Nota das autoras:
Ju:
Bem, eu realmente não sei o que dizer. Acho que dei todos os avisos no capítulo anterior.
Tudo o que eu tenho a dizer é 'Boa leitura' e 'divirta-se'!
Celly:
Só posso dizer que o próximo capítulo é um dos meus preferidos. Até semana que vem, então!
CAPÍTULO 23:
Apesar de Afrodite ter fingido que estava tudo bem durante tempos, ele sabia que estava bem longe disso. Não poderia demonstrar tristeza. Era o casamento de sua melhor amiga! Seria muita falta de consideração sair contando os problemas por aí num dia como aquele.
-Vamos l�- Diana posicionou-se de costa para todos. O que ninguém sabia é que havia um Saga dizendo-lhe exatamente em que posição deveria jogar.
-Eu vou pegar! Eu vou pegar- Berrava Milo, tentando escapar da mesa, onde um Kamus segurava-o pela cintura com força.
-Milo... - Falou, severo. O rapaz murchou.
-Ahhh, Kamus... Por que você nunca me deixa fazer coisas legais- E sentou-se, cruzando os braços e emburrando. Kamus apenas deu um risinho. Conhecia por demais o charminho do namorado, e não se deixaria cair nele novamente.
-Porque talvez você tenha um discernimento bem estranho para 'legal'- E recebeu um pequenino soco no braço, rindo ao ver o jeito indignado com o qual Milo reagiu.
-Tente conseguir algo essa noite, bonitão. - Falou, fazendo bico e virando o rosto. Kamus apenas abaixou o rosto de leve, roçando os lábios na bochecha de Milo, para lev�-los até o ouvido.
-É um desafio- Murmurou, fazendo Milo dar um risinho malvado.
-Se quiser interpretar como um... - Falou, maroto, deixando que o outro o envolvesse pela cintura e lhe tomasse os lábios com sutileza.
-É UM! É DOIS! É TRÊS- Berrou, e, seguindo as instruções do marido, lançou para a esquerda. Infelizmente (ou felizmente), o buquê mudou de direção, caindo não nos braços de Milo ou Kamus, mas sim nos braços de um Kanon pra lá de distraído.
-HEIN- Arregalou os olhos. Imediatamente, vivas, gritinhos e palmas ecoaram, e ele se viu corando de vergonha, enquanto o irmão ria muito do outro lado.
-Seria uma linda noiva. - Disse Milo, debochado. - Mas tenho a ligeira impressão de que é bom cuidar bem do noivo... - Por mais que Kamus o estivesse cutucando, Milo não se calou.
-Que quer dizer com isso- Perguntou, franzindo o cenho. E Milo apontou para um Julian que sorvia um copo de vinho com tanta rapidez que parecia água.
No milésimo seguinte, apontou para um outro sujeito, que o observava atentamente.
-É mais seguro cuidar do que é seu. - Falou, com um sorriso maroto.
-Hunph, Julian não me diz respeito. - Falou, sem expressão, olhando enojado para o buquê.
-Não mesmo- Ergueu uma sobrancelha, e Kamus apertou-lhe a perna, pedindo (ou ordenando) silêncio. Milo apenas sorriu para ele, e voltou-se para o outro rapaz.
-Ora, seu...
-Fale o que quiser, se a verdade dói tanto.
Então, ressentido, Kanon virou-se, vendo, aterrorizado, o homem começar a se aproximar de Julian. Disse um nervoso 'com licença' e saiu correndo em direção ao bar, levando consigo o buquê.
Na mesa, Milo apenas começou a rir. Kamus suspirou longamente.
-Quantas vezes eu já disse para você parar com isso?
-Muitas. - Falou Milo, como uma criança recebendo uma bronca.
-E quantas vezes você me obedeceu?
-Uma ou duas.
-E quantas você me desobedeceu?
Milo pareceu pensar. Sorriu, debochado.
-Já perdi a conta.
-Ah, Milo, não sei como eu te agüento... - Murmurou, colocando a mão na testa. Milo apenas riu, beijando-o no rosto.
-Eu faço idéia. - Disse, encostando-se no outro.
-Devia parar de tentar ser cupido.
-Os casais que eu juntei nunca reclamaram. - Falou, antes de aconchegar-se nos braços de Kamus.
-Aff...
No bar, Julian levava mais um copo aos lábios. Mas antes que pudesse sentir o líquido de dentro dele, o copo foi puxado de sua mão. Indignado, olhou para o lado, disposto à cair no pau com alguém. Calou-se imediatamente ao encarar o par de olhos azuis mais lindos que conhecia.
