Título: Mahabarata
Sumário: Acabaram as Guerras Santas e, ainda assim, o mundo vai de mal a pior. Para quem acreditava ser a salvação, isto é, no mínimo, confuso. Ainda atormentando o Cavaleiro de Virgem, crises insones, e supostos delírios. E por aí vai!
Observação: Não, eu não criei Saint Seiya, e o tio Kurumada não deu de bandeja pra mim o seu sustento. Mas, fazer o que, cismei de escrever!
Pequenos fatos a serem esclarecidos: "Mahabarata" significa "Grande Guerra", uma epopéia da mitologia hindu. Pesquisei um pouco sobre ela, principalmente após constatar que é mais lógico o Shaka ser hindu que budista - já que o budismo quase não existe na Índia e, de qualquer forma, Buda faz parte da mitologia hindu. Seja como for, não me matem!!
Mais uma coisa! Eu escolhi as cores dos cabelos a bel-prazer. Na maior parte, mantive as cores do anime, mas deixei Camus e Milo como ruivo e loiro, feito no mangá. Por quê? Porque adoro franceses, e adoro ruivos. XD
------------------
Os passos apressados daquele menino ao atravessar minha casa ecoaram com um peso maior que o costumeiro. Soavam lentos, como se o ar - não, o tempo - estivesse mais denso.
E realmente estava, de certa forma.
O silêncio, algo de praxe em um santuário, pairava como a peste, incômodo. Parecia um grito eterno, anunciando a desgraça que viria. Ou, como percebi, após me dar ao trabalho de subir alguns degraus, era um tom agonizante, devido à miséria já instalada há muito.
Enfim, o começo de tudo passou direto pela minha casa, nas mãos de um assustado e esquálido moleque de joelhos ralados. Atravessou outras quatro, chegando exausto à décima, onde entregou ao sisudo sujeito que o aguardava um envelope de papel pardo, já um tanto amassado.
Os dias que passamos sem notícias do Shura pareceram séculos.
Demoramos - ao menos eu demorei - para saber o que estava acontecendo: o vazio que imperava desde a escolha do novo Mestre dificultava as coisas. Só aos poucos a notícia começava a se espalhar. Imagino que o ponto de partida tenha sido um dos exemplares do "Le Monde", do Camus - ele era o único com paciência para manter uma assinatura de um jornal que chegava com alguns bons dias de atraso. Afinal, convenhamos: este santuário fica bem próximo do fim do mundo. Para chegar aqui, desde pessoas até cartas - jornais inclusos -, é preciso passar por uma série incontável de vilas, uma menor que a outra até que, na mais próxima daqui, algum guia ou mensageiro traga o que é esperado até nosso território.
Não foi o Camus quem disse a primeira palavra - como sempre. E também não foi nenhum de nós que pediu o jornal emprestado, para ler entre um afazer e outro. Entre quatro gregos, um sueco, um indiano, um tibetano, um italiano e um brasileiro que jamais freqüentaram um colégio, quem diabos seria capaz de ler o jornal mais influente da França?
Ainda assim, nem mesmo para o Milo seria muito difícil associar uma foto cruel como aquela, com o nome "Madrid" perdido em algum ponto na legenda e o que todos podíamos sentir que acontecia com Shura. E mesmo depois da notícia sobre o atentado ter se espalhado pelas doze casas, ninguém foi capaz de se manifestar. O tempo dilatava-se, o ar pesava. Agora que pela primeira vez estávamos em paz, parecíamos completos estranhos. E talvez realmente sejamos.
Seja como for, decidi fazer o caminho até a casa de Capricórnio. Livre da armadura - ela vinha se mostrando cada vez mais útil como objeto de decoração -, passei o mais silenciosamente pela casa de Virgem, posto que já percebera que Shaka vinha tendo crises insones. Na casa de Libra segui em passos rápidos: aquela casa, vazia desde que me entendo por gente, sempre me pareceu alerta demais. Cumprimentei Milo vagamente, e ele me respondeu de forma mais distante ainda. Aparentemente, andava ocupado demais em encontrar uma forma de expurgar o novo Mestre. É certo que eu mesmo não me conformo com a escolha de Athena, mas quem sou eu para contestar?
Ao contrário do que fiz em Libra, me demorei um pouco na casa de Sagitário. Quando não queria estar sozinho, por vezes eu me refugiava por lá, buscando a presença de meu irmão. Bem como a casa de Libra, eu sentia vida pulsando naquelas paredes mas, nesse caso, não era como uma força ancestral, mais antiga que eu poderia imaginar. Era só meu irmão. E isso era tudo de que eu me cercava, para estar bem.
