Notas das autoras:
A demora é imperdoável, mas espero que nos perdoem e que gostem desse capítulo. Finalmente coisas boas (ou não) acontecendo. Semana que vem, mais um capítulo, se o mundo me (CellyM.) me ajudar!
Lili, Calíope, Mudoh, Pipe, Litha, Lyra, Carola, Dark Wolf, Faye, Sini, Chibiusa e Anna, sem o apoio de vocês, Inferno seria apenas um barzinho como todos os outros! Um super beijo, tenham a certeza de que os comentários serão respondidos. As indicações estão no final do capítulo!
38. Pensando no Futuro...
Dois dias depois...
— Bom dia, Belo Adormecido. -cumprimentou, sorridente, com uma bandeja na mão. Carlo abriu um olho apenas, preguiçoso. Porém, ao ver Afrodite ali, com um sorriso tão gentil, ele resolveu acordar mesmo. Sentou-se, coçando o rosto de leve.
— Bom dia... -bocejou. — Por quê o Belo Adormecido não ganhou um beijo pra acordar?
— Porque o Belo Adormecido é um tarado. -falou, rindo, mas sentindo o rosto corar. — Trouxe seu café da manhã.
Vendo a careta que Carlo fez, não pôde deixar de rir.
— Não se preocupe, não é comida de hospital.
O italiano sorriu, então.
— Abre a boca. - E, erguendo uma torrada com queijo, fez um aviãozinho, indo em direção a Carlo, que apenas ergueu a sobrancelha.
— Cê tá levando essa história de enfermeiro muito a sério... –ele disse, tentando ficar sério.
— Cala a boca e come. -Afrodite o fez mastigar a torrada, mesmo que o outro estivesse relutando. — Quer o que? Chá, café, leite?
— Hmp, hn, pnmh! –Carlo produziu sons, com a boca cheia.
— Argh, que nojo! Mastiga primeiro!
— Hmphumhumpohmp! -grunhiu, engolindo. — Você perguntou e eu respondi, oras!
—...Da próxima vez, come primeiro...
— Grunf... Vocês reclamam de tudo, mesmo...
—...Aff... -virou os olhos. — E então, quer o que?
— Ahn... Café, mesmo... Pra acordar...
Serviu uma xícara e soprou por alguns segundos. Entregou-a ao italiano no instante seguinte, sorrindo na direção dele.
— Obrigado, Dite.
— Carlo...
— Sim? -perguntou, levando a xícara à boca.
— Posso fazer uma pergunta?
— Claro, o que quer saber? –Carlo odiava quando Afrodite parecia receoso em lhe perguntar as coisas, como se não tivessem nenhum tipo de intimidade, como se tudo parecesse formal demais entre eles.
— Hum...por acaso...ontem à noite... –Afrodite escolhia as palavras cuidadosamente.
— O que tem?
— Você estava sonhando?
— Que tipo de pergunta é essa? Eu sempre sonho. -disse, sorrindo abertamente. Ao reparar que o sueco não lhe acompanhava, ele se desmanchou. — Por que? O que eu fiz?
Ao ver a preocupação dele, Dite resolveu não dizer nada. Era melhor não mexer naquele assunto.
— Não se preocupe, não foi nada demais. Você estava falando umas coisas e se mexendo, sabe? Aí, eu fiquei meio preocupado.
— Ah, não fique... É normal...
— É?
— É sim...eu sempre tive um sono agitado. Aliás, o que eu estava falando?
— Ahn! O que você estava falando? Ahn... É... Você... Hum, você estava falando sim. É, estava...Sim... –ele disse, se enrolando. "Maldita hora em que fui tocar nesse assunto. Miro tem razão quando diz que eu devo ficar calado às vezes.", ele pensou, não olhando para Carlo.
— Bom, eu sei que eu estava falando -queria morrer de rir, mas estava se controlando, com dificuldades. — Mas o que, exatamente?
— Algumas coisas meio estranhas que eu não entendi no início, mas eu consegui distinguir 'rosas' e 'vinho'. -disse, inventando. Carlo, então, começou a rir. — Que foi?
Vendo que poderia estragar tudo, o italiano tratou de fingir também. Dois poderiam jogar aquele jogo.
