V – Quando o Amor Acontece:
Enfim chegou o grande dia. O Baile em homenagem a Dumbledore na verdade foi incentivo dos próprios professores, que depois de muito insistirem, convenceram o diretor a promover o baile.
Lílian foi convidada por Remo e no momento em que ele fez o convite, ela pensou em negar, pois pensou que pudesse ser algum tipo de brincadeira dos marotos. Mas Remo, mesmo sendo um maroto, era sensato, e por isso ela aceitou.
Seu vestido era um dos mais simples, no entanto ficava perfeito em seu corpo, de modo que se destacava das demais colegas. Era um vestido de alcinha, com um corpete bem apertado, alargando na saia. O decote chamava a atenção para o desenho feito com algumas pedras brilhantes. O cabelo preso apenas para armar as mechas estava enfeitado com vários grampos que tinham detalhes em brilhante.
Comparada com suas amigas, Lílian estava deslumbrante. Ao vê-la no Salão Principal, Tiago ficou boquiaberto e não conseguia desviar os olhos quando Lílian e Remo entraram de braços dados. Sentiu o sangue ferver e uma vontade quase incontrolável de ir até eles, socar seu amigo e dizer algumas verdades para ela.
Conteve-se desse impulso, pois Lea o puxava para a pista de dança. Ela trajava um vestido preto, cheio de detalhes que faziam Tiago se sentir um pouco tonto. Na verdade, Tiago sentia-se entediado com aquele namoro e com a companhia daquela garota, além do incômodo que sentia ao ver Remo e Lílian dançando. Em outros anos, ele teria simplesmente saído da pista de dança sem dar maior satisfação, mas se sentiu obrigado a falar.
– Lea, quero conversar...
Foram para o jardim. O tempo estava nublando, nuvens carregadas começavam a cobrir a lua. Lea estava sorridente, mas, percebendo a seriedade no rosto de Tiago, seu sorriso foi diminuindo.
– Eu queria falar agora com você, porque não quero magoar mais ninguém. – ele começou – Além do mais, estou enganando a mim mesmo prosseguindo esse namoro.
Ela o ouvia e a cada palavra o que restava de um sorriso se desfez por completo. Perguntou:
– Você não quer mais namorar comigo? – Tiago ia responder, mas Lea começou a choramingar e continuou – É por causa dela, não é? Você sempre deu em cima da Lílian...
– Lea, sinto muito, mas se continuasse com esse namoro seria pior para nós dois...
– Eu... eu na verdade já esperava por isso... Quero dizer, pensei que você tivesse esquecido dela, afinal, ela sempre te detestou. – Tiago sentiu uma pontada no peito – Mas eu compreendo e nem sei por que estou tão chateada – Lea afastou uma lágrima do olho – Afinal, não ia dar certo desse jeito...
Dizendo isso, rumou de volta para o Salão Principal sozinha. Tiago esperou alguns minutos para reaparecer por lá. Se arrependeu de não ter conversado com Lea depois do baile, porque agora se viu completamente sozinho, com Remo e Sirius dançando com seus pares e Pedro tentando convencer alguma garota para acompanhá-lo na pista de dança.
Conseguiu ocupar uma cadeira vazia e assistia, entediado, às pessoas dançando. Estava tão desanimado que não tinha vontade alguma de convidar nenhuma garota para dançar, mesmo percebendo que em uma das mesas havia algumas lufas que o observavam cobiçosas.
Não demorou muito para que Sirius e Lupin fossem falar com ele, percebendo a gravidade da situação ao verem Tiago entornar o terceiro copo de cerveja amanteigada.
– Ei, Pontas! Cadê o seu par? – Sirius perguntou de praxe.
– Deve ter arrumado outro par – respondeu ele, desanimado. Voltando-se para Remo, perguntou – E quanto a você? Está se divertindo?
– Como é que eu posso me divertir vendo um amigo meu tão desanimado? – Lupin se indignou – Eu sabia que você ainda gostava dela, Tiago, e eu a convidei para que você tivesse a oportunidade de falar com ela.
