A TÃO ESPERADA NOITE

Quando eles finalmente foram dispensados da aula, Lily já estava à beira de um ataque de nervos. Pouco a pouco, todos foram saindo da Torre e indo para seus Salões Comunais. Como ela queria ir para o Salão Comunal, se enfiar no dormitório e se esconder até o final do ano em sua cama, era isso que ela devia fazer. "Corram!", ela dizia para suas próprias pernas. Mas elas não se mexiam. Vicky já tinha saído há algum tempo, mas Hermione continuava ao seu lado. Meg assobiava e olhava para cima, sem dar sinais de que ia sair dali. Lily achou isso muito estranho, mas não estava com muita vontade de ir lá perguntar o porquê daquela atitude estranha. Foi então que ela viu James Potter ao longe. Ele estava conversando com Black, mas sorriu para Lily e deu uma piscadinha. Como ela tinha ódio de piscadinhas! Principalmente das de James Potter. Francamente, aquilo era o cúmulo da atitude cafajeste. Sentiu vontade de ir até a beira da Torre e vomitar, mas as pernas continuavam imóveis. Hermione virou-se para a amiga e disse:

-Agora eu tenho que ir... Boa sorte! – e então foi embora, deixando Lily desesperada.

Seus músculos enfim resolveram colaborar e ela foi caminhando lentamente até a maldita estátua do bruxo perneta perto da maldita antiga sala de Feitiços. Bruxo perneta. Era aquela idéia que Potter tinha de um encontro romântico? Aquele bruxo era asqueroso e começar o encontro ao seu lado não era um bom sinal... Mas como não tinha mais muita saída naquele momento, foi até o local combinado. Logo chegou lá, mas o mesmo não aconteceu com Potter. E Lily esperou. Esperou por muito tempo. Que ódio! Potter não teria coragem de não aparecer! Teria? Será que ele tinha insistido por tanto tempo para acabar dando-lhe o cano? Lily sentia que o resto de sua dignidade estava se acabando à medida que o tempo passava. Se há uma semana atrás alguém lhe tivesse dito que ela passaria a noite esperando por Potter, ela definitivamente teria rido na cara da pessoa. E lá estava ela. Lily estava cansada de ficar de pé, mas sentar-se para esperar James era o cúmulo. Não, isso ela não faria! E foi então, 20 minutos depois, que o canalha apareceu. Sorrindo. Era só o que faltava.

Sirius e Meg estavam se encarando há um tempo sem dizer nada, o que, na opinião dela, era bastante perturbador. Ele não estava sorrindo, mas a garota podia ver claramente em seus olhos que ele estava se divertindo muito às custas de seu constrangimento. Foi então que ela tomou uma atitude:

-Confesso que esperava mais de você, Black. Sinto muito, mas você não é tudo isso em um encontro. – ela tentou dar um sorriso confiante, mas tudo o que saiu foi uma careta. "Belo começo", pensou.

-Isso é porque ainda não começamos o nosso encontro. – disse ele, que ao contrário dela, sabia perfeitamente como sorrir e parecer arrogante ao mesmo tempo. Se tinha algo que ele sabia fazer direito, era isso.

-E posso saber quando vai começar? – perguntou. Sentiu que começara a suar frio. Maravilha. Sair com um garoto lindo era realmente uma tarefa dificílima. Era por isso que ela não costumava fazer dessas coisas.

-Quando você estiver pronta – ele disse dando o seu melhor sorriso. "Pronto", pensou, "Agora ficou fácil, ela está completamente encantada".

-Estou pronta agora – disse ela sorrindo de volta e enxugando as mãos na parte de trás da saia. "Pode sorrir o quanto quiser. Até romper os músculos da face, se for preciso, mas não vai ser tão fácil, querido".

-Então vamos. – disse ele, caminhando até as escadas.

-Posso saber para onde? – perguntou Meg dando passos largos para alcançar os dele.

-Não. – respondeu Sirius rindo da cara chocada que a menina fez. Ela o olhava incrédula e, como não parecia disposta a se mover sem saber para onde, ele acrescentou – Você logo vai saber! Vamosé surpresa!