— Eu normalmente sonho que estou na Itália, num jardim de rosas, tomando vinho com alguém. E eu sempre fico feito um pateta rolando de um lado pro outro... É hilário.
— Ah...legal. E quem é esse alguém? –Afrodite, subitamente, ficou irritado.
— Hum, curioso? –Carlo perguntou, sorrindo ligeiramente.
— Bobo. E sim, estou. –respondeu, virando os olhos em visível desaprovação.
— Eu não sei, se você quer saber a verdade. Essa pessoa sempre fica na sombra, aí eu não consigo ver seu rosto. Sei que ela é linda e tem cabelo grande, mas não sei quem é.
— É homem ou mulher? - Perguntou, esperançoso.
— Eu não sei. -disse o outro, passando os dedos pelos cabelos. — Mas eu sei que é perfeito.
— Ah, legal... -disse, desanimado. — Hum, já volto.
Afrodite não esperou nenhuma resposta de Carlo. Imediatamente levantou-se da cadeira e entrou no banheiro, trancando a porta. Ao italiano restou apenas segurar o riso enquanto o sueco estava no mesmo ambiente que ele. Assim que ouviu o clique da porta, começou a rir. "Meu Deus, Afrodite. Você é um tremendo mentiroso!", ele pensou.
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— Bom dia, Ju.
— Hum...?
Abriu os olhos sensibilizados, desacostumado com a luz que entrava pela janela. Sentou-se na cama, esfregando-os. Olhou para frente, vendo Kanon com uma bandeja, nitidamente contente por servir o café da manhã ao namorado.
— Bom dia, meu lindo. -falou, ainda preguiçoso.
Kanon sentou-se ao lado de Julian cuidadosamente, a bandeja ainda sendo equilibrada. Beijou-o carinhosamente nos lábios, para só então colocar o item entre eles.
— Dormiu bem? -Kanon,perguntou, pegando um biscoito e provando-o calmamente.
— Bastante. –Julian respondeu, manhoso. — E você?
— Como há muito não dormia. Devo dizer que sua cama é maravilhosa, e a companhia também. –disse, oferecendo o biscoito ao namorado, que, sorrindo, deu uma mordida generosa. — A propósito, o pessoal da sua empresa ligou, dizendo que seu avião sai às dez horas.
Julian olhou-o, calmo. Serviu-se de suco de laranja e só depois de tomar alguns goles, voltou a falar.
— Tudo bem. Que horas são? Umas oito?
Kanon sorriu, sabendo que sua declaração iria enlouquecer o namorado.
— Não, são nove e meia.
— O QUÊ! -pulou da cama imediatamente, vestindo a primeira peça de roupa que estava no chão, por sinal, uma calça de Kanon. — E você nem me avisa nada!
— Você estava dormindo tão gostoso que eu tive peninha de te acordar. -disse, sacana, levantando-se da cama, seguindo o namorado.
— Você é um bobo, Kanon! -falou, de maneira séria, colocando os sapatos enquanto
abotoava a camisa preta na frente do espelho. Kanon caminhou até ele, abraçando-o por trás. Colocou a cabeça em seu ombro, as mãos se encontrando sobre o peito dele no instante seguinte.
— Desculpe, meu lindo. -falou, sentido. — Deixa eu te ajudar...
Pôs se a abotoar a blusa do rapaz, que o admirava com um sorriso, pelo espelho.
— Ah, K... Eu não consigo ficar aborrecido com você... Que coisa!
— Isso é bom. -disse, sorrindo, dando-lhe um beijo na bochecha.
— Você já está pronto? -perguntou Julian, quando o rapaz terminou de abotoar sua blusa.
— Estou, sim. –respondeu, tirando uma escova de dentro do armário. — Acalme-se, seu motorista está lá em baixo. Mas eu pedi que esperasse um pouco.
— Aff, K...você é realmente impossível... –ao sentir Kanon pentear seu cabelo com carinho, ele murmurou, entregue às carícias. — Ora, eu vou acabar não saindo daqui hoje...
— É algo realmente tentador, mas...
— K, vamos! Daqui a pouco, virão recolher as coisas daqui para mandarem para a outra casa. E acho que não seria bom se nos encontrassem por aqui. -riu, beijando o
namorado rapidamente.
