Notas das Autoras:

Ju:

Salut, novamente.

Não tenho muito o que dizer, na verdade. o.O Acho que já disse tudo no outro capítulo.

Novamente, obrigada à todas, por tudo.

Uma boa leitura para vocês!

Celly:

Aproveitem o capítulo. Não nos matem. Domingo tem mais. De resto, eu tenho a ligeira impressão de que vocês vão gostar! Obrigada à beta Lili, por ter tido esse trabalhão em burlar as podridões do nosso querido e boa leitura!


Os dias passaram rápido, e quando Afrodite se deu conta, já estava andando de um lado para o outro com Carlo em seu encalço.

Sentado na frente de sua penteadeira, escovava os cabelos longos com uma calma singular, preocupado em deixá-los bonitos (mais ainda, se é que aquilo era possível) para que Carlo notasse e dissesse que estava lindo.

Tentou fingir que gostava do outro apenas como um amigo, tentou fingir que o considerava como considerava Milo, Kamus, Shaka ou Mu... Mas ele sabia que o que sentia pelo outro ia muito além dos limites da amizade.

– Até quando vai continuar fingindo, Dite? – Perguntou Milo, pegando a escova da mão dele e continuando a tarefa dele. Afrodite soltou um longo suspiro. – Até quando vai continuar com essa farsa?

– Até... até sempre, Milo. Até o dia em que eu morrer. – Falou, amargo.

– Por que, Dite? Por que não lhe diz que o ama? Por que precisa fingir sobre algo tão bonito? – Perguntou o rapaz, olhando para ele pelo espelho, vendo a expressão dele ficar chateada.

– Por que eu prefiro ser apenas um amigo... A ser apenas um dos que freqüentaram a cama dele.

– ...Dite...

E ouviram uma buzina.

– Com licença, Milo... Meu AMIGO está me esperando... – Falou, se levantando e indo em direção à porta. – A propósito...

– Sim? – Esperou que o rapaz lhe dissesse que iria fazer o que ele sugeria, mas se decepcionou depois.

– Obrigado por me ajudar com a juba aqui. – Falou, numa tentativa fraca de humor, antes de bater a porta. Milo suspirou, caindo sentado na cadeirinha de madeira.

Seus olhos estavam cheios d'água, mas ele não poderia aparecer daquele jeito na frente de –Carlo. O outro iria perguntar-lhe o que havia acontecido durante toda a noite, e provavelmente conseguiria extrair o que queria.

O tempo que passara com ele o fez perceber que Carlo era igualzinho ao Milo quando se tratava de teimosia ou persistência.

Antes de abrir a porta da sala, suspirou, balançando a cabeleira com força. Limpou os olhos com sutileza, com medo de borrar o delineador preto colocado neles.

– Antes amigo do que inimigo. – Murmurou, antes de improvisar um grande sorriso e ir correndo até o carro de Carlo.

Dentro do carro, Carlo sorria.

Ser amigo daquele rapaz era simplesmente maravilhoso. Não era o bastante, claro. Não negava que adoraria ter muito mais do que a amizade dele, mas estava dando um tempo para que tudo se ajeitasse.

Se ele quisesse, estaria à sua disposição... Para sempre.

Quando Afrodite abriu a porta e se sentou no banco do carona, ele pôde notar algo diferente nele, apesar do grande sorriso branco que ele ostentava.

– Dite...?

– Sim? – Atendeu prontamente.

– Aconteceu alguma coisa?

E Afrodite se perguntou se estava tão na cara assim. Será que nunca iria conseguir esconder o que sentia daquele homem? Como ele tinha a capacidade de ver tristeza nele?

Soltou um longo suspiro.

– Sim. – Falou, olhando para baixo. Carlo olhou-o, preocupado.

– Quer falar sobre?

E Afrodite ergueu os olhos, para encarar Carlo com uma expressão suave. Sorriu-lhe.

