Notas das autoras:
Ju:
Salut, pessoas.
Antes de tudo, quero muito agradecer aos comentários. Eu fiquei feliz pacas
quando notei que vocês não esqueceram do esquema das 50 reviews.
heuheuehuehuuhe XP
Muito obrigada pelo apoio, gente. Vocês não imaginam o quanto isso é gratificante.
Esse capítulo é um doce. Ou quase isso. Afe, lá vou eu de novo...
Só pra adiantar: Dite é o melhor. P
Okay, é só.
Boa leitura.
Celly:
Mil perdões pela demora na atualização, espero que vocês não se aborreçam muito. Dois capítulos, mantendo o esquema de sempre, das 50 reviews. Estamos na reta final e tudo ainda parece se complicar ainda mais.
Um beijo mais que especial à beta mais maravilhosa que eu poderia ter, que nesse fim de semana e ao longo do início dessa semana teve um papel mais que especial nesses capítulos. Lili, nem posso dizer o quanto Inferno pertence à você, não é mesmo? E claro, agradecimentos rápidos, bem chatos, já que o site tá meio que de "guerra fria" com quem comenta os comentários, às pessoas que lêem e não revisam, e claro, a quem lê e arranja um tempinho pra revisar: Caliope, Dark Wolf03, Cardosinha, Litha-chan, Sinistra Negra, Anna Malfoy, Ada, Carola Weasley, Ilia-chan, Nah, Faye, Shinomu e Kistune Lina.
Gostaria realmente de responder a cada uma de vocês, como sempre faço, mas infelizmente, o site tá no esquema que eu falei. Mas sintam-se beijadas e abraçadas com carinho. Qualquer comentário, por favor, podem mandar email me procurar no MSN.
Beijinhos, até domingo e boa leitura!
34.
Afrodite entrou no hospital correndo, afobado, nem ao menos trocou de roupa ou ligou para Milo avisando do ocorrido. Só em ouvir aquelas palavras de Diana, algo dentro dele simplesmente tornou-se mecânico demais para fazer qualquer outra coisa que não fosse ir até o hospital. Precisava daquilo, precisava dele, mais do que qualquer coisa.
Secando algumas lágrimas involuntárias – que caíam toda hora que sua mente achava alguma brecha de sanidade, e pensava em algo mais terrível que um simples mal entendido –, Afrodite avistou Diana sentada em uma das cadeiras no corredor principal, ao lado de Saga, que estava de pé.
– Di... – Ele disse, rouco, sentindo a voz falhar.
– Ai, Dite! – Ela respondeu de sopetão, levantando-se e abraçando o rapaz, chorando logo em seguida.
Afrodite sentiu o chão escapar embaixo de seus pés. Olhou para Saga, como se buscasse alguma informação, mas ele não disse nada, apenas abaixou a cabeça, não querendo encará-lo. Afrodite suavemente separou-se de Diana, olhando-a nos olhos. O que viu o assustou terrivelmente: lá estava uma mulher frágil, tão diferente daquela decidida que ele conhecia. Alguma coisa estava errada, muito errada.
– Di, pelo amor de Deus, o que aconteceu?
Diana foi impedida de responder porque, nesse momento, Aldebaran, Shina, Shura, Marin, Aioria, Shun, Hyoga, June e Ikki entraram no hospital, todos tão nervosos quanto os presentes. Começaram a fazer perguntas ao mesmo tempo, aumentando a tensão de Diana e Afrodite. O rapaz acabou dando um grito, assustando a todos.
– Calem a boca, pelo amor de Deus! – Ele disse, deixando algumas lágrimas caírem.
Saga aproximou-se dele e segurou-o por um dos braços. Afrodite aceitou o apoio, olhando para Diana, como se pedisse para ela contar logo o que estava acontecendo. Ela entendeu a mensagem e voltou a sentar, olhando para todos com um certo receio.
– Gente, vou contar o que aconteceu...
– Ah, Dite... onde você está? – Kanon perguntou-se, tentando ligar para o celular de Afrodite pela quinta vez, recebendo novamente o sinal de ocupado.
Olhou para a tabela dos vôos, recebendo logo em seguida a informação de que o vôo para Madri ia sair em alguns minutos. Não conseguindo resposta, resolveu seguir com seus planos. Por mais que quisesse ajudar o amigo, não poderia negligenciar sua vida.
