Nota da autora: no presente capítulo, Kanon e Saga estão con vinte e seis anos de idade. A parte do reencontro deles foi narrada com detalhes na fic "Triângulo Dourado". Já escrevi essa fic há dezesseis anos, mas ainda a adoro e a considero uma das principais que fiz com o canon de Saint Seiya.

O período seguinte, no qual em minhas fics Saga passa a ser escravo de Kanon e de Lemur por treze anos, vai ter mais alguns "flashes", pois tem a nossa tão querida interação dos gêmeos, rsssss!

No mais, enjoy it!

OoOoOoOoOoOoOoOoO

Meu menino, meu milagre

VI

Ele não morreu.

Esse agora é o meu pensamento corrente. Às vezes ainda penso se tratar de uma ilusão, como o cri firmemente no começo. Mas não: os dias e meses se passaram, e Kanon continua vivo. Vindo até mim. No começo, vinha apenas de três em três dias, ou uma vez por semana. Mas agora vem todos os dias, para dormirmos juntos, como fazíamos antes de nossa amarga separação.

Tal constatação me dá um alívio imenso. Ao sabê-lo vivo, foi como se um alicate em brasa houvesse sido retirado de meu coração. E eu, que por seis anos cri que era "tarde demais" para ele... que somente o veria outra vez em outra vida... de repente o tenho vivo em meus braços outra vez.

Durante os seis anos nos quais o cri morto, eu erguia minha voz aos céus, perguntando porque Pólux tivera suas preces atendidas e eu não. Eu passava pelo luto mais intenso que um ser humano poderia passar, e no entanto tudo que obtinha era silêncio e solidão.

Eu sabia a resposta. Pólux não havia matado o próprio irmão. Eu sim. Por isso não era digno sequer de alívio ou resposta.

E num belo dia - ou melhor, numa bela madrugada - finalmente o silêncio sepulcral foi quebrado. Kanon voltou a mim, finalmente. Eu pensei que era um sonho ou alucinação, mas ele me bateu. Sim, ele havia vindo para se vingar de mim. Eu não me importava com seu ódio: se ele estava vivo, isso a mim já bastava.

Meu irmão não conseguiu me matar. Ainda nos amávamos intensamente, por mais que desaprovássemos os comportamentos um do outro. E após nosso reencontro, eu vivia fechando os olhos, esperando que na verdade aquilo não passasse de um sonho bom demais para ser verdade. Quando abria os olhos, todavia, ele ainda estava vivo. E eu sorria, e o beijava fartamente nos lábios, no rosto, no colo, e o apertava contra mim... durante o período de luto, tudo que eu pedia era para vê-lo uma última vez, e dar-lhe um último abraço e um beijo, e dizer o quanto o amava... quando vi que ainda podia fazê-lo, os carinhos que antes eram corriqueiros, se transformaram em algo excepcional; como se fosse água dada a alguém que por água pediu durante anos, sem recebê-la, e então a recebia aos montes.

E é assim até agora. Já fazem alguns meses desde que reencontrei meu gêmeo, e a euforia ainda é a mesma. O primeiro pensamento que tenho ao acordar é justamente o de que Kanon não morreu. De que eu não o matei. E um imenso alívio toma conta de minha alma. Quase me sinto capaz de sorrir outra vez.

Preparei uma oferenda de olivas e ramos da mesma oliveira e levei para a estátua de Atena, a fim de agradecer pelo fato de que Kanon nao morreu. Não sei se foi ela ou outro deus quem o salvou; no entanto, penso que devo agradecer mesmo assim. Enfim eu fui ouvido, embora tenha pensado que não havia sido.

Quando chego aos pés da estátua, porém, me sinto envergonhado. Apesar de Kanon estar vivo, tudo aconteceu de maneira muito mais... trágica, por que não dizer?

Meu irmão sobreviveu, Mas Shion foi morto. Aioros também foi morto - embora jamais tenham encontrado seu corpo. Eu continuo sob o domínio do demônio. Atena quase foi morta e acabou exilada de seu próprio Santuário. E quanto a Kanon... bem, ele encontrou uma entrada para o Reino Submarino de Poseidon. De rapaz recluso e totalmente sem contato com o mundo externo, ele passou a um poderoso comandante, com muito poder sobre um deus e seus exércitos.

