II – O Acidente:

No dia seguinte, Lílian passeava com duas amigas pelo jardim. Sentou-se na sombra de uma árvore e continuava conversando, até que ouviu as costumeiras risadas que tanto a irritavam. Os marotos saíam do castelo em direção ao campo de quadribol, Potter com sua vassoura. Conversavam no tom bonachão de sempre e mexiam com alguns calouros que passavam por ali.

"Hunf! Então quer dizer que eles voltaram ao normal".

– Vamos assistir ao treino de quadribol? – perguntou Lea, uma das amigas que a acompanhava.

– E desde quando você se interessa por quadribol? – perguntou Sabrina, curiosa.

– Desde que Tiago Potter voltou dessas férias. – Lea respondeu com um sorrisinho – Sabe, ele está bem mais bonito agora do que no ano anterior, vocês não acham?

– É uma pena que você tenha um mau gosto, Lea – Lílian respondeu irritada, o que depois descobriu ser na verdade despeito – Eu sinceramente preferiria ficar por aqui mesmo.

– Então fique. Quem sou eu para forçá-la? – Lea desdenhou – Vamos, Sabrina?

As duas se levantaram e Lílian se viu obrigada a ir também. Não porque quisesse ver o treino, mas sim porque não queria ficar sozinha. Fez uma careta e se levantou.

Passando pelos mesmos calouros que foram incomodados pelos marotos, Lílian ouviu a conversa deles:

– Você viu? Aqueles caras entendem de quadribol mesmo! As dicas são boas, não acham?

"Quer dizer que eles não estavam fazendo troça?" – Lílian pensou confusa.

Chegando ao campo, viram as vassouras no ar. Todo o time treinava lances e assim que Lea localizou Tiago, deu um gritinho de excitação. Lílian revirou os olhos, censurando a amiga.

Acompanhava o treino um pouco entediada, olhando de vez em quando para o céu, como se quisesse conferir o tempo. Sua irritação era maior apenas pelo fato de que sempre que olhava para cima, via Tiago em sua vassoura, correndo de um ponto a outro do campo.

Os outros três marotos estavam um pouco acima, de modo que só ouviam alguns comentários sobre os lances dos jogadores. Até que Lílian conseguiu ouvir algo que muito a interessou:

– Vocês acham que o Tiago está melhor? – era a voz de Lupin.

– Claro que sim – respondeu Sirius, mas de repente sua voz ficou mais séria – Mas realmente ele ficou muito mal com o que aconteceu ao pai dele...

– Ele não podia fazer nada, ninguém podia – Rabicho resmungou – Ele é muito forte...

– Voldemort pode ser forte, mas não é invencível. – retrucou Sirius – O pai do Tiago morreu naquele ataque dos comensais, mas isso não quer dizer que não possamos derrotá-los. Por isso o Tiago tem se esforçado mais, ele quer ser auror.

– Nós também queremos, mas Tiago nem precisa estudar tanto – disse Lupin – Por incrível que pareça, as notas dele não diminuíram, muito pelo contrário.

Lílian estava tão distraída com a conversa que nem reparou nos gritos que eram direcionados a ela. Só quando Sabrina a puxou com tudo é que ela se deu conta de que um balaço estava voando direto em sua direção.

Antes que pudesse desviar, um vulto surgiu na sua frente, recebendo todo o impacto do balaço. Lílian conseguiu desviar do vulto, que foi lançado para as cadeiras acima, na arquibancada, e constatou que era o próprio Potter, que se jogara com a vassoura na frente do balaço.

O treino foi interrompido imediatamente e, apesar da bagunça que se formou, Lílian ouviu quando Sirius avançou nos batedores.

– Vocês são batedores ou o quê? – gritava ele – Nem pra desviar um balaço vocês servem! Não sei como conseguimos ganhar a taça com dois idiotas como vocês!

Todos estavam em volta de Tiago, e Lílian se aproximou da aglomeração que era o time de quadribol, os marotos e também suas amigas. Conseguiu ver Potter ainda deitado no chão, tentando se levantar. Lupin tentava fazer com que ele continuasse deitado, para não fazer esforço.

– Estou bem... AI! – gritou ele, colocando uma das mãos na perna, que estava dobrada de uma forma estranha e a outra nas costas.

– Pelo visto você não está tão bem quanto diz... – censurou Lupin – Vamos carregá-lo, temos que levá-lo para Madame Pomfrey.

Logo ele foi carregado pelos amigos, Sirius lançando um olhar feroz aos batedores. Saíram da arquibancada sem que Tiago sequer falasse com Lílian. Descendo da arquibancada, Lea ralhou com a amiga.

– Lílian, como você pode ser tão desalmada?

– O que? O que eu fiz?

– Ora essa! – Lea continuava emburrada – O Potter estava do outro lado do campo e assim que viu que o balaço vinha pra cá, ele se apressou em voar na nossa direção!

– E eu com isso? – Lílian começou a ficar irritada.

– E você com isso? Ele passou pelos dois batedores cegos de uma vez só pra impedir que o balaço te acertasse e você nem pra agradecer?