-Isso não está me cheirando bem Black, nada bem! – disse Meg sacudindo a cabeça lentamente. Uma surpresa de Black... O que podia ser? Do jeito que ele era alucinado, poderia ser realmente qualquer coisa, e isso não a animava. Ela simplesmente odiava surpresas. E se ele quisesse ir para os jardins? Se sentar na grama com aquela saia? Não dava. Ele podia ter avisado que eles não iam ficar na torre! Como que lendo seus pensamentos, ele falou:

-Você não estava achando que íamos passar o tempo todo sentados nessas pedras frias aqui da torre, estava? – dessa vez era ele quem estava chocado. O que ela estava esperando dele? Ele era Sirius Black. O sonho de toda garota era sair com ele. E por quê? Bem, além do fato de ele ser simplesmente maravilhoso e irresistível, os encontros com ele eram inesquecíveis. Ele nunca, em sã consciência, passaria a noite na torre de astronomia!

-Não... – foi então que ela teve uma idéia – Mas eu acho que é uma ótima sugestão! Vamos ficar por aqui! – e então ela se sentou com as pernas de lado e observou-o, divertida. Ela com certeza tinha arruinado seus planos para a noite e com isso o pegaria completamente desprevenido. Que maravilha!

-Você está falando sério? Eu conheço um lugar muito melhor! – Que droga! Ele ia levá-la para um lugar maravilhoso nos jardins, que só ele e James conheciam! Nem os outros Marotos sabiam da existência desse lugar, pois James e Sirius queriam exclusividade total para levar suas garotas. Com esse lugar, Meg ficaria impressionada, como todas as dezenas de garotas que ele tinha levado. Na Torre seria muito mais difícil impressioná-la. Mas tudo bem, Sirius Black gostava de desafios.

-Nenhum lugar pode ser melhor do que esse... – disse ela com um tom falsamente inocente.

-Está certo então. Seu desejo é uma ordem! – disse ele, sentando-se.

-Que frase mais clichê, Black! – disse Meg, rindo.

-Eu diria que é um clássico! – respondeu ele, sorrindo.

-Posso considerar esse encontro começado? – perguntou Meg.

-Com toda certeza. – respondeu Sirius.

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-Começou bem, senhor Potter! Muito bem! – disse Lily, irritada. – Imagino que não seja assim em todos os seus encontros, não? Sinceramente, eu não consigo entender como você arruma tantas garotas assim para sair com você!

-Na verdade, nenhum dos meus encontros começou assim. Mas é porque o seu não é como os outros. Eu tive que preparar algumas coisas. – respondeu James rindo da irritação da menina.

-Ah... – Lily encontrou-se momentaneamente sem palavras. As palavras de James acabaram com a sua fúria, contra sua vontade. E de repente lá estava ela, sem saber o que dizer, pois todo o discurso irado que ela tinha preparado mentalmente se apagara de sua mente.

-Vamos? – perguntou James aproveitando-se da ocasião. Sabia que a qualquer momento Lily podia mudar de humor e se irritar de novo. Tudo que tinha a fazer era aproveitar sua calma repentina.

-Pra onde? – perguntou Lily com uma leve suspeita. Lugar desconhecido à noite com Potter? Com toda a certeza do mundo, era uma fria. Já estava até arrependida de estar naquele corredor àquela hora. Se a pegassem, ela receberia com certeza uma detenção. Já era para todos estarem nos dormitórios!

-Não me faça estragar a surpresa! – respondeu James levemente contrariado. E então acrescentou – Não se preocupe, te garanto que ninguém nunca vai nos pegar nesse lugar.

-Já que é assim... – Lily suspirou e revirou os olhos lentamente. Ele sorriu, virou-se de costas e começou a andar. Ela esperou um pouco, mas logo começou a segui-lo. Rapidamente percebeu que estavam se aproximando da porta do castelo. Ela franziu as sobrancelhas preocupada, mas continuou andando. Então os dois saíram do castelo e andaram. Passaram pelo lago e foram rumo à floresta proibida. Nesse momento Lily parou e disse – Chega, daqui eu não passo!

-Estamos quase chegando! – disse ele voltando-se para trás para encará-la.

-Estamos entrando na floresta! Sem chances de eu dar mais um passo nessa direção! – ela deu um passo para trás.

