Vicky tamborilava distraidamente no braço de uma poltrona do Salão Comunal, enquanto observava o fogo. Ela decididamente não ia dormir enquanto Lily não chegasse, pois estava morrendo de curiosidade para saber como tinha sido o tão esperado primeiro encontro entre ela e James Potter. Ela também sabia que Meg não estava lá, assim como Sirius. Enquanto esperava, ia botando os pensamentos em ordem. Ela não sabia exatamente desde quando gostava de Black. A verdade era que ela ainda não admitia esse fato para si mesma sem uma pontada de culpa e desgosto. Garotas como ela não deviam cair na armadilha de garotos como ele. Eram elas que deviam montar as armadilhas. E com isso na cabeça, fazia o máximo para não se deixar levar e ia conquistando-o aos poucos. Era uma tarefa difícil, já que ele não tinha namorado seriamente com ninguém, mas para alguém como ela, nada era impossível, disso ela tinha certeza. O que ela tinha a fazer era jogar com as mesmas armas de Black: a arrogância, o ar de superioridade e uma boa dose de ironia. E o mais importante de tudo era não ceder. Mas ultimamente isso vinha sendo cada vez mais difícil, pois ela sentia que havia algo que a afastava de Sirius. Talvez fosse alguém. Suspirou. Bem, isso só aumentava o desafio. Lembrou-se também da promessa que fizera a Lily, mas como ela namoraria Potter agora, não haveria nenhum problema. O problema era o garoto em si.
Remus a estava observando há algum tempo. Quando a viu suspirar, se aproximou. Ela o viu e sorriu sem muita animação.
Posso me sentar? – perguntou ele. O salão estava vazio e silencioso. Ela levantou os ombros displicentemente e respondeu com a voz calma:
É claro, Remus – indicou uma poltrona à sua frente. Ele sentou-se.
Se eu fosse Sirius, você não me deixaria sentar, deixaria? – perguntou ele, que sabia o que estava se passando na cabeça da menina e tentava introduzir o assunto aos poucos. Apesar de não sair com muitas meninas, Remus as conhecia muito bem. Era por isso que tinha sido o primeiro a notar que Lily gostava de James e que ela não era apenas mais um desafio para este. Por esse motivo sabia também que Sirius, no fundo, era bem capaz de se juntar a alguém, desde que aparecesse a pessoa certa para controlá-lo sem enchê-lo. E ele sabia que aquela pessoa estava muito perto. E foi por isso que, ao ver Vicky sentada suspirando, soube exatamente em quem sua mente estava.
É claro que não – disse ela com um ar levemente irritado – Por um motivo muito simples: eu não confio nele, Remus. Você é o meu amigo.
É, talvez eu seja mesmo o amigo de todo mundo. Apenas isso – disse ele suspirando amargamente. Ele não invejava James e Sirius e nem queria ser como eles, mas nunca nenhuma menina demonstrara um sério interesse por ele. E isso não era uma coisa muito boa.
Não se menospreze. Nem todo mundo te vê como um amigo, apesar do fato de você saber executar essa função como ninguém. – ela sorriu amavelmente. – Você devia tentar ficar com a Meg, que eu saiba ela não está namorando ninguém. – alguma coisa na atitude da amiga naquela tarde, e na de Sirius antes da aula, a fizera suspeitar que algo estava acontecendo entre eles. E por isso ela resolveu especular com Remus, observar sua reação, pois se houvesse alguma coisa, ele saberia. E bom, ele bem que podia ficar com a amiga, daria um casal adorável. E essa era uma palavra que ela não usava freqüentemente.
Ela também é só uma amiga – disse ele sorrindo.
Amizade também é uma forma de amor – ela arqueara as sobrancelhas e o olhava atentamente.
Existem várias formas de amar, tem razão. – ele sorriu – O seu desprezo pelo Sirius e sua insistência em se afastar dele são apenas mais um exemplo.
