Nota das autoras:
Ju:
Eita... Gostei de ver... Muitos comentários! XD
Galera, obrigada mesmo!
Bom, de qualquer jeito... Esse capítulo é bem fofo, eu particularmente gosto muito. Espero que vocês também gostem.
Nos vemos semana que vem!
Boa leitura.
Celly:
Mais uma vez todo mundo arrasando nas reviews, que bom que gostaram do capítuloé de coração. Aproveitem mais esse
e nos vemos na semana que vem.
Boa leitura!
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CAPÍTULO 20: Can't take my eyes off you
Amanhece...
-Bom dia, Judith. - Kanon desceu as escadas, desanimado, vestindo apenas a calça do pijama azul.
-Bom dia, menino Kanon. - Falou ela, preparando o café. - Dormiu bem?
-Não muito... - Disse ele, num suspiro.. - Ju ainda não desceu?
-Não... Eu até pensei em cham�-lo, mas fiquei com pena. Estava tão encolhidinho nos cobertores que eu achei um pecado acord�-lo.
-Pois, então, vou pecar agora mesmo. - E virou-se nas escadas. - Até mais. - E correu.
Judith apenas balançou a cabeça.
-Ju- Chamou-o, colocando a cabeça para dentro do cômodo. Avistou a cama do rapaz, e sorriu. Edith tinha razão.
Os cabelos espalhados pelo travesseiro branco, o corpo maravilhoso sendo destacado pela transparência dos lençóis... Era uma tentação. Aproximou-se devagar, tomando cuidado até mesmo ao respirar, com medo de que ele acordasse. Ajoelhou-se ao lado da cama, sorrindo.
Mas o sorriso esvaeceu quando ele viu o rosto tão lindo... Vermelho. Muito vermelho. Podia ver claramente o rastro de lágrimas, o que indicava que estava chorando há pouco. Sentiu um bolo na garganta, não podendo deixar de se sentir culpado por aquilo.
-Ju... - Chamou-o novamente, com delicadeza, acariciando os cabelos. Recebeu um pequeno soluço, fazendo-o arregalar os olhos.
Julian ainda estava adormecido, mas parecia estar sonhando. Kanon ficou parado, observando-o, sem saber exatamente o que fazer.
-...Lindo... - Murmurou o rapaz, virando-se, dando pontapés no lençóis. - Não vá embora... Não me deixe... - E balançou a cabeça com força, os olhos apertados, as lágrimas rolando pelo rosto. Era a primeira vez que via algo assim acontecer. - Não- E sentou-se na cama, ofegante.
-Ju...?
-Oh, por Deus- E colocou as mãos na boca. - Você ouviu?
-Ouvi, Ju... Mas...
-Vá embora- Ordenou, escondendo a face nas mãos bonitas. Kanon suspirou, erguendo a mão para acariciar o cabelo do rapaz. Ficou surpreso quando sua mão foi rejeitada com um tapa.
-Olha, eu sei que ainda está chateado...
-Não me diz nada, Kanon. - Falou, seco, olhando para baixo. - Vou embora daqui, hoje mesmo.
E Kanon pareceu engasgar-se.
-Embora? Mas... Por que, pra onde?
-Vou pra algum hotel, ou sei lá. Qualquer coisa pra ficar longe.
-Vai fugir de mim assim, Ju?
-Eu não vou fugir, apenas vou me distanciar.
-Uma tentativa de fugir do que sente. Por que você não...
-CALA A BOCA- Berrou, irado. - VOCÊ NÃO MERECE ALGUÉM COMO AFRODITE! VOCÊ NÃO PASSA DE UM IDIOTA, UM GALINHA! FOI POR ISSO QUE O ISAAC LARGOU VOCÊ!
E Julian quase tombou da cama, tamanho o impacto do tapa que levou na face. Kanon, com os olhos cheios d'água, o olhava.
-Não fale de Isaac... - Disse, triste, se levantando imediatamente, recuando os passos. - Você não tem esse direito...
Isaac fora o ex-namorado de Kanon... E o trocara por uma garota adolescente de pouco mais de quinze anos. Depois disso, Kanon caiu em uma quase depressão, ficando à beira do precipício. Com a ajuda de Julian, havia conseguido superar aquilo. Por que agora o outro lhe falava aquilo?
-Kanon... Eu...