— Tudo bem, fazer o quê? –Kanon resmungou, mas se deixou ser levado pelo outro até a porta.
Olhou com carinho pela última vez para o apartamento, palco de lembranças inesquecíveis. "Realmente valeu a pena fazer tudo aquilo...", ele pensou, fechando a porta logo em seguida.
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— Treinando para mais uma apresentação surpresa no Inferno? –Kamus perguntou, ainda perdido em meio aos lençóis. Era quase hora do almoço, mas ele não tinha a mínima vontade de se levantar, muito menos de pensar em trabalho.
Não quando tinha a visão privilegiada de Milo cantarolando em frente ao espelho, "vestindo" apenas uma toalha preta.
— Quem me dera. Depois da última, acho que fui rebaixado a garçom para sempre. –o grego respondeu, sorrindo, olhando para o francês pelo espelho.
— Azar deles, sorte minha. Performances particulares. –ele retrucou, sabendo que o mínimo de ciúmes que acabara de demonstrar iria causar felicidade no namorado. Porém, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, chamou-o para perto de si.
— O que foi? –Milo perguntou, passando os dedos pelos cabelos esmeralda de Kamus, bagunçando-os.
— Eu preciso falar com você. –ele disse, curiosamente sério.
— Hum...
— Milo, eu tenho pensado muito sobre nós esses últimos dias.
E o grego travou. O sorriso estava fixado em seu rosto e parecia querer não sair dali, por mais que ele mandasse mensagens ao seu cérebro, dizendo que deveria estar sério.
— E... –ele teve medo de falar qualquer coisa a mais.
— Eu te amo, Milo, mas...
— Mas o quê? –ele perguntou, em um tom de voz estrangulado, não querendo imaginar o motivo pelo qual Kamus poderia querer terminar com ele, porque era aquilo o que estava para acontecer, não era?
— Acalme-se, por favor. –o francês pediu, em sua já conhecida frieza.
— Olha, eu não sei se vou ficar calmo não, Kamus. Pode falar logo de uma vez. –o outro disse, já se irritando. Quem Kamus pensava que era? Que podia terminar com ele e lhe pedir calma?
— Bom, apesar de juntos, vejo que estamos um tanto quanto distanciados, esses dias.
"Distanciados?", Milo pensou, abismado. Estavam juntos praticamente todos os dias, saíam juntos para fazerem compras, trabalhavam no mesmo lugar, divertiam-se juntos, como poderiam estar distanciados? Aquilo não fazia sentido, era uma justificativa tola.
— O que você quer dizer com isso? –Milo perguntou, afastando-se de perto do francês, na cama.
— O que quero dizer é que, bem... –pela primeira vez, o grego presenciou algum tipo de nervosismo na couraça inatingível de Kamus.
— Fala logo, francês! –Milo pediu, quase enforcando o outro.
— Você quer vir morar comigo?
E Milo, naquele instante, teve certeza de que deveria ter ficado calado.
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— Humm...vinho na Itália...e com rosas...cara de pau...aposto que deve ser com uma dessas desfrutáveis que ele conhece por aí... -Afrodite falava baixinho, com medo de Carlo ouvir. O banheiro foi pura desculpa para não ter que entregar-se ainda mais em suas declarações.
Não conseguia evitar ter uma ponta de ciúmes da pessoa que Carlo beijava em seu sonho. Era irritante como ele entregava-se tão facilmente àquele homem. Às vezes tinha raiva de si mesmo por não conseguir controlar-se. Então, pela milésima vez, resolveu sair dali e tomar uma decisão, falar qualquer besteira para Carlo, provocá-lo de alguma maneira, para quem sabe, ele conseguir falar alguma coisa mais produtiva do que simplesmente fingir só sentir amizade pelo italiano.
Abriu a porta decidido quando encontrou com o médico que fazia a ronda matinal, com a prancheta na mão, conversando com Carlo. Ele fitou o médico e logo em seguida o italiano, que estava com uma expressão de felicidade.
— Dite! Eles querem fazer exames!
— Isso...isso é bom? -Afrodite olhou-o com uma expressão desconfiada.
— Exames para confirmar se eu posso ter alta ainda hoje!
