O Primeiro…

Camus x Milo, Saga x Camus, Saga x Milo

By LadyCygnus

I look in your eyes, I really think you're fooling me

You're pretty and nice, it doesn't matter, don't you see

'cause I'm falling in love, it happens to me every day

I'm falling in love, love just seems to slip away

(Scorpions, Falling In Love)

Olho nos seus olhos, realmente acho que que você está me enganando

Você é lindo e legal, mas isso não importa, você não vê

Porque estou me apaixonando, isso acontece todos os dias

Estou me apaixonando, o amor parece só estar escapando

I – A Confusão…

Foi mais uma tentativa frustrada de Milo tentar convencer Camus de que sentia algo por ele, além do típico tesão adolescente. Milo estava convicto de que amava Camus, de que sentia algo por ele além da amizade, mas Camus sempre o repelia… bem, pelo menos tentava. Tentava, porque acabava cedendo ao próprio desejo de beijar aquele grego safado que também mexia com ele.

Milo sempre arrancava alguns beijos mais ardentes de Camus, alguns gemidos cheios de tesão mas, na hora em que o aquariano deveria ceder um pouco mais, ele resolvia voltar atrás.

"Milo, é melhor não… "- sempre dizia, tentando recobrar a consciência e o que lhe sobrava de sanidade.

"Camus, por quê? Eu quero que seja com você, nada mais justo, já que eu te…"

"Não fala… você nem tem certeza, está aqui comigo agora mas e depois? Milo, por favor, somos dois irresponsáveis; não era pra ter chegado a esse ponto!" – Camus insistia em abaixar a túnica branca que ia até a metade das coxas, nervoso. Se ajeitou como podia, arrumou os cabelos e andou até a porta do aposento, saindo. Milo suspirou, extremamente inconformado, o queria tanto!

"Milo!"

"O quê?" – sentou-se, todo esperançoso de que, desta vez, o aquariano tivesse mudado de idéia.

"Esse é o meu quarto… estamos na Casa de Aquário." – seguiu em direção ao criado mudo e pegou o livro que havia emprestado ao escorpiano. – "Leia todo, amanhã vamos discutir isso. Toma um banho gelado, você vai precisar… "- e apontou para o volume que a túnica curta do grego não escondia.

"Eu leio… "- suspirou. – "Até amanhã, au revoir, e bye!" – tentou, pela última vez se aproximar de Camus e beijá-lo, mas desistiu ao ver o olhar de morte que o francês lhe lançou. – "Tá, até amanhã… boa noite."

Saiu da Casa de Aquário, olhando para o livro. "Sartre? Ah não, vou entrar em outra crise existencial!", fez uma careta, ao pensar sozinho. Começou a descer as escadarias do Templo de Aquário, mas, olhou mais uma vez em naquela direção, pensando no francês. "Será que ele tem razão?"

Fechou a porta do quarto, encostando-se nela e descendo até o chão. Era óbvio que se fossem somente hormônios adolescentes não se sentiria um tanto quanto vazio quando ele partia, não sentiria a vontade de acreditar nele e se entregar também, mas sabia que não poderia sucumbir assim, tão facilmente. E, provavelmente, ele já havia tido a primeira vez com alguém, alguma qualquer dentro do Santuário.

"Se eu já tive, por quê ele não?"

Se levantou do chão e seguiu para o banheiro afim de tomar um banho e relaxar, afinal, estava precisando muito disso ultimamente.

Milo seguiu descendo as escadas e, observando ao longe, viu a silhueta de alguém. Suspirou derrotado, pensando ser Afrodite que começaria a lhe encher de perguntas e a exigir respostas que não estava nem um pouco humorado a dá-las. Ficou tão disperso que não percebeu a aproximação.

"Boa noite, Milo!" – a voz, grossa e calma, saudava-lhe passivamente.

"Saga, boa noite!" – sorriu-lhe, esquecendo dos planos que arquitetava se caso fosse Afrodite. – "O que faz por aqui, em Sagitário?"

"Estava conversando com Aiolos, sobre algo que o Velho Mestre havia nos incumbido de fazer essa manhã… e você, está vindo de Aquário?"

"Sim." – entristeceu-se – "Não é mais novidade nenhuma por aqui, é?"

"Que você sente algo por Camus? Bem, acho que só eu sei, ninguém mais."