E não pôde terminar a frase. Kanon bateu a porta, deixando um Julian arrependido sentado em sua cama.
-Me desculpe... - Murmurou.
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-Droga de sol...inferno... -reclamou, os olhos ainda fechados, não acostumados com a claridade que entrava em cheio pelos vidros da janela do quarto, que não estavam cobertos pela cortina vinho.
Carlo acordou pela primeira vez sozinho. Aquilo era novo, mas ele não reclamava. Com a exceção do dia em que acordara com Afrodite, todos os outros haviam sido preenchidos por mulheres vulgares que só estavam atrás de seu dinheiro. Afrodite...doía pensar nele, naquele momento. Não entendia como podia ter feito tudo errado em tão curto espaço de tempo. Mas agora estava acabado, não tinha como voltar atrás.
Caminhou até o banheiro, deixando a água fria encher a banheira branca. Olhou-se no espelho, seu reflexo, mais acabado que o normal, pedia-lhe que tomasse alguma atitude. "Mas qual? Qual", ele perguntou, olhando-se novamente.
Resolveu ignorar aquilo e tomar banho. Havia prometido à Diana que iria até o Inferno para conferirem os gastos e lucros do bar e não perderia aquele compromisso. Tentaria tomar um rumo em sua vida, mesmo que fosse difícil. "Droga...", ele murmurou, enfiando a cabeça embaixo da água. "Afrodite ainda trabalha lá..." E ele teve vontade de afogar-se.
-
Afrodite acordou, sentindo o peso de um braço em sua barriga. Assustou-se. Não lembrava de ter passado a noite com ninguém. Aliás, estava sóbrio e lembrava de tudo o que acontecera. Abriu os olhos e percebeu que estava em uma enorme cama de casal, ladeado por Mu e Shaka, que olhavam pra ele, sorrindo. Não tinha maneira melhor de começar o dia.
-Ah, a princesa resolveu acordar... -Shaka disse, fazendo cócegas na barriga de Afrodite, que sorriu.
-Bom dia...passei a noite aquié?
-Passou sim e foi uma companhia adorável... -Mu respondeu, olhando para o rapaz de cabelos azuis maliciosamente.
-Gente...
-Estamos brincando, seu bobo! Você estava tristinho e resolvemos trazê-lo até aqui. -Mu disse, sorrindo.
-Mas é que eu não lembro de muita coisa...
É, Shaka deu a você uns comprimidos pra dormir...tudo natural...
-Obrigado, Shaka...acho que nunca dormi tão bem em toda minha vida...
-Ah, não há de que...mas vamos tomar café. Milo ligou agora a pouco, dizendo que vai passar o dia com o Kamus, que a Diana os liberou.
É...é folga deles. Fico feliz por estar tudo resolvido entre eles... -Afrodite disse, levantando-se da cama e seguindo os dois até a bela mesa de café.
-E quanto a você, Dite-Mu perguntou, enquanto servia-se de suco de laranja.
-Eu vou viver minha vida, Mu. De agora em diante, serei uma nova pessoa.
Mu e Shaka se olharam, preocupados, mas sorriram ao ver a determinação de Afrodite.
-
Kanon estava dentro do quarto, deitado na cama. Segurava-se para não chorar, mas era impossível. Levara tanto tempo para não mais pensar em Isaac e logo a pessoa que era o responsável por aquela melhora resolvia mexer nas feridas do passado. Era realmente injusto.
Ouviu passos no corredor, tinha certeza de que eram de Julian, mas resolveu não mexer-se. Se o outro quisesse, que entrasse lá e lhe pedisse desculpas. Mas aquilo nunca aconteceu. Dez minutos depois, ele já estava curioso.
Saiu do quarto, descendo as escadas. Encontrou Judith limpando os móveis da sala de vídeo. Ela estava com uma expressão triste nos olhos.
-O que foi-Kanon perguntou.
-O menino Julian...ele...
-O que-Kanon perguntou, mas receoso de ouvir a resposta.
-Ele foi embora. Desceu as escadas com as malas. Quando perguntei se ele iria voltar, ele me disse que não tinha mais o direito de ficar aqui, depois de tê-lo magodo tanto...ele parecia tão mal, menino Kanon...
Os olhos de Kanon encheram de lágrimas e ele buscou os últimos resquícios de força para não chorar na frente de Judith. Voltou para o quarto e desabou na cama. Só então chorou.
