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Quem é que não gosta de festa? Era o que vinha se perguntando na última meia hora enquanto observava desanimada as pessoas se divertindo no salão de festas. Todos os cavaleiros haviam sido convidados, e o mais incrível, comparecido ao evento. "Provavelmente pela festa" completou mentalmente.
Aquele era um evento beneficente promovido por várias empresas juntamente como o apoio das indústrias Kido que visava levantar fundos para ajudar uma instituição de suporte a algum projeto não-governamental de bem para a humanidade. Traduzindo, uma maneira dos bem de vida gastarem seu dinheiro divertindo-se ao mesmo tempo em que cumprem seu papel de cidadãos política e socialmente ativos. Sinceramente, não a agradava toda aquela hipocrisia e arrogância que acompanhava os ricos, se não fosse pelo objetivo de fazer algo de bom pelo mundo não teria comparecido ao local. Mas, precisava fazer a política da boa vizinhança, e não cairia bem se a presidente da empresa que mais contribuiu com o evento não aparecesse. Por isso... lá estava ela.
Os cavaleiros vieram em parte porque faziam questão de acompanhá-la onde quer que fosse quando se ausentava do Santuário, a outra parte deles viera puramente pela oportunidade de se divertir. E essa última parcela que mais a entusiasmava, queria que seus cavaleiros tivessem todas as alegrias que pudesse proporcionar-lhes. Reconhecia todos os esforços e provações pelas quais eles passaram tentando protegê-la durante as batalhas em que a Terra estivera em perigo, machucando-se de todas as maneiras possíveis e algumas vezes morrendo como no caso dos cavaleiros de ouro. Logo após a batalha contra Hades, por mais que quisesse, não pudera imediatamente ressuscitar os dourados, precisara esperar longos seis anos até que a oportunidade para tal ato surgisse. E com a ajuda e permissão de outros deuses Saori pôde trazer seus guerreiros de volta à vida exatamente como estavam quando morreram.
- Parece que todos estão se divertindo esta noite não é? – disse alguém ao lado dela.
Não precisou nem olhar para saber de quem o comentário partira, reconheceu a inconfundível voz grave do cavaleiro de gêmeos. Abriu um sorriso sem tirar os olhos do grupo de rapazes que ria e conversava animadamente em um canto do salão, lá estavam Aldebaran, Shura, Seiya, Mu, Máscara de Morte, Hyoga, Kamus, Afrodite, Dohko, Shion e Shaka.
- Você conseguiu convencer até o indiano a vir, Saga?
Escutou-o rir baixinho.
- Realmente, a presença do homem mais perto de Deus numa festa é algo que deva ser comemorado! Mas não me dê crédito, quem conseguiu a proeza foi Áries.
Saori conservava uma taça de champanhe numa das mãos sem, contudo, sorver uma gota da bebida, Saga trazia um copo de wisky e gelo o qual esporadicamente bebia pequenas quantidades. Continuaram olhando o grupo animado.
- É, Mu e Shaka são grandes amigos, é natural que um escute o outro. – ela correu os olhos pelo salão onde muitos casais dançavam, reconheceu alguns deles: Marin e Aioria, Shiryu e Shunrei, Ikki e Mino, Shun e June, e por último Shina e Aioros. Franziu o cenho percebendo algo errado e repassou os cavaleiros presentes: Aldebaran, Shura, Seiya, Mu, Máscara, Hyoga, Kamus, Afrodite, Dohko, Shion, Shaka, Aioria, Shiryu, Ikki, Shun e Aioros – É impressão minha ou está faltando gente? Onde está seu irmão? Tenho certeza de que ele veio junto com os outros mas não o vejo.
Saga abriu um sorriso e tomou um gole do wisky respondendo depois:
- Não vai achá-lo no meio dessa gente toda. Kanon não gosta muito de multidões.
- Os cavaleiros praticamente compõem metade da festa, não há nenhuma multidão aqui.
- No lugar dele também acharia que era gente demais.
- E o que isso quer dizer?
- Parece que Julian Solo também foi convidado para a festa.
