Notas das autoras:
Ju:
Eu sinceramente AMO esse capítulo... Principalmente pelo finalzinho... hehehehehehe... COF, de qualquer maneira... NÃO pulem para o final, por favor. Leiam tudo antes, é melhor e poupa pequenos ataques cardíacos e vontade de assassinar-nos, por favor. XD
Bem, acho que é só isso. Boa leitura.
Celly:
Faço minhas as palavras da Ju, esse capítulo é muito especial, assim como o próximo. Não esqueçam de revisar e fazerem as autoras felizes.
Até semana que vem!
Capitulo 18
Kamus acordou sentindo duas coisas: primeiro uma terrível dor de cabeça, que ele sabia que estava por vir. Depois o maravilhoso cheiro de café que impregnava toda a casa. Sorriu, sabendo que Milo havia passado a noite com ele e que ainda tinham uma chance.
Foi até a cozinha, vestindo apenas a calça preta, querendo surpreender o outro, com beijos e abraços e quem sabe, outras coisas mais.
-Kamus! Ai meu senhor, me desculpe!! -a voz falou em tom assustado, derrubando alguns pratos no chão.
-Edith, por Deus, o que você está fazendo aqui a essa hora da manhã?
-Hoje é dia da faxina, Kamus...ou o senhor se esqueceu?
Kamus tentou colocar os pensamentos em ordem. Aquilo estava muito errado. Edith e não Milo estava vindo da cozinha. Sacudiu a cabeça.
-Onde está o Milo?
-Quem?
-Não cruzou com ninguém antes de entrar não? -ele tentou outra estratégia, era mais fácil do que explicar tudo à empregada, sempre curiosa.
-Não. Mas isso aqui estava em cima da mesinha da entrada. De quem é? -ela perguntou, olhando o bilhete que entregava ao patrão.
-Deixa de ser curiosa, Edith! -Kamus disse, pegando uma xícara de café e partindo para o quarto novamente.
Sabia que aquele bilhete era de Milo. Não esperava por aquilo, pelo menos se o outro não queria mais nada com ele, poderia terminar tudo olhando-o direto nos olhos e não deixando um bilhete, uma coisa tão impessoal.
Kamus,
Desculpa por não esperar você acordar. Na verdade, fiquei a noite inteira te vendo dormir, é impossível resistir a você. Mas mesmo assim, preciso pensar um pouco, acho que devemos isso um ao outro, não concorda? Nos falamos mais tarde, estarei no Inferno no horário do expediente.
Milo.
PS: não pense que escapou de mim. Meus sentimentos não mudaram, tolinho
-Como ele me conhece bem... -Kamus disse, por fim, sorrindo ligeiramente. Aquele bilhete lhe deu um novo ânimo pra começar o dia. Foi até o banheiro, agora precisava cuidar da ressaca.
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-Julian??? -Kanon repetiu, ainda não acreditando no homem que secretamente amava, parado bem ali na sua frente. Nem reparou que ele olhava com interesse para Afrodite, que ainda estava sentado no balcão.
-Sabia que ia te surpreender. Pode fechar a boca, parceiro! -ele disse, por fim, olhando com mais detalhe para o amigo. Kanon não havia mudado muito, apenas ganho corpo, deixado o cabelo crescer, aliás, aquele detalhe fazia com que ele o admirasse muito mais, o amigo ganhava uma aparência selvagem arrebatadora.
-Mas é que....você....duas semanas...
-Deus, você ainda não se controla na minha frente mesmo, hein? -ele disse, passando a mão pelos cabelos azuis, sorrindo, nervoso. Era mentira. Kanon sempre se mostrara frio na demonstração de sentimentos, mas daquela vez, ele realmente parecia surpreso com sua presença, como se algo tivesse mudado.
Afrodite percebeu que o amigo estava a ponto de se entregar. Com certeza aquele era o homem que ele lhe falara a alguns minutos. Realmente era uma perdição. Cabelos e olhos azuis, alto, um jeito safado, parecia engraçado. Uma combinação letal. Percebendo, porém, o desconforto de Kanon, ele desceu do balcão, aproximando-se dos dois.