-Não vamos entrar na floresta. Quer dizer, vamos, mas não vamos longe. Fique tranqüila e venha! Você não é a primeira que eu trago aqui! – foi então que ele percebeu que tinha cometido um erro. O rosto de Lily ficou quase da cor de seus cabelos e suas narinas se inflaram. Ele disse rapidamente – Não esperava essa covardia de sua parte! – suas palavras surtiram o efeito esperado. Ela ficou mais vermelha do que antes, depois voltou a uma tonalidade mais clara e seus olhos iam de um lado para o outro. James podia ver que ela estava totalmente em dúvida. Obviamente não podia seguir em frente, mas por outro lado, ser chamada de covarde por Potter era uma ofensa profunda, algo que Lily Evans não podia agüentar. Então, após analisar bem a situação, ela foi obrigada a dar um passo pra frente e caminhar em sua direção.

-Vamos – disse ela –, antes que eu desista! E é bom não irmos longe mesmo! – ele sorriu e foi andando. De fato, não tiveram que andar muito, mas fizeram um caminho extremamente complexo, cheio de atalhos, curvas e caminhos alternativos. Então, James parou e afastou as folhas de um arbusto. Assim que viu a paisagem, sorriu, olhou para ele e disse –Valeu mesmo a pena!

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-Qual é, Black? – disse Meg irritada – Vai ficar me encarando ou vai dizer alguma coisa?

-Mais do que eu já disse? – respondeu Sirius igualmente irritado – Eu fiz um monólogo aqui! Fiquei falando por horas, e você nada! Nem olhou para a minha cara! Ficou olhando para as unhas o tempo todo! Como se você tivesse unhas!

-Não fale das minhas unhas, Black! – disse Meg escondendo as unhas roídas – Como você se sentiria se eu falasse dos seus dedos gordos?

-Dedos gordos? – Sirius respirou fundo enquanto corava furiosamente. Meg o observava triunfante, embora ainda estivesse profundamente ofendida pelo comentário sobre suas unhas. Ela já havia tentado parar de roê-las várias vezes, mas era simplesmente impossível! Quando voltou a si, Sirius estava olhando atônito para seus dedos enquanto tentava descobrir o que havia de anormal neles. – Eu não tenho dedos gordos! Tenho?

É claro que tem! São menores e bem mais gordos do que dedos normais! Até parecem os do seu amigo Pettigrew, só que um pouco menos obesos! – disse ela sorrindo maldosamente.

É melhor ter dedos obesos do que ter bochechas grandes! – disse ele indignado enquanto media a largura de seus dedos.

-Isso foi uma indireta bem direta! – ela ficou extremamente vermelha. Quem ele pensava que era para falar assim dela? – Se você não gosta das minhas bochechas, não devia ter me convidado para sair com você!

-Eu não sou muito exigente! – disse ele fuzilando-a com o olhar. Aquela garota era a mais atrevida com quem tinha saído até o momento! Se estava sendo assim com Meg, ele não queria nem pensar em como seria seu encontro com Vicky! E muito menos em como estava sendo o encontro de James com Lily! Aquelas meninas da Grifinória tinham um gênio péssimo! – E, além disso, eu acho que todas merecem a chance de sair com alguém como eu pelo menos uma vez na vida! E se você odeia tanto assim os meus dedos, era só não ter aceitado o meu convite!

-Eu fui chantageada, esqueceu? Eu não viria se não fosse por isso! – Meg foi obrigada a confessar para si mesma que aquilo não era totalmente verdade. Claro, ela não teria saído com Black, por amizade a Lily e tudo mais. E ela também não gostava muito da idéia de que seria só mais uma, mas na verdade, ela não estava nem um pouco chateada por estar ali com Sirius Black. Embora não quisesse pensar assim, ela achava que aquilo era realmente um privilégio.

-Ah, fique quieta! O tipo arrogante não combina com você! – disse Sirius sorrindo.

-E combina com você? – perguntou ela erguendo as sobrancelhas.

-Tudo combina comigo, querida! Uma das vantagens de ser Sirius Black! – respondeu ele erguendo os ombros e sorrindo, embora ainda estivesse irritado.

-Cite uma desvantagem. – ela tentava não sorrir, mas não conseguia. Ele parecia mesmo estar pensando em alguma coisa. Então ele suspirou, sacudiu a cabeça de um lado para o outro e disse com convicção:

-Nenhuma.

-Pode deixar que eu cito, então – disse ela com a mão estendida bem na frente dele – A primeira é que esses dedos gordos não parecem ser muito práticos...Deve ser um trabalhão levantar essa sua mão. O seu mindinho pesa o mesmo que o rabo de um elefante bebê. A segunda é que você não é levado a sério por nenhuma menina. Você acha que usa todas, mas na verdade você é o usado. – ela ria da cara que ele fazia enquanto ia enumerando as razões com os dedos da mão estendida – A terceira é que dois terços do seu cérebro são ocupados com besteiras, o que deixa um espaço mínimo para coisas importantes e para as aulas. Não que você seja burro, mas usa muito mal sua inteligência. A quarta, e a mais importante de todasé que você não tem sentimentos e não gosta de nada e nem de ninguém. Deve ser muito triste ser você.