– Isso é verdade, Lily... Você podia ter pelo menos agradecido. – Sabrina completou em tom de censura. Lílian ficou indignada.

– Oras, eu nem pedi nada pra ele! Ele se jogou na frente do balaço porque quis!

– Porque ele também não tirava os olhos de você! – Sabrina exclamou. Lea murchou um pouco e Lílian corou, mas respondeu:

– Como se eu me importasse com ele!

Dizendo isso, apressou o passo. Não precisava que suas amigas a criticassem. Além do mais, aquele Potter exibido deve ter feito isso para tentar ganhar algum mérito com ela. È, foi isso. Ele não faria nada que não fosse em benefício próprio, queria ganhar a confiança dela, desde o quarto ano ele a importunava para sair e... E por que então Lílian se sentia culpada?

Chegando no Salão Comunal, Lílian encontrou Lupin e Pedro. Ela se aproximou meio sem graça para perguntar:

– Hum... Como ele está?

Lupin, que percebeu quando a jovem se aproximou, arrumou sua postura na poltrona.

– Quebrou a perna e algumas costelas, mas vai ficar como novo. Nada que Madame Pomfrey não cuide.

– Ah... ainda bem... – Lílian respondeu, um pouco tímida.

– Por que você mesma não pergunta a ele, para ter certeza? – Lupin sugeriu, sorrindo – Acho que ele vai se sentir bem se você for agradecer.

Lílian deu uma desculpa qualquer e subiu para o dormitório. "Pelo menos ele vai ficar bom". Mas ela ainda não se sentia bem. Parecia que algo estava faltando, então quando ouviu no jantar que Tiago passaria a noite na Ala Hospitalar, criou coragem e rumou para lá, mesmo sabendo que não era o horário de visitas.

Surpreendeu-se quando chegou na Ala Hospitalar e ele estava lá, rindo, parecendo muito satisfeito, e deduziu que a presença de Lea ajudava um pouco. Lílian permaneceu na entrada do aposento, com receio se deveria entrar ou não. O riso de Tiago não ajudava muito, e vez ou outra ela ouviu a voz de Madame Pomfrey pedindo para que ele falasse mais baixo, ou não permitiria mais visitas.

Observando o rosto de Potter, ela percebeu que ele estava um pouco pálido, mas o sorriso era radiante. Os cabelos estavam mais arrepiados ainda, "do jeito que ele sempre quis" pensou Lílian, mas faltava um brilho nos olhos que ela conhecia bem. Estava tão absorta que não conseguiu se esconder a tempo quando ele olhou para a porta e a viu.

– Ei, Evans! Você por aqui? – ele tentou se esticar para vê-la melhor, mas recuou, massageando o pescoço.

Para não ficar numa situação mais constrangedora, Lílian entrou na Ala Hospitalar séria. Lea não parecia muito satisfeita em ver a amiga, mas Tiago sorria e Lílian podia jurar que o brilho nos olhos dele voltara.

– Então veio me ver? – ele parecia estar se divertindo.

– Bem... – ela respondeu, a contragosto – É, eu fiquei sabendo que você se machucou por causa daquele balaço e...

– Ah, tudo bem – Tiago interrompeu – Se eu tivesse um bastão de batedor teria rebatido, mas apanhador usa as próprias mãos, você sabe...

Ela esboçou um sorriso e ele riu.

– Acho que é a primeira vez que você sorri de uma piada minha.

Lea se despediu.

– Vou dormir, amanhã temos aula. – disse ela com azedume – Você não vem, Lílian?

– Ah, a Evans pode ficar um pouco mais, não é mesmo? – perguntou Tiago, esperançoso, olhando para Lílian.

– Eu... tudo bem... – ela viu que, se fosse com Lea, levaria uma bronca. Além do mais, cumpriria sua obrigação e agradeceria por ele tê-la defendido.

Lea saiu bufando e Lílian se sentou onde a amiga estava. Permaneceu em silêncio, olhando para aqueles olhos negros brilhantes que teimavam em transmitir alegria. Foi Tiago quem quebrou o gelo.

– Você não deve ter vindo apenas para ficar me encarando. – ele disse em tom risonho – Não que isso me incomode, de forma alguma, mas e se Madame Pomfrey quiser dormir?

– Então eu vou direto ao assunto. – disse Lílian um pouco tímida, ao mesmo tempo seca – Eu só queria agradecer pelo que você fez...

Tiago riu. Lílian não entendeu qual era a graça e já ia ralhar com ele, porém ele a desarmou, pegando em sua mão e levando-a a boca, beijando-a suavemente. Ela ficou arrepiada com o gesto dele, nunca pensou que Tiago Potter fosse capaz de algum tipo de delicadeza desse tipo.

– Não precisa agradecer – ele respondeu da forma mais suave que ela já tinha presenciado. Ele tornou a falar, agora com seu jeito brincalhão de sempre – Mas seria muito ruim ver sua cabeça rachada por aquele balaço, não seria?