– É muito gentil da sua parte... – Falou, aconchegando-se no banco. – Eu e o Milo brigamos...

– Posso perguntar o por quê da briga?

– Sim... – E respirou fundo. – Ele simplesmente não muda. – Mentiu.

Não muda o que?

– Ele acha que pode controlar o que eu faço. Isso me desagrada, sabe? Acho que minha vida só pertence a mim...

– Eu concordo. Mas não se preocupe, ele é assim mesmo. – Anotou mentalmente que deveria pedir para o rapaz parar de fazer aquilo, já que isso incomodava Afrodite.

– É, eu sei... – Suspirou.

– Bom, qual é o roteiro de hoje? – Perguntou, com as mãos no volante.

– Vamos ao cinema?

E foram. Carlo levou Afrodite para um cinema no estacionamento, ao ar livre. Afrodite relaxou no banco, olhando para a tela.

– Qual é o filme? – Perguntou.

Carlo puxou a programação e consultou-a.

– É um filme de terror. – Falou, erguendo a sobrancelha. – Acho melhor irmos...

– Ahhh, por que? Carlinho está com medinho? – Debochou, fazendo Carlo dar um risinho.

– Não, Carlinho tem medinho de que Afroditizinho tenha um ataquezinho do coração.

– Grunf... Só por isso, eu vou assistir. – E cruzou os braços, fazendo bico. Carlo achou-o tremendamente adorável daquela maneira. – E qual é o nome?

– O Exorcista...

– Eu não sou medroso! E nem parece ser tão ruim assim...

Bateram de leve no vidro de Afrodite, fazendo-o dar um berro e pular para o lado. A garçonete olhou-o com as sobrancelhas erguidas. Ele colocou a mão no peito e abriu-o.

– Sim?

– Vão querer alguma coisa?

– Ah, eu quero chocolate, pipoca e uma coca-cola gigante com gelo. E você, Carlo?

– O mesmo.

– Um instante, eu já volto. – E saiu. Afrodite virou-se para Carlo, que se segurava para não rir.

– Que foi? – Perguntou, aborrecido.

– Você não é medroso?

– Ahhh, cala a boca...


– Pois é, Kamus... – Suspirou, com a cabeça no colo do rapaz, que acariciava-lhe os cabelos. – Ele ainda quer viver uma mentira...

– Ele está confuso, Milo. – Falou, compreendendo o outro. – É perfeitamente normal...

– Nem tanto assim. Dite não gosta de mentiras.

– Isso não é uma mentira. Digamos que é apenas uma meia-verdade.

– Meia?

– É. Ele sempre quis ser amigo do Carlo. Não SÓ isso, mas uma parte disso. Então, podemos dizer que ele está no meio termo...

– Ah, Kamus... – Milo suspirou. – Você é tão... tão...

– Tão lindo? Tão convincente? – Riu.

– Isso também. Mas, quero dizer... Tão... Sei l�, você sempre me convence.

– Alguém precisa pôr juízo nessa cabeça oca. – E, rindo, beijou-o.


– Mas como eu ia dizendo...estamos ensaiando um pas...

– Dite, o filme... – Carlo disse, sorridente, sem tirar os olhos da tela, percebendo que o rapaz ao seu lado tocava em vários assuntos diferentes para não ter que olhar a tela de projeção.

Afrodite desviou os olhos por um momento, no exato instante em que a garota possuída virava a cabeça, num 360 graus bizarro. Deu um gritinho e encolheu-se num canto. Carlo sorriu, puxando o amigo para perto de si, abraçando-o.

– Não precisa ficar com pena de mim... – Afrodite falou, soltando-se do abraço dele. Na verdade, depois do que Milo falara no apartamento, estava se sentindo um pouco sensível, os sentimentos à flor da pele.

