Desculpa a demora! Boa leitura!

Capítulo 14: Santuário dos mortos

Silêncio. Um silêncio profundo e mortal.

Kurama abriu os olhos lentamente, sentindo todo seu corpo doer. Ele viu que Yusuke e Hiei o encaravam.

- Você está bem Kurama? – perguntou o ex-detetive.

O ruivo sentou-se. Tudo a sua volta era um descampado deserto. Terra batida e queimada. Só havia os três naquele local.

- Onde está Meiling? – perguntou, sentindo o seu corpo protestar seus movimentos.

- Não sabemos. – quem respondera fora Hiei – Também desmaiamos. E quando acordamos só estava esse deserto à nossa volta.

O youko arregalou os olhos. Meiling tinha morrido? Não podia ser! Depois de tudo que passaram, depois de tudo que ela passara...

- Vocês devem sair daqui.

Os três voltaram-se para a dona da voz. Era uma mulher de longos cabelos castanhos. Ela trajava um vestido longo, da cor azul, e tinha uma espécie de sino em suas mãos.

- Quem é você? – perguntou o koorime, desconfiado.

- Kaho Mizuki, prazer. – a mulher curvou-se e começou a se aproximar deles. Ela então viu o quão ferido o ruivo estava – Aposto que as feridas internas doem mais não é? – perguntou com um sorriso gentil.

O três a encaravam com estranheza. Hiei segurou numa das mãos de seu amante.

- Você tem alguma ferida interna?

Kurama sorriu. E então deu um leve beijo nos lábios do demônio. Kaho falou novamente.

- Feridas no coração. Você viu tanto, presenciou tanta dor. Principalmente da Meiling não é?

- Você...a conhecia? – quem dizia agora era Yusuke, meio chocado. Ele só queria sair daquele lugar mórbido onde Kuwabara...e mestra Genkai...

- Ah, conhecia. Assim como Shaoran, Sakura. Sabe? Eu costumava ser professora deles. – outro sorriso doce.

Ela estendeu a mão para o youko e ajudou-o a se levantar. Eles saíram do local, indo até uma área, onde antes estava a entrada do templo de Genkai. Então ela tocou o sino e uma espécie de barreira azulada adornou o local. Os três arregalaram os olhos.

- É tempo de recomeçar. De curar as feridas novas e antigas. E viver novamente. – sussurrou Kaho. Ela virou-se e deixou o sino no chão. Então foi embora.

Os três observaram a mulher ir por alguns segundos e depois o viram o sino se dissolver. Tudo havia terminado. Para melhor ou para pior.


- Doutor! Rápido, ele está perdendo o pulso! – disse a enfermeira.

O médico se aproximou com sua equipe. Um desfibrilador fora usado. Várias vezes. Mas era tarde demais.

- Enfermeira, escreva aí. – anunciou o senhor com grande pesar – Morte do paciente Eriol Hiragizawa as quatro e trinta da tarde por ataque cardíaco.

O espírito do jovem mencionado sorriu no quarto do hospital inglês, antes de desaparecer.


O ruivo podia ouvir as vozes alteradas de Yusuke e Hiei. Ele deu um suspiro. Será que eles nunca cansariam de discutir? Parecia que o rapaz estava substituindo Kuwabara na tarefa de provocar o demônio.

Ao pensar no amigo, um sorriso amargo surgiu em seu rosto. Já fazia três meses. E por mais que ele estivesse feliz que Yusuke havia se recuperado do choque de perder a mestra e o amigo de forma tão cruel, graças à insistência de Keiko, o youko ainda podia sentir a dor cortar-lhe o coração. Podia ver na sua frente as lágrimas de sangue de Meiling.

Eles estavam perto de uma floresta, onde antes se localizava o templo de Genkai. Qual não fora a surpresa dos três sobreviventes ao encontrarem essa mata fechada quando voltaram ao local uma semana depois do ocorrido. A barreira azul havia sumido.

Kurama aproveitou que os dois amigos estavam distraídos e se afastou deles, entrando na tal floresta misteriosa. Para um youko como ele, não seria difícil abrir caminho entre aquelas árvores.

O ruivo começou a caminhar pela densa floresta, desviando de um galho em um momento, cortando-o em outro. Sua curiosidade estava aguçada, aquela floresta parecia querer proteger algo e seu espírito de raposa ansiava por descobrir.

Foi quando as árvores abruptamente acabaram num declive. Kurama percebera tarde demais e caíra, rolando pelo morro abaixo. Ele parou alguns minutos depois e sentiu todo seu corpo protestar pela queda brusca. Ele levantou-se e tirou alguns galhos grudados em sua roupa e jogou o cabelo longo para trás, limpando sua visão. Foi quando viu.

Estátuas. Esculturas feitas do que parecia mármore branco. Muitas espalhadas na pequena clareira, formando uma espécie de santuário.

O youko se aproximou fascinado. Eram perfeitas em seus detalhes, pareciam que a qualquer momento ganhariam vida e começariam a se movimentar. Ele se aproximou de uma que tinha a figura de uma jovem de longos cabelos ondulados e usava um vestido cheio de babados. Ela tinha as mãos juntas, como se estivesse orando e os olhos fechados. Ela lhe lembrava a carta da canção.

Kurama passou os dedos sujos de terra pela escultura e então viu que havia um pingente prateado no pescoço de mármore. Ele levantou-o e leu o que estava escrito. "Tomoyo Daidouji".