Enquanto Kamus preparava o café da manhã na cozinha, Milo caminhou até a secretária eletrônica, tomando a liberdade de ver os recados. Tinham cinco mensagens, e ele logo ficou curioso pra saber de quem eram. As três primeiras eram de Mu, com uma voz preocupada, dizendo que Afrodite o procurava. Os outros dois eram do próprio Dite, pedindo que entrasse em contato com ele o mais rápido o possível.
– Amor, aconteceu alguma coisa... Mensagens do Dite, ele está preocupado.
– Liga pra ele, Milo. Não demore. – Kamus disse, saindo da cozinha e caminhando até a sala.
Quando Milo pensou em pegar o telefone e discar para o celular de Afrodite, o mesmo tocou. Ele atendeu logo no primeiro toque.
– Mi... Milo...
– Dite, por favor, o que aconteceu? Você está chorando? – Milo levantou a voz em um tom, deixando Kamus ainda mais preocupado.
– E... ele...
– Deus, Dite! Fala comigo... se acalma. Respira primeiro. – Milo falou, ouvindo, do outro lado da linha, um Afrodite fungar incontrolavelmente, buscando ar.
– ...ele...
– Ele quem, Dite?
– O... Ca... Carlo...
Milo fechou os olhos, esperando pela bomba. Kamus alisou o braço dele, delicadamente, perguntando o que havia acontecido. Milo pegou um bloquinho e caneta que estavam ao lado do telefone e escreveu "Carlo". Kamus teve a mesma reação, fechando os olhos.
– O que tem ele, Dite? Fala pra mim.
– Ele... ele... acidente...
– Meu Deus do céu! – Milo escreveu acidente no bloquinho, deixando Kamus ainda mais preocupado.
– ...ele... a Di... a culpa é minha...
– Dite... A culpa não é sua! Mas como ele está?
– ... – Milo ouviu um choro baixinho do outro lado da linha.
– Dite... por favor...
– Ai, Milo... Milo... o Carlo... Meu Carlo... Ele está em coma...
E Milo ouviu um baque do outro lado da linha. O telefone ficou mudo. No hospital, Afrodite estava caído no chão do banheiro masculino, com o rosto nas mãos, chorando copiosamente.
Do lado de fora...
– Di, no seu estado, acho que não é bom fazer muito esforço, linda... E bebe isso logo! – Falou Saga, prestativo, junto com a esposa.
– No estado dela? Como assim? – Perguntou Shina.
– Ahn, depois nós falamos... – Disse Diana, fazendo uma careta, engolindo um copo todo de água com açúcar.
– ...Com licença?
Olharam para o doutor, que entrara na sala de espera daquele andar do hospital.
– Fala! – Berraram juntos, fazendo o médico sorrir.
– Vejo que ele é bem querido. Isso é ótimo. – Falou, numa lentidão torturante, num tom absolutamente tranqüilo.
– Fala logo, pelo amor de Deus! – Disse Marin, com as mãos nas têmporas.
– O estado de saúde do senhor... – Consultou a prancheta. – Carlo Di Angelis é bem delicado, mas ele não corre risco de morte. Está em coma, como já havia lhes dito. Estamos realizando ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas para termos a exata noção das lesões dele.
– E isso vai demorar muito? – June perguntou.
– Não podemos afirmar precisamente. Mas os manteremos informados.
– Aonde está o Dite, gente? Ele deveria estar aqui ouvindo isso. – Lembrou Diana, olhando de um lado para o outro.
– Ele foi lavar o rosto e se acalmar um pouco, tadinho... – Suspirou Shina.
– Mas já fazem uns vinte minutos e...
– Deba, você pode ir procurá-lo, por favor? – Pediu Diana, fragilizada.
O prestativo rapaz apenas concordou com a cabeça e foi em direção ao banheiro dos homens.
Afrodite estava encostado na parede, abraçando os joelhos, com a cabeça apoiada neles. As lágrimas escorriam sem parar, e os soluços eram incontroláveis. Carlo, em coma... provavelmente pensando que ele não sentia mais nada pelo italiano. Será que sobreviveria? Arrepiou-se, quando imaginou o pior.