-Vamos pra casa, Julian. - Falou, seco.
-Casa? Nós- E pareceu meio perdido.
-No seu estado, só se eu fosse maluco pra te deixar ir sozinho de carro. Vamos. - Falou, puxando-o pela mão. Julian apenas sorriu, deixando-se conduzir por ele.
Foram até os noivos, que conversavam tranqüilamente.
-Licença, pombinhos. - Falou. Ambos deram risinho quando o viram. - Que houve?
-Mãos dadas, nééé? Di, você acertou a mão no lance do buquê, hein- E foi cutucado pela esposa. Kanon corou ao notar que estava realmente de mãos dadas com Julian. Mas disfarçou.
-Ele está mais pra lá do que pra cá. Vou lev�-lo até em casa. Sabe como é, quero garantir que não haverá nenhum carro batido amanhã...
-Aham, sei... - Falou Saga, descrente, recebendo outro cutucão de Diana. - Bom, então, boa noite. - E, desta vez, foi uma cotovelada. - Ei, Di!
-Aff, boa noite, casal vinte. - Falou Kanon, com um risinho. - Nos vemos outra hora. Adorei a festa, felicitações e tudo o mais.
-É, tchauzinho. - Concordou Julian, mas antes que pudesse falar qualquer outra coisa, foi puxado por um impaciente Kanon.
-Eita, Di... Tenho a ligeira impressão de que temos um novo casal à solta...
-Jura- Disse ela, sarcástica. Ele apenas riu, dando-lhe um beijinho.
Alguns minutos depois...
-Julian, coloca o cinto. - Falou Kanon ao amigo, sentado no banco do carona, olhando para o lado de fora. A cena era inocente ao extremo, e Julian estava tão... Chacoalhou a cabeça para evitar pensamentos como aquele.
-...Tá... - Murmurou o outro, obedecendo a ordem do amigo, voltando à observar o vidro. Surpreendeu-se quando alguns pinguinhos minúsculos espalharam-se pela superfície.
-Chuva. - Falou Kanon, suspirando. - Detesto chuva.
Alguns minutos de silêncio até que chegaram à casa de Kanon. Incrivelmente, uma chuva absurda havia despencado do nada.
-Droga. - Murmurou, aborrecido. Saiu do carro imediatamente, trancando-o com rapidez. Sentindo a água começando à encharc�-lo, correu para abrir a porta de Julian, que fez o mesmo, só que bem mais lento. Apressado, trancou a porta e puxou-o pelo pulso. Correram até a porta, ambos surpresos pela mudança climática tão repentina.
-Brr, que frio. - Murmurou Julian para si mesmo, abraçando-se. Kanon evitou olhar para aquela cena.
Destrancou a porta de casa, entrando. Julian ficou parado ao lado de fora.
-Entre. - Falou Kanon, mas o rapaz não se moveu. - O que foi?
-Vou voltar ao meu apartamento. - Virou-se para sair, mas Kanon, rápido, puxou-o pelo ombro, fazendo-o encar�-lo nos olhos.
-Por que?
-Não me sinto bem aqui, Kanon.
-Engraçado.
-O que?
-Você não me parece mais tão bêbado. - Falou, erguendo uma sobrancelha.
Julian olhava-o chocado. Havia esquecido completamente de sua encenação. Virou-se para sair, quando foi segurado por Kanon.
-Entre. Está chovendo demais. Não sou o amigo desnaturado que você pensa que eu sou. - Aquilo soou como um tapa.
Adentraram a casa escura em silêncio. Julian seguindo Kanon, que acendia as luzes, tirando o paletó e deixando-o no chão.
-Você é incorrigível mesmo. Coitada da Judith. -Julian disse e quando Kanon fez menção de perguntar sobre o quê ele estava falando, apenar olhou para o terno no chão.
-Ah, Judith não está em casa. Dispensei-a do trabalho. Estamos sozinhos, depois eu arrumo tudo.
E Julian calou-se. Não queria imaginar as implicações daquela última declaração.
-Gente, eu vou pra casa, se vocês não se importam...
-Ah, qual é, Afrodite? A festa ainda está na metade- Milo reclamou.
-Muitas emoções pra um dia só, meu amigo... -ele disse, sorrindo. -Importa-se se eu pegar o carro?
-Você é um chato! O Kamus é um chato...e eu fico aqui querendo me divertir e ninguém quer se divertir comigo... -Milo fez bico e Afrodite achou uma graça, já Kamus virava os olhos, numa evidente desaprovação.