-Isso não é verdade...É claro que eu gosto das pessoas! Eu gosto demais das pessoas! Por isso eu sinto uma necessidade muito grande de variar as namoradas! – ele sorriu ao ver a cara de desapontada que ela fez. Mas logo o rosto da menina iluminou-se em um sorriso.

-Então quer dizer que você sempre gosta de alguém?

-Sempre. – ele respondeu convicto.

-E neste momento, de quem você gosta? – ela perguntou aproximando-se dele.

-Eu preciso mesmo responder essa pergunta? – perguntou ele sem entender direito onde ela queria chegar, mas se aproveitando da situação.

-Não. – respondeu ela se afastando novamente. – Eu não acreditaria a sua resposta de qualquer forma.

É uma pena... – disse ele tentando se aproximar, enquanto ela se afastava mais. Então ele parou e bufou. – Cansei desse tipo de joguinho por hoje! – nesse momento Meg parou e assumiu uma expressão muito séria.

-Eu não fiz nada do tipo hoje. Se você estiver saindo com alguém é melhor me dizer agora, porque eu odeio perder o meu tempo. – disse ela sem tirar os olhos dele.

-Eu não estou saindo com ninguém – respondeu ele. Era verdade. Ele não estava saindo com alguém, só tinha tentado sair com alguém...Lembrou-se do que acontecera antes daquele encontro e se sentiu levemente culpado, mas logo sacudiu a cabeça e tirou aquilo da mente. Ninguém podia dizer que ele estava mentindo...E é certo que ele a havia chantageado, mas era só uma questão de tempo para que ela aceitasse por vontade própria. Ele só havia acelerado um pouco o processo.

-Certo... – ela continuava observando-o para ver se não aparecia em seu rosto qualquer sinal de que estava mentindo. Ela tinha certeza de que ele estava escondendo alguma coisa, mas achou que era melhor não forçá-lo mais.

-E eu, estou perdendo meu tempo? – perguntou ele aproveitando aquela falta de perguntas para tentar virar o jogo e pressioná-la.

-O que você quer dizer com isso? – ela estava completamente desarmada naquele momento. Ele estava saindo com outra. Será que ela devia continuar ali?

-Sem querer ser indiscreto, mas...Você vai continuar fugindo de mim? Eu não vejo porque continuar aqui se não vai acontecer nada... – ele sorriu tentando parecer inocente, o que não era uma de suas especialidades.

-Não, você não está perdendo o seu tempo... – respondeu Meg sorrindo de modo desajeitado. Por mais que soubesse que não era a única e que provavelmente nunca seria, era impossível dizer não àquele pedido. Ela já estava lá mesmo, era melhor fazer o serviço completo. E bem, não havia como negar o fato de que ela amava Sirius Black apesar de tudo. Ao ouvir sua resposta, o sorriso de Sirius aumentou e ele se aproximou.

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Lily olhou a sua volta maravilhada. Era um lugar muito bonito: havia um riacho, coisa que ela não sabia existir em Hogwarts, plantas e muitas flores. Ainda havia um pano estendido na grama, bem perto do rio, onde a lua crescente estava refletida. Era um lugar simples, mas estonteante. Ela conhecia vários lugares lindos em Hogwarts e aquele era certamente um deles. Só estranhava o fato de nunca ter ouvido falar nele, mas logo se lembrou de que Hogwarts era cheia de surpresas e que provavelmente existiam muitos outros lugares como aquele, que ninguém conhecia e que talvez nunca conhecesse. Lily sorriu e virou-se para James:

-O lugar é realmente maravilhoso, mas você disse que se atrasou porque teve que preparar algumas coisas... – ela não terminou a frase, mas James entendeu o que ela quis dizer. Ele então respondeu simplesmente:

-Parece uma simples obra da natureza, não? Mas você não está achando essas flores um pouco estranhas nessa época do ano? Eu tive que fazer alguns feitiços...E veja – ele deu alguns passos para o lado e pegou uma caixa preta que estava se confundindo na grama escura. James deu a caixa para Lily– Agora abra.