– Pára de ser bobo... é normal não gostar desse tipo de filme... pelo menos eu te protejo... prometo não rodar a cabeça... – Carlo fez piada, e Afrodite enfim sorriu. Aceitou, mesmo a contragosto, o abraço.

Para Carlo também era difícil, estar tão perto do outro, abraçá-lo e não poder ficar com ele. Mas já havia tomado uma decisão e seguiria até o fim. E tudo caminhava perfeitamente, todos no bar pararam de tratá-lo como uma ameaça e já eram seus amigos e Afrodite... bom, Afrodite sempre foi um caso a parte, aceitando-o com algumas restrições, mas ainda aceitando-o. E aquilo era uma coisa que ele não perderia, prometeu a si mesmo.

– Odeio esses filmes... – ele resmungou num momento de descontração.

– Tá com medinho, Carlinho? – Afrodite perguntou, levantando a cabeça do peito do outro e olhando-o, admirado, já sorrindo.

– Não...só não gosto. Tenho esse direito...

– Sei. Esses filmes só são bons para uma coisa, aproveitar o momento de susto pra atacar a companhia do lado...sempre fazia isso... – Afrodite disse, logo se arrependendo ao ver o olhar de Carlo sobre si.

– Ah é...espertinho...

– Não, Carlo...não é bem isso... – ele tentou consertar. Achou que havia invadido um dos limites invisíveis que eles tinham. Nunca falavam sobre possíveis relacionamentos e conquistas, assuntos do coração era um tópico quase que sagrado entre eles.

– Hum hum... – Carlo estava se divertindo com aquilo. Queria ver como Afrodite iria se safar daquela. Aliás, uma das coisas que mais gostava no outro era exatamente aquilo. Como ele às vezes se entregava, falava coisas que não deveria, quando ninguém mais esperava.

– Sério, Carlo... eu nunca faria isso com você. – Afrodite disse, soltando-se do abraço, o filme ignorado por alguns instantes.

– Dite, eu... – Carlo ia dizer que estava brincando, mas o toque de Afrodite em sua mão calou-lhe por um momento.

– Você é meu amigo...eu fazia isso quando era um garotinho inconseqüente. Mas saiba que não aproveitaria dessa situação com você, que eu respeito tanto.

– Dite, você é tão adorável... – Carlo disse, sorrindo. Queria tirar aquele súbito clima pesado que se instaurara ali. – Eu estava te provocando...eu sei que você não faria isso...

– Mas...

– Mas nada. Vamos continuar assistindo o filme... e eu até deixo você me agarrar... – ele continuava rindo e dessa vez Afrodite acompanhou.

– Convencido!


– Isso é certo mesmo?

– Infelizmente. Eu não queria te dar essa notícia, mas eu preciso ir embora...

– Por quanto tempo?

– Ainda não sei. Até resolver as coisas, você sabe que eu não posso deixar tudo nas mãos do pessoal da empresa. Prometi ao meu pai que cuidaria de tudo.

– Eu sei, Ju... mas é que...

– Não fale nada, por favor. Eu vou sentir tanta falta de você quanto o contrário. Vou pensar em você todos os dias. Não tem mesmo como você vir comigo?

– Não posso, Ju. Você também sabe que eu prometi ao Saga a ajudar o Carlo e ainda tem os escritórios. É praticamente impossível...

– Eu te entendo. A vida é uma droga às vezes, sabia? – Julian constatou, saindo de perto da janela do quarto de Kanon e indo para a cama, onde o namorado estava deitado. Haviam discutido o dia inteiro sobre o que fariam agora que precisavam ficar separados por tempo indeterminado.

– Não diga isso...a vida é ótima...se ela não existisse, nós nem estaríamos juntos. Portanto não diga isso. – Kanon falou, puxando Julian para perto de si.

– Mas é tão injusto... por que agora? Por que agora que eu finalmente estou com você eu tenho que ir?