– É minha culpa... É tudo culpa minha... – Ele murmurou.
– Dite?
Ergueu os olhos, encontrando com um Aldebaran preocupado, parado à alguns metros dele. Enxugou as lágrimas rapidamente, ninguém tinha a obrigação de vê-lo naquele estado.
– Oi, Deba... – Falou, soluçando. O brasileiro aproximou-se rapidamente, e Dite não pôde deixar de sorrir. Ele era uma das pessoas mais doces que já conhecia. Com aquele tamanho, quem imaginaria!
– Diana está te procurando, o médico apareceu pra nos contar do Carlo.
Afrodite olhou-o, nervoso para saber logo o que o outro tinha para lhe contar.
– Vamos lá pra fora, ela vai explicar direito.
– Deba, se você estiver me enganando...
– Não estou, tente manter a calma.
– Impossível. Estaria no mesmo estado que eu se isso acontecesse com alguém que você ama.
– Deixa de ser uma princesa e me acompanhe ou Diana vai nos matar.
Afrodite suspirou profundamente. Algo lhe dizia que não teria boas notícias.
– Tudo bem, você venceu. – Ele disse, resignado, saindo do banheiro.
– Como assim, o vôo só sai amanhã de manhã! E o avião que eu tinha pedido anteontem!
– Senhor Julian, a companhia lamenta muito e...
– Sim, eu entendo... Ah, droga, vou ter que adiar ainda mais... Ok, obrigado. – Ele disse, subitamente cansado.
– Sentimos muito pelo transtorno.
– Tudo bem, tudo bem... Eu ligo hoje à noite para saber sobre o avião de amanhã.
– Sim, senhor.
– Tenha um bom dia.
E desligou, sem sequer esperar a resposta. Suspirou, irado, soltando um coro de palavrões. Lançou-se no sofá, soltando a gravata preta. No mesmo instante, o telefone tocou. Revirou os olhos e atendeu-o.
– Alô. – Ele disse, visivelmente desanimado.
– Julian?
– Eu mesmo... O que é, Saori? – Falou, impaciente.
– Você vai para a Grécia, mesmo depois disso?
– Sim, Saori, eu vou. Isso é apenas um incidente, amanhã mesmo estarei indo pra lá.
– Julian, isso é uma prova de que você não tem que ir! Fica comigo, Ju... Vamos voltar aos velhos tempos e...
– Saori, você se faz de boba, sabia? Eu já te disse que gosto muito de você, sim, como uma amiga. APENAS uma amiga. Eu AMO o Kanon, quero viver COM ELE, ser amado POR ELE e ser APENAS DELE. Você consegue me entender?
– Você dormiu com ele!
– ...Acho realmente que isso não lhe diz respeito...
– Você nunca dormiu comigo!
– Bom dia, Saori.
Desligou, suspirando. No instante seguinte, o telefone tocou de novo. Irado, colocou-o no ouvido, mas controlou a voz.
– Alô. – Grunhiu.
– Ju?
– K... – A voz tornou-se outra, completamente derretida.
– Aqui estou eu... – Afrodite disse, cabisbaixo, seguido de perto por Aldebaran.
– Dite... Você já soube?
– Não. Alguém me fez o favor de não me contar. Fale logo, Di, por favor. – Praticamente implorou, olhando de soslaio para o brasileiro que sorriu fracamente.
– Ele está fazendo exames, Dite. Está mesmo em coma, como já havíamos dito. – Contou, escolhendo as palavras. Notou que o outro ficou ainda mais triste. – Mas ele é forte, vai sair dessa. O que ele precisa agora é do nosso carinho e apoio.
– Ele vai ter, Di. Meu apoio é incondicional. Não vou decepcionar ninguém...
– Ah, Dite... vem cá... – Chamou-o, abraçando-o logo em seguida.
O médico ia passando novamente pelo corredor quando teve a manga do jaleco puxada por Saga. Imediatamente ele parou, notando um novo rapaz que se juntara ao grupo.
– Doutor, será que podemos pelo menos vê-lo por alguns minutos? – Saga perguntou, olhando para o médico.