Ela bufou indignada e disse, pausadamente, como que sublinhando cada sílaba:
Eu não amo Sirius Black – então ela viu que Remus a observava sem acreditar em uma palavra. Deu uma olhada rápida pela sala e constatou que estava mesmo vazia. E, bem, se havia alguém em Hogwarts além de Lily e de Meg em quem ela pudesse confiar, era Remus Lupin. Considerando tudo isso, ela sentiu uma imensa vontade de falar e despejar tudo o que havia acontecido. Decidida a fazer isso, ela disse – Eu só gosto dele.
Remus sorriu triunfante. Mais uma vez ele havia acertado. Agora que ela já havia confessado, tudo se tornava muito mais fácil.
Você sabe se ele está saindo com alguém? Não, não precisa responder...Eu sei que a resposta dessa é óbvia. Mas ele realmente é um canalha! – disse ela torcendo as mãos nervosamente. Agora que havia começado a falar, sentia que tinha de continuar e contar logo o que tinha acontecido antes da aula de astronomia. – Hoje, antes da última aula, eu saí para dar uma volta. A Lily, a Meg e a Hermione tinham me atormentado, eu não suportava mais ficar dentro daquele quarto. Você sabe como é, eu me irrito mais fácil do que o resto das pessoas...Elas estavam se arrumando e não queriam sair do quarto de jeito nenhum, e eu achei isso o cúmulo...Mas não é aí que eu quero chegar, estou me desviando do assunto... –ela parou por um instante.
Continue... – ele incentivou.
Bem, eu saí do Salão Comunal e fui andar. Gosto de fazer isso às vezes. Estava caminhando tranqüilamente quando parei para amarrar o sapato. Por sorte parei do lado de uma estátua bem junto da parede, e Black passou por mim sem me ver. E não é que o idiota fala sozinho? Eu não ouvi muito, mas foi o suficiente para entender que ele estava atrás de alguma garota, que ia sair com ela hoje à noite, ou coisa assim. – ela fez uma pausa, e ele assentiu com a cabeça, confirmando o fato de que ele realmente tinha um encontro – Eu me levantei e continuei meu caminho. E então, do nada, Black saiu da parede!
Onde você estava?
No quarto andar, perto da antiga sala do diretor.
Tem uma passagem que vem do segundo andar, muito utilizada por nós.
Interessante, muito interessante... – disse ela pensando que podia pedir para Black mostrar-lhe algumas – Mas então, ele parecia um pouco surpreso em me ver. Ou seja, ele não estava me procurando, apesar de afirmar o contrário. Ele veio com aquelas cantadas estilo Black, sabe? "Eu estava justamente te procurando, vamos dar uma volta no jardim?" – ela imitou a voz de Sirius com uma tonalidade bastante estúpida e lenta. Remus não pode deixar de dar risada.
Imagino! – disse ele.
Eu dei um fora básico. Eu sei que parte do segredo para segurá-lo é bancar a difícil, que nem a Lily. James não gostava dela no começo, gostava do desafio, da dificuldade que normalmente não tinha. E você sabe, como qualquer um, no que deu.
James sempre gostou de Lily. Quer dizer, antes ele era a fim dela, e depois começou a gostar de verdade. Antes era só...Como dizer? Não era nada muito sério, acontecia freqüentemente, digamos que várias vezes por mês, com várias garotas diferentes. Pode acreditar, Sirius e James realmente gostam das meninas com quem saem. Só que dura muito pouco! – ele sorriu timidamente ao repetir o que os amigos sempre diziam para se defender. Ela sacudiu a cabeça sem nenhum ânimo, como se não acreditasse muito naquilo, embora não estivesse animada para discutir.