"Não sei… acho que mais pessoas sabem." – Sentou-se nas escadas, olhando para Saga, de pé na sua frente. Reparou mais no corpo à sua frente, igualmente bronzeado pelo sol grego, a pele dourada contrastando com o tecido azul celeste da túnica um pouco mais longa que a sua; nos braços talhados e nas pernas igualmente torneadas, no olhar do grego e em seus lábios.

"Não. Camus é reservado demais, você não espalhou pra ninguém e eu também não. Há sim, suposições porquê vocês andam juntos como unha e carne, mas entre suposições e certezas, há um enorme abismo…. Sartre?"

"É…" - esticou o livro para Saga ver – "Camus e eu estávamos discutindo alguns autores e decidimos discutir Sartre… não gosto muito dessa linha dos existencialistas, começo a pensar muito sobre a minha própria existência e piro." – suspirou resignado.

"Quando vão discutir esse?"

"Amanhã… não estou com a mínima vontade de ler, mas já é a segunda vez que eu tento fugir e ele sempre me pega, é difícil escapar desse francês… em compensação, ele consegue fugir de mim…" - suspirou, achando que passaria despercebido por Saga… ledo engano.

"Acho que você precisa conversar com alguém… vamos, eu ainda te ajudo com a leitura."

Na Casa de Escorpião, começam discutindo o livro; Saga sempre prestando atenção em Milo e este sempre prestando mais atenção ainda em Saga. Chegava a ser engraçado, sabia que sentia algo forte por Camus mas Saga também o atraía: tratava-o com carinho, sempre afagando seus cabelos, abraçando-o. Era assim desde que chegou ao Santuário, Saga o recebera com um abraço. Tentava ser severo, mas sempre se desmanchava com os garotos que estavam crescendo. Não escondia a admiração que sentia por Camus e sua precocidade, Aioria e seu senso de justiça, Mu e sua calma; Shaka também era calmo, mas admirava sua sabedoria divina e Milo… esse conseguia ser inocente e sensual, apenas o tirava do sério, não só por suas travessuras, mas porque sabia que se tornaria um belo homem…

Terminaram de discutir o livro. Milo serviu-lhes um chá e olhou-o demoradamente, tentando decifrar o que se passava na mente de Saga.

"Estava me lembrando o por quê de vocês serem tão especiais…"

"Com certeza todos são bem mais inteligentes do que eu, acho que é o que estava pensando." – sorriu.

"Você sabe muito bem que não é verdade! Não discutiria Sartre à toa com Camus, não está fazendo isso para chamar a atenção dele. Eu te conheço, Milo."

"Verdade… eu… eu acho que eu amo Camus, mas ele não acredita em mim, Saga. Na verdade, acho que acabo dando motivos… os malditos hormônios! "– e levou as mãos ao rosto, cobrindo-o de um sorriso malicioso.

"Milo, eu já tive sua idade, não sou tão mais velho que você. Camus é mais reservado, mas não significa que não tenha os mesmos problemas com os "hormônios"… o problema dele é que às vezes se reprime e esquece que aqui no Santuário, as coisas são um pouco diferentes que o mundo lá fora."

"É… ele não é indiferente aos meus toques." – sorriu e não o escondeu dessa vez. Saga se levantou, tirando a xícara da chá das mãos de Milo, colocando-a numa mesinha próxima a eles. Segurou as mãos de Milo, olhando -o diretamente nos olhos. Juntou as palmas das mãos de ambos, aproximou-se do pescoço do adolescente, fazendo-o sentir sua respiração.

"E como poderia…? "– disse, sussurando no ouvido do escorpiano, fazendo-o estremecer. Logo em seguida, estalou um beijo na bochecha de Milo, que sentiu a pele arder e corar. Olhou-o no fundo dos olhos e sorriu, levantando-se e sentando na cadeira novamente. Milo não conseguia dizer mais nada.

Conversaram por mais algum tempo, Milo já não estava embaraçado e, para Saga, aquilo foi algo normal, nada demais. E, para Milo, também…

Alguns dias se passaram. Camus e Milo passaram esses dias treinando juntos pela manhã, estudando pela tarde e, eventualmente, dando uns amassos à noite. E a mesma ladainha de sempre: Milo e Camus se beijavam, se tocavam timidamente; a coisa acabava esquentando, Milo pedia que Camus transasse com ele, Camus dizia que não; Milo tentava dizer que o amava e Camus o cortava. Ambos se frustravam e iam embora para suas casas; no dia seguinte, recomeçavam.