– Somente após os exames. Vou pedir alguém para avisa-los quando estes acabarem. Mas, ele está na UTI, e por isso as visitas realizam-se apenas duas vezes por dia, e durante 15 minutos cada; e somente duas pessoas podem entrar lá de cada vez. Peço que, se possível, evitem que muitos venham vê-lo, afinal, ainda não descartamos todas as possibilidades de diagnósticos. – Olhou o relógio em seu pulso. – Daqui cerca de meia hora eu libero a visitação, ok?. – Terminou a explicação, olhando-os com seriedade.
Ao grupo restou a espera, se tornando a cada minuto um pouco mais agonizante.
– Tudo bem com você?
– Depois de ficar esse tempo sem falar comigo é só isso que tem a perguntar? – Julian questionou-o, com a voz irritante de Saori ecoando em sua cabeça, fazendo com que ele descontasse naquele que não tinha nada a ver com aquilo.
Kanon, do outro lado da linha, levantou as sobrancelhas, não entendendo de onde estava vindo todo aquele mau humor do outro.
– Tá nervoso com alguma coisa?
– Me desculpa, amor... – Suspirou, se acalmando. – Me estressei com algumas coisas, que em nada têm a ver com você. Eu estou bem sim. E quanto a você? – Disse, percebendo a besteira que estava fazendo.
– Melhor agora, falando com meu homem de negócios...
Do outro lado da linha Julian deu um sorriso, a preocupação, o vôo perdido, a ligação de Saori ficando bem longe de seus pensamentos. Tudo o que importava era o homem que lhe falava besteiras tão lindas.
– Eu também. Estou sentindo tanto a sua falta, tudo aqui me lembra você... A cama é grande demais, o tempo passa devagar demais... O que será que está acontecendo comigo?
– Eu acho que você tá sofrendo de uma coisa que eu também estou. – Kanon disse, sorridente. Adorava a entrega de Julian, ele parecia um menino inocente às vezes, mal media as palavras e o efeito que elas poderiam causar em quem as ouvisse.
– Que seria...?
– Amor. Eu te amo, meu lindo...
– Eu também. Muito. Mal posso esperar para nos vermos de novo.
– Posso dizer o mesmo. Me conte coisas novas...
– Espera só um minutinho. – Julian disse, olhando para o celular que tocava insistentemente. Atendeu-o e despachou a pessoa que estava na linha em menos de dois minutos. – Desculpa, K, preciso desligar; reunião de emergência na empresa. Podemos nos falar mais tarde?
– Claro! Eu te ligo...
– Te amo.
– Te amo mais.
Desligaram. Kanon jogou o celular dentro da bolsa de viagem, sorrindo levemente. O 'mais tarde' deles prometia. E Julian nem imaginava como seria...
Já havia passado mais de meia hora desde que todos haviam ido embora. Afrodite insistira em ficar montando guarda até que Carlo acordasse, mesmo com todos lhe dizendo que não poderia vê-lo, que não havia previsão para que ele acordasse. Para ele isso não era algo a ser posto em discussão. Havia ficado muito tempo longe do italiano, para simplesmente abandona-lo daquele jeito.
E ainda tinha o sentimento de culpa, que o corroia a cada segundo que passava. Eram tantos 'se' em sua cabeça, que não percebeu quando o médico que havia lhes dado o parecer sobre Carlo estava falando com ele.
– Senhor Thorsson!
– Hein? Desculpe-me doutor. Estava distraído.
– O senhor resolveu ficar? Foi isso o que perguntei.
– Sim, quero esperar o Carlo ir para o quarto.
O médico olhou o rapaz penalizado. Aquela profissão era ingrata em determinadas horas, mas ele deveria manter-se firme.
– Senhor Thorsson...
Me chame de Afrodite. Falando desse jeito, parece que sou meu pai. – Disse, forçando um sorrisinho, que foi acompanhado pelo médico.
– Pois bem. Não posso lhe afirmar quando o senhor di Angelis vai sair da UTI. Os exames ainda não ficaram prontos e o protocolo nos obriga a deixa-lo em observação por 48hs. Seria melhor...
Afrodite interrompeu-o.
– Não importa. Mesmo que não possa vê-lo. Quero ficar aqui.
O médico assentiu.
– Já o viu pelo menos?
