Na Australia tinha uma palavra que descrevia tudo aqui. Awks. Estranho.
Ela havia acabado de entrar na iniciativa Valorant e sabia que tudo aquilo seria estranho, afinal até então ela apenas prestava serviço de proteção em bases da Kingdom.
Muitos a chamariam de traidora, mas só quem passou um inverno na base secreta de Icebox poderia julgá-la. E com certeza não o fariam. A Kingdom era uma corporação corrupta e suja.
Todos pareciam legais, ao menos. O chefe era um senhor metido a moderno, mas que não conseguia esconder os velhos costumes de um sargento de exército. Havia o rapaz que entrava em chamas, extrovertido e as vezes até intrometido, a garota das bombas, que era divertida e alegre, uma espertinha que ficava construindo equipamentos, a mulher dos venenos... Mas entre todas aquelas pessoas ímpares, a que mais chamava sua atenção era o rapaz das fendas. Não era por seu topete azul ou de sua excessiva autoconfiança, mas o jeito que ele a encarava. Ele parecia alguém que ela conhecia de muito tempo, mas não conseguia se lembrar e aquele olhar dizia que ele também tinha essa mesma sensação.
O primeiro dia como Valorant foi corrido. Treinamento, apresentação da equipe, protocolos e burocracia. Não teve aquela ação esperada como desarmar bombas e salvar o mundo, mas foi um dia produtivo de qualquer forma.
Ela descobriu que o rapaz em chamas se chamava Phoenix e ele parecia ser um amigo leal. Já a menina das bombas era Raze, brasileira, isso explicava sua personalidade cativante. Soube de cara que Omen, o cara sombrio e triste, não era de muitos amigos, assim como Vyper, ou Sabine, bem... ela não descobriu como chama-la ainda.
Killjoy, uma mulher engraçadinha com forte sotaque alemão a levou para os alojamentos. Ela falava muito e muito rápido, o cansaço não ajudava a prestar a atenção. Mas quando Killjoy apontou uma porta dizendo que ali seria seu dormitório, ela respirou aliviada.
Ao entrar, seu folego faltou. Todo o alojamento era inspirado na natureza e em sua casa.
"Para se sentir confortável" – Killjoy disse sorrindo, para então fechar a porta.
Com certeza se sentiria, com todas as plantas e cheiro de terra molhada, como em um acampamento em dia chuvoso. Ela olhou para o espelho logo a sua esquerda, seus cabelos vermelhos estavam presos em uma trança quase se desmanchando e o rosto com sardas estava corado pelo sol, mas ela sorriu para si mesmo, e incentivou-se "Vamos Skye, você é capaz"
Ao tomar um longo banho quente, sua mente foi involuntariamente para o menino da fenda, Yoru, como se apresentara. Eles não trocaram uma palavra entre eles hoje, mas ela soube que ele era do Japão, de uma outra dimensão. Algo que era difícil de assimilar, mas explicava as fendas que ele era capaz de fazer. Skye não deixou de perceber que os dois trocavam olhares o tempo todo, como se quisessem falar algo, e isso a deixou desconfortável.
Skye era uma guerrilheira. Treinada de corpo e mente para ser forte. Ela tinha músculos definidos e mente aguçada para fazer seu trabalho e intimidar inimigos. Aquela situação com o rapaz da fenda a fazia se sentir vulnerável e frágil. Ela não queria parecer nenhum dos dois.
"É o topete azul, sua tola" Disse a si mesma, saindo do banho e preparando-se para dormir decidida em não deixar aquilo a tirar do foco.
O dia amanheceu e Skye foi a primeira a chegar no stand de tiro. Ela estava no horário, checou duas vezes o cronograma, estava certa que o treinamento seria ali e agora, mas nem mesmo o velho Brimstone estava lá. Alguns minutos de espera e mais alguém chegou, era ele, o topete azul.
"E aí garota das flores, chegou junto com o sol?" – Ele lhe deu um meio sorriso presunçoso.
"Bem, aparentemente nem todos são pontuais aqui, e não me chame assim" – Ela disse séria, checando novamente o cronograma, um tanto nervosa.
"Assim como?"
"garota das flores" Ela respondeu ainda encarando o tablet de cronogramas, não daria a ele o gosto de ver seu rosto corar.
"hum... então como devo chama-la? Talvez seja melhor chamar de... Florzinha?"
Ela levantou o rosto preparada para retruca-lo com uma resposta mal educada, mas se deparou com ele ao seu lado, próximo demais, encarando com aquele meio sorriso presunçoso.
Os dois se encararam por alguns segundos ate ouvirem a voz do Phoenix
"Ah, parece que o Yoru já está perturbando a novata, Raze" disse entrando no stand com Raze ao seu lado, coçando o olho sonolenta.
"pois é, pois é" Raze respondeu entre um bocejo.
Yoru se afastou dando uma risada "Você é o especialista em perturbação, Phoenix, não vem com essa"
"Bem, eu com certeza sou melhor que você em muita coisa, mas não nisso"
"Não comece vocês dois" Raze interrompeu, erguendo os braços num movimento preguiçoso.
Phoenix estava preparado para responder, quando Brimstone entrou no stand acompanhado de Sage e Vyper. Logo mais os demais valorantes apareceram. Com exceção de Cypher e Omen, que iriam para uma missão isolada.
"Vamos, soldados, apresentem-se em seus lugares e vamos começar!" Brimstone ordenou.
Todos foram buscando seus lugares, Yoru se afastou, mas não antes de falar "Vamos florzinha, atirar em alguns bonecos"
Skye apertou a mandíbula e pensou: "Definitivamente não é só o topete!"