-Oi! -ele disse, sorrindo, passando o braço em torno do pescoço de Kanon, ignorando a postura agressiva que Julian assumiu por um momento.
-Ah, Julian...esse é o Afrodite, um amigo meu. -ele disse, apresentando os dois.
-Prazer, aliás, muito prazer mesmo. -mesmo não gostando do jeito que o outro havia passado a mão por Kanon, ele não conseguiu controlar-se. A beleza de Afrodite era irresistível.
-Bom, já que chegou, vamos entrando, você tem muito que me contar, a começar por que chegou tão cedo.... -Kanon começou, mudando de assunto para não perceber que Julian poderia ter algum interesse em Afrodite.
-Isso, Julian, me siga que eu vou servir umas bebidas. Kanon estava bebendo água. E nós NÃO servimos água aqui!
Julian sorriu, imitando os gestos anteriores de Afrodite e abraçou Kanon pelo pescoço.
-Queria fazer uma surpresa. Você gostou? -ele perguntou, os olhos azuis brilhando de uma maneira que Kanon quase não podia resistir.
-Cl...claro que sim.... -ele murmurou, ainda paralisado.
-Ah, então valeu a pena! -Julian abriu um sorriso iluminado.
Do outro lado do balcão, Afrodite observava-os, lutando para não rir. "Os dois se gostam e ainda não perceberam.....afe, que coisa....", ele pensou.
Afrodite balançou a cabeça. Selecionou algumas bebidas e caminhou em direção aos rapazes. Julian soltou Kanon e sorriu para o moço sorridente que lhe oferecia um drinque. Aceitou.
-Fale-me de você, Afrodite. - Falou, levando o copo aos lábios.
-Vamos nos sentar? - Kanon apontou para uma mesa. Julian apenas afirmou com a cabeça, e sentiu-se ser puxado pelo braço pelo antigo amigo.
Sentaram-se, um olhando para o outro.
-Bom... - Kanon quebrou o gelo após alguns segundos, incomodado pelo olhar de Julian sob Afrodite, que parecia nem notar.
-Afrodite, fale-me sobre você. - Falou Julian, olhando para o outro.
-Eu? Ai, não sei o que falar. - Suspirou, coçando a cabeça. - Digamos que sou uma pessoa simples... Gosto de música, de dança, de beijos, de festa... Acho que sou bem normal. - Falou, com a face levemente ruborizada.
-Tem namorado?
Kanon, que havia levado o copo à boca naquele exato momento, engasgou-se com a bebida. Julian olhou-o, sem entender, e deu-lhe tapinhas nas costas.
-Eu... - Afrodite olhou para baixo, procurando uma resposta palpável. -...Tenho... - Inventou.
-Ah, que pena. - Julian deixou escapar, para o desespero de Kanon. - E quem é o felizardo? - Os olhos brilharam.
-...O... Meu.... Namorado...? - Sibilou, e Julian ergueu uma sobrancelha. - Você... Ahn...
-Ele está com vergonha de nos assumir, Julian.
E ambos olharam para Kanon, abismados.
-Eu e o Dite estamos namorando. - Falou o outro, firme.
E Afrodite quase desmaiou no instante seguinte.
-Por que não me disse que tinha um namorado, Kanon? - Perguntou Julian, tristemente.
-Começamos à namorar hoje... Eu ia te ligar para contar, quando eu chegasse em casa....
-Ah, sei... - Julian olhou para os próprios pés. Aproveitando isso, Afrodite olhou para Kanon, expressando fúria nos olhos azuis. Kanon movimentou a boca formando um 'me ajuda'. - Bom... Parabéns... - Murmurou Julian, ainda olhando para baixo.
-Ah, não se preocupe, Ju. - Falou Kanon, puxando-o pelo ombro até abraçá-lo. - Você sempre será meu amante favorito.