Não precisei - e sequer pensei em - anunciar minha chegada, mas Shura não esperava por mim na entrada. Estava quieto em um canto com pouca iluminação, e mesmo assim era evidente que não dormia bem fazia dias. Os cabelos estavam mais desgrenhados que de costume e uma barba rala começava a tomar conta de seu rosto. Ele não se deu ao trabalho de virar-se na minha direção: seus olhos, assustadoramente firmes, dirigiram-se a mim, inquisitivos. Sentei-me ao lado dele, no chão mesmo, mas demorei bastante para quebrar o silêncio - o mesmo maldito silêncio dos últimos tempos.
Engraçado como certos momentos são capazes de gravar cada detalhe em sua mente com uma precisão cirúrgica.
- Vai ficar quieto aí pra sempre? - Eu não imaginava que ele quebraria o tabu, mas me senti aliviado.
- Ahn, Shura, eu... digo, nós... sabe, todo mundo... - Infelizmente, eu nunca fui muito bom com diálogos, sempre tive mais jeito em mostrar e impor minha opinião com algumas poucas palavras. Aquele caso, então, me parecia impossível.
- Souberam do que aconteceu, não é?
- É. - Simples assim. E mais alguns instantes de silêncio, até as próximas palavras.
- ... Eu recebi uma carta.
- É, eu imaginei. O mensageiro passou por lá.
- Sabe o que mais? - Só então ele adotou uma postuma menos defensiva. Riu um riso amargo e suspirou, passando a mão direita com firmeza no princípio de barba em seu rosto. A mim, coube só esperar.
- Não aconteceu nada com gente da minha família. A desgraça mais próxima foi com um sujeito que morava no fim da rua. Conhecido de infância. Eu mesmo não lembro dele, mas minha mãe me contou algumas coisas nessa carta... Ele estudou. Não chegou à faculdade por ter começado a trabalhar cedo mas, ainda assim... Ele vinha juntando dinheiro, tinha intenção de casar antes do fim do ano. Ele tinha uma vida. E morreu do jeito mais estúpido possível.
Eu ainda não sabia o que dizer. Até agora não sei, admito. Da mesma forma, ainda sinto a mesma angústia que sentia enquanto Shura falava, mais consigo mesmo que comigo, a dor da ferida recente se fazendo notar, apesar do tom lento e embargado de sua voz.
- Enquanto isso, o que eu fiz? Não aprendi nada, a única família que tenho é uma que não vejo há mais de vinte anos. Eu fui um moleque arrastado de casa pra um país estranho, sem ter idéia do porquê. E não sou muito mais que isso, agora.
A luz era pouca, mas não era dificil perceber o brilho aquoso nos olhos do homem à minha frente. Era raiva. Do santuário, de Athena, de todos nós e, principalmente, de si mesmo.
E ele tinha razão.
- Todos nós podíamos ter uma vida. Mas tudo que sabemos fazer é dar nosso sangue e derramar o dos outros, em nome de um panteão de deuses. Agora, me diz qual é o objetivo disso! - Eu não pude atender àquela súplica feita numa voz falha. Shura já tinha me tomado o dom da fala com mais eficiência e crueldade que o próprio Shaka.
- Nós não salvamos o mundo. Morremos e voltamos, e morremos de novo... só para enfrentar algum outro exército de semi-deuses psicopatas. Assim como nós. E o mundo está acabando lá fora, longe do nosso teatrinho. Lá, as pessoas de verdade morrem de verdade. E nós, os escolhidos, não fazemos nada.
Ele não disse mais nada: o choro baixo não permitia. Eu, na minha insignificância recém-descoberta, simplesmente o deixei sozinho.
Praticamente me arrastei pelas escadas. Quase me lancei através da casa que fôra de meu irmão. Milo não percebeu - continuava ocupado. Não percebi qualquer sinal de Shaka, da mesma forma.
As palavras de Shura se entranharam em mim. E eu, agora ciente de minha impotência, só agradeço por meu irmão não estar vivo para sentir a mesma vergonha que eu sinto, por ser justamente o que dava tanto orgulho a ele.
Agora, distante das guerras santas, ser um Cavaleiro é quase uma vergonha.
------------------
Ok, ok. Alguns comentários.
1- Tô postando de novo porque, nas minhas primeiras pesquisas, achei "maabarata". Depois, todo mundo veio me falar em "mahabarata" (ou, como dito pela Ia-chan, "mahabharata" ') e achei também pelos cantos, as duas formas. Então, deixei "mahabarata", o meio-termo. '
2- Eu, besta ignóbil, esqueci de fazer a passagem do Aiolia pela casa de Sagitário. Mas corrigi, ó!