Ali perto, Julian lia os letreiros à procura de um lugar para ficar.
-Oh, raios... Tem de haver um lugar- E viu um pequeno lugar, mas em perfeito estado. Em cima dele, um discreto aviso 'QUARTOS PARA ALUGAR'. Sorriu tristemente, caminhando até lá.
Não queria ter deixado Kanon. Realmente não queria. Mas não teria coragem de encar�-lo depois do que havia feito. O havia feito trazer memórias pouco agradáveis de volta à tona, exatamente porque sabia que elas o faziam ficar mal. Não entendeu o porquê de querer feri-lo, mas o quis fazer... E o fez, sem pensar. Agora, porém, sentia-se péssimo.
Kanon sempre lhe ajudara, sempre lhe dera a mão. Foi o primeiro à oferecer lugar para ele, foi o único que esteve ao seu lado, desde que eram adolescentes, com os hormônios à flor da pele. Foi o único que despertou algo que nenhum outro conseguiu fazer.
E foi o único que magoou daquela maneira.
-Sim.- A voz de uma linda jovem pareceu acordar-lhe. Olhou para ela, notando o olhar cobiçoso dela para cima dele. Mas simplesmente ignorou isto, sem sequer dar-se ao trabalho de sorrir.
-Eu quero um quarto. - Falou, seco. Ela digitou algo no computador, cheio de bilhetes e anotações penduradas com adesivos, fita, penduricalhos e com aqueles ímãs de geladeira cheios de frescurite.
-Para uma pessoa só- Ela perguntou, e ele pôde entender bem o tom malicioso que sua voz assumiu.
-Não. - Ele falou, gelando-a novamente. - Cama de casal.
-Sua acompanhante veio- Perguntou, as bochechas coradas.
-Não há acompanhante. Eu somente quero uma cama de casal. - Disse, sem rodeios. Ela olhou-o, sem entender.
-O senhor terá de pagar dobrado... Porque, mesmo sendo uma pessoa só, a cama é para duas e...
-Eu já disse que quero, não ouviu? Não perguntei preço ou qualquer coisa assim. Que tal parar com isso e me dar uma droga de chave- Rosnou, fazendo-a encolher-se.
-Desculpe, eu...
E Julian notou a besteira que tinha feito. Suspirou longamente, antes de olhar para a moça horrorizada.
-Desculpe-me. - Murmurou, olhando para baixo. - Meu dia está sendo horrível... Estou com problemas...
-Ah, sim. - Ela olhou-o, compreensiva. - Eu entendo, senhor, não se preocupe. Tem algum documento para identific�-lo?
-Sim, minuto. - E puxou a carteira do bolso, procurando a identidade. Algo caiu no chão. Ignorou, achando o documento que procurava e depositando-o no balcão. Então, abaixou-se para olhar o que havia caído e teve vontade de gritar.
Ele e Kanon... Adolescentes. Kanon o segurava nos braços enquanto ele envolvia-lhe o pescoço docemente. Nunca havia notado o olhar de Kanon sobre ele... Piscou algumas vezes. Que cara era aquela, por Deus!
Fingia que olhava para frente, mas os olhos estavam virados em sua direção. Um sorriso apaixonado enfeitava os lábios finos. Abaixou os olhos e surpreendeu-se em ver as mãos dele. Uma delas atravessava as costas, mas parava no peito. A outra envolvia-o pelos joelhos, protetoramente. Notou que as palmas estavam levemente comprimidas... Acariciando-o.
Sentiu um arrepio comprido percorrer-lhe a espinha. Como ele nunca havia percebido aquilo?
-Senhor Julian- A voz da moça novamente despertou-o. Ajeitou-se, guardando a foto no bolso imediatamente. - Seu quarto é o quarto número sete. É só subir aquela escada ali. - E apontou para a direita.
-Obrigado... - Murmurou ele, fazendo um gesto com a cabeça e indo para o lugar onde a moça apontara. Ao chegar l�, virou-se para ela, que corou. O havia ficado observando. Ele não sorriu, nem nada assim. - E desculpe.
E subiu. Ela suspirou longamente, aliviada. A presença do rapaz era tão inebriante que chegava a dar nervoso.