E o outro riu, fingindo achar graça naquilo. Como sua 'atuação' foi convincente demais, Afrodite e Kanon permitiram-se dar um risinho.
-Bom, e você? - Perguntou Kanon, recebendo um chute no tornozelo, dado por Afrodite.
-Eu... o que? - Perguntou o outro, piscando.
-Arranjou um namorado? - Kanon piscou também, como se estivesse perguntando a coisa mais simples do mundo. Afrodite teve vontade de esbofeteá-lo.
-...Estou procurando... - Murmurou, olhando para baixo.
-Você vai encontrar alguém, Ju. - Falou Dite, rápido, lançando um olhar para Kanon, que desviou os olhos rapidamente.
-Espero. - Suspirou. - Com licença, eu vou pra casa.
-Por que? - Kanon se ergueu imediatamente.
-Eu quero descansar um pouco... Tomar um banho e tudo o mais...
-Ah... - Kanon olhou para baixo. - Eu vou estar aqui... Você vem mais tarde?
-Pra que?
-Eu e Dite vamos jantar, queremos que você vá junto.
-Olha, não acho que seria uma boa idéia...
-Por favor, Ju... - Suplicou Kanon. Julian apenas suspirou.
-Tudo bem, K... O que eu não faço por você, hein, cabeça dura? - Falou, amargurado. Abraçou Kanon com rapidez e fez o mesmo com Dite, antes de dizer um 'tchau' e sair.
Quando ele sumiu, Afrodite berrou.
-VOCÊ É MALUCO OU O QUE?!
-Dite, calma! - Kanon pediu silêncio com a mão, preocupado.
-Qual é o seu problema, Kanon? - Perguntou, irado. - Você acabou de ferrar qualquer chance que tinha com ele!
-Não, estou apenas tentando fazer ciúme!
-Você vai acabar ficando sem ele, seu bobo!
-Por que diz isso, Dite?
-Olha aqui, ninguém gosta de saber que a pessoa que ama está com outra. E o que se faz normalmente nessas situações? Aprendemos a odiar quem amamos e partimos pra outra. Você quer que isso aconteça?
-Não, mas...
-Então, pensa bem antes de fazer besteira! - Falou, por fim, virando as costas para sair, deixando Kanon muito perturbado.
-Droga... - Murmurou para si mesmo, notando que realmente havia passado dos limites.
Do lado de fora, Julian caminhava de volta à casa do amigo, cabisbaixo.
-Tanto tempo, Kanon... Tanto tempo... - Murmurou para si mesmo, chutando uma pedra. - Tanto tempo para nada...
E esbarrou em alguém, caindo sentado no chão. Milo sorriu-lhe, estendendo a mão.
-Devia olhar pra frente, mocinho. - Falou, rindo.
-Ah, desculpe... - Falou, olhando para baixo.
-O que houve?
-Nada, nada...
-Eu sou o Milo... Você é...?
-Julian. - Falou, sem emoção.
-Você estava voltando do Inferno, certo?
E olhou para os olhos azuis do outro.
-Como sabe?
-Deduzi. - Deu os ombros e olhou para o relógio. - Bom, tenho de ir...
-Você trabalha lá?
-Trabalho, sim. - Sorriu. - Aparece lá de vez em quando! Tchau! - E saiu andando. Não precisava ir pra lá tão cedo, apenas queria ver se Kamus estava por ali.
-Aquele lugar está cheio de deuses. - Murmurou, e teve uma idéia malvada. - Por que não posso usar um deus para provocar outro? - E continuou seu caminho, tentando bolar alguma coisa para atrair a atenção de Kanon... Ou de Afrodite.
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O bar ia abrir em cinco minutos e um Milo afobado olhava de dez em dez minutos para o relógio em forma de copo que estava pendurado na parede.
-Olha Milo....
-Mais uma palavra e eu arranco seus olhos com uma colher!!! Eu já disse que não estou nervoso, Dite! Que saco!! -Milo gritou, indo para os fundos do bar.
