Inferno era um bar localizado no melhor ponto comercial da Grécia. Em sua inauguração, muitos acharam que não faria o mínimo sucesso, os críticos de jornais e revistas, convidados para a festa não pouparam defeitos, especialmente na decoração e na maneira em que os clientes eram servidos. Belas mulheres dançavam em cima da bancada do bar, enquanto lindos homens passeavam com bandejas, prontos para servir aqueles ou aquelas que estavam sentados pelos corredores.

O bar tinha dois sócios, que já haviam se relacionado romanticamente. Carlo di Angelis mal aparecia no lugar e quando o fazia era para aproveitar-se das mulheres que lá se candidatavam para trabalhar. Diferente de Carlo, Diana Trikonis adorava o trabalho, tinhas regras rígidas para a administração e defendia todos seus empregados como se eles fossem membros de sua família. Alguns diziam que ela possuía um feroz ciúme quando Carlo se aproximava das mulheres que lá trabalhavam pelo fato de eles já terem sido noivos, mas exatamente o oposto. Ela o conhecia muito bem para largá-las nas mãos dele.

-Você poderia parar com isso, Carlo... Está começando a ficar com fama...

-Ora, Diana, eu não me importo. Além do mais, as mulheres gostam de caras assim.

-Quem te disse isso? - Ela ergueu uma sobrancelha. - As mulheres gostam de poesia, Carlo... E não de passadas de mão.

-Elas nunca reclamaram...

-Ai, esqueça... - Ela balançou a cabeça. Ao olhar para o lado, pôde ver Milo, o charmoso garçom de cabelos rebeldes, beijando um cliente, confortavelmente sentado em uma das cadeiras estofadas. - MILO!

-Ihh, sujou... - Falou ele, ao desgrudar os lábios dos lábios do outro. - Desculpe, docinho... A gente se vê depois do meu trabalho, tá? - E virou-se, tentando escapar. Mas Diana o chamou. Com um suspiro resignado, caminhou até ela. - Sim, chefinha? - Falou, com um tom de brincadeira e um sorriso na face bela, tentando fazê-la sorrir. Mas não conseguiu.

-Você tem que parar com isso, Milo. - Ela disse, séria. - Não acha que está na hora de arranjar um compromisso sério?

-É... E com alguém sério, de preferência. - Concordou Carlo, olhando disfarçadamente para o rapaz que Milo estava beijando. - Com tanta mulher gostosa no mundo, você fica ligando pra homens?

-CARLO! - Diana censurou-o, Milo apenas mandou-lhe um sorriso irônico.

-Eu até diria algo, Carlo, mas não quero perder o emprego. - E virou-se para Diana. - Querida, eu lhe respeito muito... Mas, por favor, deixe-me com meus assuntos pendentes... Com licença. - E saiu, voltando para o bar, onde Kamus preparava os drinques.

-Quando vai parar com isso? - Diana perguntou ao sócio, aborrecida.

-Nunca. Bichinhas me causam náuseas. - Falou, com cara de nojo, tomando metade de seu drinque. Diana apenas balançou a cabeça, num gesto bem negativo.

Kamus estava observando Milo aproximar-se dele, em seu habitual andar felino. Balançou a cabeça, reprovando o amigo. Estavam num ambiente de trabalho e o outro agia de uma maneira eticamente abominável. Não que naquele bar as pessoas fossem muito éticas, mas mesmo assim, não sabia como ele conseguia fazer aquilo.

- Sai uma tequila, dois Sex on The Beach e três Coronas. E bem rápido, geladinho!

- Você deveria tomar cuidado com quem anda, Milo.... - Kamus disse, colocando a tequila e os SOTB na bandeja.

- As cervejas, Iceman. Olha aqui não se meta na minha vida, ok? Não é porque você não tem vida social que eu vou entrar pro seu clube. Ou será que você.... - Milo deu um sorriso sensual.

- Será que eu o quê, Milo? - Kamus perguntou, levantando a voz.

- Será que você está interessado?

- Não diga bobagens, aquele cara não faz meu estilo.

- E quem disse que eu estava falando do carinha? - Milo disse, abrindo ainda mais o sorriso. Adorava ver o amigo perder a compostura e aquilo estava prestes a acontecer, já que o outro começava a ficar vermelho.

- Ora seu....seu....

- Ambiente de trabalho, ambiente de trabalho!! - Milo falou, fazendo o sinal de paz com os dedos. - E pro seu governo. Mesmo que você estivesse interessado, você não faz meu estilo... -ele completou, colocando as cervejas na bandeja e jogando um beijinho para Kamus, que bufou.