— Ah, mas isso não é somente bom...é maravilhoso! -Afrodite cobriu o espaço entre eles, dando pulinhos e abraçando o italiano. Os dois ficaram naquela perigosa distância de pouquíssimos centímetros, olhando-se nos olhos. O médico, percebendo o clima, pigarreou alto, informando que voltaria dali a alguns minutos para levá-lo à sala de exames, que basicamente eram relacionados aos movimentos de suas pernas.
— Bom... -Carlo disse, soltando-se de Afrodite.
— É...bom... -ele replicou, sentando-se ao lado do italiano.
— Olha...precisamos combinar como vai ficar depois que eu sair daqui...sei que você trabalha, então não vou tomar seu tempo... –o italiano falou, o senso prático lhe atingindo.
— Quê isso, Carlo...dane-se o trabalho! Eu vou ficar com você. –Afrodite respondeu, como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Não é isso, Dite...eu já falei com o médico e ele me indicou uma enfermeira muito boa, para passar as noites comigo. Ela também vai ajudar na fisioterapia. Não quero que você deixe o trabalho.
— Ah, então é assim? Eu fico aqui com você, me descabelando e você simplesmente vai me trocar por uma enfermeirazinha qualquer? Qual é a tua, Carlo?
— Afrodite! Você não me deixa explicar! –Carlo disse, sentando-se na cama, quase derrotado. O sueco quando encrencava com alguma coisa, era difícil de mudar de opinião.
— Não quero ouvir mais nada! -e de repente Afrodite percebeu que estava gritando com uma pessoa doente, e que seu ciúme era irracional. Arrependeu-se logo em seguida — Desculpe...eu não deveria ter gritado com você.
— Não me peça desculpas...por favor.. -Carlo disse, com um sorriso. — Eu quero a enfermeira lá exatamente porque me preocupo com você. Quero você ao meu lado enquanto não vai trabalhar...ela vai ficar por lá, apenas por precaução. Você é o meu enfermeiro particular, Dite...eu já te elegi..não tem como fugir de mim agora... -ele disse, num tom sensual, deixando Afrodite corado. Teve vontade de puxá-lo para perto de si e beijá-lo, mas controlou-se.
— Eu...eu vou ligar pra Diana. Ela vai querer saber da notícia da sua alta... -Afrodite desconversou, levantando-se da cama e indo à direção do sofá, onde pegou a mochila e o celular.
— O que diz da minha proposta? Vai continuar como meu enfermeiro?
Afrodite estava discando para a casa de Diana e não olhava para o italiano, mas sabia muito bem aquele aquele tom de voz era de pura provocação. "Dois também podem jogar esse jogo, Carlo...", ele pensou, respondendo, sem olhar para Carlo.
— Sim, sim...só não prometo aparecer com um vestido branco e chapéuzinho de enfermeiro, mas de resto...pode contar comigo...
Imagens de um Afrodite naquele modelito invadiram os pensamentos de Carlo e ele agradeceu por estar coberto com uma colcha tão pesada, que conseguiu cobrir também a ereção que acabara de despontar. "Dio...isso não vai prestar..."
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— Diz de novo.
Kamus riu, olhando para um Milo assustado, que piscava freneticamente.
— Você quer vir morar comigo? -ele repetiu a pergunta, pausando ainda mais as palavras.
— Ele realmente perguntou isso... -Milo resmungou pra si mesmo.
— Isso é um sim ou um não? -Kamus perguntou, esperançoso.
— Isso é um não sei...por que isso agora, Kamus?
— Deus...porque simplesmente não faz sentido nós estarmos juntos e morarmos em casas separadas, especialmente porque você fica mais tempo lá em casa do que aqui.
— Isso é verdade...mas...eu não sei...eu nunca morei com um namorado.
— Milo...querido...sinceramente...você nunca teve um namorado decente. –o francês comentou, arrancando um sorriso do grego.
— Pretencioso. -Milo disse, revirando os olhos. Kamus apenas sorriu.
— Estou dizendo alguma mentira?
— Não...mas mesmo assim...