Sumário: Acabaram as Guerras Santas e, ainda assim, o mundo vai de mal a pior. Para quem acreditava ser a salvação, isto é, no mínimo, confuso. Ainda atormentando o Cavaleiro de Virgem, crises insones, e supostos delírios. E por aí vai!
Observação: Não, eu não criei Saint Seiya, e o tio Kurumada não deu de bandeja pra mim o seu sustento. Mas, fazer o que, cismei de escrever!
Pequenos fatos a serem esclarecidos: "Mahabarata" significa "Grande Guerra", uma epopéia da mitologia hindu. Pesquisei um pouco sobre ela, principalmente após constatar que é mais lógico o Shaka ser hindu que budista - já que o budismo quase não existe na Índia e, de qualquer forma, Buda faz parte da mitologia hindu. Seja como for, não me matem!!
Mais uma coisa! Eu escolhi as cores dos cabelos a bel-prazer. Na maior parte, mantive as cores do anime, mas deixei Camus e Milo como ruivo e loiro, feito no mangá. Por quê? Porque adoro franceses, e adoro ruivos. XD
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Os passos apressados daquele menino ao atravessar minha casa ecoaram com um peso maior que o costumeiro. Soavam lentos, como se o ar - não, o tempo - estivesse mais denso.
E realmente estava, de certa forma.
O silêncio, algo de praxe em um santuário, pairava como a peste, incômodo. Parecia um grito eterno, anunciando a desgraça que viria. Ou, como percebi, após me dar ao trabalho de subir alguns degraus, era um tom agonizante, devido à miséria já instalada há muito.
Enfim, o começo de tudo passou direto pela minha casa, nas mãos de um assustado e esquálido moleque de joelhos ralados. Atravessou outras quatro, chegando exausto à décima, onde entregou ao sisudo sujeito que o aguardava um envelope de papel pardo, já um tanto amassado.
Os dias que passamos sem notícias do Shura pareceram séculos.
Demoramos - ao menos eu demorei - para saber o que estava acontecendo: o vazio que imperava desde a escolha do novo Mestre dificultava as coisas. Só aos poucos a notícia começava a se espalhar. Imagino que o ponto de partida tenha sido um dos exemplares do "Le Monde", do Camus - ele era o único com paciência para manter uma assinatura de um jornal que chegava com alguns bons dias de atraso. Afinal, convenhamos: este santuário fica bem próximo do fim do mundo. Para chegar aqui, desde pessoas até cartas - jornais inclusos -, é preciso passar por uma série incontável de vilas, uma menor que a outra até que, na mais próxima daqui, algum guia ou mensageiro traga o que é esperado até nosso território.
Não foi o Camus quem disse a primeira palavra - como sempre. E também não foi nenhum de nós que pediu o jornal emprestado, para ler entre um afazer e outro. Entre quatro gregos, um sueco, um indiano, um tibetano, um italiano e um brasileiro que jamais freqüentaram um colégio, quem diabos seria capaz de ler o jornal mais influente da França?
Ainda assim, nem mesmo para o Milo seria muito difícil associar uma foto cruel como aquela, com o nome "Madrid" perdido em algum ponto na legenda e o que todos podíamos sentir que acontecia com Shura. E mesmo depois da notícia sobre o atentado ter se espalhado pelas doze casas, ninguém foi capaz de se manifestar. O tempo dilatava-se, o ar pesava. Agora que pela primeira vez estávamos em paz, parecíamos completos estranhos. E talvez realmente sejamos.
Seja como for, decidi fazer o caminho até a casa de Capricórnio. Livre da armadura - ela vinha se mostrando cada vez mais útil como objeto de decoração -, passei o mais silenciosamente pela casa de Virgem, posto que já percebera que Shaka vinha tendo crises insones. Na casa de Libra segui em passos rápidos: aquela casa, vazia desde que me entendo por gente, sempre me pareceu alerta demais. Cumprimentei Milo vagamente, e ele me respondeu de forma mais distante ainda. Aparentemente, andava ocupado demais em encontrar uma forma de expurgar o novo Mestre. É certo que eu mesmo não me conformo com a escolha de Athena, mas quem sou eu para contestar?
Ao contrário do que fiz em Libra, me demorei um pouco na casa de Sagitário. Quando não queria estar sozinho, por vezes eu me refugiava por lá, buscando a presença de meu irmão. Bem como a casa de Libra, eu sentia vida pulsando naquelas paredes mas, nesse caso, não era como uma força ancestral, mais antiga que eu poderia imaginar. Era só meu irmão. E isso era tudo de que eu me cercava, para estar bem.