-Imaginem se ele estivesse... -ele murmurou, olhando para a porta, na mesma hora em que Carlo adentrava o bar. Os olhares se cruzaram e rapidamente Afrodite baixou os seus, procurando alguma coisa pra fazer. Shina estava vindo nesse momento e ele aproveitou para distrair-se com a moça.
-E aí, Kanon.... -Carlo disse, sentando-se ao lado do amigo em uma das mesas.
-.....
-Credo, companheiro, que cara é essa?
-Nada. Julian chegou de viagem.
-Julian? Julian Solo? Aquele seu amiguinho? -ele disse a última palavra em tom de desdém.
Kanon olhou para ele, com raiva. Pensou em atacá-lo verbalmente, depois de tudo o que havia ouvido de Afrodite, ele bem que merecia. Porém, ao notar a fisionomia do amigo, ficou até com pena. Carlo, apesar de querer esconder, com seu mau humor característico, e piadas irônicas, não estava bem. Seus olhos tinham perdido um pouco do brilho e o riso sarcástico não produzia o mesmo efeito.
-Olha quem fala, você é o retrato do fundo do poço.....nem vou discutir com você....
-COMO É QUE É?? -Carlo disse, indignado. Será que todos conseguiam lê-lo tão bem?
-Ah, Carlo...não me faça perder a paciência, tudo bem? Senão eu quebro a tua cara! -ele murmurou, girando a azeitona dentro do martini.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, o expediente começando logo em seguida. Os clientes começaram a entrar e a serem servidos. Viram um Kamus atrasadíssimo adentrar o recinto, sendo parado por um Milo furioso. Sorriram por um segundo sabendo que viria briga.
-Está atrasado.
-Está na minha frente.
-O que aconteceu? -Milo perguntou, mais calmo.
-Perdi a hora, estava dormindo. Acontece às vezes.
-Humm sei....será que podemos conversar?
-Claro, mais tarde, deixa eu começar o expediente, assim que as coisas acalmarem, a gente mais tarde, em um lugar mais reservado.... -Milo sorriu suavemente. -Aceita?
Kamus percebeu o que aquela declaração queria dizer e também sorriu. Passou os dedos pelo rosto de Milo, parando nos lábios. Milo entreabiu-os ligeiramente, beijando-os.
-Adoraria. -Kamus respondeu, passando pelo escorpião. Voltou um momento, só para murmurar em seus ouvidos, causando-lhe arrepios. -Mon ange...
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-E aí, suas barangas, prontas pro show de hoje? -Afrodite perguntou, tirando uma camisa justa cor de gelo de dentro da sacola.
-Pôxa, você deu pouquíssimo tempo pra gente treinar. Será que conseguimos? -June, que estava só de saia vermelha e botas brancas reclamou.
-Que nada.... -Shina murmurou, enquanto terminava a maquiagem.
-Ah, June, eu hein.....nem parece que não está acostumada! Por falar nisso....tenho encontros pra vocês duas depois do expediente.... -Marin disse, amarrando as tiras da blusa preta com uma habilidade impressionante. Ela percebeu que as outras duas pararam de falar imediatamente.
-Quem é? Quem é? Conte logo! - Shina praticamente havia se jogado em cima da ruiva.
-Calma...credo...que desespero.....dois amigos do Aioria....os nomes são Shura e Ikki. Aliás, o Ikki é irmão do Shun....olha que coincidência! -ela disse, animada.
-Hum....Shura...que nome mais sexy....esse é o meu! -Shina disse, fechando o zíper da calça de couro preta, virando-se para Afrodite. -Como estou?
-Pra matar! -Afrodite disse, colocando a calça de tecido macio azul claro, que era exatamente da cor de seus cabelos. Olhou para as três. -E eu, como estou? -ele perguntou, abrindo os braços.
-Te odiamos!! -elas disseram ao mesmo tempo. Ele apenas sorriu.