- Quem será essa pessoa? – perguntou para si mesmo enquanto se dirigia para a próxima pessoa. Ele então se assustou.

A escultura era de uma jovem. Ela possuía asas delicadas nas costas e usava um vestido com alguns detalhes de estrelas. Um báculo estava em as mãos e um sorriso adornava seu rosto de pedra. Com as mãos trêmulas, o ruivo ergueu o pingente que a escultura também possuía. "Sakura Kinomoto".

- O...que está acontecendo aqui? – ele estava no mínimo surpreso.

Ele começou a percorrer cada uma das estátuas, lendo o nome delas: Rika, Yamazaki, Chiharu, Sonomi, Fujitaka...

Então ele paralisou em frente a uma delas. Era de uma senhora com uma postura rígida. O pingente era claro como água: "Genkai". Kurama sentiu sua vista turvar enquanto lágrimas não derramadas se acumulavam em suas orbes esmeralda. Havia uma estátua de Kuwabara, uma de Yue, uma de Touya. Todos que morreram.

O ruivo parou em frente da estátua de Meiling. Ela tinha uma posição de luta, e um sorriso maroto nos lábios. Como o último sorriso que ele vira da chinesa.

Sua cabeça parecia rodar e explodir. Ele praticamente não agüentou e desabou no chão, enquanto agora as lágrimas desciam livres por seus olhos, enquanto ele se sentia observado. Aquele realmente era um santuário.

O santuário dos mortos.

- Inari...o que está acontecendo aqui? O que! – gritou para si mesmo em frustração. Ele viu que havia mais estátuas adiante.

Levantando-se lentamente, pois parecia que seu corpo havia perdido as forças, o youko caminhou até as outras estátuas. Eram estátuas das cartas. Luz, Trevas, Sonho, Vento, todas, todas estavam lá.

Ele então viu mais quatro estátuas, mas essas estavam quebradas, impossíveis de serem reconhecidas. Ele se aproximou e pegou os pingentes que estavam jogados no chão, sem nenhum cuidado como com as outras. O que leu fizera seus olhos se turvarem novamente.

Yusuke Urameshi. Hiei. Youko Kurama. Kaho Mizuki. Um riso amargo e sem humor algum escapou de seus lábios. Era tudo lógico agora. Eles não haviam morrido. Aquelas estátuas eram pra ser deles, mas eles ainda estavam vivos.

- É uma sensação mórbida não acha?

Aquela voz o alarmou, fazendo ele virar o corpo inteiro na outra direção, quase invocando seu chicote.

- Kaho?

- É uma sensação mórbida... – repetiu de se aproximando do ruivo – Estar rodeada de estátuas dos entes queridos que já se foram. – Ela parou e passou a mão na estátua que era de Eriol.

- Hai... – concordou ainda intrigado com a presença da mulher no local.

- Parece que toda a regra tem sua exceção.

- O que quer dizer com isso?

- Eu costumava dizer a Sakura que não existem coincidências neste mundo, só pode haver o inevitável. – respondeu, agora olhando nos olhos verdes – Foi inevitável que as cartas se revoltassem, foi inevitável que eles fossem mortos, assim como era inevitável que nós morrêssemos também.

Kurama ficou calado, apenas esperando que ela continuasse.

- Essas estátuas não foram construídas à toa. Mas nós viramos exceção: sobrevivemos. E agora elas foram destruídas.

- O que... – começou o ruivo parando em frente a mulher – Acha que elas significam?

- Não sei dizer. Um memorial, um santuário,quem sabe? – respondeu Kaho sorrindo – Só sei que se nossas estátuas foram destruídas significa que não pertencemos a este lugar.

O youko deu um leve sorriso. Ele também chegara a essa conclusão.

- Vamos embora daqui. – disse o ruivo.

Juntos, eles caminharam em silêncio pelo caminho de volta. Assim que saíram do local, a floresta se fechou novamente, barrando o caminho.


- O que foi Botan-chan? – perguntou Koenma, sentado em sua poltrona, carimbando papéis rapidamente.

- Koenma-sama, é sobre...aquele caso com as cartas.

Isso fez o jovem parar o que estava fazendo. Ele encarou-a e perguntou.

- O que tem?

A guia espiritual torceu as mãos no kimono rosa nervosamente.

- Acontece que...estava olhando alguns papéis burocráticos. E nenhum dos nomes está na lista. Nenhuma das pessoas que morreram pelas cartas, ou as cartas, e até mesmo a mestra Genkai e Kuwabara vieram para o Reikai.

- Nani?

- Aparentemente...as almas deles sumiram do mapa.

Koenma afundou na cadeira.


Kaho observava o sol morrer no horizonte enquanto sentia a água fria do mar bater em seus pés. Ela via Kurama e seus amigos se afastando de praia, indo para suas respectivas casas.

A morena voltou seus olhos para a floresta onde havia estado algumas horas atrás. Ela sorriu.

- Descansem em paz, meus queridos. Neste santuário que criei somente para vocês.

Uma leve barreira azulada surgiu em torno da floresta. Mas só ela conseguia enxerga-la agora.

OWARI

Nossa, longa jornada até aqui! Espero que tenham gostado dessa pequena insanidade que eu criei e que tenham gostado deste final. Espero comentários, eles são sempre bem-vindos!

Mystik