-Eu me divirto com você-Mu gritou, não muito longe dali e Shaka balançou a cabeça negativamente. -Se meu namorado não achar que isso é traição.
-Por Buda, como você é infantil...especialmente quando está bêbado. -Shaka disse e Mu apenas deu-lhe a língua.
Milo sorriu e puxou Mu pela mão, arrastando o rapaz até a pista de dança, onde os convidados ainda dançavam sem se importar com a hora.
-Bom, Kamus... Avisa pro festeiro que eu levei o carro, tudo bem?
-Claro, Dite... Nós vamos lá pra casa depois da festa, então nem se preocupe...
-Aproveitem o resto da noite... -ele disse, sorrindo.
-É, você também!
Assim que saiu do bar reparou na chuva torrencial que caía. Correu até o carro, tomando cuidado para estragar muito a roupa. Já dentro do carro ligou o rádio e dirigiu-se para casa, onde esperava tomar um banho bem quentinho e dormir a noite inteira, sem ter que se preocupar com qualquer outra coisa.
Aproximando-se do prédio, viu um carro familiar parado na esquina oposta. Achou que estava vendo coisas, não seria possível. Mas ao descer do carro, a chuva grossa caindo, ele avistou uma pessoa sentada à soleira da porta, impedindo a passagem de qualquer morador.
-Você não cumpre mesmo com a sua palavra. -ele disse, firme, olhando para a pessoa, que estava de cabeça baixa.
-Desculpe... Eu só queria... Deixa pra lá... -ele disse, levantando-se ainda sem olhar para Afrodite, que estava estarrecido diante daquela reação.
-Carlo... -ele chamou, fraco. Detestava parecer dominado naquele momento, mas era exatamente assim que se sentia. O outro virou-se rapidamente.
-...
-O que você queria?
-Nada demais...
-Então vai pra sua casa, Carlo. Está chovendo demais... -Afrodite falou, subitamente preocupado.
-É, talvez amanhã...
-Como assim?
-O carro quebrou. Mas não se preocupe. Eu durmo lá dentro... -ele disse, virando-se novamente.
Imagens da enorme e quente cama de Carlo vieram à cabeça de Afrodite. Os lençóis de linho puro, agradáveis de se tocar. Imaginou também o outro, dentro de um carro desconfortável, molhado, poderia ficar doente. "Argh, droga...por que eu me importo?", ele pensou. No segundo seguinte, segurava o braço de Carlo.
-Vem comigo. Pode dormir no sof�, eu te arranjo umas roupas secas.
Carlo sorriu fracamente. Não havia pretendido nada daquilo e prometeu discutir com Afrodite caso ele ousasse tocar naquele assunto. Havia aparecido lá para dizer que mesmo que eles nunca mais tivessem nada, que aquilo não o prejudicaria no bar, que ele poderia ficar tranqüilo. Mas aquela chuva torrencial começara a cair, o carro enguiçou e ele não sabia mais o que fazer.
-Mesmo-ele parecia um menino que havia ganho um presente inesperado. Seus olhos brilhavam, mesmo que ele não quisesse demonstrar.
-Dorme no sofá. -Afrodite parecia impassível e por um momento Carlo achou que ele estava convivendo muito com Kamus, tamanha frieza.
Entraram no prédio, subindo os poucos lances de escada rapidamente. Afrodite abriu a porta, indicando que Carlo deveria entrar primeiro. Ele o fez, tirando o paletó preto e olhando para os lados, procurou um lugar onde coloc�-lo.
-Por que está fazendo isso-Carlo perguntou, quando Afrodite voltou da área de serviço com uma cesta de vime, para que Carlo jogasse as roupas molhadas ali.
-Não queria ser o culpado caso você morresse dentro do carro. -ele disse, sem esboçar muita emoção.
-Claro... -Carlo disse, sentando-se no chão.
Afrodite sentiu-se culpado, mas não demonstrou. Caminhou até o quarto de Milo, onde procurou por roupas limpas e toalhas. Levou tudo para o banheiro e voltou para a sala, onde Carlo estava na mesma posição.
-Tem roupas e uma toalha no banheiro. -ele disse, antes de voltar pelo mesmo corredor, entrando em seu quarto.
Foi somente quando, de dentro do quarto, ouviu a porta do banheiro ser trancada, que Afrodite permitiu-se respirar profundamente. Jogou-se na cama, os olhos cheios de lágrimas. Era uma tortura convidar Carlo para passar a noite ali, mas ele sentia-se por demais culpado em deixar o outro dormir no carro.