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O show havia sido um sucesso, como já era de costume. Homens e mulheres cada vez mais enchiam o bar para verem as meninas e Afrodite, é claro, dançar. Elas pediam que os outros garçons fizessem a mesma coisa, mas eles sempre negavam. O único que se propôs a fazer foi Aioria, mas Marin impediu-o na mesma hora.
Carlo ainda estava sentado, tomando, surpreendentemente, um coquetel sem álcool. Queria, não, precisava ficar sóbrio, para conversar com Afrodite. Seguia cada um dos passos do outro, sem contar que teve uma vontade imensa de correr até o balcão e tirar todos os homens que tentavam de alguma forma tocar em alguma coisa que era sua. "Minha? Ele é realmente meu? De onde saiu esse pensamento?"
Nem percebeu quando um outro homem aproximava-se deles, puxando uma cadeira. Julian estava com a aparência bem melhor, havia cumprimentado Kanon com um beijinho leve no rosto e pedido uma cerveja a Hyoga, que prontamente serviu-o.
-Seu amigo é mudo? -ele perguntou, olhando para Kanon, que ainda não desgrudara os olhos dele. Julian vestia uma calça social preta, sapatos da mesma cor e uma camisa de mangas curtas, também social, branca. Estava lindo, os cabelos presos davam um ar muito mais adulto à ele.
-Hein? Ah...não...só preocupado com os problemas dele. -ele respondeu, não sabendo como ia sair daquela, sem dizer que Carlo estava provavelmente olhando pra Afrodite pela milésima vez.
-Parece que ele está olhando pro seu namorado.... -Julian disse, não reparando que Carlo imediatamente encarou os dois.
-O QUÊ???? -ele disse, num grito. Kanon fechou os olhos, esperando pelo golpe de misericórdia.
-Ué...Afrodite. O namorado do Kanon....prazer, meu nome é Julian...você é.... -Julian disse, erguendo a mão para que o outro apertasse.
-Como pôde!!??? -Carlo disse, olhando para Kanon, levantando-se da cadeira. Esbarrou em Afrodite no caminho para a saída, olhando-o com desprezo. -Como pôde, Afrodite??
-Como eu pude o que? - Perguntou, sem entender.
-Seu cínico! - Rosnou Carlo, entre os dentes, empurrando-o no chão e saindo. Afrodite ficou parado, caído, olhando-o, chocado demais.
-Oh, Deus... - Ouviu uma voz conhecida e se virou. Ao ver Kanon e Julian, deu um tapa na testa, entendendo tudo.
-Eu disse que ia dar problema, Kanon, eu disse! - Falou, levantando-se imediatamente, para sair pisando forte, irritado e chateado.
-Kanon, o que ele quis dizer com isso? - Perguntou Julian, piscando diversas vezes.
-...O Carlo é ex-namorado dele, entende? Ainda não superou o fim do namoro de tanto tempo... E não sabia que nós dois estamos juntos...
-Oh, desculpe... - Julian abaixou a cabeça, corado.
-Ah, tudo bem... - Falou Kanon, suspirando. Abraçou o outro pelos ombros. - Vamos voltar pra mesa?
-...Claro... - E Julian deixou-se ser conduzido, sem dizer uma palavra. Porém, quando se sentaram, o rapaz decidiu-se por perguntar uma última coisa. - Foi isso que ele quis dizer quando disse que ia dar problema?
-Ham?
-Foi isso que Dite quis dizer?
-Olha, ele não queria que ninguém soubesse, pra não causar problemas. Mas eu contei, entende?
-Você sempre fala demais, Kanon... - Murmurou Julian, não sem antes suspirar longamente.
-Eu sei. Esse sempre foi meu pior defeito. - Disse, olhando para baixo. Então, Julian deu um soco na mesa. Kanon olhou-o.
-Não, esse não é seu pior defeito. - Falou, amargo.
-...Ju...
-Seu pior defeito é... - E balançou a cabeça. - Deixa pra lá.
-Ju... O que houve? - Perguntou, pegando a mão do rapaz. A única reação de Julian foi puxar a mão, como se tocar em Kanon o queimasse.