-Enfant... - Murmurou o barman, balançando a cabeça logo em seguida.

O belo rapaz olhou para cima, coçando a cabeça. O pequeno papelzinho que estava em sua mão, escrito com uma letra corriqueira, indicava que aquele era o lugar.

-Bom, o jeito é arriscar. - Deu os ombros e entrou na boate. Recebeu imediatamente as boas vindas de um segurança nada convencional, sorridente e sociável. Sorriu de volta à ele, pediu licença e começou a caminhar por entre os corpos frenéticos que se mexiam.

"Diana... Diana... Como vou achar essa tal?" - E olhou para os dois lados, como se procurasse uma placa com pisca-piscas apontando 'Aqui está a Diana'. Porém, obviamente, isto não aconteceu. Frustrado, se aproximou de Milo.

-Com licença? - Perguntou, respeitosamente.

-Quer beijo também? Desculpa, só depois do trabalho, senão, a Diana pega no meu pé de novo.

E Afrodite corou instantaneamente. Milo logo percebeu a besteira que fez, e se desculpou novamente. Afrodite explicou que estava querendo um emprego, e que precisava falar com a dona.

-Ah, sim... Ela tá lá. - E apontou para a mesa em que Diana e Carlo estavam. - Só toma cuidado com o cara, ele é um tarado.

-Uff, agora eu vou pra lá MESMO. - Falou, brincando, e Milo riu.

-Vamos nos dar bem. - Disse, sorridente. Olhou para o outro lado. - Tenho que ir, a gente se vê! - E saiu rapidamente, sumindo por entre as pessoas.

Até chegar à mesa onde Carlo e Diana estavam, Afrodite levou três cantadas, um homem passou a mão em sua bunda e chamou-o de "gostosa", uma mulher colocou um papel desconhecido no bolso de sua calça e outras várias pessoas o fitavam como se ele fosse a coisa mais bonita que já havia aparecido ali.

- Com licença... - Afrodite disse, num tom baixo, mal chamando a atenção dos dois, que discutiam sobre política calorosamente. Ele tentou mais uma vez, mais alto dessa vez.

- O que foi? - Diana disse, olhando para trás, com cara de poucos amigos. Porém, o que deveria ser uma reação ruim, logo se transformou num sorriso. Pegou-se aprisionada em belos olhos azuis que mais pareciam um mar. Só havia visto olhos tão belos em Kamus e Milo.

- Desculpe. Você é a Diana, não é?

- Sou sim. Algum problema?

-Falei com você mais cedo pelo telefone. Sobre o trabalho.

Diana logo ficou séria. Carlo estava atrás dela, com olhar de predador para Afrodite, ela podia sentir pelo calor que emanava do italiano. Definitivamente não precisava de mais problemas. Passou por baixo do corrimão que separava a área que estava com Carlo de Afrodite e juntou-se à ele, afastando-se o mais rapidamente dali. Ainda pôde ouvir Carlo dizendo em alto e bom tom:

- Essa daí sim é um belo espécime de mulher!!

Afrodite corou até o último fio de cabelo. Pediu mentalmente para que o homem estivesse falando de Diana. Fora retirado tão rapidamente dali que nem teve como reparar no homem. Das duas uma: ou Diana não queria que Afrodite fosse visto ou que o homem o visse. Resolveu não preocupar-se com aquilo, estava ali porque precisava do emprego. Aquilo sim era mais importante do que qualquer outra coisa.

Cruzou com Milo novamente, que apenas deu uma piscadinha de leve para ele. Aproveitou que a patroa estava indo para os fundos do bar e tratou de arrumar a companhia para depois do espediente. Uma sexta-feira sozinho não era uma coisa legal, aliás, seria deprimente. Lembrava Kamus e ele não era um geladinho como seu amigo!

-Proposta de trabalho? - Perguntou uma voz máscula, enquanto Milo e Afrodite conversavam alegremente. Afrodite virou-se para encarar o par de olhos mais malicioso que havia visto em sua vida. Piscou várias vezes antes de responder um tremido 'sim'. Milo rolou os olhos.

-Carlo, Afrodite está conversando comigo. - Falou o grego, colocando as mãos na cintura.

-Você está cheio de namoradinhos - soou desdenhoso e ofensivo, mas Milo sequer se deu ao trabalho de franzir o cenho. - por aí, então, deixe-me conversar com... Afrodite é seu nome?

E o rapaz afirmou com a cabeça, e Milo suspirou.

-Bom, já que você quer falar com ele... - E virou-se para sair, mas Afrodite segurou-lhe o braço. Não poderia decepcioná-lo, já que o outro havia sido tão simpático com ele.

