N/a: Esse capítulo acabou por ficar um pouco mais curto, mas tem alguns pontos importantes para o desenvolvimento da história. lylysil, IASBr, Sallyb25, pemsnowy, Maria Teresa C, e guest: Está sendo ótimo acompanhar as especulações de vocês. Fiquei feliz com as descrições, de uma história intrigante e misteriosa, confesso que não a via tanto por esta ótica. Quanto à questão da aparência física de Lucy, não é incomum que pais com olhos escuros e cabelos escuros tenham crianças com características mais claras. Na minha família temos alguns casos :)


Capítulo 7 - Uma visita

Alguns dias depois Elizabeth caminhava até a casa da tia, depois de tomar café com Charlotte e passar na fábrica de James. Estava quase chegando à rua, que era próxima da zona industrial, o que também facilitava o trabalho de seu tio. Ao ver uma moça do outro lado da rua parou, reconhecendo-a. Depois de se questionar, por alguns segundos, se deveria ou não falar com ela, tomou uma decisão repentina, atravessando a rua.

-Mrs. Davie!

A mulher se virou rapidamente, mirando-a por alguns segundos antes de exclamar:

-Lizzy! Quase não a reconheci!

-Faz muito tempo, realmente.

-Sim, pois quando nos encontramos da última vez você era recém-casada! E eu só tinha John e Charles, não? Tive mais dois desde então!

-Fico feliz por você, da última vez que nos vimos você havia manifestado o desejo por uma família maior.

-Sim, sim. Mas o tempo que passamos na Escócia não ajudou muito esse intento. Meu marido passa tempo demais com os afazeres dele, mas você com certeza entende disso. Como está o James?

-Ele morreu há um ano, Emma.

-Lizzy! - a mulher colocou a mão sobre o peito, os olhos arregalados - Eu não sabia! Voltamos para Londres há pouco mais de um mês, ainda não tive tempo… o James? Ele tinha a idade do meu John, não? O que aconteceu?

-Escarlatina.

-Oh, Lizzy, eu sinto muito! Eu me sinto tão mal agora de não ter escrito para você! Mas eu pouco escrevi nesse período, havia tanto a se fazer e se preocupar, meus mais novos também andaram doentes com aquele clima abominável da Escócia. Até fiquei feliz em voltar para Londres, imagine só! Mas o James! Essa notícia realmente me chocou! Como você está? Oh, ele deixou filhos?

-Sim, foi um choque quando aconteceu mas estamos conseguindo nos adaptar à nova situação. Somos apenas eu e minha filha, Lucy.

-Oh, pobrezinhas! Se precisar de algo de mim, qualquer coisa... - a mulher parou de repente, e Elizabeth sentiu como se pudesse ver uma ideia se formando em sua cabeça - Oh, eu já sei! Posso te apresentar a um primo de John, ele acabou de voltar das Índias e está à procura de uma esposa!

-Emma, eu não acho que…

-Oh, mas não seria incômodo nenhum! Tenho certeza que você vai adorar ele! Ele é novo, mas já um Capitão! Os pais dele o apresentaram à Rainha Charlotte, minha querida!

-Admirável, realmente. Mas eu não estou à procura de um marido.

-Ah, você já encontrou um então?

-Não, não encontrei e não estou à procura. Como disse, estou me virando muito bem.

A mulher mais uma vez colocou a mão no peito, surpresa.

-O que você quer dizer? Você não pode continuar a viver assim, sem um marido!

-Tenho vivido assim, Emma.

-Sim, porque estava no período de luto. Mas agora precisa dar um jeito na sua situação. Menina tola, não sabe que nós sozinhas não conseguimos florescer nessa sociedade? Ouça a voz da experiência e me deixe ajudá-la, querida Lizzy. Pois eu sei o que podemos fazer. John e eu estávamos pensando em organizar um baile para marcar nosso retorno a Londres. Essa seria a chance perfeita para você conhecer o Capitão Horton! Sim, faremos isso! Você será avisada sobre o baile em breve. Oh, foi tão bom conversar com você! Fico tão feliz de poder ajudá-la!

Elizabeth se despediu da mulher, se arrependendo amargamente de ter falado com ela. Emma Davies havia ajudado-a muito no início de seu casamento, a educando em vários aspectos de uma vida que, para ela, era nova. Mas ela se esquecera do hábito de Emma de falar sem ouvir, assim como assumir responsabilidade por questões que não eram suas. Ela sempre deixava a conversa com a impressão de ter sido atropelada por algo grande e rápido.

~X~

-Você está bem, Lizzy? - perguntou Mrs. Gardiner assim que a sobrinha entrou na sala.