Milo encontrava-se sem saída. Morar com Kamus seria a coisa mais maravilhosa que poderia acontecer a eles, mas não sabia se estava preparado para aquela responsabilidade toda. Morar com o namorado, na casa dele, era algo que ele não saberia como lidar. Será que Kamus aceitaria a bagunça dele, a vontade que tinha de deixar tudo espalhado às vezes, só pensar em limpeza no dia seguinte? Algumas noites na casa do amado não serviam para se ter noção de como a vida entre os dois poderia ser.
— Eu...eu não acho uma boa idéia... -Milo disse, por fim.
— Por que não? Como assim? -Kamus parecia chocado. Nunca pensou em fazer aquela proposta e ser rejeitado.
— O Dite...ele não pode ficar sozinho aqui, não seria justo. -ele disse, percebendo que Kamus havia ficado chateado, por isso mesmo não olhou-o.
— Milo... -Kamus disse, aproximando-se do outro, lentamente, sentando-se na ponta da cama. — Eu sei que Dite não é o problema, fale comigo.
O grego finalmente cedeu. Aproximou-se novamente de Kamus, segurando uma das mãos dele, suavemente. O francês não disse nada, conhecia Milo muito bem e sabia que aquele era um dos momentos onde deveria ficar calado, esperando que o outro tivesse coragem de falar tudo o que pensava.
— É que...bom...tá, você venceu. Como você sabe que vamos dar certo morando juntos? É a sua casa, são as suas coisas. Será que você suportaria a minha bagunça, o meu mau humor, minha preguiça pra arrumar tudo? Não podemos saber disso com as poucas noites que eu passei lá. Não funciona assim. Eu...eu detestaria ter que te perder por essas coisas simples.
Kamus achou aquilo a coisa mais linda que já havia ouvido. A preocupação de Milo com o relacionamento deles era mais que surpreendente e ele pegou-se ponderando a respeito das mesmas coisas que havia ouvido do namorado.
— Me entende, agora, amor? Não posso deixar a gente se magoar...
Kamus sorriu-lhe, puxando-o para mais perto de si. Quando percebeu que o grego estava relaxado em seus braços, ele finalmente falou.
— Podemos tentar pelo menos? Não sei...por algumas semanas? Prometo que não vou insistir caso venhamos a perceber que não daríamos certo morando juntos.
— Eu...o Dite...
— Esqueça o Dite. Olhe nos meus olhos e me responda. Você quer?
Milo viu, naquele momento seu futuro nos olhos de Kamus. Sabia que o tombo poderia ser feio, mas queria tentar. Devia-se aquilo. Não era sempre que encontrava seu correspondente.
— Sim...eu acho que podemos tentar... -ele disse, por fim, abraçando-o carinhosamente. Kamus apenas sorriu, retribuindo o abraço.
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— Sentiremos sua falta, senhor Solo... O escritório nunca mais será o mesmo. -disse uma doce jovem, com um imenso sorriso no rosto claro.
— Ah, obrigado, Mariah... Mas não pensem que se livraram de mim. Estarei sempre ligando pra puxar a orelha de vocês... -abraçou uma fileira de pessoas sorridentes, que pareciam relutar em se despedir dele.
Subiu no avião. Encontrou Kanon sentado em uma das poltronas, olhando-o com uma certa malícia.
— Senhor Solo, teria um tempo para mim? -debochou Kanon, quando ele sentou ao seu lado no avião particular, na última fileira.
— Pra você? Acho que somente todo o tempo do mundo É suficiente? -perguntou, com um sorriso.
— Podemos partir, senhor Solo? -a voz do piloto perguntou, interrompendo-os por um breve momento.
— Sim! –respondeu e logo em seguida, ouviu-se o barulho característico dos motores. — Por que escolheu esse lugar, K?
— Oras... Privacidade é sempre bom. –ele respondeu, como se aquilo fosse claro.
— Seu tarado... –Julian disse, dando um tapinha de leve no peito do namorado.
— Tarado? Por acaso você quer que nos vejam nos agarrando? Tudo bem, então. Vamos pra frente. –Kanon comentou, tirando o cinto de segurança. No mesmo instante, Julian segurou-o pelo braço.
— Pare com isso. E aperte o cinto.
Kanon obedeceu, com um suspiro resignado.
— Ju... –ele murmurou, alguns segundos depois.
— Fala.
— Me dá um beijo? –pediu como uma criança e Julian não resistiu. Inclinou-se para atender ao pedido, mas o cinto não permitiu-o.