-Quando a gente se encontra, Milo? - Perguntou, rápido, e o rapaz sorriu.

-Eu te procuro depois do expediente, ok? - Falou, soltando-se do braço dele e sorrindo. - Tchau, Dite. - Mandou-lhe um beijinho e saiu andando.

-Conselho de amigo, fofura... - E Carlo puxou-o pela cintura curvilínea. - Afaste-se dele, é muito galinha.

Afrodite corou imediatamente.

- Quem é a bonitinha com o Carlo? - Kamus perguntou, colocando quatro cervejas na bandeja de Milo.

- BONITINHA??? Aquele é o homem mais bonito que eu já vi ultimamente. É o Afrodite - Milo falou e quando o amigo virou os olhos, como se já tivesse ouvido aquilo milhares de vezes antes, ele completou. - Estou falando a sério. Precisa ver de perto.

- De qualquer maneira, Carlo não vai gostar muito de saber que ele não é ela. Pelo jeito que ele tá segurando o tal....Afrodite, é isso?

- Isso mesmo. Coitado do Dite....

- Vai trabalhar, Milo. Deixa o namoro pra depois.... -Kamus falou, diante do ar sonhador que Milo adquiriu.

- Olha só....eu ficaria melhor se você se afastasse... - Afrodite disse, tirando as mãos de Carlo de sua cintura. Diana havia conversado superficialmente com ele sobre o emprego, até que fora chamada para atender um telefonema no escritório que ficava no segundo andar do prédio. Alguns minutos depois, estava ali com aquele sujeito tentador, porém nada confiável, pelo que Milo havia dito previamente.

- Gracinha...eu sou o dono daqui. Você só tem a lucrar estando comigo...

Afrodite sentiu-se sujo. Nunca se prestaria a trabalhar em um lugar só porque estava dormindo com o chefe. Aquilo era desprezível. Teve vontade de socar o homem à sua frente, ignorando a boa vontade de Diana em quase empregá-lo ali. Mas não precisou tomar nenhuma atitude mais drástica. Diana surgiu de repente, com uma expressão furiosa, puxou Carlo pela gola da camisa e jogou-o para a frente do bar, batendo a porta logo em seguida.

- Regra número um: não se envolva com cafajestes.- ela disse, abrindo a porta que dava para a saída e apontando-a para Afrodite.

-...Desculpe... - Afrodite abaixou a cabeça, envergonhado. - Eu juro que eu tentei tirá-lo de perto de mim, mas ele...

-Não se desculpe, ele faz isso com todas. - Suspirou Diana, passando as mãos pelos ombros do rapaz. - Mas eu não vou deixar ele se aproximar de você, tá, lindo? - E Afrodite sorriu sinceramente, adorando aquela moça tão linda e tão prestativa.

-Obrigada... Posso te chamar de Diana, né? - Perguntou, suavemente.

-Não. - E ele ameaçou se desculpar, mas ela foi mais rápida. - Você DEVE.

E riram.

-E quanto à proposta de emprego? - Perguntou ele, do jeito mais sutil que pôde.

-Hum... Você tem que passar por um teste... Durante essa noite.

-Oh, meu Deus... Isso não envolve passar a mão nos clientes, envolve?

-De onde você tirou isso? - Ela ergueu a sobrancelha.

Então, inocentemente, Afrodite apontou para Milo. Diana começou a rir.

-Meu Deus, por favor, não! - Disse ela, ainda rindo. - Vem cá. - Puxou-o pela mão até o bar. - Kamus, esse é o Afrodite. Dite, esse é o Kamus.

-Prazer. - Disse, friamente, mais preocupado em preparar os drinques para colocar na bandeja de um rapaz do que em saudar o talvez novo amigo de profissão.

-Prazer! - Disse Dite, com um sorriso.

-Você tem um sorriso bonito, precisamos disso. - Falou Diana, sorridente. - Mas não preparando bebidas ou distribuindo-as.

Kamus, então, virou-se para Diana.

-Você não vai me dizer que... - E antes que o rapaz pudesse terminar a frase, Diana subiu no bar, ficando de pé em cima dele. Ofereceu a mão à Afrodite, que apenas olhou-a, assustado. Kamus colocou a mão na testa e murmurou um 'eu mereço...'.

-Que quer que eu faça, Diana? - Perguntou Dite, sem entender.

-ESSE é o teste. Sobe.