- Sim, mas não compareceu. – ficou confusa – Não entendo o que o convite a Julian possa ter algo a ver com a falta do seu irmão. Achei que eles davam-se bem.
- E eles dão-se bem.
- Então qual o problema?
- Não há problema.
- Ah, Saga! Pare de enrolar e explique o que quer dizer com tudo isso.
- Julian foi convidado para a festa, mas não compareceu como você bem sabe. Só que no lugar ele mandou um representante, pra ser mais específico, "uma" representante, Tétis. – tomou mais um gole do wisky.
Saori sorriu entendendo tudo. Não era segredo para ninguém o grande interesse do general marina na moça.
- Entendo, não veremos esses dois tão cedo não é?
- Precisamente.
- Mas ainda assim falta alguém. Não encontro o escorpião tem já algum tempo, achei que esse é o que mais gosta de festa.
Saga aproximou-se de Saori e tocou seu cotovelo chamando-lhe a atenção, indicou discretamente com o copo de wisky que trazia na outra mão um canto meio afastado. Olhou na direção que ele apontava e viu uma morena de costas para ela abraçada a um homem alto que não conseguia ver o rosto. O casal estava no maior amasso com a mão nada boba do desconhecido alisando as costas e a bunda da morena ao mesmo tempo.
O cavaleiro de gêmeos inclinou-se um pouco e falou perto do ouvido de Saori, involuntariamente um arrepio correu a espinha dela ao ouvir a voz tão perto:
- Já estão nisso há mais de uma hora.
Ela ainda manteve os olhos grudados na cena, depois desviou o olhar aparentando uma indiferença que não sentia. Aquele tipo de coisa deixava qualquer um no mínimo com pensamentos nada decentes.
- Esse Miro não tem jeito mesmo! Por que não a leva para um motel logo de uma vez?
- Porque ela não será a única a cair nas garras do escorpião essa noite, aquele ali não se contenta com uma só.
- A maioria dos homens não se contenta. – comentou amarga enquanto dava seu primeiro gole na bebida.
Ao perceber como ela dissera aquilo, teve que olhar seu rosto como para certificar-se que era mesmo a Saori falando aquele tipo de coisa. Ergueu uma sobrancelha interrogativamente.
- Percebo uma leve amargura no que disse Senhorita. Algum problema com a inconstância dos homens? – provocou-a, ele sabia que Saori detestava ser chamada por seus cavaleiros de Senhorita, dizia que era formal demais e que não precisava ser tratada com tanta reverência por seus protetores, já bastava os "minha deusa" e "deusa Athena" que precisava ouvir, segundo a própria Saori.
- Qualquer mulher que dê um pouco de valor a si mesma tem um problema com a inconstância dos homens. – falou naturalmente como se isso não a incomodasse, mas o caso era exatamente o contrário, porque a incomodava, e muito, a inconstância dos homens, principalmente porque o homem que lhe interessava tinha a mesma fama que Miro.
Ele riu baixinho, o som chegando aos ouvidos dela como uma doce carícia sexy. Tinha como aquele homem ser menos atraente? Até um simples riso dele era extremamente sedutor.
- Mas existem mulheres que não se prendem a homem nenhum por mais de uma noite. Algumas até preferem que os relacionamentos não passem de 24 horas. – alfinetou Saga.
Ela não se abalou com o argumento.
- Existem mulheres que cortam os pulsos simplesmente porque gostam, mas não quer dizer que seja uma tendência saudável delas.
O cavaleiro de Gêmeos riu agora mais alto e visivelmente divertido da justificativa de Saori. Com o conhecimento que tinha sobre as mulheres e suas formas de se expressarem indiretamente, imaginava que a moça devia estar gostando de algum rapaz que não a correspondia, talvez ele fosse "inconstante" como Miro, então estaria explicada a atual irritação que a reencarnação da deusa demonstrava já há algum tempo.
- Por que isso está aborrecendo-a tanto?
- Não estou aborrecida. – disse tentando ser o mais indiferente que podia, mas esse tipo de truque não enganava Saga.
