Título: Mahabarata

Sumário: Acabaram as Guerras Santas e, ainda assim, o mundo vai de mal a pior. Para quem acreditava ser a salvação, isto é, no mínimo, confuso. Ainda atormentando o Cavaleiro de Virgem, crises insones, e supostos delírios. E por aí vai!

Observação: Não, eu não criei Saint Seiya, e o tio Kurumada não deu de bandeja pra mim o seu sustento. Mas, fazer o que, cismei de escrever!

Pequenos fatos a serem esclarecidos: "Mahabarata" significa "Grande Guerra", uma epopéia da mitologia hindu. Pesquisei um pouco sobre ela, principalmente após constatar que é mais lógico o Shaka ser hindu que budista - já que o budismo quase não existe na Índia e, de qualquer forma, Buda faz parte da mitologia hindu. Seja como for, não me matem!!

Mais uma coisa! Eu escolhi as cores dos cabelos a bel-prazer. Na maior parte, mantive as cores do anime, mas deixei Camus e Milo como ruivo e loiro, feito no mangá. Por quê? Porque adoro franceses, e adoro ruivos. XD

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Onde estou?

Ah, certo. Não estou.

Há algum bom tempo que não visito este lugar, este templo preservado na minha memória.

Agora, só preciso me encontrar.

Tudo aqui é real e, ao mesmo tempo, não é. Atravessando passagens, corredores e paredes - sim, paredes são atravessáveis. Ou talvez eu seja. Seguindo onde a intuição me leva, busco o que pareço ter perdido. Vou deixar para me censurar por isso depois.

E encontro: uma criança de seus 7 anos envolta num manto surrado. Sozinha.

Eu me observo. O homem e o menino, ambos carregando o fardo de divindade. E ambos tão assustados quanto qualquer mortal pode ser. Eu tenho meu próprio medo, e sinto em meu peito o medo do eu que me encara. E percebo uma das respostas que vim procurar: tememos a mesma coisa.

Ao mesmo tempo, não é só isso - antes fosse.

Sentimos - ou melhor, sentia e agora sinto de novo - uma estranha ansiedade, um desejo, uma falta.

Ainda sentado, envolto no manto, aponto para uma parede. Em resposta, eu, de pé, olho. A fonte está naquela direção, a algumas salas de distância. Já que eu não posso atravessar a sala lacrada, cabe a mim passar pelas paredes finas e alcançá-la.

Um passo, depois outro e outro. Quase espaço nenhum nesse não-espaço me separa d--

- Com licença, senhor!! O Mestre, ele deseja vê-lo!! E... ahn... espero não ter a-atrapalhado.

Por mais divino que alguém possa ser, raiva é difícil de ser contida. A fúria divina, inclusive, costuma ser bem clara. Mas não consigo ter pena desse moleque, de qualquer jeito. Sorte que, antes de eu escolher o inferno mais apropriado, ele percebeu a ameaça velada em meu silêncio e partiu.

Levanto, ajeito meu sari e alongo brevemente as pernas - útil, antes de subir essas escadarias. Ainda me pergunto porque esse lugar não é plano... seria mais prático. Até porque, da segurança cuidamos nós, não uma tática arquitetônica qualquer.

Primeiro degrau. Paro e penso: ele não faria isso. O Mestre vem enfrentando problemas demais - da rejeição ao fato de que alguns vários Cavaleiros parecem mais predispostos a ruir que estas colunas seculares. Ele, por sua vez, ainda não tem coragem de lidar com isso tudo. Certamente, então, ele não ousaria mexer comigo. Não sem uma sugestão, sem alguém para instigá-lo...

... Mu passou por aqui há menos de uma hora.

"timo.

Num instante alcanço a casa de Áries.

-... Foi falar com o Mestre, não foi? - Seria educado cumprimentá-lo primeiro. Seria.

