CAPÍTULO 8 – CARETAS NA ÁGUA
Fazia dias que Rony viajara com o Cannons. Por algum milagre, o time conseguira se manter até o final do campeonato, embora não tivesse a mínima chance de ser campeão.
Minha vida continuou com a mesma rotina maçante e cansativa. A diferença era que agora eu parecia entender bem melhor sobre os negócios, o que facilitava o meu trabalho em muitos aspectos. Eu sempre ficava após o expediente procurando algum indício sobre a loucura que minha vida havia se tornado.
Num desses dias, Gina entrou em minha sala sem bater.
Você não vai pra casa? – minha tentativa de esconder o livro que observava foi em vão. – Voltas no Tempo: Tudo que você precisa saber. O que é isso, Hermione?
Ah, um livro que estou analisando. Não quero vender qualquer porcaria aqui.
Ela ergueu uma sobrancelha, e se apoiou em minha mesa. Senti-me bastante desconfortável com o olhar que me lançou, e a encarei de volta. Era a minha vida, e Gina não tinha o menor direito de se intrometer.
Hermione, vou ser bem direta. Você se arrependeu de ter se casado com meu irmão?
Não, porque não me casei com seu irmão. /i
Queria ter coragem para dizer o que penso, mesmo que possa magoar as pessoas. Queria ter coragem suficiente para desafiar Gina, como Rony provavelmente teria feito. Como ele sempre fez.
Não pude evitar um sorriso. Era a primeira vez que eu pensava em Rony com uma certa saudade, e isso era completamente estranho.
Gina, acredito que esse seja um assunto pertinente apenas ao seu irmão e a mim.
Ela pareceu surpresa. Talvez não esperasse essa reação. Talvez a "esposa de Rony" devesse dividir segredos com ela. Como eu fazia quando estava em Hogwarts.
Tudo bem Hermione. Se não quer falar, eu entendo. Mas pense bem no que está fazendo. Porque esse assunto pode ser pertinente apenas a você e ao meu irmão, mas ele afeta todos que estão perto de vocês. Principalmente seus filhos.
Dito isso, saiu da minha sala sem olhar para trás, deixando-me sozinha com meus pensamentos e remorsos.
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Eddie e Diana pediram para dormir na Toca aquela noite. Apesar de me assustar com o contato direto que eles tinham com Fred e Jorge (e as conseqüências que isso poderia trazer) não consegui negar diante de tamanha empolgação.
Cheguei em casa cansada. Estar sozinha novamente era tudo que eu queria! Sem um marido, sem filhos, podendo apenas me dedicar a meu trabalho, e a tentar descobrir o que havia acontecido com minha vida. Sem interrupções, sem explicações sobre os livros estranhos que eu estava lendo.
Após algumas horas de pesquisa sem resultado, constatei algo estranhamente familiar, e que me deixou assustada: eu não estava feliz. Não tinha um objetivo claro. Estava ali, sentada na mesa da sala fracamente iluminada por uma vela, procurando algo que eu nem sabia o que era, e que tinha certeza de que não conseguiria encontrar.
Mas principalmente, eu estava sozinha e a casa parecia extremamente grande. Sem o barulho do rádio, sem a gritaria das crianças, sem as piadas sem graça de Rony... Céus, nunca imaginei que sentiria falta daquela múmia. Ainda me lembro perfeitamente bem das circunstâncias em que deixamos de nos falar, e também da raiva que senti dele por anos a fio. Mas agora não sabia se era raiva dele por ter desrespeitado minha privacidade e passado por cima das minhas vontades (mesmo que tenha sido para meu próprio bem) ou se era raiva por ele ter simplesmente sumido sem tentar se explicar.
Apaguei a vela e fechei os livros. Minhas pálpebras estavam pesadas e resolvi me deitar, apesar de saber que não conseguiria dormir. Estava muito frio e a cama era muito grande. Subindo as escadas, envolvida em minhas lembranças, pensei no fim que meu antigo diário poderia ter tomado em minha nova vida. Se eu havia me entendido com Rony, então o diário não deveria mais existir. Mas se existisse...