Caminhou até seu quarto, abriu a porta e olhou-o. Sorriu. Quem visse o lugar por fora não iria saber como ele era por dentro. O quarto era muitíssimo bem arrumado, com uma cama bem espaçosa, ventiladores, frigobar e televisão. Fora um ar condicionado, mas ele nem ligou muito para isso. Largou as coisas num canto, junto com os sapatos, e foi até o banheiro.
Surpreendeu-se ao ver uma banheira bem espaçosa dentro do box. Não pôde evitar um leve sorrisinho.
-Pelo menos... Achei o lugar certo...
E tirou a camisa, com um suspiro. Saiu do banheiro, caminhando até a cama. Deitou-se preguiçosamente, esparramando-se nela. Sentia-se absolutamente cansado, o corpo todo pedia descanso... Mas ele não estava com sono. Mesmo que estivesse, sabia que não iria conseguir dormir.
Com um suspiro resignado, puxou o travesseiro para cima da cabeça, resmungando. Num gesto involuntário, movimentou os braços, esbarrando na cômoda. Olhou-a imediatamente e viu um telefone. Pensamentos atravessaram-lhe a mente, e antes que pudesse pensar se deveria ou não ligar, o telefone já estava chamando para a casa de Kanon.
-Quer que eu atenda, menino Kanon- Gritou Judith, do andar de baixo.
-SIM. - Berrou ele, sentindo que não teria vontade de falar com ninguém. Ainda estava chorando, e não queria compartilhar aquilo com pessoa alguma. Seu orgulho era grande demais.
Segundos se passaram, até que ouviu novamente a voz da governanta.
É O MENINO JULIAN- Gritou. Kanon arregalou os olhos e puxou rapidamente o telefone ao seu lado, colocando-o no ouvido na velocidade da luz. Agradeceu por ter colocado apenas uma linha na casa...
-Ju- Antes que o outro pudesse falar, já gritou. Julian não sabia o que dizer. Havia agido por impulso, e agora se via num dilema.
-Olá... Kanon... - Kanon sentiu o estômago afundar ao ser chamado tão formalmente.
-Onde você est�, Ju- Perguntou depressa, ouvindo um suspiro do outro lado.
-Longe. - Mentiu Julian.
-Ah... - Kanon disse, os olhos enchendo d'água. Julian percebeu o jeito diferente, rouco, com o qual ele falava, e achou aquilo realmente estranho.
-Kanon...
-O... O que- Perguntou, engolindo um soluço.
-Você está chorando- Arriscou.
Fez-se um silêncio perturbador. Não sabia o que responder. Se confirmasse, sabia que estaria se entregando. Se negasse, passaria por mentiroso. Analisando as duas opções, Kanon seguiu seu coração.
-Eu...é... -ele suspirou, profundamente. -Estou sim...
Julian sentiu seu coração ficar apertado. Kanon estava chorando e pelo que ele havia falado. Havia cruzado uma linha importantíssima do relacionamento deles e aquilo o estava corroendo.
-Sei...me desculpa, Kanon...eu não queria...não tinha o direito...
-K...
-Hein?
-K... -ele disse, com a voz embargada. -Quando vai voltar a me chamar de K, Ju? Nós somos amigos, não deveríamos estar brigando.
-Mas...
-Não, me escute. Eu queria muito, mas muito mesmo poder estar olhando pra você agora. Não precisa me pedir desculpas. Eu te magoei primeiro...é uma pena que você esteja longe...precisava te contar tanta coisa... -ele suspirou.
Mais uma vez Julian sentia-se culpado, dessa vez por ter dito que estava longe. O que não daria para estar ao lado de Kanon, ouvindo o que ele tinha a dizer, segurar em sua mão, olhar em seus olhos.
É...eu também sinto...
-Não tem nenhuma... -ele tentou.
-Nenhuma o quê?
-...possibiliade de eu te ver, nem que seja por alguns instantes...
-Kanon...
-Por favor, Ju... -ele detestava o quão desesperado sua voz soava, mas já não importava mais. Ouviu um suspiro do outro lado, como se Julian estivesse lutando contra si mesmo para respondê-lo. Naqueles segundos, ele interpretou-os como se estivesse forçando uma situação. Censurou-se imediatamente. -Ju, tudo bem...eu entendo que não queira me ver...
-Não, K-ele disse, gritando. No fundo não queria perder a oportunidade de vê-lo de novo. -Eu posso...a gente pode se ver sim...hoje à noite. No Inferno, tudo bem?