Não importa. O fato é que ele parecia estar feliz, mas um pouco nervoso. Eu estranhei, pois não é algo que aconteça muitas vezes. Ele sempre aparenta ser o dono do mundo, o melhor de todos. Mas era algo bem sutil, acho que eu só notei porque...Bem, porque eu procuro estudá-lo para saber qual será minha próxima manobra! Ele continuou com aquele papo, eu continuei na evasiva, mantendo meu ar de enfado e leve superioridade. Xinguei-o algumas vezes, mandei que ele saísse da minha frente, fiz algumas alusões à barriga sarada do Charles Perry, da Corvinal. Ele falou pra eu confessar que gostava dele e tal. Eu fingi pensar um pouco e disse: "Realmente, até que gosto sim". Ele sorriu, crente que tinha finalmente me conquistado. Então eu disse: "Você até que é um bom amigo!". Dei-lhe um beijo na bochecha e pisquei marotamente, exatamente do jeito que ele faz.
Posso imaginar a reação! – disse Remus, entretido pela história. Vicky era realmente observadora, e se Sirius ficasse com ela e Meg ao mesmo tempo, as coisas acabariam bem mal. As duas pareciam gostar dele de verdade. – O que aconteceu depois?
Bem, aí que é o curioso. Ele ficou extremamente irritado, me puxou e me deu um beijo. Não na bochecha, como o meu. Realmente um beijo. – ela disse isso calmamente, mas não pode conter um sorriso ao ver o boquiaberto Remus sentado à sua frente.
E depois? – ele estava curioso para ouvir o final daquela situação.
Eu não pude conter minha surpresa, mas não gritei, nem o empurrei, nem nada. Eu apenas sorri maliciosamente e disse que ele tinha algumas coisas para melhorar! Não que tivesse, foi perfeito! Mas era só para murchar um pouco aquele ego gigante – ela acrescentou ao ver o olhar de Remus, ainda surpreso. – Então ele me convidou novamente para sair, na próxima visita a Hogsmead, no fim de semana depois do próximo. Eu disse que aceitava, mas que se soubesse que ele tinha cantado, beijado ou passado a mão em alguém antes daquele encontro, ele ia se arrepender amargamente do dia em que tinha nascido e que ele nunca mais teria chances comigo. E disse também que o pobre James ia sofrer, pois eu ia contar tudo para Lily para atrapalhar o romance dos dois! – ela revirou os olhos ao ver a cara de Remus quando ouvira aquelas últimas palavras – Não se preocupe, eu NUNCA faria uma coisa dessas com os dois! Foi só pra assustar! Mas quanto ao resto das minhas ameaças, pode acreditar, é tudo verdade.
Entendo... – disse Lupin pensativo.
Ele pareceu perturbado, hesitou por alguns segundos, mas aceitou. Então fomos direto para a aula de astronomia, pois o jantar já devia ter acabado. Ele foi um pouco na minha frente, para ninguém perceber que tínhamos estado juntos. Mas – ela disse com a voz baixa e ressentida – ele não está aqui. No fim da aula, eu disse a ele que ia dormir, que estava com sono. Ele deve ter achado que eu não ia notar sua ausência. Pois bem, eu notei. Eu achei que ele fosse cancelar o encontro, ou qualquer coisa assim! Mas não, Sirius Black é mesmo um idiota! – Remus não disse nada. Sirius não tinha jeito mesmo! – Além de Lily, Parvati e duas meninas do quinto ano não estão aqui, e pode ser alguém de outra casa também. Meg também não chegou ainda. – ao ouvir essa parte, Remus empalideceu. Não duvidava que, ao descobrir que Sirius estava saindo com uma das melhores amigas, Vicky podia ser bem cruel. – Mas eu vou descobrir. Pode escrever, Sirius Black vai se arrepender. E eu já tenho uma idéia de como fazer com que isso aconteça. – ela disse sorrindo.
Como? – Lupin perguntou.
Eu não te contaria, Remus – ela respondeu de uma forma muito tranqüila – Você não merece saber. Quer dizer, você se veria numa situação muito delicada, pois não poderia contar para Sirius, mas também não poderia deixar de contar. Definitivamente você não merece passar por isso! – ela sorriu e levantou-se – Mas não se preocupe, eu sei bem o que estou fazendo. Agora eu vou para o dormitório, Sirius pode chegar a qualquer momento, é bom que ele ache que não sei de nada. Vou esperar Lily por lá mesmo. Boa noite!
