Título:
Sobrevivente Relutante
Autor: Ptyx
Casal: Severus
Snape/Harry Potter
Censura: M
Aviso: inclui
informações constantes no sexto livro
(spoilers)
Gênero: Hurt/Comfort, Romance
Resumo:
Severus não esperava sobreviver. Mas Harry precisa de sua
ajuda. Outra vez!
Disclaimer: Os direitos pertencem a J. K.
Rowling, Bloomsbury, Scholastic, Warner Brothers, etc., e só
eles ganham dinheiro com isso.
Esta história é dedicada ao meu querido amigo Marck Evans.
Capítulo 1 - Sobreviventes
— Potter? O quê... ?
Ao pé do leito de Severus Snape em St Mungus, Harry sobressaltou-se. Finalmente Snape estava acordando. Harry estava esgotado, não agüentava mais esperar. Era o segundo dia que Harry passava ali, junto a Snape, desde que Snape havia saído do coma e fora autorizado a ter um acompanhante no quarto. No entanto, ninguém aparecera para saber dele — apenas McGonagall e Harry. Seus amigos, se é que ele os tinha, deviam ser todos Comensais da Morte procurados pelos Aurors. McGonagall, como Diretora de Hogwarts, não podia permanecer muito tempo em St Mungus. Então, para a surpresa de todos, Harry se oferecera para ficar com ele.
Era o mínimo que podia fazer pela pessoa que lhe salvara a vida, mas, na verdade, Harry tinha mais um outro motivo para ficar.
— Snape.
— O que aconteceu?
— Você se colocou na minha frente na hora em que Voldemort lançou o Avada Kedavra.
— Eu sei disso, Potter. O que não entendo é... por que estou vivo. A não ser que você também tenha morrido, e isto seja o inferno. Não me surpreenderia, se fosse.
Harry olhou para o teto.
— Por que diabos eu queria que você acordasse, afinal?
— Não tenho a menor idéia, mas se não responder à minha pergunta... aaah!
Snape tentara se levantar, mas aparentemente se sentira tonto demais para isso. Harry depositou a mão sobre seu braço.
— Fique quieto. Você esteve em coma durante vários dias, e só ontem começou a recuperar a consciência.
— O que não entendo é como diabos estou vivo.
— Quando o Avada Kedavra o atingiu, você tombou, aparentemente morto. Mas uma fênix desceu dos céus, pousou junto a você e...
— Isso é estúpido. Ninguém sobrevive a um Avada Kedavra... Ahn. Eu devia saber. Isso deve ter algo a ver com Albus. Ele deve ter criado uma Horcrux para mim, ou coisa parecida.
— Isso é possível?
— Não sei, Potter. O que sei é que Albus não consegue deixar de se intrometer na minha vida, nem depois que...
Uma expressão de dor se refletiu no rosto de Snape, mas Harry sabia que aquela dor não era física.
— Descanse, você ainda está muito fraco — disse Harry, ainda com a mão repousando sobre o braço de seu ex-professor.
Snape fechou os olhos e dormiu novamente. Harry voltou a sentar-se na cadeira ao pé do leito e ficou a observá-lo.
Snape, ex-Comensal da Morte, ex-mestre de Poções e Defesa contra as Artes das Trevas. Snape, que contara da profecia a Voldemort e provocara a morte dos pais de Harry. Snape, assassino de Dumbledore. E agora Snape, que o salvara de Voldemort e fora aparentemente salvo pela fênix. Quantos mistérios se ocultavam por trás daquele rosto inescrutável que, em certos momentos, se deixava dominar por intensas emoções que Harry não conseguia entender?
Snape agora se agitava, provavelmente em meio a um pesadelo, e virava de um lado para o outro. Todo o dia anterior havia sido assim. Em vários momentos, Harry ouvira Snape suplicar a Dumbledore que não lhe pedisse para fazer aquilo; em outros, ele parecia estar revivendo episódios sob Cruciatus e outros feitiços hediondos. Agora Snape parecia reviver um momento especialmente doloroso.
— Lily... Me perdoe... Eu não sabia.