– Não... – Ele respondeu abaixando a cabeça. – Não tive coragem.
– Venha comigo. Não costumamos fazer esse tipo de coisa, mas no seu caso... Bem, venha comigo.
– Doutor, eu não sei...
– Rapaz, ele vai precisar de todo apoio necessário em uma hora dessas. Venha.
Andaram novamente até o final do corredor, onde a área da UTI ficava. O médico disse que ele poderia ficar por cinco minutos, por estarem violando protocolos do hospital. Apesar de Afrodite estar inseguro, o senhor praticamente o empurrou para dentro do quarto.
Encostado na porta, olhando para a cama, o sueco teve que praticamente obrigar-se a presenciar aquela cena, no mínimo incoerente com o outro homem no cômodo.
Carlo estava sereno, bem diferente do agitado e impetuoso homem que ele conhecia bem. Respirava lentamente, e o aparelho do marcador cardíaco fazia impiedosamente aquele barulho característico, mostrando-lhe que o italiano ainda estava vivo.
– Meu Deus... – Murmurou, aproximando-se devagar. Deslizou um dos dedos pelo rosto do outro, esperando alguma reação, qualquer que fosse. Para sua tristeza, isso não aconteceu. – Ah, Carlo... – Murmurou, acariciando as bochechas arroxeadas com carinho. – Perdoe-me, meu querido... Eu prometo que vai dar tudo certo...
– Afrodite, vamos. Amanhã poderá ficar mais tempo com ele. – O médico disse, entrando no quarto abruptamente.
Ao sueco restou suspirar profundamente, saindo do quarto, seguido pelo outro. Algo lhe dizia que ver Carlo naquele estado havia contribuído ainda mais para que seu sentimento de culpa aumentasse.
"Amanhã é um outro dia...", ele pensou, ouvindo a porta fechar atrás de si.
Enquanto isso em uma sala de reuniões em Madri...
– Acho que é a melhor coisa a se fazer. Nossos investimentos têm de ser bem mais planejados, e temos que investir menos capital. – Um dos sócios falou, timidamente.
– Acho que deveríamos investir MAIS. – Outro replicou, batendo com o punho na mesa.
– Não creio... E se não vingar? Poderíamos ir à falência! – O sócio homem falou, olhando para o homem sentado à cabeceira da mesa.
– Duvido muito. Temos dinheiro suficiente para dar, vender e emprestar.
– Não é verdade, senhor.
– É sim.
– E o senhor, Senhor Solo? O que o senhor acha? – Um acionista que estava em silêncio se pronunciou, percebendo que ali começava uma discussão.
Julian pareceu despertar quando seu nome foi pronunciado. Fitou vários pares de olhos, que o observavam, ansiosos por uma resposta.
– Ahn? Desculpem, prefiro não dar opinião... – Ele simplesmente murmurou, querendo livrar-se daquela reunião.
– O Senhor precisa! Faz parte do nosso novo projeto! Tem a ver com sua viagem, senhor Solo. Achamos que o senhor deveria...
– Perdoem-me, estou aéreo. – Suspirou. – Tive alguns problemas, entendem?
– Entendemos, sim, senhor. Mas o senhor não pode, com todo o respeito, desligar-se dessas coisas, já que elas são vitais.
– Vitais? Vitais para quê? Para o sucesso do bolso de vocês? – Disse, alterado.
– Senhor Solo...
– Podem parar! Não vou escutar lição de moral! – Indignou-se.
– Senhor Solo, apenas queremos que o senhor saiba mais sobre sua própria empresa... Seu pai ficaria...
– Não coloque meu pai na história, faça-me o favor. E eu já sei o suficiente sobre minha empresa, ok? Continuem com essa reunião, mas sem discussões. – Concluiu, encostando na cadeira novamente, deixando os pensamentos viajarem para lugares mais interessantes.
Como Kanon, por exemplo...
No final da tarde, no mesmo dia...
– Dite?
O rapaz abriu os olhos, surpreso. Seus quatro melhores amigos estavam ali, no corredor, apreensivos. Milo encabeçava o grupo, com um sorriso preocupado, porém disfarçado. Mu, Shaka e Kamus apenas acompanhavam o outro, trazendo em seus rostos o mesmo sentimento.