Lílian estava ruborizada, mas essa última gracinha do Potter pareceu fazê-la voltar a realidade. Se livrou da mão dele.

– Você não se cansa de fazer brincadeira de tudo? Parece que não leva nada a sério!

Ele continuou sorrindo, embora Lílian percebesse que era um sorriso triste. Ficou envergonhada do que disse.

– Desculpe, acho que fui muito rude dessa vez... – ela se levantou, se despedindo – Eu vim aqui para agradecer e acabo sendo grosseira. Não queria, não queria mesmo...

– Não, tudo bem – Tiago não mais sorria – Está ficando mesmo muito tarde, a monitora chefe tem que dar o exemplo e cumprir as normas de dormir cedo...

Lílian ficou chateada com aquela situação. Pensara que pelo menos naquele momento os dois poderiam conversar civilizadamente, de forma que não brigassem. Deu boa noite e saiu da Ala Hospitalar.

Ele pareceu decepcionado. Sempre que conseguia chegar perto dela, acontecia algo para Lílian ter que brigar e sair de perto dele. Assim que Lílian saiu, Madame Pomfrey o medicou mais uma vez e se retirou. Mal ela fechou a porta, Sirius saía de baixo da capa de Invisibilidade com Lupin.

– Pensei que elas não iam embora nunca – retrucou Sirius.

– E o Pedro? – Tiago não ficou surpreso ao ver os dois.

– Caiu no sono logo após o jantar – Lupin respondeu – Você sabe que é impossível tentar acordá-lo.

– O que vocês trouxeram para mim? – perguntou Tiago, forçando um sorriso amarelo. Lupin desconfiou.

– Pegamos umas bombas de chocolate da cozinha – disse ele – Mas me conta, você ainda gosta da Evans?

– Claro que gosta, se derreteu todo quando ela apareceu – Sirius riu – Ela tentando baixar a crista e te agradecer foi a parte mais engraçada. Por um momento eu pensei que ela fosse fazer isso – Sirius juntou as mãos, como se fosse fazer uma prece e piscou várias vezes rapidamente – Meu herói!

– Acho que não vou mais emprestar minha capa para vocês. – Tiago falou, enquanto comia – Foi muita indiscrição ouvir minha conversa com a Evans.

– Pois muito me admira você ainda gostar dela e não conseguir chamá-la pelo nome. – zombou Lupin – Vai dizer que você não sabe o primeiro nome dela?

– Claro que sei! – Tiago falou com tanta convicção que algumas migalhas do bolo caíram no lençol – Opa, espero que Madame Pomfrey não perceba... Mas voltando ao assunto, você deve saber que Lílian Evans não é tão fácil assim de se conquistar.

– Quem deve saber mesmo é você – riu Lupin – Desde do 3º ano você fica de olho nela e já a chamou para sair várias vezes. Até quando ela começou a namorar o capitão do time da Corvinal você fez de tudo para o namoro terminar.

– É, eu lembro. Só que eu acho que é melhor desistir – Tiago limpava a boca nos lençóis.

– Você, desistindo de algo? E ainda por cima da Evans? – Sirius estava surpreso – Qual é, Tiago? Não estou te reconhecendo!

– Eu não posso forçar a Lílian a gostar de mim – Tiago respondeu pensativo – E se nesses anos todos em que eu tentei me aproximar, ela sempre pareceu odiar a idéia de ficar comigo... Será que eu cheiro mal?

– Nãããão... – Sirius fez um gesto com as mãos indicando para Tiago esquecer essa hipótese, enquanto Lupin ria – Eu e o Aluado aqui sabemos que você não fede, nosso faro não mente, quero dizer, só quando joga quadribol, porque você transpira feito um porco.

– Muito obrigado pelo apoio, Almofadinhas... – Tiago revirou os olhos.

– Quando precisar, é só chamar – Sirius fez uma reverência.

Tiveram que sair depois dessa encenação, pois Madame Pomfrey voltava para mais um medicamento e Sirius e Lupin se esconderam novamente debaixo da capa, saindo em seguida para conversar com Tiago, conversa que durou até a madrugada.

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N.A: Queria agradecer as reviews:

Mah Clarinha: Sim, eu postei no 3V, na floreio e no Edwiges Home Page, decidi postar aqui também. Que bom que goste da fic, é uma das poucas românticas que eu escrevi.

Daisuka M, aqui explica bem o que acontece com o James, como a fic é curta, então não tem tanto mistério. risos Eu quis mesmo mostrar como o comportamento dele mudou, ele amadureceu em certos assuntos. Ah, obrigada por comentar Dossiê Lovegood, ela vai ter continuação, mas como estou com outras fics pendentes, vai demorar um pouco.

Flavinha: Pode deixar, eu não vou demorar pra postar, acho que amanhã eu posto outro capítulo. ;-)

Tainah: É, até o Tiago fica triste, mas calma que tudo se explica! rsrs

Renata: Obrigada! Espero que goste desse capítulo e dos próximos também.

Beijos a todas.