- Claro que fui! De que ia adiantar falar com você? - E falou tão casualmente quanto falaria "claro que tenho chá! Por que não pediu antes?" Sorria, ainda por cima, com a inegável simpatia que parece demonstrar o tempo todo - ah, máscara eficiente! Quisera nosso Mestre ter uma assim. De qualquer forma, tamanha cordialidade (que em determinados momentos seria tão bem vinda) agora soa como um alfinete cruel remexendo uma ferida recém-aberta.

- Arianos e sua infantil mania de tomar atitudes. - Eu insisto que devo manter minha grande boca calada, pedir desculpas e retomar a conversa. Eu quero arrancar sentido por sentido do sujeito a minha frente, deixando só a visão, para que ele veja e se desespere enquanto o corto em tiras finas para temperar com curry. Acabo me contentando em ser hostil. - Talvez lhe interesse saber, Mu, que já sou adulto o bastante para pelo menos cuidar dos meus problemas. Isso se sequer houvesse problema.

- Virginianos e sua insistência em acreditar que têm absolutamente tudo sob controle.

Certo. Isso foi um arremedo de minha própria citação, o que implica em deboche. Com um ligeiro e constante sorriso e a maior calma do mundo em seus olhos verdes, ele estende as mãos para a morte.

Evito balbuciar antes de lhe responder, não quero dar a ele a vantagem de saber que tem o controle da situação.

- Se há um problema, Mu, ele é unicamente meu. Acredito já ter provado algumas tantas vezes ser prudente o bastante para isso, não? - Meu tom de voz aumenta para que ele me ouça enquanto some por entre colunas e passagens. De uma forma ou de outra, acompanho.

- Ah, eu sei que o problema, ou pseudo-problema, é seu. - Sua voz também se eleva, com uma firmeza irritantemente afável, como se ele falasse com uma criança boba que pensa ser adulta. Talvez tudo isso seja fruto da minha imaginação, não vou negar. - Mas sou forçado a concordar com o Mestre, Shaka. Ao menos de certa forma. De que adianta estarmos reunidos aqui se um sequer pode contar com um mínimo de apoio dos outros? Não tenho dúvida de que essa é a principal razão para as coisas estarem nesse pé em que estão. E imagino que você saiba disso tão bem quanto eu.

- Decerto que sei, Mu. - Cozinha? Que diabos..? - Obrigado pelo suco. Ainda assim, é completamente desnecessária tamanha preocupação justo por minha causa. Melhor gastarem seu tempo com os outros, que sofrem com questões de ordem unicamente psicológica. Solidão, frustração, decepção, e afins. Tenho plena certeza de que meu caso é puramente orgânico. Não duvido nem mesmo de alguma espécie de virose. - Ah, sim, menti - e acho que não me saí tão mal. Mas também não foi uma mentira completa. Não sei. Hm, pêssego. - Por sinal, acredito ser mais aconselhável ao nosso Mestre que primeiro cuide de seus próprios prob--

- Batatas?

- Ah, por favor! - Maldito, mil vezes maldito seja, Mu de Áries! Você sabe que tem o controle da situação. Agora passe-me já essa tigela! E pare de rir de minha momentânea empolgação pré-escolar, por favor.

- Certo, Shaka, agora me escute. - E, enquanto fala no costumeiro tom de voz brando, puxa uma cadeira e senta-se. Eu, devidamente aliciado, imito o gesto. - Todos aqui têm seus problemas. Alguns se afogam neles, outros não. No caso do Shura... bem, a coisa toda foi longe demais. E foi só com ele, você está mais que ciente que há mais gente aqui que não consegue ter um segundo de paz. E você... Bem, convenhamos, Shaka. Você sempre pareceu estar fora do alcance de problemas. Divino, você sabe. E não me olhe com essa cara, eu não quis colocar você num altar, foi só uma citação. Quem insiste em ficar pairando no ar em posição de Lótus o dia todo falando "ohm" é você!