Ela abriu, e foi então que milhares de vaga-lumes saíram da caixa e começaram a voar. Ela olhou para James e sorriu:

-Lindo.

-Eu? – perguntou ele rindo marotamente. Lily pensou que ele ficava muito bem rindo daquele jeito. Logo em seguida arrependeu-se de ter pensado naquilo. Não que ela pudesse controlar, mas pensar coisas boas sobre James Potter não devia ser coisa boa...Com certeza não! Mas ela tinha que reconhecer que ele havia caprichado.

-Não, isso! Tudo! – ela riu e sentou-se no pano enquanto ele se instalava ao seu lado – Não vá me dizer que você bordou esse pano também?

-Não, mas foi o Sirius! Ele é um excelente bordador, aprendeu com a minha mãe! – disse ele rindo – Tudo bem, eu comprei em Hogsmead. Mas convenhamos, isso mostra que eu tenho bom gosto, não?

É, tenho que confessar que sim. Está tudo perfeito. Obrigada. – disse ela abaixando os olhos.

-Não precisa agradecer. – respondeu ele parando de rir e olhando-a.

-Quem diria que um dia nós dois estaríamos sentados aqui conversando em paz! – disse Lily olhando para o céu estrelado.

-Todo mundo! O fato de que você gosta e sempre gostou de mim sempre foi óbvio para todos e principalmente para mim. – respondeu ele, confiante. Estava muito seguro de si, pois até aquele dia nenhuma menina havia resistido a um encontro com ele. Muito menos naquele lugar que ele e Sirius tinham tido a sorte de descobrir. Além disso, era claro que ela gostava dele, a escola toda sabia. E ele se referia à escola do passado e à do presente.

-Sinto te desapontar, mas eu não gosto de você! – disse ela levemente indignada, mas sorrindo triunfante. Uma de suas atividades preferidas era acabar com as esperanças de James Potter, e nessa arte ela era melhor do que ninguém. Mas dessa vez a afirmação não surtiu o efeito esperado, pois James continuou sorrindo.

-Se você não gostasse não teria vindo a esse encontro – respondeu simplesmente.

-Você sabe muito bem por que eu vim. – disse ela suspirando. – Mas já que estamos aqui, vamos tentar ficar em paz, eu não quero passar a noite discutindo com você.

-Certo. – disse ele. Então os dois ficaram em silêncio por um tempo, ouvindo apenas o barulho da água. Após um tempo, Lily perguntou:

-Se eu tivesse aceitado sair com você na primeira vez que você me chamou, não estaríamos juntos até hoje, estaríamos?

-Eu tenho que confessar que naquela época eu não gostava de você como eu gosto hoje –respondeu ele, pensativo. Então continuou – Mas seria impossível sair com você uma vez e te deixar! – disse ele sorrindo. Ela corou nervosamente e olhou para o outro lado. Esperou um pouco e voltou a encará-lo.

-Não tenho por que acreditar em você, aposto que você diz isso para todas! – ele franziu as sobrancelhas, indignado, mas aquilo estranhamente não fez com que ela se sentisse satisfeita.

-Você obviamente não me conhece. – disse ele. – E é por isso que nós temos que conversar! – ela abriu a boca, estupefata. Não esperava essa atitude dele. Achava que ele ia querer partir logo para a ação. Mas de fato assim era melhor, ela realmente não o conhecia direito, veria o que ele tinha para dizer.

-Conversar sobre o quê? – perguntou.

-Sobre o que você quiser. – ele disse.

-Como se a gente tivesse assuntos em comum. – ele abriu a boca para retrucar, mas ela continuou – Sua vida se resume a Quadribol, azarar o Snape e eventualmente algum outro Sonserino, manter a popularidade e o ego nas alturas e dar em cima de garotas...E bem, daquele garoto loiro de cabelo comprido da Corvinal! – ela não pode conter um risinho ao lembrar daquele episódio.

-Ei! Isso não é justo! Ele estava de costas! Qualquer um acharia que ele era uma menina! Não fui só eu, no mínimo uns três garotos foram falar com "ela"! – a lembrança daquilo o deixava extremamente envergonhado. Ele e Sirius ficaram no mínimo duas semanas sem sair com ninguém, tamanho o trauma!

-De qualquer forma, – disse ela rindo ainda mais de sua cara vermelha – eu não faço esse tipo de coisas. Eu estudo, cuido da monitoria, leio, converso calmamente com as minhas amigas, sem atacá-las com bombas de bosta...