"Bom, eu tenho que ser forte. Tranco a porta e estarei salvo...ele não vai ousar fazer nenhuma besteira...", ele pensou, enquanto tirava as roupas molhadas e colocava um roupão. "Mas não custa nada fazer um chocolate quente enquanto isso...".
Correu para o outro banheiro, de dentro do seu quarto, tomando um banho rápido. Decidiu lavar os cabelos pela manhã, seria melhor. Suspirou, escovando-os enquanto colocava o roupão novamente. Deu uma olhadinha no espelho e balançou a cabeça.
-Força. Você consegue. - Saiu.
E desceu, indo em direção à cozinha.
No banheiro, Carlo deixava a água quente escorrer pelas costas, tentando não pensar que estava sozinho em casa... Com ele. Bateu a cabeça na parede para tentar se livrar dos pensamentos que lhe ocorreram, mas isso não os fez passar. Apenas lhe fez ter um princípio de dor de cabeça bem forte.
-Merda. - Grunhiu, aborrecido, saindo do box. Começou a se secar rápido, sem notar que o estava fazendo porque tinha pressa em ficar perto de Afrodite.
Saiu do banheiro, já devidamente vestido com as roupas de Milo, que ficaram um pouquinho justas, mas muito confortáveis. No mesmo momento, sentiu um delicioso cheiro, que o incitava à segui-lo. Na ponta dos pés, confiou em seu olfato.
Quando já estava perto da cozinha, ouviu a voz de Afrodite à entoar uma música conhecida, enquanto terminava de arrumar um pratinho com alguma coisa gostosa.
Parou na porta, hipnotizado pela visão. Aquele roupão era uma provocação dele, só podia ser. Porém, ao not�-lo tão compenetrado, tirou logo essa idéia da cabeça.
-Do you really want to hurt me, do you really want to make me cry... - Cantarolou Afrodite, antes de se virar e dar um pequeno gritinho ao ver Carlo.
-Oi. - Falou, com um sorriso.
-Não me assusta- Falou, aborrecido, virando-se novamente para o fogão.
-Ah, desculpa, eu não queria...
-T�, que seja. - Falou, pegando o bule com a bebida e o pratinho. - Faz um favor pra mim- Perguntou, sem olh�-lo, fingindo estar preocupado com qualquer coisa banal.
-Claro. Que quer que eu faça- Perguntou, prestativo.
-Pega duas canecas ali pra mim, e me segue, okay- Falou, mais suave. Carlo o fez imediatamente e foi atrás do rapaz. Quase caiu algumas vezes, preocupado com o balanço suave dos quadris do outro. O roupão estava muitíssimo bem preso, e ia até o joelho, para a decepção de Carlo.
Chegaram a sala, e Afrodite sentou-se no tapete, sem notar que o roupão subiu até a metade da coxa. Carlo, hipnotizado, ajoelhou-se na frente dele.
-Chega mais perto. - Falou Afrodite, sem graça, e Carlo não pôde evitar um sorriso. Aproximou-se na hora. Imediatamente, Afrodite jogou um cobertor (que estava em cima do sofá) em cima das pernas de ambos. - É melhor ficarmos aquecidos por um tempo. A chuva pode ter feito a gente pegar um resfriado. - Falou, frio, servindo um pouco do chocolate fumegante para o moço ao seu lado.
-Obrigado. - Falou, Afrodite nada respondeu. Apenas ofereceu-lhe biscoitinhos, que o outro aceitou sem pestanejar.
-Quer ver TV ou ouvir música- Perguntou Afrodite, olhando para baixo, as mãos fixas na caneca. A cena era deveras sedutora... Carlo engoliu em seco, tentando controlar-se, algo que começava a ficar mais difícil.
-Nenhum dos dois. Gostaria de conversar.
E Afrodite olhou-o, seco.
-Sobre o que?
-Sobre... - E Carlo pareceu pensar. - Não sei, algo interessante.
-Por exemplo- Perguntou Dite, sorvendo um pouco do chocolate com delicadeza. Carlo contemplou-o passar de leve a língua nos lábios, para limpar deles os vestígios de chocolate. Parecendo acordar, suspirou.
-Ahn... Música- Arriscou, e Afrodite riu.
-Pode ser. - Falou depois, tentando não mostrar que fraquejara.
-Tem algum artista favorito- Perguntou Carlo, não deixando de imaginar a importância que aquela conversa NÃO tinha.
-Ah... Eu gosto de Culture Club... Information Society... Queen... - Falou, sem muito ânimo. - E música clássica... E você?