Ela garantiu que estava tudo bem, e se abaixou para abraçar os primos, que correram ao seu encontro. Ela se sentou no sofá mas Henry, o filho mais novo de sua tia, ficou em seu colo.

-Você se lembra de Emma Davies? Tomamos chá com ela algumas vezes, vários anos atrás.

Mrs. Gardiner riu.

-Sim, impossível esquecê-la.

-Eu acabei de encontrá-la.

-Oh, por isso você parece cansada.

As duas riram, mas a tia adicionou:

-Ela é uma ótima pessoa. Apesar de ter se casado com um homem rico, teve um pai comerciante, e não se esquece disso. O tanto que ela lhe ajudou no início!

-Aparentemente ela quer continuar me ajudando. Ela disse que já tem alguém em mente para me cortejar.

-É claro que ela tem.

-Ela quer dar um baile, para apresentá-lo à mim.

-Bastante trabalho apenas para apresentar um cavalheiro para você.

-Tenho certeza que ela já iria dar o baile de qualquer forma, agora só tem um motivo a mais.

-E você não parece muito empolgada com o evento.

Elizabeth suspirou, vendo o primo descer de seu colo para se juntar aos irmãos, que folheavam e recortavam um jornal velho, fazendo dobraduras.

-Toda a minha determinação em voltar à vida normal da sociedade londrina se esvaiu depois de alguns eventos, tia. É tudo tão cansativo, ainda mais agora que estou disponível. É um jogo do qual não tenho muita paciência em participar.

-Deixe-me ir em seu lugar! - disse Eliza Gardiner, do topo de seus oito anos, observando a conversa das duas. - Usar um vestido de baile e dançar com cavalheiros seria uma noite dos sonhos!

As duas mulheres riram e Mrs. Gardiner disse, de forma carinhosa:

-Sem pressa, Eliza. Você terá tempo o suficiente para ir a bailes e se cansar de bailes, com certeza.

~X~

Foi com surpresa que Elizabeth e Charlotte viram ninguém menos que Miss Darcy entrar na sala de visitas de Portland Place em uma tarde amena.

-Espero que não tenha vindo em má hora. - ela disse, as mãos rígidas ao lado do corpo. - Foi gentil de sua parte nos visitar, imaginei que poderia retribuir a gentileza.

-De forma alguma. - disse Elizabeth, depois de alguns segundos sem reação. - Por favor, sente-se. Vou pedir que nos tragam chá.

Visivelmente aliviada, Georgiana se sentou na poltrona que ela oferecia, de frente para aquela em que Elizabeth e Charlotte estavam sentadas.

-Meu irmão está ocupado com seus negócios, por isso não veio. Ele me sugeriu que viesse. As tardes podem ser bem enfadonhas quando ele não está em casa. Sua casa é aconchegante, Mrs. Sheffield.

Ela disse tudo isso em um fôlego, como se tivesse praticado, e Elizabeth se compadeceu da menina.

-Por favor, me chame de Elizabeth.

-Então insisto para que me chame de Georgiana. - disse a menina, seu rosto se iluminando.

-Georgiana, agradeço seu elogio. Imagino que, apenas com você e seu irmão, você se sinta solitária. É uma pena que você não tenha irmãs.

-Você tem irmãs, Mrs... ah, Elizabeth?

-Tenho, quatro.

O rosto da menina se abriu em um sorriso.

-Deve ser maravilhoso crescer com tantas irmãs!

Charlotte e Elizabeth trocaram um olhar confidente.

-Quando não se está discutindo, se está brigando. - disse Charlotte, rindo. - Com certeza não é nada solitário.

-Você também tem irmãs, Miss Lucas?

-Três irmãs e quatro irmãos. Nunca soube o que é uma vida enfadonha. -ela disse isso com bom-humor, mas se arrependeu ao notar uma ponta de tristeza no olhar da menina.

-Quais são seus planos para o resto do verão? - perguntou Elizabeth, rapidamente mudando de assunto.

A menina demorou um pouco a responder, já que havia acabado de receber a xícara de chá das mãos de Elizabeth.

-Não sei bem. Normalmente passamos parte do verão em Pemberley, mas este ano meu irmão está decidido a ficar em Londres.

-Ele aprecia a temporada em Londres?

-Acredito que não. - disse a menina, se permitindo uma curta risada. - Imagino que tenha questões para resolver aqui.

A conversa prosseguiu e, depois de alguns minutos, Georgiana parecia mais à vontade. Ela falou a respeito do irmão, de Pemberley, e de suas lições de música.

-Agradeço sua hospitalidade. - disse a menina depois da curta visita. - Por favor, não hesitem em voltar a nos visitar. Terei muito gosto em recebê-las.

A frase foi dita com tanta sinceridade que Elizabeth não pôde deixar de sorrir.