– Shhh...vem cá... – Kanon disse, deitando-se sobre o outro. Sabia que a qualquer momento Julian desabaria. Já havia presenciado aquilo inúmeras vezes, mas não esperava que um dia aquilo pudesse acontecer com ele sendo o motivo.

– Quero ficar assim pra sempre, K... – Julian murmurou, beijando o outro delicadamente no rosto. Kanon ficou apenas observando-o atentamente. Em menos de dez minutos o outro dormiu, exausto de tanta preocupação. Quando percebeu o ocorrido, Kanon apagou as luzes do quarto, deitando-se novamente ao lado dele.

– Eu também, Ju... eu também...


– Ai, eu tô passando mal...

– É, você tá meio verde mesmo...

– Sério? Ai meu pai! – Afrodite disse mais alto, olhando-se no retrovisor.

– Tô brincando! – Carlo disse, jogando o casaco em cima do amigo, que apenas deu-lhe um tapa, o que provocou risos dele.

– Babaca. É sério...esse filme é...eca!

– Ai que fome...vamos jantar?

– Como pode falar em comida depois desse filme nojento?

– Não tô falando de comida comum...estou falando de pizza...

– Comida comum. -Afrodite disse, sem demonstrar muito entusiasmo.

Carlo apenas sorriu, ligando o carro e saindo do cinema. Pegaram uma estrada conhecida e Afrodite logo se arrepiou. Conhecia MUITO bem aonde aquele caminho levaria.

– Carlo...nós estamos...

– Sim. Vamos pra minha casa. Já está na hora de você provar a minha famosa pizza...

Afrodite ficou mudo, então. Durante todo o trajeto, Carlo falava com ele animado, mas ele só respondia monossílabos.

Chegaram. Carlo desligou o carro, colocando a chave no bolso com rapidez. Correu para o outro lado, abrindo a porta para um constrangido Afrodite, que apenas lhe sorriu.

– Acalme-se, eu prometo que não vou te atacar muito. – Disse o outro, brincalhão, escondendo as verdades de sua frase. Afrodite corou, mas retribuiu, afiado.

– Já eu não prometo nada.

E riram, um rezando para que o outro estivesse dizendo a verdade.

– Bom, vamos? – E Carlo puxou Afrodite pela mão. O rapaz não relutou, apenas caminhou olhando para o chão.

Só se deu conta que estava dentro da casa porque ouviu a porta ser fechada. Suspirou. Aquele lugar lhe trazia ótimas e péssimas recordações. Lembrava-se de como foram maravilhosos os beijos que trocaram, as carícias ousadas que compartilharam, da doce entrega de ambos. E lembrava-se, também da jovem devassa agarrando-se com Carlo no sof�, bem diante de seus olhos aflitos.

– Sente-se, vou preparar a pizza. – Falou Carlo, acordando-o de seus devaneios. Ele balançou a cabeça, concordando. Foi sentar-se no sof�, um pouco desconfortável. – A propósito, caso você queira saber, esse sofá é novo.

E saiu.

"Meu Deus, como ele descobriu?" – Perguntou-se Afrodite, preocupado. Será que seus sentimentos estavam tão na cara assim?

Decidiu que deveria tirar aquilo da cabeça. Lançou fora os sapatos e as meias finas, erguendo-se do sofá com preguiça. Caminhou até o armário, onde muitas fotos e livros reluziam.

Sem notar, abriu a porta e tocou na foto mais bonita dali. Era ele, sorridente, fazendo um gesto engraçado, com Diana ao seu lado. Se perguntou se aquela era a época em que foram noivos.

– Eram realmente um casal lindo... – Murmurou baixo, garantindo que Carlo não iria ouvi-lo.

E Carlo realmente não ouviu. Estava ocupado demais com os ingredientes de sua pizza para notar que, no cômodo ao lado, um Afrodite perdia-se em lembranças, anseios e surpresas.

"Dio, como ele estava lindo hoje..." – Pensou, começando a arrumar os complementos. Tomate, queijo, palmito e algumas coisinhas gordurosas deliciosas.

