CAPÍTULO 6 – Eddie e Diana
Minha vontade era ficar deitada o dia todo. Como era domingo, provavelmente eu não precisaria trabalhar, então poderia procurar por explicações para a mudança que ocorrera, e para o estranho sonho em que encontrei Mavvle. A fome, entretanto, me fez levantar e ir direto à cozinha.
Abri a geladeira e retirei alguns pedaços de bacon congelados. Enquanto eu encantava a frigideira e pegava alguns ovos, uma coruja entrou pela janela e deixou um pacote comprido cair aos meus pés. Abaixei-me para pegá-lo e vi que era uma caixa com uma varinha de brinquedo, própria para feitiços de beleza. Junto com ela, havia um bilhete:
"Para quando o muro for destruído.
Mavvle".
Por que ele tinha que ser tão enigmático? Me senti uma completa idiota, incapaz de compreender uma simples mensagem!
Eddie e Diana apareceram e sentaram-se à mesa.
"Ok, Hermione. Você é mãe deles. O que eles gostam de comer? Droga!".
- Hmm... o que vocês querem hoje?
- O de sempre... – Diana resmungou, bocejando.
- Ovos e bacon? – perguntei, apontando minha varinha para virar um dos ovos.
Eles se entreolharam e balançaram a cabeça afirmativamente. Pensando se tratar de uma resposta à minha pergunta, me virei e joguei o primeiro ovo em um prato.
Assustei quando vi Eddie parado bem atrás de mim.
- Nós sabemos a verdade! – uma onda de alívio percorreu meu corpo antes que Eddie continuasse – Você não é nossa mãe!
- Não... – eu estava intimidada, e por mais estranho que possa parecer, tive medo de que aquelas crianças me odiassem. Apesar de feliz em saber que eu definitivamente não estava louca, não queria ficar mal vista aos olhos dos filhos de Rony. – não sou...
- Eles fizeram um bom trabalho. – Diana disse, aproximando-se e subindo em uma cadeira para tocar meu rosto com suas mãos pequenas e delicadas.
- Eles... quem?
- Os trouxas. – Eddie se antecipou – claro que devem ter sido ajudados por algum bruxo das trevas... – ele se afastou repentinamente, puxando Diana de cima da cadeira e protegendo-a com os braços – você é uma bruxa das trevas? – perguntou receoso.
- Não, não! – respondi rapidamente, enquanto me abaixava para ficar na altura deles.
- Gosta de crianças?
- Trabalho com crianças. Gosto sim. – sorri.
- Então vamos ajudá-la. Não é Diana? – a menina meneou a cabeça, dizendo que sim.
- Mas... afinal, o que está acontecendo? Onde está a mãe de vocês? – me senti uma completa idiota ao fazer a pergunta que me atormentava há dois dias a duas crianças recém-saídas das fraldas.
- Foi levada pelos trouxas e colocaram você no lugar dela.
- Experiências? – perguntei.
- É.
- Mas mamãe é inteligente. Sabemos que ela vai voltar.
Sorri. A história que eles inventaram para justificar a presença de uma estranha no lugar de sua mãe era totalmente fantasiosa e ingênua, mas pelo menos eles tinham uma explicação. E sabiam que eu não era casada com Rony.
- Você vai bater na gente? – Diana perguntou, uma fagulha de medo estampada em seu rosto.
- Não! – apressei-me em dizer – Não gosto de pessoas que batem em crianças. Nem em adultos!
Os dois sorriram.
- Não se preocupe, nós vamos te ajudar. Depois do programa de Bertha Hornby no rádio. – Diana pegou a caixa com a varinha que Mavvle me enviou – E obrigada por isto.
Os dois saíram da cozinha.
Não pude fazer nada com relação à varinha, nem com relação a minha simpatia por eles. Eddie e Diana eram crianças maravilhosas, e seria impossível não se encantar por eles.
A escuridão anunciava que a noite estava cada vez mais próxima, e Rony ainda não havia voltado. O frio estava congelando meus pés, então acendi a lareira, sentando-me no sofá da sala. Diana brincava com a varinha de Mavvle e Eddie assistia TV. Sem poder mais me conter, perguntei.
- No que Rony trabalha?
Os dois pararam imediatamente o que faziam, provavelmente lembrando-se que eu era uma estranha e da promessa de me ajudar. Foi Eddie quem falou:
- Papai é auxiliar técnico do Chuddley Cannons.
- E o que vem a ser isso?
- Bem... ele ajuda o técnico no que ele precisa. Todos os problemas é ele quem resolve, mas quem leva os méritos é o técnico, sempre.
- E ele aceita isso?
- Papai gosta muito do que faz.
- Ele sempre diz – Diana falou – que tem tudo que precisa pra viver bem.
- E eu? Quero dizer... a mãe de vocês? O que ela faz? – eu estava ansiosa para saber qual o papel de uma mãe de família. Morei sozinha somente por dois anos, e embora tenha sido um grande desafio, eu não tinha que cuidar de duas crianças. E nem era casada com Ronald Weasley.
- Você tem uma livraria no Beco Diagonal.
- A Garatujas? – perguntei, lembrando-me da loja que eu visitara com Gina.
- Sim. É uma grande concorrente da Floreios & Borrões.
- E... o que eu faço l�?
- Isso a gente não sabe. Mas a tia Gina deve saber. Ela trabalha com você.
Antes que Eddie pudesse dizer mais alguma coisa, Rony aparatou no jardim, entrando em casa a seguir.
- Boa noite. – ele parecia extremamente desanimado. As crianças correram para abraçá-lo e eu não sabia o que fazer.
- Uh... está com fome, Rony? Posso preparar uma torta de abóbora em um instante! – resolvi dizer, levantando-me para que ele não pensasse em vir me beijar.
A reação de Rony, porém, não foi a esperada. Ele ficou parado me encarando como se pela primeira vez percebesse que eu não sou sua esposa. Tive esperança de que ele realmente percebesse o engano, então eu falaria de Mavvle, e nós dois juntamente com Harry tentaríamos descobrir o que estava acontecendo. Como nos velhos tempos. Mas assim como nos velhos tempos, a capacidade de percepção de Rony continua sendo mínima.
- Hermione... você sabe que eu odeio torta de abóbora!
"Droga! Droga! Droga!"
- Certo... então vou fazer alguns sanduíches de peru. – saí para a cozinha totalmente sem graça, mas não a ponto de evitar um sorriso quando me vi sozinha. Eu também odeio torta de abóbora!
- Após o jantar, as crianças se despediram de Rony com um beijo no rosto e um sonoro "boa noite papai" que achei lindo. Se Rony tinha uma vocação, certamente era ser pai. Logo se aproximaram de mim, fazendo a mesma coisa. Mas Eddie, em um sussurro praticamente inaudível, disse:
- Você entra às nove. Sempre tomamos café da manhã juntos.