Ótimo-seu humor melhorara 100. -Estarei láàs 7, ok?
-
-Como foi a noite, meninas-Afrodite perguntou, colocando a cabeça dentro do camarim que ele dividia com Shina, June e Marin.
-Espetacular...olha aqui-Shina disse, mostrando o pescoço marcado com um hematoma suspeito. Afrodite balançou a cabeça como se a reprovasse.
-Ah, o Ikki é muito legal...bem diferente do Shun, que é todo na dele...
-Você quer dizer selvagem, amiga...eu vi como vocês estavam se agarrando. -Marin comentou.
-Olha quem fala...estava toda à vontade no colo do Aioria, nem se importou com mais nada...
-Não mesmo, Shina...com aquele leão maravilhoso, quem vai querer outra coisa?
Afrodite sentou-se em um canto e ficou reparando em como elas pareciam felizes. Era hora de ele fazer o mesmo consigo mesmo. Esquecer o passado que havia sido bom, trabalhar, ganhar seu dinheiro e voltar pra Suécia, como havia prometido à mãe. Ou então trabalhar e voltar à estudar e quem sabe procurar o amor em outras bandas.
-Ouvir vocês falando de seus respectivos namorados é ótimo, mas eu vou procurar algo menos romântico...vou conversar com o Aldebaran...
-Credo...você quer mudar de rumo mesmo...ele vai ficar falando dos filmes policiais que assitiu, podes crer... -Shina reclamou.
-Não damos 10 minutos pra você voltar correndo. -June completou.
Afrodite mostrou a língua para elas e saiu, ainda de costas. Esbarrou em alguém, que segurou-o pelos ombros rapidamente. Prendeu a respiração ao constatar que era Carlo e que este o olhava de maneira triste. Jogou os cabelos para trás e, sem fazer muito esforço, livrou-se dos braços dele, seguindo para a frente do bar.
Carlo ficou olhando para o rapaz, na esperança de que ele olhasse para trás, procurando por seu olhar. Sentiu uma dor estonteante no peito quando ele sumiu pela multidão, sem sequer virar o rosto.
-Dite... - Murmurou, com tristeza. Virou-se para caminhar até o bar. Iria vê-lo de camarote, como havia feito no dia em que o conhecera. Iria mostrar que o amava.
Mesmo que o outro não acreditasse nisso.
-
Era a décima vez que olhava para o relógio no incrível período de um minuto. A garganta estava seca, as mãos estavam incontroláveis e a pulsação parecia acelerada. A agonia da 'demora' do rapaz estava começando à afet�-lo.
-Ai, Ju... - Murmurou, olhando para baixo.
-...Kanon...?
E olhou para cima imediatamente, deparando-se com o tão amado par de olhos emocionados. Chegava à assustar o modo como Julian conseguia dizer um mundo sem dizer nada...
-...Ju... - Ergueu-se, e Julian baixou os olhos. Surpreendeu-se quando Kanon abraçou-o imediatamente, envolvendo-o com os braços fortes, mas de maneira delicada.
-... - Não soube o que dizer. O cheiro da colônia de Kanon o inebriava, sentir os braços dele à protegê-lo... Poderia ficar ali pela vida toda.
Mantiveram-se daquele jeito por minutos, nenhum dos dois disse nada durante o abraço. Kanon suspirou, então, soltando-o e pedindo para que ele se sentasse na mesa que havia reservado. Julian obedeceu-o imediatamente.
-Eu quero pedir desculpas. - Disseram os dois ao mesmo tempo, milésimos depois de ajeitarem-se nas cadeiras. Se encararam, surpresos pela coincidência.
-Você não tem que pedir desculpas... Eu fiz besteira... - Murmurou Julian, respirando longamente. - Eu não deveria ter... bem... eu não preciso repetir, não é mesmo- Falou, amargamente. Kanon olhou-o por alguns segundos, antes de notar que o outro esperava que ele falasse algo.
Pigarreou de leve, tentando ordenar os pensamentos. Sua conclusão? Agarre-o e beije-o. Mas balançou a cabeça com força, tentando livrar-se de toda aquela vontade reprimida.