Passaram a manhã treinando juntos e resolveram almoçar. Após o almoço, iriam retomar os estudos, mas decidiram descansar um pouco, já que o treino havia sido um pouco mais pesado do que os anteriores. Procuraram por uma sombra; encontraram-na debaixo de uma frondosa oliveira. Milo logo deitou-se no chão, observando Camus tirar com cuidado as ombreiras, desafivelar as joelheiras e se desfazer das sandálias. Sentou-se com cuidado no chão, observou o céu e depois olhou Milo, deitado e o observando. Sorriu e encostou-se na árvore. Ficaram em silêncio por um tempo, até que Camus o quebrou.

"Saga me disse que te indicou mais alguns livros para aprimorar nossas discussões…"

"Sim… ainda não os li, se quer saber."

"Ah…"

Novamente, silêncio. Milo se segurava para não agarrar Camus ali mesmo, parecia que o francês queria lhe dizer algo, que não saía, então Milo resolveu falar.

"Camus, que não acredite que me ame ou que eu sinta algo por você, é normal… mas não entendo que não queira dormir comigo, eu não consigo entender." – disse de uma só vez, sem olhar para o francês, que ficou boquiaberto e demorou alguns minutos para responder.

"Milo, eu… como pode amar alguém, sabe o que é amar?"

"Não… mas eu sinto meu coração disparar quando te vejo, me dói quando você age diferente comigo… e eu queria que você fosse o meu primeiro…"

"Tá, eu acredito que você nunca tenha dormido com serva alguma! Vamos Milo, todos sabemos da sua fama por aqui!" – visivelmente irritado, Camus tentou argumentar e, olhando nos olhos de Milo, percebeu que ele poderia estar dizendo a verdade. Ele simplesmente respondeu negativamente com a cabeça. – "Ninguém?"

"Ninguém… sempre fico nas carícias e nunca vou até o fim…"

"E o que dizem de você por aí?" – Camus estava indignado, não acreditando.

"É mentira! Eu simplesmente travo."

Camus ficou boquiaberto, não se conformando. Levou a mão direita à cabeça, passando-a pelos fios azulados e lisos, num ato nervoso. Pensa se deve dizer a verdade para Milo; hesita num primeiro momento e, após respirar fundo, acaba revelando.

"Milo, você não seria a primeira pessoa que eu…"

"Como assim?" – Milo sentou-se, assustado, prestando atenção no que Camus tinha a lhe dizer.

"Na Sibéria, meu mestre arranjou uma garota para mim… sei que é um pouco estranho, principalmente porque não há motivo para eu me reprimir tanto com você. Não tenho nada contra essas tradições e costumes gregos, mas entenda que eu não estou preparado… não agora". – Apesar de ter dito isso, Camus sentiu-se mal, mas não diria a Milo a verdade… bem, em parte aquilo era verdade, então não havia o porquê de se sentir mal.

"…" - Milo ficou visivelmente emburrado com a confissão de Camus, mas teria de aceitar, afinal não queria terminar a amizade de anos com o francês e mesmo porque sentiu ciúmes e insegurança. Mas, prestando atenção nas palavras finais de Camus, percebeu que a idéia também passava pela cabeça de Aquário. Sorriu internamente, mas continuou emburrado. Camus simplesmente suspirou e deitou-se de costas para ele, fechou os olhos e tentou dormir por um tempo.

Milo tentou fazer o mesmo, mas não conseguia. Tentava imaginar Camus com alguma garota russa e, para seu desespero, imaginava todos os detalhes possíveis. Tirou a conclusão de que Camus deveria ter aprendido com a tal garota a se portar daquela maneira com ele, enquanto estavam juntos. Ficou tão desesperado, que começou a rir sozinho, não conseguindo parar e acabou irritando o francês, que estava quase dormindo.

Irritado, Camus levantou-se, caminhou até onde havia deixado seus pertences, pegou-os e foi embora, mas não sem antes olhar Milo com um olhar assassino.

"Camus, o quê aconteceu?" – Saga olhou-o caído no chão, depois de ter se chocado contra o francês enquanto descia em direção à sua Casa Zodiacal.