– Meninos... vocês por aqui. – Ele disse, parecendo surpreso. Pelo que sabia, Shaka e Mu deveriam estar trabalhando, e Milo e Kamus... bem... aqueles sempre arrumavam um pretexto para ficarem na cama. O francês sorriu, sentando-se ao lado do rapaz em um dos bancos desconfortáveis do corredor.
– Obrigado pelo 'meninos'... – Falou Shaka, com uma careta, tentando divertir o rapaz. – Achou que não viríamos?
– Não sei... – Disse, baixando a cabeça. – Pensei que...
– Pensou, morreu um burro. – Retrucou Milo, virando os olhos. – Você fala como se fôssemos todos bastardos desnaturados. Até parece que iríamos esquecer de você.
– Nossa... – Os olhos de um abalado Afrodite marejaram.
– NÃO! – Milo berrou, fazendo-o ficar espantado. – NÃO chora!
Afrodite então começou a rir. Milo puxou o amigo para um abraço apertado, querendo que dividir a dor que ele provavelmente sentia. Quando Afrodite suspirou profundamente, Milo soube que havia sido mesmo uma boa idéia deixar tudo para uma outra hora e aparecer ali.
– Mas rapazes, vocês não vão trabalhar hoje?
– Passamos no Inferno e só apareceremos mais tarde. Mu e Shaka ignoraram o trabalho. Você é sempre mais importante. – Kamus disse, percebendo que Afrodite corava.
– É isso mesmo. E a primeira coisa que vamos fazer é leva-lo para comer alguma coisa. –Mu completou, puxando o sueco pela mão.
Afrodite ficou parado no mesmo lugar, o braço estendido.
– Dite? – Shaka perguntou.
– Não vou deixar o Carlo, gente.
– Mas Dite...
– Milo, será que você não entende? Ele pode acordar, sabia?
– Sabemos sim. Mas você também tem que tomar banho, trocar de roupa, aposto que não fez isso. – O grego continuou tentando convencer o sueco.
– Não... – Afrodite negou, contido, baixando a cabeça. – Não me importa, não vou deixa-lo.
– Dite, pensa bem: Imagina o que o Carlo iria pensar se te visse aqui, nesse estado lastimável? Ele, no mínimo, te jogaria pra fora do quarto. – Mu completou, sabendo que uma das coisas que o sueco mais odiava era quando lhe depreciavam.
Parecia que a tática suicida do rapaz de cabelos lavanda havia funcionado. Um brilho sinistro passara rapidamente pelos olhos de Afrodite e ele deu um meio sorriso.
– Só se vocês prometerem não demorar.
– Tem a nossa palavra! – Kamus disse, animado.
Saíram os cinco do hospital, mas Afrodite prometeu-se mentalmente que aquela seria a última vez que sairia de perto do seu italiano.
As reuniões das empresas Solo, além de cansativas, eram repetitivas. Julian cansava-se facilmente, amaldiçoando o fato do pai não ter tido mais filhos, pois assim ele poderia gozar da liberdade e ficar livre das responsabilidades que ser um único herdeiro acarretava.
Viu seus planos irem por água abaixo naquele dia quando recebeu a notícia, ao final daquela reunião, que sua viagem para a Grécia teria de ser adiada por pelo menos dois dias. Alguns acionistas franceses, impossibilitados de comparecer àquela reunião importante, pediram a presença de seu presidente à capital da França para uma reunião de emergência. Sabendo que aquilo era vital para que seus planos futuros fossem concretizados, não lhe coube outra alternativa a não ser tomar um vôo para Paris naquele mesmo dia.
Já na bela capital da cultura mundial e instalado no Ritz, Julian discou o número conhecido. Judith atendeu prontamente, conhecendo a voz dele.
– Menino Ju!
– Tudo bem, Judith? Poderia falar com o K?
Um silêncio incômodo se instaurou e o rapaz ia perguntar se havia algo de errado acontecido, quando a senhora começou a falar novamente.
– O menino Kanon saiu. Ele não disse a que horas voltaria, ou se voltaria hoje.
– Judith, o que está acontecendo?
– Foi isso o que ele deixou escrito aqui, menino Julian. Não se preocupe, tudo vai dar ficar bem. Agora, se me dá licença, preciso desligar!
