CAPÍTULO 4 – Almoço de Natal

Apesar de saber que Snape nunca simpatizou comigo, não acredito que ele fosse capaz de brincar com algo tão sério. Além do mais, Snape nunca foi de brincadeiras. Por isso, resolvi me resignar até descobrir o que realmente estava acontecendo, e fazer o que se esperava da esposa de um Weasley, apesar de eu não ser casada com Rony. Sendo assim, fui ao almoço de Natal na Toca (não que eu tivesse outra opção). Meu consolo é que Molly sempre cozinhou extremamente bem.

Todos da família já estavam lá quando chegamosà exceção de Gui, que, como eu descobri mais tarde, festejava a data com a família de sua esposa, para verdadeiro horror da Sra. Weasley. E claro, o Sr. Weasley também não estava presente.

Era a primeira vez que eu via Molly desde o fatídico acidente com o Sr. Weasley. Enviei minhas considerações e pêsames através de uma coruja, e não compareci ao ritual de despedida, alegando estar doente. Hoje me envergonho de minha atitude covarde, negando apoio a pessoas que sempre me acolheram bem, justamente no momento em que mais precisaram.

Oito anos haviam passado desde os tristes acontecimentos, mas Molly parecia ter vivido o dobro. Seus olhos, outrora tão brilhantes, estavam opacos e traziam uma profunda tristeza que seu sorriso tentava esconder. A satisfação que sentia ao ver os filhos e netos, porém, era verdadeira.

Tive um súbito desejo de correr e abraç�-la, dizendo que sentia muito sobre tudo que havia acontecido, mas me contive. Afinal, todos me faziam acreditar que eu era casada com Rony, e a esposa de Rony deveria encontrar a sogra periodicamente.

Harry chegou pouco depois, e como todos ali presentes, não demonstrou surpresa ao me ver. Simplesmente me cumprimentou, desejando um Feliz Natal, e me entregou uma linda capa vermelha de cetim, dirigindo-se rapidamente a Eddie e Diana.

Após o almoço, ajudei Molly e Gina com a limpeza e em seguida comuniquei a Rony o meu desejo de ir embora. Entretanto, ele não demonstrou solidariedade ao meu pedido, visto que estava no meio de uma excitante partida de xadrez bruxo com Harry, tendo Diana como aprendiz. No outro canto da sala, Carlinhos parecia concentradíssimo escrevendo o que parecia ser uma carta, enquanto Fred, Jorge e Eddie se divertiam jogando bolas de neve um no outro, agora que a tempestade havia cessado.Percy e a esposa haviam ido embora com os filhos logo após terminarem de comer, pois o caçula comeu um explosivin e não estava nada bem.

Suspirei. Será que todas as reuniões familiares eram assim? Procurei por Molly e Gina, mas elas não estavam por perto. Resolvi subir.

Logo à minha esquerda ouvi vozes vindas de um dos quartos. Entrei sem bater e vi Molly sentada na cama, enxugando as lágrimas enquanto Gina acariciava seu joelho.

- D-desculpe, eu... eu ouvi vozes e...

- Entre, Hermione. – Gina disse normalmente, como se a mãe nem estivesse ali.

- Sente-se ao meu lado, Hermione querida. – dessa vez era Molly, com a voz embargada.

Fiz o que ela pediu, embota estivesse completamente sem graça. Ver Molly Weasley chorando era mais uma situação completamente nova pra mim!

- Hermione entende melhor o que eu sinto, Gina querida. Ela é mãe e sabe que o coração de uma mãe nunca sossega.

- Mamãe, eu posso não ter filhos, mas compreendo perfeitamente a angústia que você sente, pois ela também mora em meu coração. Por acaso, eu também perdi amigos e meu pai naquela guerra estúpida... mas nem por isso vivo com medo de que tudo aconteça novamente!

Gina parecia muito magoada, e embora eu não pudesse admitir, ela entendia tudo bem melhor do que eu.

A Sra. Weasley sorriu.