— Bom, podemos deixar para depois? -disse Julian, com um sorriso sacana.
— Acho que não. –Kanon soltou o cinto e capturou os lábios do rapaz.
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— É triste, não acha? –Mime suspirou, brincando com a pedrinha de gelo dentro de seu copo.
— Acho, sim. –uma jovem respondeu, aproximando-se. O fez deitar em seu colo, acariciando os delicados cabelos ruivos. — Mi, lindinho, não fique assim, tá? Vai dar tudo certo, eu prometo pra você.
— Ah, Pandora... -suspirou, abraçando a cintura da irmã. — Eu não sei mais o que fazer.
— Não se preocupe. Vai dar tudo certo. –ela pegou-se repetindo. Na verdade, não havia nada mais que pudesse dizer, mas não iria deixar Mime perceber.
— Ele nem é meu primo de verdade, certo?
— É. Mamãe considerava muito a mãe dele, entende? Aí, veio essa história... Pensei que você soubesse.
— Não, eu não sabia. Aposto que ele sabia e nunca me contou. E eu achando que ele não queria nada porque éramos da mesma família...
— Ele é um cabeça dura, e você sabe disso. Vai demorar pra ele notar que gosta de você. Mas ele vai notar, eu tenho certeza.
— Ele não gosta de mim. Está muito feliz apaixonado pela namoradinha perfeita. -ironizou, aborrecido.
— Se está, deixe-o pra lá. Você merece alguém melhor.
Mime estava a ponto de replicar aquela declaração da irmã, quando o barulho da campainha o interrompeu.
— Ah, que ótimo. Quando estou prestes à ter uma crise de choro compulsiva, alguém vem me encher o saco. Que maravilha! –ele disse, levantando-se para ir até a porta.
Pandora suspirou, alisando os cabelos bonitos. Era tão típico do irmão falar aquelas coisas. "Tão gay...", ela pensou, abafando um sorrisinho.
— O que é! –Mime berrou, abrindo a porta de uma só vez. Quando deparou-se com a pessoa a sua frente, emudeceu.
— Oi, Mime. Podemos...conversar?
— Rada...
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Afrodite lia uma revista dentro do quarto, já esperando os resultados dos exames. De acordo com uma enfermeira, que havia ficado sua amiga, estava tudo muito bem, e provavelmente Carlo teria alta naquele dia mesmo. Mas ele queria ouvir aquela confirmação da boca do médico.
O citado doutor entrou, como um passe de mágica no quarto, fazendo com que ele levantasse do sofá rapidamente.
— E então?
— Seu amigo está bem, sim. Fisioterapia todos os domingos, às nove, está bom?
— Olha, pra mim, está ótimo. -disse Afrodite, prontamente. — Ele não vai reclamar.
— Bom... Então... -destacou uma fichinha. — Traga o paciente no domingo, estaremos esperando.
— Muito obrigado... Já posso levá-lo?
— Claro, assim que ele chegar.
No mesmo instante, a porta se abriu. Um Carlo, em uma cadeira de rodas, xingava os enfermeiros que não o deixavam levantar, em italiano.
— Acho que precisamos de uma mordaça. -disse o doutor, com um suspiro, saindo do quarto.
— Carlinho, podemos ir pra casa! -Afrodite sorriu-lhe.
— Ótimo, então... Me deixa sair desse troço! –disse, tentando levantar de novo, mas os enfermeiros o empurraram para baixo, mais uma vez.
— Podem deixar, eu levo a mala até o carro... –o sueco resmungou e os enfermeiros saíram do quarto.
— Dite, eu me nego à isso!
— Aff, Carlo... Cala a boca! –o sueco disse, firmemente, voltando a colocar as roupas dentro da mala.
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Ainda se olhavam bravamente, um esperando que o outro dissesse alguma coisa. Foi Mime quem começou, ou melhor, tentou.
— Vo...você não...não pode simplesmente entrar aqui e falar isso tudo, Rada...simplesmente não pode... -Mime disse, passando a mão nos cabelos ruivos. Pandora, sentada no sofá, fingia não ter ouvido tudo o que o "primo" havia dito.
— Eu precisava.
— Vamos lá pra fora. Pandora, estamos no jardim, tudo bem?