- Você não está melhorando a situação, Mu... E nem ouse rir. - Mas confesso que minha irritação se foi. Por sinal, há alguns dias não conseguia simplesmente relaxar como agora. Ah, o poder de um simples tubérculo...

- Perdão... Como eu ia dizendo, você sempre pareceu uma espécie de "porto seguro". Uma âncora, sustentando esse barco furado em um ponto fixo, sem ser tragado de vez pelo mar de insanidade que enfrentamos o tempo todo. Perceber que você não esta bem já assusta. Agora, imagine não poder fazer nada. E vê se não engasga. - Não estou comendo tão depressa assim. - Pegou a dimensão disso tudo, Shaka?

- É... - E mais um gole. - Acredito que sim.

Nos calamos então, e não chega a ser surpresa para mim o fato de que Mu sente-se tão confortável no silêncio quanto eu. De qualquer forma, é uma grata constatação.

Sem uma palavra - ainda não entendo porque quase todos acreditam que seja tão necessário preecher o espaço de falas literalmente soltas ao vento - nós damos cabo de uma jarra de suco e ainda nos permitimos mais alguns instantes de reflexão. Eu mesmo me ocupo em ponderar sobre a convocação do Mestre. Mesmo não estando de acordo com tamanha comoção - até entendo as razões, mas continuo julgando desnecessária -, não vou ignorar. Daqui atravessarei as outras onze casas e espero conseguir estabelecer com ele o mesmo acordo que sei ter feito com Mu. Não tivesse vindo aqui, acabaria permitindo que a soberba me impedisse de compreender o que se passa com os outros também. E cabe perguntar a mim mesmo se tal atitude seria devido ao mal desconhecido que enfrento ou se é de parte de minha natureza ainda a ser corrigida.

- Decidiu? - Obviamente ele sabe sobre o que eu pensava.

- Eu vou. Não convém deixar o Mestre sem uma resposta, não é? - Ah sim, dessa vez rimos os dois.

Sem mais, me levanto, o ar ainda leve graças ao breve rompimento no fluxo de energia. Caminho na direção da saída da casa de Áries com um quê de satisfação. Logicamente ainda não pretendo envolver ninguém nisso - o que quer que seja -, mas sou forçado a admitir: há um certo conforto em não estar sozinho por completo. E volto a rir ao me flagar admirado com algo tão simples quanto uma bela dose de amizade. Isso sim denuncia a gravidade da situação mental desses recém-adultos cá encarcerados...

- Ei, Shaka? - Finalmente a serenidade de Mu não causa alguma reação adversa em meu humor.

- Que foi?

- A tigela. É minha, e foi pintada à mão. Isso é difícil de achar!

- ... Devolvo depois.

Afinal, preciso de algo para me distrair nesse longo caminho.

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Aleluia, foi!!

Gente, mil perdões pela demora! Simplesmente não tive como escrever nos últimos tempos - problemas, provas, falta de inspiração, problemas, saudade, problemas e por aí vai. Mas tá aqui capítulo fresquinho, recém saído do forno.

Sobre as batatas... Tá, in-joke óbvia com as batatinhas de Bélier-sama. Não resisti!!

O mais interessante desse capítulo é que, originalmente, esses dois brigariam! Mas, droga, não consegui, eles tomaram as rédeas! XD Definitivamente, Shaka e Mu têm uma empatia fantástica.

(Pequeno aviso: não, não, não faço yaoi. Mas não sou também uma besta quadrada incapaz de admitir que os dois se dêem bem, oras!)

... E acho que é isso! No próximo capítulo, provavelmente, pot-pourri latino! XD

Ah, última coisa! Eu sei que não é CdZ mas, se alguém tiver tempo sobrando, confere minhas outras fics. "Caminhos Trançados" é crossover de Ranma1/2 e Rayearth (e tá parada sem previsão de ser retomada tão cedo) e "Desejo por Desejo"... Bem, é Sandman, nem todo mundo conhece, mas pode ser divertida!

See ya, space cowboys!