Harry mordeu o lábio e uma sensação de enjôo o invadiu. Snape... e sua mãe?
oOoOo
Harry acordou com uma sacudidela no ombro e uma voz insistente:
— Acorde, Potter.
— Er... O que é, Snape? Me deixe em paz.
— Onde está a minha varinha?
— Eu escondi para que eles não a tomassem — resmungou Harry.
Snape ficou em silêncio por um instante.
— Entendo. Eu sou um prisioneiro aqui. Isso aqui é St Mungus, não?
— É.
— E vão me levar daqui direto para Azkaban. Por que você está aqui? Por que não está comemorando com seus amigos, dando entrevistas ao Prophet, se agarrando com sua namoradinha ou aprontando mais alguma das suas?
— Porque isso tudo é muito entediante, Snape, e eu prefiro ficar ao pé do leito do cara que eu mais odeio no universo esperando que ele recupere a consciência.
— Se está fazendo isso por algum sentimento de culpa ou dever, esqueça. Nada do que eu fiz para derrotar o Lord das Trevas foi por você. Pode ir embora.
— Eu sei! Eu sei que não foi por mim. Foi pela minha mãe, não é? Você a amava.
O rosto de Snape revelou surpresa, depois dor, e depois raiva outra vez.
— Não é da sua conta.
— Eu devia ter adivinhado. Dumbledore praticamente me contou. Mas eu era muito criança para entender.
— Como se agora você fosse muito maduro — disse Snape, mas com uma voz cansada e sem o veneno habitual.
Harry nem registrou a provocação.
— Como ela era? Ninguém nunca me fala dela.
Snape balançou a cabeça.
— Aqui é o inferno, não é? Só pode ser. Não faz sentido eu estar vivo, doente e tendo de escutar o filho de James Potter me fazer perguntas sobre sua mãe.
Harry afundou na cadeira, perdendo o ânimo.
— Eu só queria saber como era minha mãe.
— Potter, cada pessoa que a descrever provavelmente terá uma visão diferente. Você jamais saberá como ela era.
— Muito obrigado. Eu deveria saber que você me daria respostas fantásticas e reveladoras.
Snape suspirou.
— E você acha que é muito maduro.
Harry não respondeu, e o silêncio se estendeu por vários minutos. Quando seus olhos se encontraram, Snape disse:
— Ela era inteligente, divertida e... — Snape desviou os olhos dos de Harry — era a única pessoa corajosa o bastante para conversara comigo. Eu sempre fui...
— Estranho?
Snape fuzilou-o com os olhos e não respondeu.
Lupin havia dito que Lily era popular. Harry entendia por que um garoto como Snape — Harry se lembrava de tê-lo visto na penseira, magrinho e pálido como uma planta que não vê a luz do sol — iria se apaixonar por uma garota como Lily. Não quis insistir e forçar alguma declaração ainda mais pessoal. Seria embaraçoso demais.
— Vamos dormir, sim? Eu estou com sono.
Harry tirou as vestes e vestiu a camisola diante de Snape, que não tirara os olhos dele por um só instante. Por alguma razão, a forma como Snape olhara para ele o fez corar. Harry não entendeu por quê — afinal, eles eram homens, e não devia haver embaraço entre eles. Mas Harry não quis se aprofundar muito e descobrir por que ele mesmo reagira assim.
Entrou debaixo das cobertas e se virou para ficar de frente para Snape, que ainda o fitava em meio à semi-escuridão do quarto.
— Potter, me diga só uma coisa — disse ele, em voz baixa e pausada. — Você me odeia. Sempre me odiou. E eu sou, na sua opinião, o assassino de Dumbledore. Então...
— Não. Você não é o assassino de Dumbledore. Eu sou.
— Que asneira é essa?
— Pensa que não sei? Eu e meus amigos tivemos de investigar o que havia acontecido, para encontrar o medalhão e destruir o feitiço sobre ele. E descobrimos que aquela poção que eu fiz Dumbledore tomar na caverna era um veneno para o qual não há antídotos. Dumbledore iria morrer, de qualquer jeito. Por minha causa.
Harry fechou os olhos, mas os abriu ao escutar Snape bufar.