— Quê? Ah, nem tava prestando a atenção... -a jovem de cabelos negros disse, arrancando um sorrisinho de Mime.
Saíram para o jardim e Mime ia caminhando na frente, sentindo-se mais nervoso que o de costume quando estava na presença de Radamanthys, seu amor escondido. Especialmente porque agora o outro lhe declarara, de sopetão, que gostava dele.
Sentaram-se em um dos bancos no jardim, que a mãe de Mime cultivava com tanto amor, entre as tulipas negras, tão raras e belas. Mime pegou uma das flores, tocando levemente nas pétalas.
— Mime...
— Cala a boca, Radamanthys.
E o rapaz de cabelos loiros ficou em silêncio, abaixando a cabeça, apenas prestando a atenção no que o outro fazia. Tinha vontade de tomá-lo em seus braços fortes, protegê-lo. Nunca reparou em como Mime era belo ou como todas suas ações pareciam beirar a perfeição. Talvez já tivesse percebido aquilo, mas nunca quisera admitir para si mesmo.
— No que você estava pensando quando entrou na minha casa dizendo todas aquelas coisas? -a voz de Mime o tirou de seus pensamentos. O rapaz agora havia colocado a flor delicadamente entre os dois, no banco.
— Queria que você soubesse o que sinto, só isso.
— E você descobriu isso agora, Radamanthys? -ele perguntou, ironicamente.
— Pelo amor de Deus, detesto quando você me chama assim. -Radamanthys falou, olhando para o outro lado, numa voz triste, que amoleceu o coração de Mime. Ele nunca havia visto primo falar daquele jeito.
— Você...você falou aquilo lá...de verdade mesmo? -Mime perguntou, receoso.
Viu-se observado atentamente por um belo par de olhos dourados. Estava completamente hipnotizado, os olhos de Radamanthys, tão raros naquele tom, sempre o fascinaram, excitaram, enervaram. Era como se não conseguisse fugir daquele par de âmbares brilhantes. Desviou o olhar, mas foi seguro pela mão forte de Radamanthys.
— O que acha, Mime? Acha mesmo que viria até aqui para quê?
— Talvez para zombar de mim...não é de hoje que sabe o que sinto.
— Posso provar que não estou brincando...se...se você me deixar... -ele disse, incerto.
— O que quer?
— Prove dos meus lábios e me diga se minto.
— O quê? -Mime estava chocado.
Mal percebeu quando Radamanthys puxou-o para perto de si, tocando de leve nos lábios finos de Mime com doçura. Beijou-os inúmeras vezes até que ele acostumasse com o que estava acontecendo. Ao perceber que Mime havia começado a participar do beijo, ele abraçou-o com mais força, tomando os lábios com mais fervor, ainda receoso, mas tentando aprofundar o contato de bocas. E foi Mime quem o fez, tocando a ponta da língua nos lábios entreabertos de Radamanthys, procurando passagem e foi bem vindo, ouvindo um suspiro profundo dele. As línguas travaram uma disputa graciosa pedindo permissão e invadindo a boca um do outro, como se aquela fosse a primeira e última vez que o fariam.
— Isso...isso foi... -Mime disse, soltando-se dos lábios de Radamanthys, que ainda mantinha os olhos fechados, saboreando o gosto do "primo".
— Sim...agora acredita em mim? -ele perguntou, olhando-o por fim.
— Mas como?
— Não sei...terminei com a Hilda hoje... -ao ouvir aquele nome, Mime tentou levantar-se. Não podia acreditar que havia caído naquela. Radamanthys apenas o queria para esquecer a namorada. O rapaz segurou-o pelo braço. — Me ouve. Terminei com Hilda e por um momento, não pensava mais nela. Era em você...você não saía do meu pensamento, tudo o que sabia, respirava, queria, era você. Não pra fazer as coisas melhores, não pra curar minha tristeza, mas simplesmente pra fazer tudo do jeito que devem ser.
— Rada...
— Eu não sei se um dia vou merecer o que você sempre quis me dar, mas eu estou disposto a aceitar o que quer que seja...eu...eu acho que te amo, Mime...
Mime sorriu, algumas lágrimas caindo pela face tão bem esculpida. Acariciou com carinho o rosto de Radamanthys.