Afrodite ainda estava chocado demais para entender o que poderia estar acontecendo, quando Diana rasgou as mangas de sua camisa branca, deixando os braços à mostra. Alguns clientes que estavam no balcão olharam sedutoramente para os dois. Ele ia perguntar à ela o que teria que fazer, quando ouviu a voz fria de Kamus gritando num megafone:

"Atenção....se os anjos ou os demônios estão na casa, apareçam agora!!"

Afrodite ficou mais atônito ainda quando três mulheres saíram de três cantos distintos do bar. Uma ruiva de calça branca de couro e frente única preta deu uma cambalhota e subiu no balcão ao seu lado. A loira, vestida de calça jeans e regata rosa repetiu os movimentos e mandou um beijinho para os admiradores, que começavam a gritar. Porém a garota dos cabelos verdes pediu para ser levantada e assim os homens fizeram, alguns demorando alguns minutos a mais acariciando as pernas que estavam à mostra devido à saia de couro marrom curtíssima e a tomara-que-caia da mesma cor.

- Você é a novata? -a loira perguntou, já começando a dançar.

Afrodite apenas assentiu, ainda chocado demais quando "Sympathy For The Devil" começou a tocar e a garota de cabelos verdes deu um grito, tomando o megafone das mãos de Kamus.

- Temos uma novata!!! -ela gritou e todos comemoraram, levantando os copos. - Qual o seu nome? -ela perguntou baixinho.

- Afrodite. -ele ainda não sabia o que fazer. Todos o estavam confundindo com uma mulher e Diana, ainda em cima do balcão, não parecia muito disposta a corrigir as mulheres que estavam ali com ele.

- Afrodite!!! - a mulher gritou de novo. -Vamos ver do que ela é capaz! Acompanhe a gente! Não tenha medo!!

Elas começaram uma coreografia e Afrodite não sabia o que fazer. Tentou acompanhar alguns passos mas elas faziam tudo muito rápido. "Esse é o teste", ele lembrou das palavras de Diana. Não era de fugir de algum desafio. Se eles queriam que alguém dançasse, ele iria dançar.

Começou timidamente mas uma vez que a música começou a correr em seu sangue, foi como se fossem um só. De repente aquele balcão era como um palco só dele e ninguém mais estava ali, nem clientes, nem mulheres, nem mesmo a futura patroa. Os movimentos eram cada vez mais sensuais, combinando com a canção e ele só percebeu o furor que estava causando quando a música terminou e ele abriu os olhos, dando-se conta de que estava sozinho ali no balcão e que as três mulheres, mais Diana, haviam descido e só o admiravam. Os gritos ensurdecedores da clientela pedindo por mais foram a confirmação de que estava com o emprego garantido. Pelo menos era o que ele achava.

-CIRCULANDO, CIRCULANDO! - Berrou a jovem de cabelos verdes, ameaçando espancar quem se aproximasse.

-Sossega, Shina. - A loura, June, deu um tapinha no ombro dela. - Parabéns, Afrodite. Você é linda.

E Diana pigarreou alto.

-Meninas, que bom que vocês gostaram DO - enfatizou a palavra, fazendo as garotas ficarem chocadas. - Dite.

-PQP! Ele é homem?! - Shina berrou, sendo prontamente cutucada pela ruiva, Marin, envergonhada pela atitude da outra.

-Sim, eu sou. - Ele finalmente falou, sentindo um rubor subir às faces ao ser encarado por todas elas.

-Bem... - Marin fez tudo para mudar de assunto. Virou-se para Diana, improvisando um grande sorriso. - Temos um novo companheiro, moça?

-Eu tenho que falar com Carlo e...

As dançarinas se entreolharam, cada uma fazendo uma cara diferente, mas todas com o mesmo significado.

-Diana... Posso falar com você... Um instantinho? - Perguntou June, apontando para o outro lado.

-Ahn? Claro... Licença. - E foi com June. Ao se distanciarem, Diana encarou a loura. - Diga-me.

-...Não fale com o Carlo...

-Por que?

-Do jeito que ele é cabeça dura, não ia aceitar que ele ficasse.

-Mas ele é sócio, ele tem que saber.

-Ele é sócio, não dono. - June disse, com a voz suave. Diana somente suspirou.

-Está bem, está bem... - E pegou a mão da jovem sorridente. Caminharam até Afrodite, que estava muito ocupado em responder as perguntas incessantes de Marin e Shina sobre pele, cabelo e coisas daquele tipo. Sorria às duas com muita simpatia, e Diana teve a certeza de ele seria uma boa pedida. Desde que não se envolvesse com quem não devia.

-Afrodite. - Disse, e as duas dançarinas se calaram. Afrodite enrijeceu. - O emprego é seu.