– Só que o seu plano não funciona se ela não quiser falar comigo.
– Ah, vai sim – Sirius respondeu, tirando um longo lenço branco de seu bolso.
Adivinhando o plano dos amigos, Tiago finalmente sorriu aquela noite. Disse para esperarem, porque queria pegar algo no dormitório. Voltou cinco minutos depois, ainda mais descontraído.
A velha brincadeira do lenço. Um rapaz mostra o lenço para um casal na pista de dança e deve dançar com a moça, enquanto que o antigo parceiro de dança vai a procura de outro par com o lenço na mão, seguindo com a brincadeira.
Os três marotos pediram para o professor Dumbledore começar a brincadeira e assim seguiu. Até mesmo Pedro conseguiu um par graças à brincadeira, mas a garota não parecia muito satisfeita com o desempenho dele, que pisava em seu pé de vez em quando.
Para conseguir pegar o lenço, foi preciso que Sirius passasse para Tiago, que se recusava a tirar outra garota para dançar que não fosse Lílian. Quando finalmente o lenço chegou em suas mãos, Tiago foi direto para Remo e Lílian, praticamente esfregando o lenço no rosto do amigo, de tanta excitação.
– Será que posso interromper?
– Acho que não – Lílian respondeu rispidamente.
– Ah, Tiago! Você tem o lenço, não é? – Remo fingiu surpresa – Então eu não tenho escolha...
– Mas eu tenho – Lílian desviou os olhos – Vou descansar um pouco.
– Não antes de dançar pelo menos uma música comigo – disse Tiago, enlaçando a garota pela cintura. – Não vai me fazer essa desfeita, vai, Evans?
Lílian estava pronta para brigar com ele por ter tanto atrevimento. Contudo, quando seus olhos encontraram os de Tiago, ela se viu desarmada pela alegria que ele transmitia e não conseguiu negar pelo menos aquela dança.
Porém, os dois ficaram dançando não somente uma, mas várias músicas. Por incrível que pareça, ninguém os interrompeu com o lenço uma vez sequer, o que Tiago sabia que teria que agradecer a Remo e Sirius mais tarde.
Pensou em tomar a iniciativa para uma conversa, mas não sabia bem o que dizer. Não queria estragar tudo de novo, a última coisa que Tiago queria era que Lílian se zangasse novamente. Lílian tinha muito a dizer a ele, muitos desaforos que queria desabafar e também a falta que sentia de suas implicâncias.
– E a Lea? – finalmente ela quebrou o gelo – Ela não vai se incomodar por estarmos dançando há tanto tempo?
– Acho que não. – Tiago respondeu, dando de ombros – Eu... rompi com ela. Foi melhor, eu não queria parecer um canalha, magoando seus sentimentos, então contei tudo.
– Tudo? – Lílian ficou desconfiada.
– Sim... – eles pararam de dançar e começaram a andar em direção ao jardim – Eu tive de contar a ela que não podia continuar, que não sentia o mesmo que ela. – ele parou um pouco, mas continuou – Eu acho que passei por isso por muito tempo.
Já no jardim, Tiago ficou de frente para ela, as nuvens no céu estavam mais e mais carregadas.
– Quero dizer, eu sempre gostei de alguém que me odiava.
– Como pode ter tanta certeza de que ela o odeia? – Lílian perguntou, abruptamente. Nunca passou por sua mente que ela teria ódio de alguém.
– Bem... tudo o que eu faço...
– Potter, pára com isso! – Lílian se irritou – Pare de ter auto piedade, não vai ajudar em nada!
– Quem disse que tenho auto piedade? – ele se ofendeu.
– Desde que começaram as aulas você tem estado triste e sorumbático por causa do seu pai. Você ainda pensou que... – Lílian corou – que eu quisesse te dar algum consolo. Saiba que eu nunca pensei nisso, entendeu? Nunca me prestaria a esse papel!