E eu... eu sequer posso reagir da maneira que quero, quando quero e como quero!

O demônio tem-me deixado interagir com Kanon com certa frequência, pois pouco antes de meu gêmeo vir até mim, eu quase consegui cometer suicídio. Mas eu sei que isso ocorre somente para me manter cativo dele. Kanon é apenas um motivo para que eu continue vivo afinal de contas.

Isso sem contar que eu e meu irmão vivemos brigando. Muito mais do que antes de nossa separação. Pois ele agora vive a me jogar na cara que eu quase o matei... e também adora ostentar que tem muito mais poder do que eu jamais poderia imaginar. E de qualquer forma, ao estar a situação como está, é bem provável que qualquer outro deus, e não Atena, tenha salvado Kanon afinal de contas.

Ele e o demônio, também, vivem muito mais juntos e tramam contra Atena e contra mim. Kanon não conseguiu me matar, mas se vinga ao me oprimir e a dizer que jamais me libertará de minha atual prisão - prisão essa a qual é muito pior do que a que ele enfrentou no passado.

Foi um enorme erro. Eu jamais deveria tê-lo prendido, e sim... e sim deveria tê-lo matado e me suicidado logo em seguida.

É muito egoísta de minha parte ficar aliviado pelo fato de Kanon ter sobrevivido. Pois a ordem do Santuário foi distorcida, bem como o Templo de Poseidon foi diretamente afetado, apenas por causa de um erro meu... apenas por eu ter tentado poupar a minha própria vida e a de meu irmão.

Tomo a oferenda e ensaio sair da presença da estátua da deusa sem entregá-la, mas algo reverbera dentro de mim para que eu a entregue mesmo assim. Então eu vou até a estátua, coloco a oferenda a seus pés e declaro, escondendo o rosto de vergonha:

- Perdoe-me, senhora. Eu sei que já não está mais aqui neste Santuário, porém espero que, de alguma maneira, possa escutar as minhas palavras. Eu sei... que o cenário é deveras trágico, e grande parte da culpa é minha. Não devo culpar somente ao demônio, mas sim a mim mesmo em primeiro lugar: eu me coloquei à mercê dele. Sei que não devia estar feliz por ter meu gêmeo vivo, pois o comportamento dele ainda é pérfido... mas esse, infelizmente, é o meu tendão de Aquiles. Kanon é a minha fraqueza... por favor, mais uma vez, perdoe-me! Pois apesar de tudo eu amo muito o meu irmão.

Levanto-me e estou prestes a voltar a meus aposentos, quando repentinamente, sem que eu viesse a esperar, ouço uma voz a responder meu apelo anterior:

"Não se preocupe! Amar muito o seu irmão não é pecado algum. Eu também o amo muito, e agradeço a sua oferenda!"

Volto meu olhar para a estátua, perplexo. Céus! Durante seis anos somente obtive silêncio; mas agora, além de ter descoberto que Kanon sobreviveu... será que recebi uma mensagem direta da deusa? Mesmo eu tendo pecados tão grandes, e mesmo sua encarnação estando tão longe daqui?

Ela... aceitou a minha oferenda? Ela... também ama Kanon? Será que, no final das contas, foi Atena quem o salvou?

Como então, se a situação é tão tenebrosa?

Caminho até a Sala do Mestre, ainda cheio de pensamentos e sentimentos sobre o que acabou de acontecer.

To be continued

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Ai geeeeeeeente, finalmente o Saguinha está recebendo alguma assistência da deusa, rssss! É que em minhas fics o fato de ela auxiliar o Kanon mas deixar o Saga na "sofrência" foi justamente para deixá-lo assumir as consequências do que fez. Ou seja, se ele quebrou a hierarquia e quis resolver tudo sozinho, em vez de comunicar pro Shion... bem, ele que arcasse sozinho também.

Se bem que eu acho que o Kurumada nunca pensou muito nisso. Mas eu penso, rsssss!

E é claro que Atena amava muito o Kanon. Senão não teria dado toda aquela assistência a ele! Até na Batalha de Hades, na fase Santuário, ela deixou ele ficar lá com ela, em vez de descer pra Casa de Gêmeos!

Beijos a todos e todas! Estou cada vez mais empolgada com essa fic!