-Nada. - Falou, seco. - Apenas uma leve carência.
-...Você quer ajuda?
-Ajuda? Para que? - Julian ergueu uma sobrancelha.
-Para livrar-se dela. - Murmurou Kanon. Julian apenas estreitou os olhos, irado.
-Não preciso de sua ajuda para conseguir alguém! - Entendendo errado, Julian quase estapeou o amigo.
-Ju, você não entendeu...
-Acha que eu não tenho capacidade de conseguir alguém, é isso?
-Não, não é. Ju, olha.
-Observa, então. - E, levantando-se, caminhou até perto do bar, onde um jovem de cabelos ruivos compridos tomava um drinque. Puxou o drinque da mão do rapaz, que até pensou em reclamar, mas desistiu da idéia ao sentir os lábios de Julian contra os seus.
Kanon arregalou os olhos ao vê-lo beijar ousadamente o outro rapaz. Via os olhos de Julian voltados para ele, como se estivessem atraindo os seus, ordenando que ele visse que o outro poderia muito bem ter quantas pessoas com quisesse sem dificuldade nenhuma. Diante da cena grotesca, Kanon apenas se levantou, sendo observado por Julian (Que ainda estava beijando o outro rapaz), virou-se e saiu com rapidez.
-Kanon! - Julian gritou quando largou o outro, que apenas riu.
-Beija bem. - Falou, tranqüilo. - Mas não faz meu tipo. - E pegou o drinque da mão de Julian novamente, bebericando-o.
Julian correu para alcançá-lo, mas acabou ficando para trás, por culpa do grande aglomerado de pessoas perto dali.
Do lado de fora, Kanon fazia duas coisas: procurava Carlo (Embora tivesse a certeza de que não o encontraria) e tentava não lembrar da cena que presenciara há pouco. Sentia o estômago afundar toda vez que sua mente teimava em mostrar-lhe cada movimento da boca de Julian, cada movimento ousado.
-Carlo! - Berrou, sentindo-se um idiota. Sua maior surpresa foi ouvir a voz do outro gritar-lhe o nome... E um acompanhamento nada agradável.
-SEU TRAIDOR! - E Kanon virou-se para trás, recebendo uma bofetada de Carlo. Caiu no chão de costas, sentindo um filete de sangue escorrer pelo canto da boca.
-Olha aqui, eu posso explicar...
-Não tem nada pra explicar! Você sabe bem o que eu sinto, e ainda assim, faz isso?!
-VOCÊ NUNCA LHE DISSE O QUE SENTIA!
-ENTÃO, VOCÊ ADMITE!
-Não admito nada! - Vociferou Kanon, ainda no chão. - Não estou com o Dite, mas digo que realmente gostaria de estar. Assim, eu não sofreria por um filhinho de papai metido à Don Juan e Dite não sofreria por um babaca preconceituoso como você!
Carlo preparou um chute. Kanon apenas sorriu ao vê-lo preparar a agressão.
-Vamos, faça! Mostre que, além de mentiroso, você também é covarde!
E o outro parou, fechando os punhos.
-Cala a boca, Kanon, você não sabe de nada.
-EU não sei de nada? Acho que você inverteu os papéis.
-Cala boca, cala a boca e CALA A BOCA! - Berrou, irado. - EU NÃO QUERO OUVIR MENTIRAS!
-NÃO SÃO MENTIRAS! - Berrou. - Você conta verdades que são mentiras, eis o fato!
-Eu sempre te respeitei, Kanon...
-Você NUNCA me respeitou, Carlo. tem coragem de fazer isso?
-Coragem de fazer o que?
-Aproveitar meu deslize... Para ferrar comigo...
E Kanon, aborrecido, virou os olhos.
-Já disse que não estamos juntos!
-Eu não acredito, Kanon, não acredito.
-Quer que eu prove?
-Como? - Perguntou, descrente.
-Julian. Por qual outro motivo eu começaria a namorar Afrodite de repente?
-E eu sei lá o que se passa por essa sua mente suja!