– Eu sei! Eu sei também que tenho sido egoísta por somente enxergar meus problemas, até mesmo meus amigos eu deixei de lado. – Tiago agarrou os braços dela – Eu nunca deveria ter dito aquilo sobre você! Mas você sempre me repreendeu e eu não pude deixar de achar estranho que...
– As pessoas mudam, Tiago. Eu sempre repreendi você porque você era incorrigível! Aquelas brincadeiras tolas com seus amigos, você sempre se exibindo... Eu não enxergava que você também pudesse mudar como mudou nesse semestre.
– Talvez eu tenha mudado um pouco – ele disse timidamente – Mas eu sei que em pelo menos uma coisa eu não mudei.
Tiago se aproximou de Lílian, mas não levantou a mão para fazer nenhum gesto de carinho. Apenas tirou de dentro do casaco o livro que Lílian perdera.
– Você... estava com o livro o tempo todo?
– Me perdoe. – ele se aproximou para beijar a testa dela – Eu não sabia como devolver para você depois do que aconteceu.
– Eu... eu procurei esse livro feito louca – ela examinava a capa e as páginas.
– Lílian, todas aquelas tolices que eu fiz... Eu não posso negar que me divertia e não sei se posso usar a desculpa de que era mais novo e que tudo pra mim era uma grande brincadeira...
– Não, não pode. – ela abraçou o livro contra o peito com o som de um novo trovão, o que fez Tiago tirar sua varinha das vestes e conjurar o feitiço Impervius – O que você queria que eu pensasse a seu respeito? Muito do que você fazia não era engraçado.
Tiago ficou desconcertado com esse comentário, mas continuou:
– Como você mesmo disse, as pessoas mudam, mas meu sentimento por você nunca mudou e, acredite em mim, sempre foi sincero.
Dizendo isso, conjurou uma flor com a mão e a entregou a Lílian, que não teve reação, apenas o encarava nos olhos. Ele chegou a uma conclusão e suspirou.
– Eu entendo que não sinta o mesmo por mim. Prometo não me lamentar mais e não te importunar, então.
Tiago deus as costas e caminhava de volta para o castelo. Pesadas gotas de chuva começaram a cair depois do primeiro trovão. Em poucos segundos ficaram encharcados; Lílian, no entanto, não saiu do lugar ou se mexeu.
– Espera! – ele olhou para trás e viu que ela corria para alcançá-lo. Ofegando um pouco, continuou – Tiago, você disse que seu sentimento por mim não mudou... Bem... Eu descobri que o meu sentimento por você mudou e há muito tempo, mas eu... eu não me dava conta do que era, até aquela noite... que foi quando eu descobri que… que te amava...
Tiago não respondeu, apenas a envolveu em seus braços, as bocas procurando avidamente uma pela outra. Não se importavam com a chuva ou com o vento frio que soprava, mais do que nunca se sentiram unidos, como se fossem um só corpo, uma só alma.
Estavam felizes. E, naquela felicidade, com o testemunho da chuva, fizeram uma promessa um ao outro:
– Prometo que não vou fazer você sofrer, porque eu te amo – Lílian sussurrou, de olhos fechados.
– Prometo que vou te proteger – foi a vez de Tiago sussurrar – Eu te amo, sempre te amei...
E com essa promessa eles viveram o período em que mais tarde considerariam o mais feliz de suas vidas e que teriam o imenso prazer de compartilhar com seu filho, que nunca ficou sabendo do desenrolar do namoro dos pais, mas que sabia que, mesmo nas desavenças, era um amor muito forte. Pois foi com esse amor que ele conseguiu vencer o Mal que dominava o mundo dos bruxos.
Fim.
N.A.: Queria agradecer aos comentários e pedir desculpas por demorar a postar justo o último capítulo, mas tive muitos contratempos, por isso desculpem mesmo. Espero que tenham gostado dessahistória e que acompanhem minhas outras fics. Beijos! ;-)