Então, um pensamento malicioso surgiu em sua mente.

"Sozinhos em casa... Comendo uma pizza... Isso dá margem para um joguinho bem interessante..." – Pensou, abrindo um sorriso maldoso.

Terminou de arrumar a pizza com rapidez, levando-a ao forno em tempo recorde. Limpou as mãos e foi até a geladeira.

– REFRIGERANTE OU CERVEJA? – Perguntou para Afrodite que, com o susto, quase deixou um porta retrato de vidro cair. Com a mão no peito, sentindo o coração disparado, arranjou forças para gritar.

– CERVEJA! - Colocou o porta retrato de volta no lugar e saiu correndo para se sentar novamente no sofá.

Carlo aproximou-se, milésimos depois, trazendo duas garrafas de cerveja. Sorriu, sentando-se ao lado dele. Entregou-lhe uma delas, ouvindo um agradecimento do outro.

– Bom... – Afrodite começou, mas não soube o que dizer depois.

– Dite, posso fazer uma pergunta? – Tinha muitas idéias, mas iria devagar. Não queria que o outro pensasse que estava tentando forçá-lo.

– Claro. – Falou, abrindo a garrafa e levando-a aos lábios cor-de-rosa.

– Você está gostando de alguém atualmente?

E Afrodite engasgou imediatamente, quase deixando a garrafinha cair de sua mão. Carlo arrependeu-se na hora, batendo de leve a mão nas costas do rapaz, enquanto o olhava, preocupado.

– Cof, cof... Por que quer... cof, cof... saber?

– Por nada, não, esquece.

Então, se recuperando, Afrodite respirou fundo, o rosto ligeiramente avermelhado. Carlo não soube dizer se o outro estava daquela cor de vergonha, ou se fora por culpa do engasgo.

– Diga. - Ordenou.

– Ora, somos amigos... Amigos falam para amigos as verdades, certo?

E Afrodite murchou. Então, o outro realmente perguntara por perguntar... Nesse caso, não havia problema em uma resposta.

– Eu estou, Carlo. – Falou.

Carlo então suou frio.

– Posso saber quem é? - Perguntou, sutil.

– Acho melhor não. – Falou Afrodite, olhando para baixo.

Achando que o clima começava a pesar, Carlo decidiu que não deveria pressioná-lo. A cabeça dele deveria estar dando voltas, e, por mais que quisesse saber quem era o desgraçado, tentaria não parecer desesperado.

– Tudo bem. – Falou, compreensivo. Porém, Afrodite não olhou para ele de novo. Preocupado com o bem estar do rapaz, ergueu o rosto lindo pelo queixo, admirando-o. – Dite, olha pra mim...

– Carlo... - Murmurou, perdido naqueles olhos amigáveis. Amigos... Só amigos. Até quando agüentaria aquilo? – Eu... Eu...

– Você o que? – Perguntou o outro, curioso.

No instante seguinte, caiu para trás com o peso do corpo de Afrodite, que colou sua boca na do outro, de olhos arregalados. Tentou afastar de leve o rapaz de cabelos longos, mas desistiu ao senti-lo pressionar o corpo contra o dele, tentando convencê-lo a não interromper o beijo.

Decidido, envolveu-o pela cintura, sentindo o outro passar os braços em volta de seu pescoço. Ajeitou-se no sof�, enquanto Afrodite ajeitava-se sobre ele.

"Por Deus, o que estou fazendo?" – Nem Afrodite entendera o porquê de sua atitude. Apenas quisera beijá-lo. E, quando deu por si, já estava em cima dele, obrigando-o a corresponde-lo.