— Não seja idiota. Albus estava condenado desde que tentou destruir o feitiço de horcrux do anel e foi atingido pelos feitiços de proteção. Eu consegui apenas adiar a sua morte, mas ele não iria resistir muito mais tempo. Consciente de que tinha poucos meses de vida, ele os dedicou totalmente à busca das Horcruxes, e sabia muito bem que não iria resistir. Ele sabia que o Lord das Trevas havia exigido a Draco que o matasse, e que eu fora obrigado a proferir um Juramento Inquebrável com Narcissa. Ele me fez prometer que o mataria no momento certo, ou seja, quando ele decidisse que era o momento certo. E eu, como sempre, obedeci.
A cada palavra de Snape o coração de Harry batia mais rápido. Harry não tinha por que duvidar da palavra de Snape. Sabia como Dumbledore podia ser persuasivo e impositivo. Ele próprio fora obrigado a prometer obediência cega a Dumbledore, o que o levara a obrigar o Diretor a tomar uma poção que acabaria por matá-lo. Harry sabia que aquilo que Snape lhe estava relatando era a única explicação que fazia sentido. Durante um ano odiara Snape até mais do que a Voldemort. E agora via o quanto se equivocara.
— Eu... sinto muito — foi só o que conseguiu dizer.
Harry voltou os olhos para o rosto daquele a quem outrora odiara, e o viu fechar seus olhos.
— Eu também sinto muito, Potter, você não sabe quanto.
oOoOo
No quarto dia, Snape parecia bem melhor. O que significava que recuperara a sua plena capacidade de ser irritante.
— Você não tem mesmo nada para fazer? Hogwarts não vai voltar a funcionar?
— Eu não quero continuar estudando — respondeu Harry.
— Está louco? Você não queria ser Auror?
— Não quero mais.
— Potter, acha que só porque você é o Garoto de Ouro do Mundo Mágico e salvou a todos do perverso bruxo das trevas agora você...
Harry estourou.
— Chega! Me poupe dos seus sermões, sim? Mesmo porque, você está enganado outra vez. Eu não salvei ninguém.
— O que quer dizer?
— Olhe para a sua Marca.
Snape franziu o cenho, sem compreender. Então tirou o braço de baixo dos lençóis, arregaçou a manga do camisolão e observou o local da Marca. A Marca estava bem pálida, mas não havia desaparecido. Exatamente como da primeira vez em que Voldemort fora derrotado.
— Como...?
— Não sei, Snape, não sei como. Eu, Dumbledore e meus amigos destruimos todos os seis horcruxes: o diário, o anel e o medalhão de Salazar Slytherin, a taça de Helga Hufflepuff, a varinha de Rowena Ravenclaw e Nagini. E matamos Voldemort. No entanto, de alguma forma, ele ainda está vivo.
Um brilho estranho despontou nos olhos de Snape, até então inescrutáveis e sem vida.
— Porque existe uma outra Horcrux que não foi destruída.
— Porque eu sou uma Horcrux — despejou Harry.
Snape ergueu o torso de imediato, o rosto contorcendo-se em angústia.
— Isso é horrível demais para que eu possa conceber.
— É a verdade. Hermione me alertou para essa possibilidade, e eu não quis acreditar. Mas é a única explicação possível.
Snape afastou as cobertas e sentou-se com as pernas para fora da cama.
— Potter... Tire-me daqui. Vamos para algum lugar seguro, só você e eu.
— Mas você ainda não se recuperou...
— Não temos tempo a perder. Aparate comigo para fora daqui.
Harry passou a mão pelos cabelos revoltos, sem saber o que fazer. Então Snape o puxou para junto de si.
— Vamos, Potter. Aparate, senão eu vou ter de usar de métodos mais... drásticos.
— Solte-me — disse Harry, irritado, e surpreendeu-se ao ver Snape obedecer. — Vamos fazer isso direito, sim? Você está doente e, se rachar porque não aparatou direito, vai acabar se estrepando.
Harry passou o braço ao redor do de Snape, mostrou-lhe um papel com uma declaração de Aberforth Dumbledore e concentrou-se em seu sobrado em Hogsmeade.
Continua...
