O Raio na Torre
Severus irrompeu no alto da torre de Astronomia trazendo o inferno na alma. Ele teria de fazê-lo. Ele jurara a Albus que faria.
-Severus...
Nunca a voz de Albus lhe soara tão doce.
Ele tirou Draco do caminho. Talvez ele ainda pudesse salvar o garoto.
-Severus... por favor...
Sim ele o faria. Ele o faria por Albus. Apenas por ele.
Severus escondeu a dor atrás de uma máscara de ódio. Ele sabia que Albus via através dela, mas ele precisava tentar.
-Avada Kedavra!
Forma amarga de dizer "Eu te amo!"
A fuga pelas escadas passou como um borrão. Do embate com o Fedelho que Albus pedira para ele proteger só a pecha de covarde o incomodou. Maldito moleque. Maldito Potter. Maldito. Maldito Albus.
As garras do hipogrifo rasgaram sua pele. Quem se importaria com isso agora?
O interrogatório e as congratulações do Lord das Trevas pareciam acontecer do outro lado de um vidro espesso. Sua própria dor impedindo que o desgraçado penetrasse fundo demais na sua mente.
A punição de Draco por ter falhado, o choro de Narcissa, nada disso o afetava. Foi apenas porque Albus gostaria de ver Draco vivo, que ele intercedeu pelo garoto junto ao Lord.
Agora, com Narcissa e Draco dormindo exaustos em um cubículo de seu esconderijo, e ele enfim estava sozinho.
Sozinho.
No quarto sórdido daquele que seria seu lar até o fim da guerra ou até que a morte o encontrasse pelas mãos de algum dos lados, ele estava finalmente sozinho.
O sol nasceria em breve, mas teria o brilho empanado pela persistente neblina causada pelos dementadores. O mundo era cinza novamente.
Ele vira o último nascer do sol nos braços de Albus, aquecido pela sua presença poderosa e seu amor sereno.
Albus estava errado. Ele não saberia viver sozinho. Ele matara a única pessoa que fora capaz de amar depois que entrou pela primeira vez no caminha das trevas. Ele matara a única pessoa que realmente o conhecia. Ele matara seu único amor.
A realidade amarga era essa: Nunca mais as longas conversas, os longos silêncios, as discussões. Nunca mais a cama deles envolta em magia, amor e desejo. Nunca mais o olhar brilhante de Albus lhe dizendo que o amava sim, e que confiaria nele com a própria vida.
Com própria vida. Suprema ironia.
Albus tentara fazê-lo viver pelo amor, e por algum tempo até mesmo conseguira, agora ele viveria para ver o Lord das Trevas morrer. Ele viveria por vingança.
Que se danasse seu destino depois, Azkaban, a morte, quem se importaria se Albus não estava mais ali?
Ele cuidaria de Draco e de Potter de um jeito ou de outro, porque era isso que Albus queria.
Ele sabia a missão a cumprir. Ele entendia as razões, ele compreendia o plano de Albus, ele entendia o caminho que eles haviam escolhido, ele sabia que no final seria a morte de Albus que traria a vitória até eles. Ele sabia, ele entendia. Mas sua alma agora estava presa em seu inferno particular e Severus duvidava que um dia saísse de lá.
-Que seja então, Albus. Eu vou viver no inferno. Por você eu vou viver no inferno, meu amor.
Pode-se odiar a quem mais se ama?