Carlo, um pouco apreensivo, forçou de leve a língua contra os lábios de Afrodite. Surpreendeu-se quando ele entreabriu a boca com rapidez e tragou-o, enroscando ambas as línguas em carícias quentes. Segurou-se para não suspirar quando Afrodite mordiscou de leve o músculo rosado, tudo com uma dose extra de sensualidade. Suas mãos viajaram para as costas de Afrodite, e, no instante seguinte, ele se viu colocando-as embaixo da blusa do mesmo, acariciando-o por baixo dela. Afrodite suspirou dentro de sua boca, estimulando-o ainda mais. Puxando-o ainda mais para perto, intensificou as carícias com a língua, forçando-a contra a de Afrodite, surpreso com a investida do outro.

Então, parecendo realmente notar que aquilo era loucura, o sueco apartou o beijo, ofegante. Se olharam por incontáveis minutos, um mais constrangido do que o outro, sem saberem o que dizer. Afrodite recuou um pouco e se sentou sobre os joelhos, tirando algumas mechas da frente de seu rosto.

– ...Hum... Carlo...

– Sim? – Perguntou o outro, sentindo o ar faltar aos pulmões.

– Somos amigos, certo?

Sem entender a finalidade daquela pergunta óbvia, Carlo afirmou com a cabeça, notando que Afrodite parecia procurar as palavras.

– Amigos falam sobre coisas MUITO íntimas, certo?

– Certo... – Concordou Carlo, já começando a imaginar o que ele quisera dizer com 'íntimas'. Segurou um risinho quando imaginou uma situação bem íntima entre eles... E deu um tapa na testa.

Afrodite levantou-se do sof�, caminhando lentamente até uma das cadeiras que completavam a decoração da sala de Carlo. Precisava reunir forças para falar aquilo, já estava indo longe demais. Sentou-se, só então olhando para o outro, que ainda parecia atônito com o que havia acontecido há poucos segundos.

– Sabe...bem...eu tenho esse meu amigo...e eu me sinto atraído por ele, não tem como ninguém não se sentir. – Carlo sorriu timidamente ao ouvir aquilo. – Mas...mas eu quero que ele seja meu amigo, somente meu amigo. Será que ele entenderia?

Carlo sentiu o sangue sumir de seu rosto, tudo parecia estar muito dormente. Não conseguia acreditar naquelas palavras. Atração, era isso o que o outro sentia. Agora ele entendia o que havia significado para Afrodite ouvir aquelas palavras de desejo proferidas por ele há meses atrás. O que diferenciava era que Afrodite não estava bêbado. Teve vontade de discutir com ele, fazê-lo ver que estava errado, que eles deveriam ficar juntos, mas concluiu que não era mais o mesmo. E sim, seria amigo de Afrodite, se assim ele o quisesse.

Forçando um sorriso, ele se ajeitou no sof�, coçando a cabeça ligeiramente. Afrodite suspirou, achando aquele gesto impressionantemente sedutor.

– Não, Dite. Eu acho que ele te entenderia perfeitamente. Amizade é muito mais importante do que uma simples atração, vai por mim, eu sei o que é isso.

Afrodite sorriu, aliviado. Por mais que quisesse estar com o outro, a amizade dele também havia se mostrado muito forte e necessária em sua vida. A dúvida era se teria seu sentimento correspondido e por isso mesmo ele apenas investiria na amizade deles.

– Essa pizza não fica pronta não? Agora eu tô com fome! – ele disse, sorrindo, sentando-se novamente ao lado de Carlo, que levantou-se imediatamente. Por um momento ele pensou ter visto um resquício de mágoa nos belos olhos azuis escuros do amigo, mas achou que estava apenas vendo coisas.

Realmente a pizza de Carlo era divina e ele não se cansava de elogiar. Depois de alguns minutos estranhos entre eles, a conversa entre ambos ficou mais fácil, com o até então tópico relacionamentos amorosos, sendo discutido abertamente. Carlo respondeu às perguntas de Afrodite sobre suas namoradas, incluindo a experiência com a ex-noiva, histórias de Diana, todas as mulheres que procurava na rua, seu comprometimento com o fato de não ter nenhum relacionamento fixo, entre outras coisas. Afrodite, por sua vez, contou como foi sua primeira vez, que surpreendentemente havia sido com uma mulher, sobre as experiências com os homens que tivera, quem ele gostaria de levar pra cama. Aliás, esse último tópico rendera belas risadas dos dois.

