Mudanças
Lílian Evans estava no vagão de monitores recebendo instruções para seu último ano em Hogwarts. Ela havia sido nomeada monitora chefe e sabia que agora tinha mais responsabilidades, não só com os estudos para os N.I.E.M.s, mas com a disciplina dos alunos. Quatro alunos em particular têm sido um desafio e tanto desde que fora nomeado monitora.
Sim, os marotos. Os piores são sem dúvida nenhuma Sirius Black e Tiago Potter. O único que poderia dar algum tipo de exemplo para esses dois seria Remo Lupin, também monitor, e embora não fosse monitor chefe, impunha algum respeito. Lupin, porém, parecia submisso às vontades desses dois. Quanto a Pedro Pettigrew, este não teria coragem sequer de lançar qualquer azaração se não for protegido pelos três amigos.
Saindo para uma inspeção pelos corredores do trem, Lílian encontrou justamente quem ela não queria ver: Tiago Potter. Desde que podia se lembrar, Potter sempre insistia para que ela saísse com ele, tentando se exibir com aquele cabelo arrepiado e o seu talento no quadribol. Lílian sempre recusou, não suportava aquele jeito exibido e bonachão dele.
No último ano ele tentou outras estratégias, se exibindo com namoradinhas que não duravam mais de uma semana, sem sucesso, porque Lílian não se importou nem um pouco.
Tiago estava com seus companheiros inseparáveis bem no meio do corredor. Sirius era o mais entediado e quando viu Lupin se adiantou:
– Até que enfim, Remo! Pensei que essa reunião não terminaria nunca! Então, vamos para a nossa cabine?
– Sirius, você sabe que eu tenho que patrulhar o corredor – respondeu Lupin, sorrindo descontraído.
– Perfeito! – exclamou Sirius, sorrindo maliciosamente – Assim nós o ajudamos! Precisamos mesmo animar o Tiago. Cara, nem parece o mesmo.
E foi nesse momento que Lílian observou o semblante de Tiago: estava sorrindo, mas tinha algo estranho. Não era o mesmo sorriso maroto e arrogante que ele costumava exibir, estava triste. Mesmo quando seus olhares se encontraram, Lílian percebeu que Tiago não tinha nada a dizer, nem mesmo uma gracinha sequer.
Eles se encararam por alguns segundos, até que ele sentiu Sirius puxar suas vestes para acompanhá-los. Tiago se virou para falar com Lílian, mas parecia que estava sem fala, pois apenas piscou para ela. No primeiro momento, Lílian o achou abusado, porém percebeu que o sorriso dele ainda era triste.
"Comportamento estranho" - pensou ela – "Será que está doente?".
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Dias se passaram e as armações dos marotos parecia ter diminuído. "O que não é normal para o nível de brincadeiras que eles costumam aprontar", Lílian pensou, cautelosa. Talvez por ser o ano dos N.I.E.M.s eles tenham finalmente criado juízo... ou talvez não.
O que mais a surpreendeu foi a indiferença do Potter em relação a ela. Não que fizesse diferença, imagina. Não para ela, Lílian Evans. Mas de certa forma essa ausência de infortúnios fez com que ela pensasse no que esses quatro bagunceiros estavam aprontando.
Foi num dia de chuva que ela encontrou os quatro sentados próximos à lareira. Remo e Tiago pareciam muito entretidos nos livros, enquanto Sirius e Pedro jogavam xadrez bruxo.
Ao contrário de Lupin, que parecia muito interessado no que lia, Potter parecia muito entediado. Ficava batendo a pena no pergaminho sem parar, até que Black se irritou.
– Dá pra parar com essa pena? Quem é que consegue se concentrar com todo esse barulho, Pontas?
Pontas... Lílian sempre os ouviu chamarem uns aos outros por apelidos estranhos, como Pontas ou Aluado, e nunca entendeu o porquê. Algum código secreto, talvez, ou então algo que tenha acontecido com os quatro para se chamarem assim. Ela nunca pensou na possibilidade deles terem se tornado animagos não cadastrados.
Somente quando Sirius atirou uma das peças de xadrez em Tiago é que ele saiu do que parecia ser um transe.
– Ai! Que... – Tiago massageava a cabeça no ponto atingido – Ah, desculpe, Almofadinhas... Eu acabei me distraindo.
– Isso está ficando cada vez mais freqüente, Tiago – Lupin fechou o livro e enrolou o pergaminho – Desde as férias. Desde que...
– É, eu sei – Tiago o interrompeu – Mas não dá pra não lembrar, eu me sinto um inútil quando penso no que aconteceu.
– Você não podia fazer nada. Ninguém podia. – respondeu Pedro se encolhendo um pouco.
– Não podia... – repetiu Tiago, pensativo – Mas eu tenho como fazer algo agora. Vai depender dos N.I.E.M.s e dessa vez eu tenho que estudar.
– Ei, cara! - Sirius se levantou – Eu sei no que está pensando e estou contigo, mas não vai conseguir nada enfiando a cara nos livros dessa forma, forçado. Relaxa, se vamos nos dar bem, tem que ser no nosso velho estilo. O que acha de darmos uma volta pelos corredores?
Em meio aos incentivos de seus amigos, Tiago sorriu, e dessa vez Lílian constatou que era seu sorriso habitual.
– Aceito! Onde estava com a cabeça que não pensei em me divertir... – concluiu ele, em tom de censura - Vamos pegar alguma coisa da cozinha, estou faminto!
– Boa idéia! – concordou Pedro.
– Você está sempre com fome, Rabicho. – retorquiu Sirius, enquanto saíam do Salão Comunal.