-Você não teria feito aquilo se eu não tivesse provocado antes. - Falou Kanon, sério, olhando-o nos olhos. Julian sentiu-se arrepiar e desviou o olhar. Não agüentaria por muito tempo. -Olha pra mim, Ju. - Falou, mas Julian não se movimentou. - Por favor. - Suavizou a voz ao extremo, vendo o rapaz estremecer. - Não é uma ordem, entenda... É apenas um pedido.
Então, Julian virou a face novamente, encarando Kanon com frieza, algo que o assustou um pouco, embora o mesmo tentasse não demonstrar o susto que levara.
-Por que faz isso comigo, Kanon- Perguntou, seco.
-...Faço...? O que...- Kanon piscou diversas vezes, sem entender. - O que eu faço, Ju?
-Você é tão carinhoso, você é tão... Sei l�, tão desejável- Confessou o outro, aborrecido. - E isso me irrita, porque eu não consigo fazer algo assim!
-...Você não se acha desejável?
O rosto de Julian ficou de uma cor vermelha berrante. Kanon achou-o simplesmente um amor.
-Eu deveria- Ironizou o outro, mas sem conseguir disfarçar o imenso embaraço.
-Deveria. - Disse Kanon, sorrindo, sem se afetar. - Pessoas belas têm de saber que são belas. Senão, como saberão o quão lindas elas são?
-Decorou isso- Falou, sarcástico.
-Decorei... Fui apressado- Brincou Kanon, com um sorriso bem menor do que o anterior. Tentava de todas as maneiras quebrar as defesas de Julian. Eàs vezes, conseguia. Isso estava conseguindo desesperar o rapaz, que queria evit�-lo, odi�-lo... Mas não conseguia.
-QUE DROGA- Berrou Julian, se levantando. Kanon acompanhou-o imediatamente. - Droga, droga, droga! Que porcaria, Kanon! Por que você tem que ser perfeito em tudo que faz?
-Eu... Eu não sou perfeito, Ju...
-E por que tem que soar tão carinhoso? Por que tem que se mostrar tão carente? Por que tem esses olhos tão lindos, esse rosto tão expressivo? POR QUE DIABOS VOCÊ CONSEGUE TER ESSE DOMÍNIO SOBRE MIM- Berrou, agarrando-o pelo colarinho. - Por que, Kanon...- Os olhos do rapaz encheram-se de água. Afundou-se na blusa do amigo, chorando. Kanon, chocado demais, apenas permaneceu ereto, os olhos arregalados, a boca mais seca do que o normal.
-Eu... - Kanon tentou falar algo, mas calou-se quando Julian levantou os olhos avermelhados.
-Por que, Kanon- Murmurou.
-...Por que não me chama de K- Perguntou, tentando mudar de assunto.
-Não o quero chamar de K, apenas. E não saia da raia. - Falou, tentando ficar sério. - Por que você faz assim? Por que não me deixa em paz?
-Porque eu não posso. - Falou, e se arrependeu depois, ao ver o olhar incrédulo de Julian.
-Por que não- Sussurrou ele.
-Porque eu gosto demais de você para te tratar como qualquer pessoa. Você é simplesmente importante demais.
E não teve tempo de falar mais nada. Julian soltou-se dele e encarou-o, com os braços ao lado do corpo. Olhou para um grupo de pessoas que dançava freneticamente ao lado das caixas de som demoradamente, para depois virar-se para Kanon.
-Quer dançar?
Kanon demorou alguns segundos para assimilar o que o outro dissera. Se queria dançar? De onde tirara aquilo? Que tipo de desculpa era aquela?
-Eu... Quero. - Falou, e surpreendeu-se quando Julian puxou-o para a 'pista' pela mão, sem olh�-lo nos olhos. O que estaria tramando?
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-Impressionante...nosso dia de folga e você escolhe vir pra cá.
-Ah... é divertido. E é a primeira vez que entramos juntos, como namorados. Olha lá o Dite...
-E o Carlo... -Kamus disse, instantaneamente arrependido das palavras que proferira.
-Amor...não quero pensar neles, ok? Especialmente depois da conversa que tive com Shaka mais cedo. -Milo parecia outra pessoa.
-Ah sim...eu e Mu ficamos muito curiosos. Conte-me logo.
-Daqui a pouco, vamos sentar primeiro. Estou vendo uma mesa vaga ali perto do Hyoga.
-
-Mas ele é...nossa...
-Eu disse. Meu irmão tem bom gosto.