— Eu te amo...sempre te amei...olha a tulipa negra, ela me lembra você. Sempre que acontecia alguma coisa ruim eu vinha até esse jardim, pensava se um dia ... -Mime disse, pegando a flor que ainda jazia entre os dois.
— Por que? Por que ela...
— Me lembra você? -diante da afirmativa silenciosa de Radamanthys, Mime sorriu. — Ela é misteriosa, rara, ninguém sabe qual a combinação para ela ter surgido. Nos dias de chuva, eu sempre as olhava da janela...cercadas pelas tulipas reais, essas amarelas...são seus olhos, Rada...é besteira, mas, sempre que havia uma briga entre nós, era pra cá que eu corria e me sentia estranhamente melhor...
— Espero que possamos criar novas memórias nesse jardim... -Radamanthys falou, entrelaçando os dedos com Mime, que lhe sorriu, aconchegando-se no peito do rapaz com ternura.
— Já criamos, meu querido...já criamos...
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— Enfim sós... -Carlo falou sentando-se finalmente no sofá.
Afrodite virou os olhos, não querendo pensar no que aquela frase significava. Achou melhor levar como uma piada entre amigos. Sentou-se em uma das poltronas e ficaram em silêncio, ambos apenas lembrando da última vez que estiveram ali. O sueco corou ao lembrar-se do beijo, tão caloroso e intenso.
— Eu...eu vou ligar para o Milo...ele vai querer saber que eu estou aqui... -ele disse, passando ao lado de Carlo, que segurou-o pelo pulso, suavemente.
— Dite, senta aqui. -Carlo falou, não deixando que o outro falasse mais nada. Sentou-o em seu colo carinhosamente, olhando-o nos olhos azul oceano, afastando os cabelos azul piscina, sorrindo gentilmente para ele.
— O que...que foi? -Afrodite odiava soar tão trêmulo, mas era assim que ficava toda vez que sentia o corpo do italiano perto de si.
— Somos amigos e eu não quero que nada mude, ok? Você é muito importante pra mim...vamos...vamos passar uma borracha nas coisas ruins que dissemos e fizemos um pro outro e começar do zero. O que acha?
Afrodite sorriu, acariciando aquele rosto tão adorado. Agora seria um bom momento para jogar tudo para o ar e declarar seu amor incondicional, mas Carlo queria recomeçar do zero, esquecendo problemas. Como ele poderia negar-lhe aquilo?
— Eu aceito, meu querido...como dizer não a você? -ele respondeu, beijando o outro no rosto, suavemente. Levantou-se do colo de Carlo e caminhou para a cozinha, sentando-se em um dos banquinhos, para só então tentar ligar para Milo.
"Estamos no caminho certo agora, Dite...confia em mim...", Carlo pensou.
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— Como assim não tá em casa?
— Olha, Dite...eu acho melhor você vir pra cá...porque o Milo saiu de casa com umas malas. -Shaka disse, enquanto observava Mu arrumar a casa. O rapaz em questão estava ajoelhado no meio da sala, com as mãos na cintura, reprovando a indiscrição do namorado.
— Como assim malas? Aff, o que tá acontecendo? Eu vou praí agora mesmo! -e Afrodite desligou o telefone na mesma hora, encarando um Carlo apático.
— O que aconteceu? -ele perguntou.
— Não sei, mas acho que Milo foi embora. Foi morar com Kamus.
— E daí, Dite? Eles são namorados. Isso já era mais do que esperado...ou não? -Carlo não parecia muito chocado com aquela notícia. Aliás, achava que os dois já deveriam estar morando juntos há muito tempo.
— E daí que eu vou ficar sem casa, Carlo...não posso pagar o aluguel sozinho. Se tudo continuar assim...eu vou ter que voltar pra casa...
E Carlo ficou mudo diante daquela afirmativa.
Continua...
Meninas que deixaram reviews, que agüentaram durante essas semanas, meu maior e sincero obrigado. Estarei comentando sobre várias coisas, incluindo cada uma das coisinhas que vocês escreveram, no meu livejournal, livejournal (ponto) com (barra) user (barra) mscellym
Obrigada mais uma vez e se tudo der certo, até o próximo fim de semana!