Não precisei - e sequer pensei em - anunciar minha chegada, mas Shura não esperava por mim na entrada. Estava quieto em um canto com pouca iluminação, e mesmo assim era evidente que não dormia bem fazia dias. Os cabelos estavam mais desgrenhados que de costume e uma barba rala começava a tomar conta de seu rosto. Ele não se deu ao trabalho de virar-se na minha direção: seus olhos, assustadoramente firmes, dirigiram-se a mim, inquisitivos. Sentei-me ao lado dele, no chão mesmo, mas demorei bastante para quebrar o silêncio - o mesmo maldito silêncio dos últimos tempos.
Engraçado como certos momentos são capazes de gravar cada detalhe em sua mente com uma precisão cirúrgica.
- Vai ficar quieto aí pra sempre? - Eu não imaginava que ele quebraria o tabu, mas me senti aliviado.
- Ahn, Shura, eu... digo, nós... sabe, todo mundo... - Infelizmente, eu nunca fui muito bom com diálogos, sempre tive mais jeito em mostrar e impor minha opinião com algumas poucas palavras. Aquele caso, então, me parecia impossível.
- Souberam do que aconteceu, não é?
- É. - Simples assim. E mais alguns instantes de silêncio, até as próximas palavras.
- ... Eu recebi uma carta.
- É, eu imaginei. O mensageiro passou por lá.
- Sabe o que mais? - Só então ele adotou uma postuma menos defensiva. Riu um riso amargo e suspirou, passando a mão direita com firmeza no princípio de barba em seu rosto. A mim, coube só esperar.
- Não aconteceu nada com gente da minha família. A desgraça mais próxima foi com um sujeito que morava no fim da rua. Conhecido de infância. Eu mesmo não lembro dele, mas minha mãe me contou algumas coisas nessa carta... Ele estudou. Não chegou à faculdade por ter começado a trabalhar cedo mas, ainda assim... Ele vinha juntando dinheiro, tinha intenção de casar antes do fim do ano. Ele tinha uma vida. E morreu do jeito mais estúpido possível.
Eu ainda não sabia o que dizer. Até agora não sei, admito. Da mesma forma, ainda sinto a mesma angústia que sentia enquanto Shura falava, mais consigo mesmo que comigo, a dor da ferida recente se fazendo notar, apesar do tom lento e embargado de sua voz.
- Enquanto isso, o que eu fiz? Não aprendi nada, a única família que tenho é uma que não vejo há mais de vinte anos. Eu fui um moleque arrastado de casa pra um país estranho, sem ter idéia do porquê. E não sou muito mais que isso, agora.
A luz era pouca, mas não era dificil perceber o brilho aquoso nos olhos do homem à minha frente. Era raiva. Do santuário, de Athena, de todos nós e, principalmente, de si mesmo.
E ele tinha razão.
- Todos nós podíamos ter uma vida. Mas tudo que sabemos fazer é dar nosso sangue e derramar o dos outros, em nome de um panteão de deuses. Agora, me diz qual é o objetivo disso! - Eu não pude atender àquela súplica feita numa voz falha. Shura já tinha me tomado o dom da fala com mais eficiência e crueldade que o próprio Shaka.
- Nós não salvamos o mundo. Morremos e voltamos, e morremos de novo... só para enfrentar algum outro exército de semi-deuses psicopatas. Assim como nós. E o mundo está acabando lá fora, longe do nosso teatrinho. Lá, as pessoas de verdade morrem de verdade. E nós, os escolhidos, não fazemos nada.
Ele não disse mais nada: o choro baixo não permitia. Eu, na minha insignificância recém-descoberta, simplesmente o deixei sozinho.
Praticamente me arrastei pelas escadas. Quase me lancei através da casa que fôra de meu irmão. Milo não percebeu - continuava ocupado. Não percebi qualquer sinal de Shaka, da mesma forma.
As palavras de Shura se entranharam em mim. E eu, agora ciente de minha impotência, só agradeço por meu irmão não estar vivo para sentir a mesma vergonha que eu sinto, por ser justamente o que dava tanto orgulho a ele.
Agora, distante das guerras santas, ser um Cavaleiro é quase uma vergonha.
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Ok, ok. Alguns comentários.
1- Tô postando de novo porque, nas minhas primeiras pesquisas, achei "maabarata". Depois, todo mundo veio me falar em "mahabarata" (ou, como dito pela Ia-chan, "mahabharata" ') e achei também pelos cantos, as duas formas. Então, deixei "mahabarata", o meio-termo. '
2- Eu, besta ignóbil, esqueci de fazer a passagem do Aiolia pela casa de Sagitário. Mas corrigi, ó!