Carlo deixou Afrodite na frente do prédio, mas recusou o convite do outro para tomar um café. Combinaram de chegarem mais cedo no Inferno, Carlo queria mostrar à Afrodite fotos antigas que ele sabia que Diana tinha guardadas no bar. Quando o outro ia saindo, ele debruçou-se sobre o banco do carona, segurando Afrodite pelo braço, sutilmente.

– Sim?

– Quero que você saiba uma coisa...aliás, duas coisas...

– ...

– A primeira é que o cara que você tá gostando tem muita sorte... – ao ouvir aquelas palavras, Afrodite baixou a cabeça, não queria pensar naquilo de novo.

– E a segunda? – ele ficou com medo de perguntar, mas sua curiosidade era maior.

– Eu também tenho um amigo...e ele também me atrai. Mas eu vou fazer os diabos pra que ele seja só meu amigo... – Carlo disse com um sorriso, soltando o braço de Afrodite logo em seguida. Não esperou pela resposta dele, apenas saiu com o carro, deixando um Afrodite sem reação parado na calçada.

Ele caminhou lentamente até o apartamento, abrindo cuidadosamente a porta, com medo de assustar Milo. Ele sabia que o amigo iria sair com o Kamus, mas voltaria para o apartamento naquela noite. Surpreendeu-se quando a luzinha do abajur acendeu e Milo, de pijama, estava sentado na poltrona do lado.

– Pelo amor de Deus...quer me matar do coração?

– Como foi o encontro?

– Deus, não foi um encontro, Milo... dois amigos indo ao cinema não é um encontro.

Você está diferente, aconteceu alguma coisa?

Afrodite odiava-se às vezes. Por que tinha de ser tão transparente? Primeiro Carlo e agora Milo, ele às vezes acreditava não conseguir enganar ninguém com suas frases frias e expressões desafiadoras.

– Eu o beijei.

O rosto de Milo irradiou tanta luz que Afrodite achou que ficaria cego. Foi abraçado fortemente pelo amigo, que estava sorrindo.

– Que ótimo! Finalmente! E aí? O que você está fazendo aqui?

– Eu disse que tínhamos que ser apenas amigos.

– Hein?

– Ouviu bem...

– Dite... – Milo parecia cansado diante daquilo. – Será que você não vê que só está piorando a situação?

– Milo, eu já disse...eu não vou estragar a nossa amizade por culpa da minha atração...

– Bom, você é quem sabe...não vou falar mais nada. Você age desse jeito porque sabe que ele não tem ninguém, então ele está sempre l�, à sua disposição. Mas você acha que vai ser sempre assim? Dite, abre os olhos, Carlo é um homem que atrai as pessoas, ele vai, mais cedo, mais tarde arrumar alguém, por mais que goste de você. E aí, como vocês ficam?

Milo também não esperou pela resposta de Afrodite. Foi para seu quarto e bateu a porta. Afrodite sentou-se no chão, pensando naquelas palavras e em como seria difícil ver Carlo com outra pessoa. Suspirou, lembrando que o outro havia dito que ninguém mais o atraía tanto quanto ele. Aquilo o confortou. Por alguns minutos pelo menos.

Continua...

No próximo domingo...

Esquentava a água na chaleira, morrendo de sono. Mas sabia que não iria conseguir dormir, nem se tentasse. O que Milo havia lhe dito continuava rodando sua cabeça. Seria mesmo? Teria Carlo a coragem de arranjar outra pessoa?

"Por que não? Você o rejeitou, Afrodite..."