Só as Mães são Felizes
Uma semana nessa pocilga que Severus chama de esconderijo. Se a casa dele já era ruim, isso aqui é muito pior. Uma semana inteira sem poder sair e vendo meu filho definhar.
Mas o Lord ordenou e nós temos de obedecer. Ele deixou Draco viver com a condição que ficássemos aqui nesse lugar perdido no mundo, que eu nem mesmo sei onde é. Severus nos trouxe separados para esse lugar. Pelo menos ele tinha uma poção para aliviar as dores de Draco.
Se fecho meus olhos eu revejo a punição que o Lord aplicou ao meu filho. Vejo seu corpo se contorcendo sob a maldição, ouço seus gritos. Achei que ele morreria pelos Cruciatus que recebeu. Foram tantos. Ainda sinto a mão de minha irmã tapando minha boca para eu não gritar junto.
Draco não fala. Fechou-se para mim. Ele passa o dia deitado no catre que lhe serve de cama com o rosto virado para a parede. Mal come. Eu preciso obriga-lo a comer as refeições que eu e Severus nos revezamos para preparar.
Nunca pensei que veria meu filho assim. Temo que algo tenha se partido dentro dele. Alguma coisa que nunca mais possa ser consertada.
Eu me volto para Severus em busca de ajuda. Desisti de entender porque ele faz o que faz. Tudo que sei é que ele é o único que talvez possa ajudar o meu filho, meu Draco.
E Severus me pede para ter paciência e dar a Draco um tempo para ele se reencontrar. Ele não entende. Ele não vê que meu filho está morrendo por dentro na minha frente e eu não posso fazer nada.
Meu filho não quer viver. Eu sabia que a ordem do Lord ia destruir Draco. Eu sabia.
Severus tentou protegê-lo, mas não adiantou.
Se eu pudesse tomar para mim toda a dor que está matando minha criança... Eu só queria abraçar meu filho e fazer com que ele ficasse bem.
Draco não permite que eu o toque. Ele se encolhe e me pede que o largue. É a única hora que ele fala alguma coisa, para pedir que eu o deixe.
Meu coração se parte ao vê-lo assim.
Hoje o Lord me chamou. Devo voltar para casa essa noite e deixar meu filho sozinho.
Severus me garantiu que cuidara dele, e quando eu perguntei porque ele estava se empenhando tanto, ele me deu aquele arremedo de sorriso e disse que era uma promessa mais sagrada que qualquer outra que ele já pudesse ter feito.
Severus está mais fechado do que nunca, e eu me pergunto se me resta algum poder para torná-lo mais interessado na proteção de Draco e percebo que não. Não afeto Severus dessa forma. Seu interesse está em outro lugar.
Por algum tempo cheguei a pensar que fosse em Draco, mas não é. Seja o que for que Severus almeja isso o fará proteger meu filho por hora.
Eu gostaria de ficar, mas o Lord me quer lá para continuar a ter acesso à fortuna dos Malfoy. Logo que eu sair Severus vai levar Draco para outro esconderijo, talvez ainda mais sórdido do que esse. Eu sei que os aurores virão, e poderei dizer a verdade, Draco está com Snape em lugar desconhecido.
Eu me pergunto se Severus terá a paciência necessária para cuidar do meu filho. Para fazê-lo comer, para fazê-lo falar.
Eu sei que não terei notícias, não seria seguro enviá-las. Nem poderei mandar roupas ou dinheiro ou mesmo uma comida melhor para ele. Meu filho vai estar afastado de mim.
Ah Lucius, onde você nos meteu?
Sua fortuna está pagando as despesas do Lord e seus Comensais, só isso me mantém viva. Draco só está vivo porque Severus pediu por ele.
Eu sei o que vai acontecer comigo quando o dinheiro acabar, só me pergunto: o que será de Draco quando o Lord enfim me matar? As vidas de todos nós estão nas mãos do Lord, e a de Draco está por um fio. Se Severus perder o favoritismo do Lord, ou se o Lord julgar conveniente, ele mata Draco a qualquer instante.
E tudo que eu posso fazer é entregar nosso dinheiro a ele, implorando à Magia que isso o mantenha satisfeito e o faça esquecer de Draco.
Fora o dinheiro só me resta uma arma para usar. E eu a usarei, Lucius. Me tornarei a prostituta dele, um troféu que o Lord poderá exibir entre a ralé que o segue. Dormirei com quem ele ordenar para que meu filho permaneça vivo. Até mesmo com ele, e farei isso sorrindo.
Eu acaricio os cabelos do meu filho. Estão sujos. Nunca vi meu Draco tão descuidado de si. Ele nem mesmo se volta para me ver partir.
Deposito um beijo na sua testa e ele fecha os olhos.
Na sala Severus me espera com sua habitual expressão de nada. É a esse homem que eu vou confiar minha criança.
Ele não diz nada, apenas me faz um leve aceno. Uma promessa silenciosa de que cuidará do meu Draco. Eu me forço a confiar que será assim.
Pela porta do cubículo que foi nosso quarto por uma semana eu olho meu filho mais uma vez antes de ir.
Meu coração se aperta com medo que seja a última. Desaparato.