-Vai pro inferno, então! - E Kanon levantou-se, num pulo. - Pense que eu estou com ele, se você quiser! É até melhor, sabe porquê? - E virou-se para sair.
-Por que? - Perguntou Carlo, debilmente.
-Porque você vai sofrer... Exatamente como ele sofreu por você. - E saiu andando, deixando um Carlo muitíssimo afetado para trás.
Na boate, já haviam parado de dançar.
-Kamus, não acha que tá na hora de parar? - Perguntou Shina, fazendo um drinque para um dos seus clientes.
-Acho que sim... Mas ainda tem muita gente... - Falou, num suspiro aborrecido.
-Até que não. - Marin entrou na conversa, colocando vários copos de bebida na bandeja de Aioria. - Mais uma horinha e o povo some...
-São duas horas ainda. - Falou June, olhando para o relógio. - Ansiedade danada...
-June, finalmente, vai tirar a teia! - Falou Shina, sacana.
-CALA A BOCA, SHINA! - Berrou a loura, corando imediatamente.
Todos viram Milo correndo com a bandeja de baixo do braço. Atrás dele, um moço corria.
-Vem cá, lindinho! - Berrava o homem.
-Argh! - E o rapaz viu-se encurralado. Kamus preparou-se para pular o balcão, para ir defender o namorado.
-Vem cá, fofo. - Chamou mais uma vez o outro.
-Olha aqui, eu tenho uma bandeja de metal E NÃO TENHO MEDO DE USÁ-LA! - Ameaçou Milo.
-Ai, que meda!
-Duvida, é? TOMA! - E Milo começou a espancar o sujeito com a bandeja. O homem começou a correr, e, desta vez, foi Milo quem foi atrás dele. - VOLTA AQUI!
-SOCOORRROOOO! - E conseguiu sumir na multidão.
-GRUNF! - Milo reclamou, virando-se para voltar ao bar, onde todos riam. - Ahn? Que foi?
-Meu Deus! Essa foi a melhor cena da noite! - Falou June, rindo.
-Parem de rir! - Milo reclamou, sério. - Não foi engraçado! Aquele cara queria me agarrar!
-Tá, Milo, tá. - Kamus colocou as bebidas na bandeja dele mais uma vez.
-Quero ir pra casa. - Falou, malicioso, olhando para Kamus, antes de se virar para os clientes novamente.
-Sinto uma certa tensão no ar? - Debochou Shina, fazendo Kamus ficar vermelho. As outras meninas riram.
-Como a June disse, Shina... CALA A BOCA. - Resmungou, voltando-se para suas bebidas.
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Afrodite, depois de toda confusão, subira até o segundo andar do bar, onde Diana revisava as contas, sem ao menos saber o que estava acontecendo no estabelecimento. Percebeu quando o funcionário e amigo entrou, sem ao menos bater.
-Dite...ei...o que foi, que carinha é essa?
-Será que eu...que eu posso sair mais cedo? -ele perguntou, sem jeito.
-Claro, Dite...por falar nisso, a dança de hoje foi ótima, eu adorei.
Afrodite forçou um sorriso.
-Quer me contar o porquê dessa carinha triste? -ela disse, contornando a mesa, convidando-o para sentar-se em um dos sofás do escritório.
-Por enquanto não...nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo. Mas pode ter certeza de que vou resolver tudo.
-Fico feliz, Dite...porque apesar de mostrar à todos que você está bem, eu sinto que você não é a mesma pessoa que entrou no meu bar naquele dia, há uns tempinhos atrás. Existe algo dentro de você que é pura tristeza. E eu não gostaria de ver isso em você....
Afrodite quase chorou ao ouvir aquilo Ela realmente era uma mulher muito especial. Abraçou-a, carinhosamente.
-Pode deixar, Diana. Amanhã eu serei uma pessoa diferente. Vou resolver esse problema...e vai ser agora..... -Afrodite disse, decidido, saindo do escritório no mesmo instante. "Carlo...você vai ter que me ouvir..."