Corri até o armário e abri gaveta por gaveta, tateando-as minuciosamente. Não havia nada. Conjurei uma cadeira e subi para alcançar a porta do maleiro, onde ficava a maioria dos livros que eu usei em Hogwarts e não tinham mais utilidade.
E lá estava ele. A mesma capa vermelha, a mesma letra caprichada de anos atrás. As circunstâncias é que haviam mudado um pouco. Sentei-me na cama, segurando-o com firmeza e me perguntando se saber como a vida que eu não vivi, mas que agora era minha, tinha sido, ajudaria a entender todos os sentimentos estranhos e indesejados dos últimos dias.
Quando eu finalmente respirei fundo, pronta para abrir o diário, ouvi um barulho na porta da sala. Larguei-o imediatamente, pegando minha varinha e abrindo a porta. Desci as escadas cautelosamente, o coração disparado e a varinha em punhos. Mas ao ter uma visão da sala, me surpreendi. Rony estava jogado no sofá, com a expressão mais abatida que eu já havia visto em seu rosto.
Oi... – eu disse, esquecendo completamente do diário jogado em cima da cama.
Oi... tudo bem?
Meneei a cabeça em afirmação.
E você? Problemas?
Pra variar...
Quer conversar sobre isso? Talvez eu possa te ajudar de alguma maneira... – sentei-me a seu lado. Ele segurou minha mão.
Mione, eu acho que... bem, acho que você tem razão em se arrepender de ter casado comigo. Sou um fiasco.
Quem disse que me arrependo de ter casado com você? – me surpreendi dizendo - Rony escute... você não é um fiasco. Você é um pai maravilhoso, olhe ao seu redor, pra tudo que você construiu. Você tem essa casa, tem seus filhos que te amam... tem... tem a mim...
Ele aproximou-se de mim e encostou seus lábios em meu rosto.
Eu já disse hoje que você é maravilhosa?
Sorri.
Ei... Aquela viagem... Só nós dois... O que acha?
Mione, eles vão diminuir meu salário e...
Shh. – coloquei um dedo sob seus lábios – alguém aqui tá falando de dinheiro? Eu to falando de uma viagem com meu marido. Apenas isso.
Ele sorriu e me abraçou. E eu me senti a mulher mais realizada do mundo.
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Derwentwater era um lugar maravilhoso, e fez com que Rony esquecesse um pouco os problemas que enfrentava no serviço. Acho que após a morte do Sr. Weasley, ele tomou certo gosto pelos artefatos trouxas, e nos divertimos admirando a criatividade deles para viverem sem magia.
Em nosso último dia, resolvemos fazer um pequeno lanche no parque central.
Eu imagino esse lugar na primavera.
Deve ser maravilhoso... – respondi – caminhar por esse jardim repleto de flores coloridas...
Desde quando você se tornou uma pessoa romântica, Mione?
Ora... eu sempre fui romântica! Você que é um legume insensível e não percebe isso.
Legume insensível? – ele fingiu estar contrariado – ora, não foi isso que você disse ontem à noite...
Francamente Rony... você...
Vem comigo! – ele se levantou rapidamente, estendo a mão para mim.
Quê?
Vem comigo!
Segurei a mão dele, levantando-me ainda desconfiada. Porque ele precisa ter esses momentos de inspiração em que eu não tinha a mínima idéia do que ele pretendia fazer? Era horrível não ter o controle da situação. E com Rony eu nunca tinha o controle da situação.
Corremos até o lago, e ele se jogou na grama. Sentei-me a seu lado, observando nossos rostos refletidos na água cristalina. De repente, ele começou a mostrar a língua e fazer caretas estranhas, que se confundiam conforme a água oscilava. Eu ri.
Faz. Fica engraçado.
Isso eu to vendo... mas não. Não sei fazer isso.
Ah, claro que sabe. Vamos lá! Coloque um dos dedos na orelha... Isso, assim.
Não acredito que to fazendo isso!
Vamos, é divertido!
Passamos o resto da tarde sentados ali, na beira do lago, como duas crianças felizes e sem preocupações. Eu não me sentia tão feliz assim há muito tempo.
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N/A: Dedico esse capítulo especialmente à querida Cami Rocha, que tem me incentivado muito a continuar com essa fic.