-Eu só estava revidando, o Sirius começou! – disse ele para se defender.

-Todas às vezes? Vocês se atacam duas vezes por semana! – disse ela balançando a cabeça, sem entender qual era a graça de atacarem uns aos outros. – Mas como eu ia dizendo, não temos nada em comum, as coisas que eu faço...

-Ora, você não faz nada! Você chama estudar e ler de atividade? – perguntou ele tentando manter uma aparência séria – Eu chamo de tédio!

-Viu? – disse ela resolutamente – Você não me entende. A gente não tem sobre o que conversar!

-E o que a gente está fazendo agora é o quê? Tomando chá? Estamos conversando.

Ela parou para pensar um momento, perplexa pelo fato de aquilo estar acontecendo. Ela estava sentada conversando calmamente com James Potter. Ela não o havia xingado, nem gritado, nem lhe dado um tapa na cara ou ameaçado ir para o dormitório. Eles simplesmente estavam conversando. Então ela se viu obrigada a admitir que ele tinha a razão daquela vez.

É verdade...

E bem, para a surpresa ainda maior de Lily e de qualquer um que conhecesse os dois e estivesse assistindo aquela cena, os dois conversaram por muito tempo. Falaram de professores, alunos, aulas, Quadribol, e até mesmo do relacionamento um tanto quanto conflituoso dos dois. Lily cismava em dizer que ele era um irresponsável arrogante e que, por isso, ela não tinha saído com ele até agora. Ele, por sua vez, garantiu que agora estava apto a manter uma relação monogâmica e que havia mudado há muito tempo. Ressaltou, porém, que por mais que fosse um irresponsável arrogante, era irresistível, e que a prova mais concreta disso era que até mesmo a monitora irritada Lily Evans tinha cedido ao seu charme.

-Mas não se preocupe, – concluiu ele – muitas outras garotas também cederam. Você foi a que mais resistiu.

-Eu não sei como você suporta viver consigo mesmo! Deve ser um inferno! – ele sorria e ela não podia reprimir um sorrisinho.

-Inferno deve ser viver sem a minha presença! – ele passou a mão sobre os cabelos e ela revirou os olhos. Ele começou a rir de novo e ela suspirou, tornando a sorrir em seguida. Aquilo definitivamente não era normal. Ela estava realmente se divertindo com ele! Mas naquele momento, em vez de sentir que aquilo era esquisito e que ela estava doente, Lily pensou que era a coisa mais natural desse mundo e se espantou com o fato de que durante todo aquele tempo nada daquilo acontecera. Era um momento. Estava definitivamente rolando um momento entre os dois. Ele sorriu. Ele também percebera o momento! Ele estava se aproximando dela! Mas Lily não fez nada, deu um último suspiro e deixou ele fazer o que quisesse.

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-Não é possível, não é possível! – Sirius Black andava de um lado para o outro, irritado. Aquele encontro era um fracasso e não havia nada que ele pudesse fazer para recuperá-lo. Meg já estava ganha, ele tinha certeza disso. Estava completamente conquistada, mas alguma força do destino o impedia de chegar à melhor parte do encontro. Seria um castigo divino por ele ter namorado metade de Hogwarts e tê-las traído com a outra metade? Ou seria simplesmente um castigo por aquilo que ele havia feito logo antes do encontro? Não havia resposta! Não havia o que fazer! Ele apenas continuava andando e dizendo – Não pode ser possível!

-Pare de andar de um lado para o outro e reclamar, eu já disse que não é minha culpa! – Meg se sentia extremamente envergonhada. Ela tinha traído a confiança das amigas e botado tudo a perder com o menino de quem gostava. Que dia!

-Eu sei que não é sua culpa! – disse ele com um tom de voz consideravelmente mais alto do que o normal. Ela abaixou os olhos e não disse nada – Não acho que você esteja fingindo nem nada, mas isso não é normal! Garotas não sentem cócegas quando tocam nelas! – ele riu sarcasticamente, tamanho o absurdo da situação. Quando Meg dissera que ele não estava perdendo seu tempo, deixou claro que ele podia beijá-la. E era essa a intenção dele quando se inclinara e passara os braços ao redor da sua cintura. Foi então que ela começara a gritar e sacudir-se de tal forma que acabara por dar-lhe um soco no olho, que àquelas alturas devia estar roxo. Ela desculpara-se, dissera que tinha cócegas sempre que se encostavam em algum lugar próximo à sua barriga e que não ia acontecer de novo. Ela parecera tão sincera que ele resolveu dar-lhe uma segunda chance. Antes não tivesse dado. Levara um soco na barriga e um chute na perna. Tentara então não encostar nela, mas sua mão de alguma forma acabava incomodando-a e ele acabava pagando o pato. Por mais que tentasse beijá-la sem tocá-la, as tentativas foram completamente frustradas e o que saía era um resultado horrível. Desde então ele estava andando sem parar, furioso, enquanto ela mantinha os olhos baixos e se desculpava.