E então ela se foi, deixando Remus preocupado e muito curioso para saber quais seriam os próximos acontecimentos dessa história em que o amigo se metera. Menos de um minuto se passara quando Sirius entrou. Ele sentou-se na poltrona que até aquele momento fora ocupada por Vicky, sem dizer uma palavra. Parecia extremamente irritado. Ficou assim por alguns minutos. Foi então que Meg entrou. Acenou para Remus com a cabeça e foi direto para o quarto, sem se despedir de Sirius. Quando ela tinha desaparecido, Lupin achou que já podia perguntar o que tinha acontecido.
Você não vai acreditar no que eu vou te contar! – ele sacudia a cabeça de um lado para o outro, como se nem ele mesmo acreditasse – James já chegou?
Ainda não.
Pelo menos o encontro dele parece ter sido bem sucedido. Quando ele chegar eu conto exatamente o que aconteceu. Não quero ter que passar pela humilhação de colocar isso em palavras duas vezes!
Remus disse que esperava sem problemas. E assim eles ficaram em silêncio por algum tempo. De quando em quando, Sirius resmungava alguma coisa e bufava. Foi então que James e Lily entraram. Nenhuma palavra poderia descrever a reação de Sirius ao vê-los entrar, completamente encharcados. Ele parecia preste a rir da situação, mas aparentava ainda uma grande surpresa, uma compaixão por James (já que entendia perfeitamente o que era ter um encontro importante arruinado) e uma raiva por seu encontro ter sido horrível. Lily despediu-se de James timidamente e correu para o quarto, deixando um rastro de água pelo chão. Quando se viu sozinho com os amigos, James suspirou profunda e lentamente. Disse que ia subir e colocar uma roupa seca. E logo os três estavam sentados no Salão Comunal vazio, pensando na vida.
Bem, Sirius, você pode começar nos contando como foi seu encontro! – disse Remus animadamente. Aquela seria uma noite muito interessante.
Ouçam com atenção, pois eu só vou falar uma vez! – Sirius começou o seu relato, parando algumas vezes para mandar James parar de rir. Quando acabou, afundou na poltrona e tentou apagar tudo aquilo de sua mente. Um desastre. Era assim que ele podia descrever sua noite.
Sua vez, James! – James suspirou, mas contou tudo calmamente. Quando chegou na parte do riacho, Sirius não conseguia se conter, e rolava de um lado para o outro na poltrona de tanto rir.
Pode rir, mas eu pelo menos me dei melhor que você. Eu provavelmente vou ter um segundo encontro, e não tenho dedos gordos! – ao ouvir aquelas palavras vindas da boca de James, os olhos de Sirius se arregalaram.
Então é verdade! Eu tenho dedos gordos! – ele tinha se levantado e contemplava as mãos –Como vocês nunca me avisaram? E eu desfilando por aí com esses dedos obesos! Remus, você que presta atenção nas aulas: o Flitwick já ensinou algum feitiço do emagrecimento? –Sirius falava rapidamente.
Sabiamente, não. Se tivesse ensinado, todas as meninas da escola estariam parecendo um cabo de vassoura! – ele disse sem poder conter o riso diante do amigo a beira da histeria por causa de um motivo tão estúpido.
Relaxe, Almofadinhas! – disse James – Agora me conte, e com a Vicky? Como andam as coisas? É bom você não decepcionar nenhuma das amigas da Lily, se não eu vou ser o grande culpado de tudo aos olhos dela! Agora que tudo está indo tão bem, não bote as coisas a perder!
Fique tranqüilo...Eu já marquei encontro com a Vicky, será na próxima visita a Hogsmead. É só dar uma desculpa para Meg, me encontrar com Vicky num lugar bem afastado! E pronto! As duas já estão conquistadas!
Pois é, mas até agora, nada de beijo! – disse James divertido.