-Muito. Julian é maravilhoso e parece gostar do Kanon também.
-Pois é, Di. Eu já disse isso pra ele, mas ele me diz que eu estou vendo coisas. -Saga disse, enquanto observava o irmão e Julian dançando.
-Se Kanon acha que você vê coisas, então somos dois a vê-las.
-Espero que eles se acertem. Essa família já sofreu muito por amor. -ele constatou, triste.
Diana levantou-se de sua cadeira, sentando-se no colo de Saga. Olhou-o fundo nos olhos, afastando os fios azuis que cobriam sua testa delicadamente. Beijou os lábios dele com amor, como se quisesse assegur�-lo de seus sentimentos.
-Mas acho que essa história vai mudar... -Saga disse depois do beijo, sorrindo. -A propósito...queria te perguntar uma coisa.
À vontade...
-Você... -ele parecia indeciso. Respirou fundo, como se quisesse tomar coragem. -Você gostaria de se casar comigo?
-O quê-ela parecia atônita, um sorriso nos lábios. Saga acompanhou-a.
É...eu estive pensando...
-Mas é claro que eu quero, meu lindo...eu te amo-ela disse, beijando-o de novo.
-
-Essa vai pros apaixonados-a voz de Marin anunciou e todos aplaudiram.
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
You'd be like heaven to touch
I wanna hold you so much
At long last love has arrived
And I thank God I'm alive
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
Saga e Kanon pararam de dançar por um minuto ouvindo as palavras de Marin. No mesmo instante ficaram sem graça, não sabiam para onde olhar. Coube à Kanon tomar uma decisão. Ele olhou para Julian, tocando de leve em sua mão.
-Vamos sentar... -ele disse.
Mas Julian não saiu do lugar. Estava com uma expressão diferente da frieza, paixão e amizade de antes. Kanon não sabia o que era ao certo. Quando tentou toc�-lo de novo, teve sua mão segura com força. Imediatamente os belos olhos azuis de Julian fixaram-se nos seus.
-Vamos dançar...por favor. -ele pediu, com a voz rouca.
Kanon sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha, especialmente quando sentiu os braços de Julian contornarem seu pescoço e a cabeça dele cair em seus ombros, os cabelos azuis misturando-se aos seus. Abraçou o outro pela cintura e deixou o ritmo os embalar.
Furdon the way that I stare
There's nothing else to compare
The sight of you leaves me weak
There are no words left to speak
But if you feel like I feel
Please let me know that it's real
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
Tinha vontade de gritar para ele que o amava, pedir desculpas por ter mentido, pedir que ficasse com ele para sempre, que se tornassem muito mais que amigos inseparáveis. Mas sabia que aquilo seria impossível. Seu amigo tinha um namorado, um namorado que estava ali a poucos metros dele, ele podia sentir, observando-os. Imediatamente tentou soltar-se dos braços de Kanon, mas este impediu-o.
-Kanon...o Afrodite...não devíamos...
Segurando a cabeça de Julian em seu ombro, ele aproximou os lábios do ouvido do outro, murmurando logo em seguida.
-Por favor...não pense nele agora...
-Mas...
-Shh... -ele tateou até encontrar os lábios do outro, tocando-os de leve com os dedos. -Confie em mim...
Julian calou-se e deixou-se levar pelo amigo naquela doce melodia, que se parassem para pensar, combinava tanto com a história deles. Tinha em mente, ao convidar o amigo para dançar, desanuviar os pensamentos e o clima pesado que se instaurara entre eles, mas aquilo estava saindo como uma tortura.
De longe, Kanon podia ver Afrodite sentado no fim do balcão, olhando para eles com uma expressão que era um misto de felicidade e tristeza. Teve vontade de ir até l�, mas o abraço de Julian estava tão bom que ele perdeu as forças. Ele sorriu quando o amigo fez o sinal de positivo para os dois e forçou um sorriso. Agora as coisas pareciam se resolver.
I love you baby
And if it's quite all right
I need you baby
To warm my lonely night I love you baby
Trust in me when I say
Oh, pretty baby
Don't bring me down I pray oh, pretty baby
Now that I found you, stay and let me love you
Baby let me love you...
-Então você mudou?
-Não...ele mudou, meu amor...acho que Dite vai ser feliz agora. Aquele outro só servia para atrapalhar a vida dele...
-Você e Shaka estavam tramando então?