"Não… não foi nada. Pardon… "- Camus juntava as joelheiras e ombreiras, caídas no chão. Saga abaixou-se para ajudá-lo.

"Você e seu sotaque francês… "- suspirou, fazendo o francês corar. – "Faz tempo que não conversamos, não é, Camus?"

"Eu… eu estou tão atarefado ultimamente… me desculpe, Saga."

"Eu poderia dizer que está me evitando. Eu fiz algo de errado com você?"

"Não… não… é que… "- olhou para os lados, rezando intimamente para que alguém aparecesse ali e o salvasse de ter aquela conversa com Saga. Mas, ninguém apareceu… nem uma simples alma…

"Estou esperando, Camus." – Saga tirou os pertences de Camus de seus braços, segurando-os e andando ao lado de Aquário.

"Saga, é normal o que sinto por Milo? Ele me irrita, me tira do sério… mas me trata bem, me escuta, é o meu amigo… e quer dizer que me ama."

"E é isso que sente por ele?"

"Não sei… mas me sinto mal quando o trato indiferente, quando me esquivo dele… ele quer que…"

"Sexo."

"Sim… mas eu não tenho certeza disso."

"Não se recuperou?" – Saga olha-o diretamente nos olhos. Camus não mentiria para ele descaradamente.

"Não… não que eu não quisesse, mas…"

"Você queria ser experiente, achando que ele também fosse… mas essa não é bem a verdade. Ele queria que fosse você mesmo."

"Saga… acho que eu errei, mas… ah, eu não sei!" – Camus olhou para baixo, resignado.

O silêncio caiu entre os dois. Apesar de experiente e sempre sabendo o que dizer, Saga preferiu continuar em silêncio. Sentiu-se mal, mas na verdade, não sabia o porquê. Só queria ajudá-lo…

"O problema é que Milo não quer sexo, Camus. Ele quer amor. Você quis sexo e se sente mal agora."

"Não.. não é isso… "- Camus tentava argumentar, mas seria impossível.

"Se Milo quisesse só sexo com você não teria problemas, afinal, você tem aversão aos sentimentos alheios e aos próprios… mas, façamos o seguinte: eu vou ajudar você…"

"De novo?" – Camus arregalou os olhos azuis; Saga riu da atitude inesperada dele.

"Eu vou saber quais são as intenções de Milo com você… mas, independente do que você espera, acho que vocês acabariam saindo no lucro de qualquer jeito… Afinal, os hormônios ainda falariam mais alto."

Camus olhou Saga intrigado, mas com certeza ele conversaria com Milo e descobriria os sentimentos dele.

"Foi… foi só sexo?" – Camus pergunta enquanto pegava seus pertences que Saga segurava.

"Não… não foi com amor, mas também não foi só sexo." – Saga sorriu para Camus, que logo lhe retribuiu um sorriso igualmente doce.

Camus suspirou e seguiu em frente, enquanto Saga observava cada movimento do garoto que subia as escadas correndo. Olhou para cima, antes de adentrar a Casa de Gêmeos.

Milo ainda se encontrava embaixo da oliveira, agora um pouco mais tranqüilo. Já havia se acalmado da crise de risos, mas a verdade é que acabou sentindo-se um pouco mal, pois Camus não gostara da atitude dele. "Coisa de criança… quando vai passar?", pensou, referindo-se a si próprio. Suspirou e levantou-se, alongou-se e seguiu para a arena, onde viu que Aiolia e Aiolos treinavam. Pararia por lá para atazanar o menor; adorava fazer isso.

Mas, não parou, seguiu em frente. Seguiu em direção aos Templos, passando em frente à Casa de Gêmeos. Anseou por entrar, mas acabou desistindo da idéia. Seguiu para a própria Casa, precisava de um banho e precisava ler os livros que Saga havia lhe emprestado.

Camus, em sua Casa, tentava esquecer a conversa com Saga, mas era impossível. Sabia o quanto ele conseguia ser envolente, aliás, aquilo deveria ser um mal naquele Santuário; por quê os gregos o tiravam do sério? Sentiu raiva de si mesmo, era mais fácil entregar-se a Milo do que resistir daquela maneira… mas seria muito mais interessante se o maldito soubesse fazer direitinho… "Mérde!". Enfiou a cabeça embaixo do travesseiro, como se pudesse afastar ou mesmo se esconder desses pensamentos. Por graça dos Deuses, acabou dormindo.