Errado, meu caro Pontas! – disse Sirius, também mais contente – Por essa você não esperava: eu beijei a Vicky hoje. Quem ainda não se deu bem foi você!
Mas eu vou me dar, você verá! – disse James – Mas espere um minuto...Você beijou a Vicky quando?
Logo antes do encontro com a Meg! – disse Sirius, levemente vermelho. Por mais que ele traísse as meninas freqüentemente, ele se sentia estranhamente mal fazendo isso com aquelas duas, que era tão amigas.
Você não tem escrúpulos, Sirius Black! – disse James sacudindo a cabeça – Para mim, esses dias acabaram! Agora eu só tenho olhos para Lily Evans! Cuidado, por favor, Almofadinhas!
Pode deixar, elas nem desconfiam de nada!
James se levantou e eles caminharam rumo ao dormitório. Remus os seguiu, balançando a cabeça tristemente.
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Vicky estava sentada em sua cama quando Meg chegou. Hermione também estava deitada, mas lia um livro calmamente enquanto anotava algumas coisas em um pedaço de pergaminho. Quando a amiga entrou no quarto, as duas levantaram os olhos. Vicky perguntou onde ele estivera, ao que ela respondeu que encontrara a filha de Emily Ayres, uma colega sua de Runas Antigas. Disse que elas tinham ficado conversando por muito tempo e que ela perdera totalmente a noção do tempo. Meg ficou impressionada com a capacidade de mentir que estava adquirindo. Ela tinha pensado enquanto voltava para a Torre da Grifinória, mas ficou surpresa com a boa história que havia inventado sem ter que pensar muito. Vicky assentiu e Hermione, que não conhecia a menina, também não deu muita atenção ao caso. Meg instalou-se em sua cama e jogou-se de costas. Logo depois, entrou Lily. As amigas olharam para a porta sem entender direito o que estava acontecendo. Parecia impossível que Lily chegasse ensopada do tão aguardado encontro! Lily não disse nada, apenas ficou parada na porta com as sobrancelhas levantadas, encarando-as quase que rindo da situação. Vicky foi a primeira a se recuperar do estado de choque e perguntou o que tinha acontecido. Lily disse que logo explicaria, mas que precisava de um banho antes de qualquer coisa. As três a esperaram ansiosamente e quando ela chegou, sentou-se na cama e contou sua história, nenhuma delas conseguiu parar de rir. Meg era a mais controlada, pois sabia que o seu encontro tinha sido bem mais desastroso. Uma das meninas do quarto abriu os olhos, resmungou alguma coisa e dormiu de novo. Elas começaram então a falar mais baixo.
Você jogou Potter no riacho? – perguntou Vicky.
Já disse que sim! – respondeu Lily secamente.
Que horror! – disse Meg.
Nem me lembre! – disse Lily suspirando amargamente.
Mas o resto do encontro foi bom? – perguntou Hermione.
Lily demorou um pouco para responder. Ela tinha dito que eles haviam conversado calmamente, tinha descrito o local, mas não dera para elas uma opinião definitiva sobre a noite. De fato, ela tinha adorado tudo. Nunca pensou que isso pudesse acontecer, mas tinha sido um encontro muito bom. O melhor a que ela tinha ido. Se bem que os caras com quem ela costumava sair não eram os mais românticos do mundo...Oliver Golding, com quem ela saíra nas férias do quarto ano, parecia achar que assistir a uma palestra sobre Quadribol era um encontro aceitável. Sem comentários. Mas o problema era que ela não estava muito disposta a admitir que tinha gostado. Pelo menos não naquela noite. As meninas iam dizer que tinham avisado, iam rir, triunfantes. Ela já tinha empurrado James num riacho e pagado o maior mico de sua vida, não precisava de outro golpe no ego naquele momento. Então ela disse rapidamente:
Melhor do que esperava... – bem, isso não deixava de ser verdade... – Mas como eu esperava um horror completo... – ela deixou a frase no ar, mas as amigas interpretaram como um sinal negativo. Lily não parecia muito disposta a falar, mas Meg, curiosa, ainda perguntou:
Você vai sair com ele de novo?