E o clique final foi ouvido, restando a Julian ficar curioso, furioso e perdido com tudo aquilo. Judith não era de dar respostas evasivas, nem Kanon de fazer aquilo com ele. A voz irritante de Saori soou em seus ouvidos novamente e ele precisou tapar o rosto com o travesseiro para não pensar muito naquilo tudo.
Resolveu encontrar-se logo com os tais franceses, voltar para Madri e arrumar sua vida. Aquela situação parecia estar fugindo do controle e ele não gostava daquilo.
A rotina de um hospital é sempre a pior de todas. Enfermeiros apressados, médicos apreensivos, pacientes machucados e familiares desesperados. Mas não era aquilo que tirava o sono de Afrodite. Era o cheiro, o ar. Apesar de o ambiente ser claríssimo e disfarçado o cheiro de éter com pulverizadores de ar, ainda havia aquela atmosfera escura, pesada. Tudo era motivo para que o alarmasse, como se a qualquer momento alguém pudesse aparecer para dar-lhe boas notícias.
Ou notícias ruins.
Era o segundo dia de internação de Carlo. Estava sentado na mesma cadeira do mesmo corredor do hospital. A notícia do acidente correra como rastro de pólvora, e nos horários de visita ele quase não conseguia ver o italiano. Os quinze minutos eram contestados por todos, especialmente por aqueles mais próximos. Ao sueco restava esperar pela madrugada e pela bondade de algumas enfermeiras, que sempre o deixavam olhar para o homem tranqüilo na cama por pelo menos alguns minutos sem interrupção.
Afrodite podia dizer que estava pela hora da morte, usando o trocadilho infame. Os cabelos estavam presos em um coque alto, escapando alguns fios, de brilho quase inexistente. As olheiras eram visíveis, assim como a dor nas costas, essa última só sentida por ele.
Havia acabado o horário escasso de visitas, e ele tentava concentrar-se no livro que Kamus havia lhe emprestado, quando o médico já familiar parou perto dele, com uma expressão enigmática.
– Afrodite?
– Doutor... – Ele disse, levantando-se da cadeira, o livro caindo no chão. – Aconteceu alguma coisa?
– Na verdade sim. Mas não precisa ficar alarmado. Tenho boas notícias. – O homem começou a dizer, notando a expressão derrotada do rapaz. – O seu amigo vai ser transferido para um quarto hoje mesmo.
– Ele acordou? – Afrodite gritou, um sorriso evidente nos lábios.
– Infelizmente não. Mas os resultados dos exames não mostraram nenhuma lesão no cérebro dele, apenas um inchaço, devido ao trauma da batida. Por isso o estado de coma. Ele pode, sim, acordar a qualquer hora, mas não está correndo risco de vida por conta de suas lesões.
– Mas quando ele vai acordar?
– Isso depende somente dele. Agora se me permite, vou comunicar à sua amiga Diana que ele vai ser transferido.
Afrodite sentou-se novamente na cadeira, sua eterna companheira. Carlo seria transferido, mas ainda estava em coma. Não conseguia estar totalmente seguro de tudo aquilo, mas prometeu-se tentar manter a calma e, acima de tudo, ficar ao lado do italiano.
Kanon não agüentava mais Madri. Não que a cidade não fosse agradável, mas o destino parecia simplesmente não colaborar com eles. Primeiro havia sido a tal viagem inesperada de Julian para a França. Depois, o telefonema de Judith, que disse-lhe que achava ter cometido um erro, durante a ligação que o namorado fizera para sua casa. E agora, não conseguia marcar uma reunião com o grego.
Recebera a notícia da chegada de Julian da França com animação, e logo resolveu colocar seus planos em prática, mas o homem era realmente ligado aos negócios. Nenhum horário estava disponível, por mais que ele justificasse que era caso de vida ou morte. Nos negócios, assuntos sentimentais realmente não eram levados em consideração.
Tentou a última idéia que lhe veio à cabeça. Era arriscada, mas era a idéia original. Quem sabe não daria certo?
O enorme quarto onde Carlo havia sido instalado por Diana estava cheio àquela hora. Assim que receberam a notícia, os amigos mais próximos logo resolveram aparecer e mostrar apoio, mesmo que silencioso.