-Eu gosto de música eletrônica. - Falou, com um suspiro. - E coisas mais melódicas também...
-Legal. - Falou Dite, seco.
Mantiveram-se em silêncio por alguns segundos, até que Carlo suspirou alto.
-Não gosto disso.
-De que- Perguntou Afrodite, olhando-o.
-Desse clima pesado. Eu só quero conversar legal. Podemos?
E Afrodite emudeceu.
-ATCHIM- Julian espirrou. Kanon apenas suspirou.
-Pegou uma gripe. - Falou, virando os olhos. - Bem feito. É o castigo pra quem mente.
E Julian abaixou os olhos. Kanon sentiu um aperto no peito.
-E... - Antes que Kanon dissesse algo, ouviu um barulho alto. No instante seguinte, estava tudo escuro.
-O que foi isso- Perguntou Julian, e Kanon pôde ouvir um certo medo em sua voz.
-A luz acabou. - Grunhiu. - Já volto.
E, quase tropeçando em alguns móveis, foi em direção ao armário. Tateou a parte de dentro, encontrando as duas caixinhas que queria e suportes. Caminhou de volta à sala.
-Julian? Cadê você?
-Estou no mesmo lugar de antes. - Falou o rapaz, em tom divertido.
Kanon soltou outro grunhido, ajeitando os suportes sobre a mesinha. Com um pouco de dificuldade, riscou um fósforo e acendeu uma vela.
-Hum, clima romântico. - Disse Julian, tentando fazer uma piadinha. Kanon ruborizou, notando que realmente era verdade. Concentrou-se em acender as outras.
-Julian Solo-Kanon disse, o rosto sendo iluminado brevemente pela luz das velas.
-ATCHIM! ATCHIM! ATCHIM! Merda-Julian disse, caindo sentado no chão. Kanon tentou não fazê-lo, mas começou a rir, impiedosamente. -Isso, seu desgraçado, ri mesmo da tristeza alheia... Eu te odeio...
Kanon riu ainda mais, colocando um dos candelabros no chão, entre os dois. Afastou os cabelos de Julian e sorriu. Ele parecia um menino doentinho. Imediatamente repreendeu seus pensamentos, que insistiam em estar presentes nele... Como mais do que um amigo.
-Vamos pro quarto-Kanon perguntou, no instante seguinte sentindo-se um tolo por falar daquele jeito.
-Hein?
-Meu quarto tem banheira, Julian...vou esquentar água e você toma um banho. O que você estava pensando-ele disse, num tom muito mais gélido. Julian, que a princípio o olhava malicioso, apenas devolveu o olhar na mesma intensidade.
-Em nada... Nada mesmo... -ele disse, baixinho, seguindo o outro para o segundo andar...
-Acho melhor não, Carlo - Ele disse, frio, olhando pra frente.
-Não te entendo. Não entendo mesmo.
-Carlo, toda vez que a gente conversa ou tenta conversar, tem uma briga. Que droga...deixa tudo como está...
-Você se contenta com isso-Carlo perguntou, olhando para o lado, fixando-se em Afrodite, que ainda olhava pra frente.
-...
-Olhe pra mim, Afrodite. Eu mereço muito mais que isso.
Afrodite olhou-o, com raiva.
-Você acha que merece? Me poupe, Carlo...eu deveria ter te deixado lá naquela droga de chuva, isso sim! Você não merece nada de mim, a não ser o meu desprezo- Ele disse, levantando-se e caminhando para o quarto, furioso. Surpreendeu-se quando não ouviu Carlo falar nada.
Jogou-se na cama, as lágrimas caindo. Não queria brigar com Carlo, muito menos falar as coisas que falou, mas foi tudo muito rápido, as palavras saíam com tanta facilidade, com o simples e puro intuito de magoar, que ele não conseguia se controlar.
Ouviu um barulho de porta batendo. "Será que Milo brigou de novo com o Kamus?", ele pensou, levantando-se da cama e abrindo a porta. Caminhou pelo corredor, constatando o que sua mente custava a acreditar: uma pilha de roupas estava em cima do braço do sof�, as roupas de Milo, as mesmas que ele havia emprestado para Carlo.
-Eu não presto... -ele disse em voz alta, pegando a camisa nas mãos e levando até o rosto. Já estavam com o cheiro característico e inebriante do italiano. Foi até a janela onde a chuva ainda caía. Fixou bem os olhos e viu o carro de Carlo, parado. Um vulto caminhava na direção do mesmo.
-Seu burro... -ele disse, novamente, dessa vez correndo para o quarto e trocando de roupa.
Continua...