-De maneira alguma, Kamus... -Milo disse, soltando-se do namorado por um segundo. Dançavam olhando-se nos olhos agora. -Shaka me contou o que aconteceu e as atitudes de Dite. Acho que não vou precisar me preocupar mais...finalmente ele entendeu...
-Fico feliz. Pelo nosso bem. -Kamus falou, um tom um tanto triste.
-Desculpe-me por ter feito você sofrer. Falei coisas das quais me arrependo. -Milo disse, baixando a cabeça.
-Não, mon ange...você estava sendo você...e eu te amo assim...não vamos mais deixar nada nos separar, nem que seja por um dia...você promete?
Milo sorriu, fazendo que sim com a cabeça. Kamus sorriu e eles beijaram-se. Logo em seguida a música acabou e dessa vez foi a voz de Shina que avisou-os qual seria a próxima música da noite.
-Essa é pra soltar a franga! Não quero ver ninguém parado!
-Você precisa voltar ao bar, Kamus...elas enlouquecem com esse megafone... -Milo comentou, quando a conhecidíssima 'YMCA' começou a tocar. Kamus apenas sorriu.
Dançavam animadamente, até Diana e Saga resolveram juntar-se à eles. Saga procurou pelo irmão, mas só encontrou-o quando Kanon estava saindo pela porta acompanhado de Julian. Sorriu, animado. Ele esperava que as coisas se acertassem naquele momento.
-Oi, Dite... -a voz rouca de Carlo tirou os olhos de Afrodite da pista de dança, onde todos se divertiam. Fixou-se nele por alguns segundos, sentindo suas forças sumirem quando o outro se aproximava para toc�-lo no rosto.
-Ai, droga...já volto-Milo disse, rapidamente, soltando-se de Kamus e correndo na direção de Afrodite.
-Falei cedo demais... -Kamus murmurou, mas não parando de dançar, acompanhado de Saga, que tentava fazer a coreografia no refrão da música.
-Como vocês conseguem-Saga perguntou, fazendo o Y na hora do A. Kamus apenas riu.
-Hit gay...corre no nosso sangue... -Kamus comentou, sorrindo. Saga também sorriu. Procurou por Diana, mas ela estava indo na direção de Carlo. Balançou a cabeça.
-Dite! Você não deve ficar parado, vamos l�-Milo disse, puxando Afrodite de cima do balcão, tirando-o de perto de Carlo. Nem ao menos dispensou sua atenção ao italiano, que suspirou profundamente, resignado. Preparou-se para sair do bar quando deparou-se com Diana.
-Então eu acertei...ele te fisgou mesmo, Carlo. -ela disse, desdenhando.
-Di... -ao invés de xingamentos, ele parecia realmente triste. Aquilo quebrou a mulher, que entrelaçou seu braço no dele. Sentados em uma mesa afastada, Carlo observava Afrodite que, animado, fazia a coreografia da música, acompanhado de Kamus, Milo e Saga, que finalmente aprendera a ordem das letras.
-Eu acertei então...você o ama.
-Não acredito no amor.
-Então você não o ama?
-Não disse isso.
-O que você diz então?
-Não digo nada. Esse é o problema. Eu sou um merda...
Diana sorriu, evitando não concordar com aquela afirmação. Tinha pena de Carlo, mas no fundo, achava que Afrodite estaria melhor longe dele.
-Meu querido...quando você entender o que está acontecendo dentro da sua própria cabeça e coração, as coisas ficarão bem mais fáceis. Eu te prometo. E até lá...deixa Afrodite em paz.
-O QUÊ?
-Vai ser melhor pra vocês dois, Carlo...
Carlo levantou-se da cadeira, indignado, querendo sair dali. Esperava que pelo menos alguém o entendesse, o apoiasse. Mas estava sozinho, como sempre. Aquele era o castigo por passar tantos anos ignorando as amizades que lhe eram oferecidas.
Já na porta, ele olhou para trás. No mesmo momento, Afrodite olhou na mesma direção. Os olhos encontraram-se e ele entendeu, finalmente. Diana tinha razão. Ele iria se afastar. Deixar Afrodite ser feliz, mesmo que longe dele. Afinal, não era assim que o amor funcionava? "Se você acha que algo é seu, deixe-o ir. Se ele voltar é porque sempre foi seu."
Continua...