Uma hora depois, apenas Afrodite (que estava sentado confortavelmente em uma cadeira italiana mandada por Diana), Mu, Shaka, Kamus e Milo ainda estavam ali, conversando em tom baixo, o clima absurdamente mais ameno do que nos dias anteriores.
– Aí, Dite, pelo menos você vai poder se embonecar todo pro Carlo, hein? – Milo disse, querendo descontrair o sueco, que deixou-se sorrir.
– Gente, vocês não têm que trabalhar não? Já é tarde. – Ele perguntou, olhando o relógio. Curiosamente, os ponteiros pareciam não querer sair das sete horas da noite.
– Você está nos expulsando pra poder atacar o Carlo durante a noite, é? – Shaka também fez piada e levou uma cotovelada de Mu.
– Garotos...
– Como vocês são infantis... – Kamus disse, rodando os olhos, e todos começaram a rir.
– Efeito Milo. – Mu comentou, arrancando mais risadas.
"...Hum...?" – Ouvia risos e palavras que não entendia... Mas as vozes eram muitíssimo conhecidas. Pensou em sorrir diante daquilo, mas notou que não tinha comando algum sobre seu próprio corpo. Aquilo era, sem dúvida, irritante. – "Dite... Milo... Kamus... Me... Me... Me ajudem... Eu..." - Seus pensamentos se tornaram mais desgastantes e ele sentiu-se desabar novamente. – "...Não... Não ..."
– Gente... – Milo disse, imitando a voz de Afrodite de um pouco antes.
Todos olharam para o grego, que mantinha os olhos fixos na cama onde Carlo estava deitado, imerso em um mundo particular. Rapidamente Afrodite sacudiu Milo, querendo saber o que havia acontecido.
– ...Ele se mexeu...
Todos se ergueram com rapidez, contemplando-o. Realmente, a posição de um de seus braços havia mudado consideravelmente.
– Isso quer dizer que...? – Perguntou Shaka.
– Que... ele pode acordar. – Afrodite disse, sorridente e sonhador.
Ninguém ousou contrariá-lo.
Já era noite quando liberaram Julian da empresa. Às vezes ele detestava quando lhe davam tantas responsabilidades, mas não podia fugir. Afinal de contas, o pai o deixara um legado, que ele não pretendia jogar por água abaixo. Eram reuniões atrás de reuniões, mas ele se saía muito bem. Bom, quando não pensava em Kanon.
O que havia ficado consideravelmente difícil depois de sua viagem à Grécia.
Sorriu, entrando no carro. Estar apaixonado era maravilhoso, mas morar longe de seu amor era uma tristeza. A conta de telefone já estava astronômica, mas dinheiro não era problema para ele naquele momento. Faria de tudo para estar perto do outro, nem que fosse apenas ficar ouvindo sua voz confortante, depois de um longo dia de trabalho.
Morava em um luxuoso prédio, na cobertura, onde ninguém poderia incomodá-lo. Seu pai havia lhe dado ela de presente antes de morrer e ele, em consideração, achou melhor morar ali, já que era perto da empresa e menos luxuosa que qualquer das propriedades que a família Solo possuíam pelo país.
Entrou no apartamento, jogando a maleta preta e o paletó no sofá de chamois vinho da sala bem decorada com obras de arte famosas, um presente de sua mãe. Sentiu um cheiro diferente, mas provavelmente deveria ser da vizinha do andar de baixo, que adorava queimar incensos pela noite afora.
No corredor que dava para o quarto percebeu que o cheiro ia ficando mais intenso. Qual foi sua surpresa ao perceber, abrindo a porta, que seu quarto estava às escuras, a não ser pelas velas acesas esporadicamente? Finalmente identificou o cheiro, de canela, e concluiu que ele vinha mesmo de seu quarto. Bateu na porta, mostrando que estava presente, tentando assustar a pessoa.
Constatou, assustado, que havia alguém deitado em sua cama, completamente nu, misturado aos lençóis de cor marfim.
– Dia agitado?
– K...Kanon? – Julian estava atônito.
Kanon sorriu levemente, percebendo havia acertado em cheio.
– Surpresa...
Continua...