- Se fosse qualquer outro cavaleiro poderia até tomar isso que disse como verdade. Mas sendo eu a escutar, sei que está aborrecida sim, por mais que negue. – depois falou suave – Pode confiar em mim Saori. Não precisa tentar aparentar indiferença e naturalidade, sei que não está muito feliz ultimamente. Quando a vi aqui parada sozinha observando a movimentação da festa percebi que esta chateada com algo, talvez com alguém?
Ela não respondeu.
- Eu arriscaria dizer que tem o dedo de um homem nisso.
Saori continuou olhando para os convidados da festa sem, contudo, enxergar alguma coisa, fazia isso para não ter que olhar o cavaleiro de Gêmeos. Conservou o rosto impassível e ficou em silêncio.
- E então? – perguntou ele rompendo o silêncio entre os dois – Admite?
- Admitir o que?
- Que tem um homem nessa história toda, na sua visível frustração dos últimos tempos.
Ficou quieta um instante para depois dizer:
- Não há nada para admitir. – foi a resposta fria da moça.
- Tudo bem então. – disse indiferente, parecia que Saori não queria mesmo falar a respeito no momento, respeitou a vontade da moça e desapareceu no meio da festa tão repentinamente quanto aparecera.
Assim que percebeu que ele deixou-a sozinha baixou o olhar e suspirou, os olhos transmitindo toda a infelicidade que sentia. Devia ter previsto que o cavaleiro de Gêmeos perceberia algo, parecia que nada escapava-lhe. Ele acertara em cheio na suposição, ver Miro e lembrar-se da efemeridade da maioria dos relacionamentos a deixou não só aborrecida como irritada. Sentia-se triste porque o homem que amava parecia não amar ninguém e era "inconstante" com as mulheres que se envolvia. Isso praticamente a forçava a manter-se longe dele, não queria se magoar e tinha absoluta certeza de que caso acontecesse algo entre os dois, teria seu coração partido já que o sentimento que ela nutria por ele não seria retribuído. Não suportaria envolver-se em um jogo tão doloroso, simplesmente não agüentaria ser mais uma na coleção de conquistas da pessoa que amava.
- "Melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado." – falou para si mesma lembrando-se da frase popular.
Riu tristemente da sorte que tinha. Definitivamente, para ela, alguns momentos bons de felicidade nos braços daquele homem não eram suficientes para satisfazê-la. "Mesmo a eternidade seria pouco tempo para esse sentimento." Era melhor ir embora, já estava começando a ficar piegas.
Terminou com um só gole o champanhe e depositou sua taça vazia na primeira bandeja que cruzou seu caminho nas mãos de um garçom. Foi caminhando em direção à entrada do salão deixando a festa e seus convidados para trás, já havia cumprido seu papel como presidente das Indústrias Kido e não havia mais razão nenhuma para que continuasse na festa. Bem... havia uma razão, uma razão de incríveis olhos azuis chamada Saga de Gêmeos. Mas era também por ele que ia embora, vê-lo e não tê-lo é a tortura pela qual sempre passava, já tivera sua cota de sofrimento naquela noite, precisava descansar.
- Quer que traga seu carro Senhorita? – era o manobrista.
- Por favor, avise meu chofer que já vou embora.
E o rapaz foi chamar o carro. Ela ficou ali aos pés da escadaria que levava à entrada do salão segurando o casaco de pele com o qual viera, não estava uma noite muito fria que precisasse de algum agasalho. "O clima grego é ótimo" era uma das coisas que a fazia preferir morar no Santuário ao invés de permanecer no Japão.
O comprido carro negro parou bem em frente à ela, o chofer desceu e abriu a porta para ela entrar. Saori sorriu para ele e murmurou um "Muito obrigada.", mesmo estando acostumada com o fato de ser tratada assim com tanta cortesia, agradecia por esses gestos. Entrou no veículo assim que se acomodou no assento fechou os olhos e jogou a cabeça para trás deixando-a apoiada o encosto do banco confortável, estava muito cansada. Por isso não percebeu que mais alguém se encontrava na limusine, um homem confortavelmente acomodado em um canto do banco em frente ao seu.
- Foi uma noite cansativa não é?
Ela quase pulou do banco com o susto. Era justamente a última pessoa que queria ver naquele momento, Saga.
Wanda Scarlet