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-Alguém viu o Milo?
-Humm...não....por que? -Shina perguntou também.
-Ele sumiu. -Kamus disse, olhando por cima da bancada e por cima das cabeças dos clientes, procurando pelo escorpiano. Não seria difícil achá-lo no meio daquele povo todo, especialmente pela cor dos cabelos dele. Deparou-se, de repente, com enormes olhos verdes, cativantes.
-Recadinho pra você.... -Shun disse, sorrindo inocentemente, mostrando um pequeno pedaço de papel à Kamus.
-Me poupe...se é uma daquelas ninfomaníacas da mesa 9, por favor, pode jogar no lixo. -ele disse, friamente.
-Não...é de um moreno, de cabelos compridos azuis....chamado ? -Shun respondeu, ainda balançando o papel à frente de Kamus, que pegou-o no instante seguinte.
"Tomei a liberdade de pegar as chaves do seu apartamento. Não demore muito..."
O bilhete era curto, mas cheio de promessa. Kamus pediu aos deuses que o expediente terminasse logo. Precisava de Milo, mais do que ele mesmo podia imaginar.
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Encontrou Kanon encostado na porta de saída lateral do bar. Ele estava com uma cara desolada.
-Olha, não vou poder sair pra jantar hoje, Kanon.
-Como é?
-Vou até a casa do Carlo, resolver essa situação logo.
-Ah, não Dite...não faz isso....isso não vai dar certo.
-Pára, Kanon...pára!! Eu não agüento mais! Não posso mais ficar nessa indecisão. Bom ou ruim, isso tudo vai ter um fim hoje. Se fosse você fazia o mesmo com Julian.
-......
-Que foi?
-Nada.
-De qualquer maneira...vê se não banca o burro...pelo menos aproveita o jantar....
-Vou pensar no seu caso.
-Tchau, Kanon....boa sorte... -Afrodite disse, beijando o outro no rosto levemente.
-Você também, Dite... -ele murmurou.
Julian andava pela rua onde o Inferno ficava localizado. Cruzou a esquina e encontrou os cabelos inigualáveis de Kanon, que estava de costas pra ele. Caminhou lentamente até ele, procurando escolher bem as palavras.
-Me desculpa, Julian.... -Kanon disse, sem olhar pra trás.
Dizer que estava surpreso era estranhamente redundante. E não entendia porquê Kanon lhe pedia desculpas, quando, ao seu ver, era ele quem havia pisado na bola com o amigo.
-Como sabia que era eu?
-Seu cheiro. É inigualável.... -ele disse, censurando-se depois.
Julian sorriu, mesmo que o outro não pudesse vê-lo, e corava. Aquela declaração havia sido tão linda. Mas não...era apenas um elogio de amigo, nada mais.
-Bom...eu também quero lhe pedir desculpas. Não deveria ter agido daquela maneira com você...
Kanon virou-se de repente, olhando fundo nos olhos de Julian. Aproximou-se lentamente, tocando de leve nos fios azuis do cabelo do amigo, sorrindo suavemente.
-Minhas desculpas são por tudo o que falei desde que você chegou....
-Kanon....
-Shhh.... -ele pediu, com uma das mãos pressionando o ombro direito do amigo. -Vamos jantar, conversaremos com mais calma, assim....
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"Se ele pensa que pode aparecer, trabalhar e sair como se nada tivesse acontecido....humph, ainda roubou a minha chave!!", Kamus murmurou, com a mão na maçaneta da porta de entrada. "Ainda por cima deixa a minha porta aberta!!"
Ia gritar pelo nome de Milo, quando sentiu ser puxado para dentro do apartamento. Seus olhos foram vendados com uma espécie de tecido que ele não identificou. As mãos, imobilizadas para trás, o impediam de um maior contato com o corpo do outro.
Sentiu uma língua traçar o caminho de seu pescoço até o ouvido, onde a voz de Milo sussurrou:
-O que posso fazer pra esquentar esse seu coração tão frio?
Continua....