Definitivamente não. – ela foi obrigada a dizer. Mais tarde ela confessaria que o encontro tinha sido bom. Mas só mais tarde. Lily Evans não ia reconhecer que estava errada para as amigas naquela hora. Mais tarde ela o faria, com toda certeza. Então ela pensou que James não deveria saber disso, pois ele certamente ia ficar magoado se soubesse que ela havia dito aquilo. Levando isso em consideração, disse – Mas nenhuma palavra para ele ou para ninguém!
As três juraram que não diriam nada e, sem mais o que falar, foram dormir. Lily demorou a pegar no sono, se sentindo culpada por ter mentido para as amigas e por ter dito aquilo de seu ótimo encontro, e muito confusa pelo fato de que estava começando a reconhecer que, afinal, ela gostava de Potter.
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A semana passou de uma maneira muito estranha. Sirius encontrava Meg várias vezes por dia e eles resolveram o problema das cócegas: ele descobriu que se colocasse as mãos no ombro da menina não teria problema. Ela era muito legal com ele, às vezes o gozava gentilmente e depois dava risada. Mas no geral, era comportada e gostava dele. Ele também se encontrava com Vicky que, ao contrário da amiga, não deixava que ele a beijasse. Ela deixara bem claro que aquelas tardes que eles passavam juntos não eram encontros, e sim uma forma de passar o tempo, como o que ela fazia com as amigas. Por isso mesmo ela se permitia falar sobre os meninos que achava bonitos e coisas do tipo. Ela passava o dia a provocá-lo. Fazia programas que ele odiava, como passear no parque e fazer a lição de casa na biblioteca, tomava sempre o cuidado de se manter bem longe dele, de usar algumas roupas bem curtas e de ser o mais evasiva e dura que podia. Por mais que ele não gostasse de ter que ficar apenas conversando e observando os pássaros no lago, ele gostava de passar o tempo com ela. Vicky sabia bem como prendê-lo e a cada dia ele ficava mais ansioso pelo tal encontro em Hogsmead. Se seu objetivo era provocá-lo, ela com certeza estava conseguindo. Obviamente, ele pedia às duas que não dissessem a ninguém a respeito desses encontros. Dava a desculpa de que Lily não gostaria e que acabaria por acabar com tudo aquilo. Quando se encontrava com uma, dava uma desculpa para a outra, e assim ia levando as coisas.
Já Lily, procurava evitar James sempre que podia. Não ficava sozinha com ele na mesa e nem se sentava com ele nas aulas. Ele não entendia o porquê disso tudo, mas sempre que procurava falar com ela, recebia respostas evasivas e a afugentava. Ela evitava falar com ele para que ele não a convidasse para sair novamente. Ainda não tinha resolvido a situação com as amigas e, se saísse com ele, elas descobririam que estavam certas e que ela gostava mesmo de James Potter. E era justamente pelo fato de gostar dele que não queria que ele a convidasse. Se ele fizesse isso, ela não teria como recusar.
Lupin era o único que parecia entender tudo o que acontecia à sua volta. Harry e Ron, que não tinham muita experiência e nem a sensibilidade de Remus para entender as coisas, apenas observavam o que acontecia sem entender direito. Gastavam o tempo livre treinando Quadribol, fazendo algumas de suas lições atrasadas e copiando a maioria restante de Hermione.
Faltavam apenas quatro dias para Hogsmead. Sirius ansiava por seu encontro com Vicky, Meg ansiava por sair da escola e ir até a DedosdeMel, James ansiava por conseguir convidar Lily para se encontrar com ele até o fim de semana, Lily ansiava por conseguir contar às amigas que gostava de James antes da saída para poder se encontrar com ele, Vicky ansiava por botar seu plano em prática, e Remus... Bem, Remus ansiava por ver o que ia acontecer.