- Não liguem para as bobagens de uma velha mãe. Eu apenas senti saudades de Arthur.

Dizendo isso, saiu pelo corredor escuro, e Gina foi atrás dela, garantindo a mim que voltaria em um instante.

Não pude deixar de sentir pena de Molly. Seu bicho papão havia sido solto e ela fora obrigada a enfrent�-lo sem possibilidade de vitória.

Gina logo voltou carregando uma caixa em suas mãos. Sentou-se a meu lado e parecia bastante empolgada.

- Mamãe e eu passamos dias montando isso. Espero que goste! – e me entregou a caixa.

Abri lentamente e retirei algo que parecia um livro. A capa continha os dizeres: "Retratos de Família", e atiçada por minha curiosidade, abri-o. A primeira página estampava o nome de Rony, e fui virando cada página com um temor crescente. Havia apenas fotos de Rony, desde o seu nascimento até os dias atuais. Logo em seguida veio uma página com meu nome e sucessivas fotos minhas, em diferentes momentos, apareciam. Por um instante, acreditei que Gina fosse desatar a rir e dizer que tudo aquilo não passava de uma brincadeira para me aproximar de Rony, meu velho amigo. Mas essa esperança diminuiu quando, lá pelo meio do álbum, vi a frase: "Rony Hermione: Feitos Um Para o Outro", e as contínuas fotos que seguiram fizeram com que ela desaparecesse completamente. Namoro, noivado, casamento, nascimento dos filhos, Páscoas, Natais, aniversários. Quem seria tão bom a ponto de forjar todas essas fotos? Fechei o álbum bruscamente e olhei para Gina.

- Então? O que achou?

Para minha surpresa, joguei a cabeça no colo de Gina e desatei a chorar, lamentando por tudo aquilo estar acontecendo.


Desci as escadas da Toca lentamente, ainda sentindo meu rosto inchado por causa de meu descontrole emocional. Não faço idéia do tempo que eu dormi. Uma hora, talvez duas. Logo após o desabafo de minhas lágrimas, senti que o desgaste emocional afeta tanto o corpo quanto o físico. Chegando à sala, ouvi vozes e reconheci a silhueta de Rony. A voz que pronunciou meu nome era de Gina.

- Realmente não sei, Rony. Hermione falava coisas sem nexo, como que gostaria de voltar a Hogwarts, que Minerva e os alunos precisavam dela, e que... – Gina hesitou – bem... que odiava tudo que estava acontecendo em sua vida.

- Eu não entendo... – ele parecia confuso, e coçava a cabeça sem parar.

- Você brigaram, Rony? – Molly perguntou, e o filho sacudiu a cabeça em negação.

- Está tudo bem entre nós... pelo menos eu acho que tá... realmente não entendo!

- Ela falou muito em Hogwarts... faz idéia do motivo?

- Bem... – ele pareceu hesitar – só se for por causa do emprego que McGonagall ofereceu a ela antes de nos casarmos. Ela recusou, claro. Então nos casamos, e abrimos a livraria no Beco Diagonal.

Após um longo silencio, Rony voltou a falar. Eu não tive coragem de mostrar a todos que ouvia a conversa escondida.

- Será que... bem... – parecia que ele tomava coragem para dizer algo que era muito difícil – será que Hermione se arrependeu por ter se casado comigo?

Molly abraçou o filho, respondendo imediatamente à sua indagação:

- Não seja bobo, Rony querido. Hermione te ama! Que tal se vocês saíssem em uma viagem, algo como uma segunda lua de mel? Eu ficaria com as crianças, seria maravilhoso!

- É... – ele disse, ainda parecendo um tanto inseguro, ao passo que Gina emendou:

- Mione tem trabalhado demais, Rony. Apenas isso. Fique tranqüilo. Agora onde está Diana, aquela pestinha?

Subi novamente as escadas para que ninguém me visse. Apesar de não ser casada com Ronald, não pude deixar de sentir compaixão pelo estado em que ele ficara ao saber de meu descontrole.