marido feliz, feche essa janela e se dirija até a sua palestra sem reclamar.

-É impressão minha ou está me colocando para fora da minha própria casa, Kaito-Kun?-perguntou com falsa inocência.

-Não, não é apenas impressão, mas a verdade.-resmungou ele, atirando mais um travesseiro nela, porém desta vez acertou o desastrado gato que se encolheu de medo aos pés da dona.

-Realmente, Kai...-terminou exasperada, já saindo do quarto com o pequeno gato no colo.

OooooO

-Você está linda hoje, senhora.-murmurou a secretária de seu marido.

-Obrigada, Yub.-agradeceu, sorrindo.-Porém não estou aqui para recebe elogios e sim para falar com o meu marido.-continuou em tom sarcástico.-Espero encontrá-lo trabalhando e não paquerando outra universitária.

Pálida, Yubi temeu por alguns instantes contar que Kenshin não estava trabalhando e que não aparecia por ali há dois dias. E conhecendo bem o gênio difícil da esposa de seu chefe sabia que ela não gostaria em nada daquela notícia. Entretanto não poderia esconder a verdade...

-O professor Himura não veio trabalhar hoje, senhora.

Como sempre a bela e fria esposa de Kenshin não esboçou reação nenhuma, apenas sorriu, como se já soubesse o paradeiro do marido (certamente na cama como alguma universitária).

-Já era de se esperar. -comentou cinicamente, acendendo o cigarro fino e ignorando completamente o aviso pregado na parede de que era proibido fumar em recinto fechado. – Meu marido ainda pensa que meu pai é eterno... Lerdo engano.

Uma mulher dura e dona de uma sagacidade impressionante, essa era a mais completa tradução da alma de Sayu. Não sabia o que eram regras, pois elas nunca lhe haviam sido impostas. Não conhecia amor e sim o gosto da obsessão seca, por um homem que a humilhava tendo vários casos extraconjugais. Contudo se orgulhava de ser uma das poucas mulheres que jamais seriam esquecidas.

-Bem, Yabi...

-É Yubi, senhora. -corrigiu discretamente.

-Que seja Yubiwa, minha jovem, para mim tanto faz seu nome. -cortou seca. -Só quero que dê o seguinte recado.-pegou a caneta vulgar da secretária e um pequeno papel e escreveu com a sua letra orgulhosa e altiva que descrevia a personalidade forte.

"Querido, amado, adorado, Kenshin...

Esse não um ofício, mas por meio dessa comunico que preciso marcar uma audiência para falar com você. Há dias não o vejo e espero que não esteja catando (no dialeto dos jovens de hoje em dia catar é pegar mulher, acredito que já tenha conhecimento, afinal caçar galinhas sempre foi seu esporte favorito, não?) nenhuma universitária, afinal hoje em dia aliciar jovens meninas é crime e dá até cadeia.

Não meu preocupo quanto a isso, afinal sempre seria a pedra no seu sapato ou bonito calo.

Realmente precisa conversar com você... É sobre nosso filho, Kaito. Creio que o relacionamento dele seja contra as leis de Deus... Se é que me entende.

Sem mais...

Sayu, sua esposa! "

Sorrindo, Sayu entregou o bilhete à secretária.

-Bem, querida Yuba.-errou o novamente o nome, não porque não sabia, mas pelo simples gesto de colocar a menina em seu devido lugar.- Entregue essa missiva a meu marido o quanto antes.

-Sim, senhora.

Dando as costas, Sayu gargalhou vitoriosa...

Não percebendo o olhar de desdém da secretária.

OooooO

Uma pessoa oculta pelas sombras vigiava a porta do escritório da reitoria da universidade, aguardando a saída de uma pessoa. Escondida entre os arbustos e árvores, pegou a pistola e carregou os pentes de munição. Queria a certeza de que a sua vítima não escaparia com vida do atentado.

Teria que ser profissional no que fazia...

Limpando a testa suada, o atirador sentia o cheiro da pólvora.

Um, dois, três, o celular vibrou no bolso esquerdo da calca cargo. Atendendo no primeiro toque nada falou...Apenas escutou.

-Ela está descendo.-um suspiro.-Em menos de dois minutos ela estará aí. Fique atento. Não dê sopa para o azar.

Quatro, cinco, seis... Viu o motorista sair do carro.

Ela estava chegando! Ergue a pistola, mirando na porta.

Sete, oito, nove, dez!

A mulher entrou no campo de visão, sem perde tempo disparou, cinco, dez vezes até vê-la tomba sem vida no chão. Rapidamente aguardou a arma e correu em disparada até o fusquinha cinza. Batendo a porta, entrou em menos de dois minutos estava na estrada de Akari.

Só assim, satisfeito, pôde sorrir. Pegando o celular, discou o número conhecido.

Ouviu os três toques até que a ligação foi completada.

-Missão comprida, senhora. –falou, ainda ofegante. - Há essa hora, Sayu Himura está no inferno pagando por todos os seus pecados.

Continua...

Oieeee!

Bem, depois de um século estou de volta com Stone Angel. Desta vez não foi falta de inspiração, dói pura e genuína preguiça. Sei que não tenho perdão, mas pelo menos o capítulo saiu, neh? Já pensou se ela entrasse em um estado de hibernação intensivo como LP. Xd

O fator é que MATEI Sayu... pobre mulher foi eliminada sem dor e piedade. A historia entra em outro estagio... como Sayu morta, mas viva em cada ato que vai desenrola. Afinal há uma assassina por de traz disso...

Queria agradecer a Cam-oba, Sachi, Lan Ayath, Mamy, Misaogap e Hime Hayashi.

Por hoje é só!

Espero por sua opinião!

Beijosss!

Anna C. Lennox