-Em mim isso é! – ela respondeu – Você se lembra daquela vez em que eu gritei no meio de uma aula do Professor Binns e interrompi sua leitura, fazendo todos me olharem? Pois bem, a Lily tinha feito cócegas em mim!

-Como? – perguntou ele – Ela sempre senta atrás de você nas aulas de História da Magiaé um pouco longe para tocar decentemente em você.

-Pois é...Com um leve toque de lápis ela conseguiu provocar aquele estrago! E nem foi culpa dela, coitada, ela só estava tentando me fazer acordar para tentar prestar atenção na aula!

-Entendo... – disse ele ainda mau-humorado. – De qualquer forma, não importa mais. O encontro acabou, vamos voltar para os dormitórios.

Meg abaixou a cabeça e levantou-se também. Era o melhor que tinha a fazer.

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James estava realmente bem próximo de Lily. Ela mantinha os olhos fechados, na expectativa. Era um momento único, ela tinha que reconhecer que não se sentia nada incomodada ou disposta a sair dali. Pelo contrário. Foi então que sentiu algo na barriga. Estranhou a princípio, mas não deu muita atenção. Provavelmente era a mão de James. Mas então a coisa começou a subir pela sua barriga rapidamente, por debaixo da blusa. Ela assustou-se e estava a ponto de mandá-lo parar com aquilo quando sentiu as duas mãos dele agarradas à sua cintura. Se suas mãos estavam lá, quem estava sob a blusa? Tudo aconteceu em uma fração de segundo. Ela concluiu que era um bicho, e ao sentir que era gelado, teve a certeza absoluta. Desesperada, sacudiu-se para tentar livrar-se dele, e gritava desesperada enquanto se debatia, pronta a pular na água. Mas não foi ela quem caiu no riacho. Foi James. Ao sacudir-se, esquecera-se dele, do momento e do riacho. Simplesmente distribuiu pancada para todos os lados e o jogara na água. Ao vê-lo se debatendo e escorregando nas pedras limosas, ela esqueceu-se do bicho e estendeu a mão para puxá-lo. Mas ao escorregar novamente em uma pedra, James acabou levando-a consigo. Lily gritava de frio, de nojo e de susto. Foi então que um grilo pulou de sua blusa e foi arrastado pela água. Livre de um problema, deu um jeito de arrastar-se para a margem e saiu. James também se levantara e observava sem saber ao certo como reagir. Em um momento, tudo estava perfeito e ele estava a um segundo de beijar Lily Evans. No outro, estava debatendo-se dentro de um lago com a barriga seriamente dolorida graças a um dos socos da menina. Ela olhou-o, envergonhada e tremendo de frio. Disse:

-Tinha um grilo debaixo da... – parou e disse em voz baixa e sentida – Me desculpe.

-Não tem problema... – disse ele torcendo as roupas molhadas – Essas coisas acontecem. Nunca tinham acontecido comigo, mas devem acontecer! – ele riu e ela riu timidamente. –Sinto muito pelo nosso encontro, que acabou de uma maneira bem inusitada!

-Eu também sinto muito. – disse ela sinceramente. Então, completamente sem pensar, continuou – Vamos remarcar.

-Então houve mesmo um momento? – perguntou ele timidamente.

-Com toda a certeza – ela sacudiu a cabeça positivamente e sorriu.

-Que bom, então não foi um fracasso total. – então ele pegou o pano estendido no chão e colocou por cima de si – Venha, você deve estar com frio.

Os dois voltaram então para o castelo e foram até a torre da Grifinória, juntos e enrolados pelo grande e belo pano bordado.

N/A: Desculpem pela demora! Eu não sabia como fazer esse capítulo chegar a esse desfecho e tal! Vou tentar escrever o próximo mais rápido, prometo! Bemé isso!