Depois de meia hora, Hermione chegou à rua dos alfeneiros. Nunca antes estivera ali, mas sabia qual era a casa: o número 4. Correndo para o batente da porta, para se proteger da chuva, se é que faria alguma diferença, pois já estava encharcada, Hermione começou a apertar a campainha, alternando com batidas na porta. Ela rezava para que Harry estivesse em casa, conhecendo a fama de seus tios. Logo Hermione escutou vozes vindas do interior.

Harry, abra a porta – era uma voz masculina e rouca. Hermione supôs que fosse o tio.

Já vou, tio Valter! – Hermione sentiu-se muito feliz por reconhecer a voz de Harry.

Escutou passos em direção a porta e o barulho de chaves um pouco antes da porta se abrir. A sua frente estava um garoto magro, de olhos verdes escondidos atrás de óculos redondos, uma cicatriz aparecia entre as fendas dos cabelos negros e revoltos.

Hermione...? – Harry perguntou, muito surpreso em ver a amiga na sua frente e naquele estado.

Hermione jogou-se nos braços do amigo, aconchegando-se em seu peito, chorando e soluçando desesperada.

Hermione, o que aconteceu? – Harry perguntou, acariciando as costas da amiga para que ela se acalmasse.

V-você t-têm q-que avisar R-rony. V-voldemort v-vai atacá-lo. – Hermione balbuciou, os lábios tremendo de frio.

Como é? – Harry perguntou. – Voldemort vai atacar Rony na Toca?

Hermione concordou balançando a cabeça.

HARRY? QUEM É QUE ESTÁ AÍ? – A mesma voz rouca que Hermione escutou antes gritou novamente, mas Harry ignorou-a.

Vem, Mione. – disse Harry, e, passando um dos braços sobre o ombro de Hermione, guiou-a para dentro.

Quando chegaram à sala, uma mulher de rosto fino e longo pescoço e um garoto gordo se assustaram com a chegada de Hermione. O garoto saiu da maior poltrona para se sentar ao lado da mulher da poltrona menor.

Um homem gordo saiu de uma porta e entrou na sala, tão espantado quanto os outros dois.

O que está acontecendo aqui? – perguntou o homem gordo.

Esta é uma amiga minha. Aconteceu alguma coisa, mas não sei direito o que é. Senta aqui, Hermione.

Ai, no sofá, não – murmurou baixinho a mulher que abraçava o garoto gordo, quando Hermione se sentou na beiradinha do sofá maior.

Tio Valter, Tia Petúnia e Duda, meu primo. – Harry apresentou os parentes, rapidamente e sentando-se ao lado de Hermione, perguntou: - Agora me diz, Mione. O que aconteceu, o que você está fazendo aqui em Little Whinging?

N-narcisa Malfoy atacou m-meus p-pais. Acho q-que eles estão m-mortos. Eu f-fugi... v-vão atacar os W-wealey's...

Harry a fitou por um momento, tentando raciocinar. Ele precisava agir rápido.

Fique aqui, Hermione. Vou mandar Edwiges a Dumbledore. Ele saberá o que fazer.

Harry saiu correndo da sala deixando Hermione sozinha sendo analisada com expressão de horror pelos donos da casa. A mulher, tia Petúnia, parecia escandalizada cada vez que um pingo caia da roupa, ou dos cabelos da menina, e alcançava o chão. Muito envergonhada Hermione viu que sobre seus pés havia já uma pequena poça enlameada.

Você não se veste como aquela gente. Você também é...? – perguntou o homem, tio Valter.

Uma b-bruxa? Sou s-sim. M-mas m-meus p-pais são d-dentistas. – Hermione tentou falar sem gaguejar mas o frio a impediu.

Ah... – Tio Valter, tia Petúnia e o garoto Duda suspiraram aliviados. Parecia que acabaram de descobrir que Hermione não era uma doença contagiosa.

Deve ter sido um choque para os seus pais, não? – Tia Petúnia comentou, tentando ser cordial.

Hermione lembrou-se dos pais e uma nova onda de dor atingiu seu coração. Ela tinha muita vontade de chorar, não imaginava naquela manhã que perderia seus pais desta maneira. Sem poder resistir a vontade, algumas gotas de lágrimas começaram a escapar de seus olhos, mas ela enxugou-as rapidamente, controlando-se. O frio e a expressão dos tios de Harry não estavam ajudando mas logo Harry apareceu na sala, trazendo uma felpuda toalha.

Já mandei Edwiges. Com certeza, saberemos em breve o que aconteceu. Ele deve alertar a Ordem! – disse Harry, enrolando Hermione com a toalha.

Sua amiga vai ficar aqui? – tia Petúnia perguntou com os olhos arregalados esperando uma resposta.

Harry indagou Hermione apenas com o olhar.

N-não t-tenho pra onde ir. – Hermione respondeu, suplicando a Harry para que ele a deixasse ficar.

Vai sim, Tia Petúnia. Ela pode ficar no meu quarto. Eu vou dormir no meu antigo armário. – Harry respondeu.

É bom que ela tome um banho ou pode pegar uma pneumonia. – alertou Tio Valter, preocupado.

Claro! Vem, Mione, vou lhe mostrar o banheiro. Vou arranjar umas roupas secas para você. – Harry ajudou Hermione a se levantar e a subir as escadas.

Harry mostrou o banheiro e até preparou a água de uma bonita banheira, testando para ver se estava muito quente e adicionando alguns sais de banho.

Se precisar de alguma coisa, é só me chamar, Mione! – Harry disse um pouco antes de fechar a porta e deixando Hermione a sós.

Ela entrou logo na água quentinha e se sentiu confortável depois de passar horas de medo, frio e desespero. Ali, sozinha, com o vapor da água se levantando contra os seus olhos, Hermione não pode mais conter as lágrimas e chorou, sem tentar se controlar.

Meia hora depois, Hermione estava seca e usando uma camisola muito larga de tia Petúnia, uma vez que, mesmo sendo magra, a mulher era muito mais alta do que ela. Ela desceu para a cozinha, onde Harry lhe preparara uma sopa quente de frango e legumes que Hermione tomou agradecida.

E então, Hermione? Explica direito o que aconteceu.

Hermione explicou tudo o que acontecera nas últimas horas desde a sua chegada em casa até o nôitibus-andante. Harry escutou atentamente, mas quando ela acabou, ele tinha uma expressão incrédula no rosto.

Hermione, eu... sinto muito! – Harry disse, segurando sua mão repousada na mesa. – Sinto muito mesmo.

Eu ainda não acredito que eles estão mortos. Acho que a qualquer momento eu vou receber uma coruja dizendo que eles estão a salvo... – Hermione começou a chorar novamente. Harry enxugou com os dedos suas lágrimas.

Tem uma coisa que não entendi. Você disse que Malfoy não só te salvou como alertou sobre o ataque aos Weasley's?

Sim, isto mesmo. Se não fosse por ele, eu estaria morta também.

Mas... – Harry balançou a cabeça, como se não entendesse. – Ele não gosta de você, nunca gostou. Sempre te chamou de "sangue-ruim" e o pai dele foi preso por nossa causa...

Eu sei, Harry. Também não entendi. Acho que talvez Draco não seja tão mau assim.

Hum... eu duvido...

Harry parou de falar subitamente. Um barulho chamara sua atenção. Sobre o parapeito da janela da cozinha, uma coruja branca balançava as asas.