Título: Mahabarata

Sumário: Acabaram as Guerras Santas e, ainda assim, o mundo vai de mal a pior. Para quem acreditava ser a salvação, isto é, no mínimo, confuso. Ainda atormentando o Cavaleiro de Virgem, crises insones, e supostos delírios. E por aí vai!

Observação: Não, eu não criei Saint Seiya, e o tio Kurumada não deu de bandeja pra mim o seu sustento. Mas, fazer o que, cismei de escrever!

Pequenos fatos a serem esclarecidos: "Mahabarata" significa "Grande Guerra", uma epopéia da mitologia hindu. Pesquisei um pouco sobre ela, principalmente após constatar que é mais lógico o Shaka ser hindu que budista - já que o budismo quase não existe na Índia e, de qualquer forma, Buda faz parte da mitologia hindu. De qualquer forma, por favor, não me matem!

Mais uma coisa! Eu escolhi as cores dos cabelos a bel-prazer. Na maior parte, mantive as cores do anime, mas deixei Camus e Milo como ruivo e loiro, feito no mangá. Por quê? Porque adoro franceses, e adoro ruivos. XD


O toison, moutonnant jusque sur l'encolure!
O boucles! O parfum chargé de nonchaloir!
Extase! Pour peupler ce soir l'alcôve obscure Des souvenirs dormant dans cette chevelure,
Je la veux agiter dans l'air comme un mouchoir!

La langoureuse Asie et la brûlante Afrique,
Tout un monde lointain, absent, presque défunt,
Vit dans tes profondeurs, forêt aromatique!
Comme d'autres esprits voguent sur la musique,
Le mien, ô mon amour! nage sur ton parfum.

Não.

Eu já deveria saber de antemão que um momento de paz regado a bom vinho não poderia durar muito.
Passos ligeiros e pesados ecoam pelas escadarias que conduzem à minha casa, como que anunciando uma tormenta, um tufão - o que não chega a ser um exagero de minha parte, considerando a pessoa em questão. Ora, uma rima... Ah, mon Dieu, eu não vou começar também com essa mania patética, vou?

De uma forma ou de outra, eu espero. E meu caro Baudelaire também terá de esperar.

Sem mais, meu visitante avança; surge junto ao portal num rompante, e pára. Hesita antes de entrar e, prostrado à minha frente, teima em coçar a nuca, os olhos azuis correndo o chão e se fixando na ponta dos pés.

E nem uma palavra, por um bom tempo.

"Milo, mon chèr. Eu perdi muito tempo nos últimos anos tentando convencê-lo a adotar algumas normas básicas da boa etiqueta, mas você nunca me deu atenção; duvido que tenha aprendido agora. Então por que você não simplesmente desrespeita mais uma regra - considerando que você já entrou sem pedir permissão - e senta-se de uma vez, sem esperar convite meu? Garanto que eu ficaria menos preocupado com sua sanidade."

Como se eu lhe tivesse ordenado, puxa a cadeira que mantenho ao lado da pequena mesa redonda onde Baudelaire e seus versos aguardam pacientemente. Admito que me alegro ao ver que, apesar de consideravelmente tenso, ele assume sua costumeira postura desleixada, cotovelos apoiados nos joelhos.

Mas não diz nem uma palavra.

"Milo, sinceramente, eu começo a desconfiar que você não está bem. Qu'est que se passe, mon ami?"

Com um mínimo de preguiça, me desfaço do conforto oferecido pela minha chaise-longue de estimação e me sento, de forma a encarar meu amigo, que contenta-se em soprar um cacho loiro que cai por sua testa, incomodando um dos olhos.

"... Seguinte, Camus." - Ele começa, cabeça baixa, ar sério demais. Ao menos, sério demais para ele; fosse eu com aquela expressão, e pareceria estar de ótimo humor. E silêncio.

"Hm?" - Expectativa.

"... É que é "Milo", Camus, não "Milô", ou o que quer que você teime em dizer com esse seu sotaque aí." - Vem o deboche, ilustrado por um sorriso de moleque.

A almofada que o acerta em cheio no rosto só o faz explodir em riso.

Comportamento típico desse escorpiano - eu deveria ter previsto. Quando temos nossas brigas, escaramuças tolas, dias depois ele surge, como se nada tivesse ocorrido. Vem, como diriam por aí, "quebrar o gelo". Não que isso seja muito fácil, quando se trata do Chevalier d'Or du Verseau. Contudo, sou forçado a dizer, seus progressos nesse mérito são louváveis.

"Mas, sério agora, Camus." - Ele afunda na cadeira, enquanto seu tronco busca repouso no encosto. - "Você não ficou irritado de verdade comigo, ou qualquer coisa assim, né?"

"Non, 'Milô'." - Forço, fazendo uma paródia de mim mesmo. Chiste bobo, mas ele ri. - "Não mais do que de costume, pelo menos."

"Hm. Tá."

Volto a me recostar e fico observando Milo, que cruza os braços e, olhando para o nada, treme a perna esquerda, numa demonstração de ânsia. Ainda ainda aguardo um pouco, na esperança de que ele diga algo, mas sei que o faço em vão; quando absorto em seus pensamentos, meu amigo parece sair de si e esquecer por completo que seria educado voltar.

"Bien. É óbvio que algo o aflige, Milo. E suponho que você tenha vindo até aqui porque precisa conversar com alguém sobre, estou certo?"

"Hm?" - E, olhos ligeiramente arregalados, ele volta. - "Ah! É, é. Você tá certo sim."

"Alors...?"

"Sabe o que é engraçado? Eu não entendo patavina de Francês, mas mesmo assim entendo o que você diz, quando cisma de falar assim!"

"Não era isso que estava em questão, Milo."

"... É, eu sei."

"... Preciso perguntar novamente?"

"Precisa não. Só tô tentando organizar as idéias, antes."

Um novo período de silêncio; que ele tenha todo o tempo que for preciso. Afinal, não há razão para pressa. Ao menos não nesses dias que vivemos agora, onde um dos maiores responsáveis por garantir a paz mundial pode sentar-se, bebericar um bom Cabernet e ler poesias, tal qual um bourgeois. O que me faz pensar se eu não estou fazendo justamente o que Milo tanto insiste em me aconselhar: aproveitar a vida. Ou, como ele diria, "relaxar". O que acontece é que o escorpiano, graças a uma bênção (ou maldição, não sei) dos deuses, ainda lembra quem é. Não permitiu que coisas como adquirir um poder sobre-humano, morrer e matar tantas vezes que ninguém mais calcula o fizessem esquecer de que, no fim das contas, é um rapaz no auge de seus 20-e-alguns anos. Eu já não consigo fazer o mesmo - talvez já ter um pupilo solto no mundo dificulte um pouco o alcance de tal percepção. Enfim. Realmente tenho me preocupado menos, estado menos alerta, mais relaxado. Só não sei ainda se isso é bom ou ruim.

"Hm, acho que foi." - Ironia à parte, agora é ele quem interrompe minhas reflexões. - "E, olha, Camus... Já vou avisando que, se eu enrolar um pouco, é justamente porque estou tomando cuidado pra manter o controle sobre o rumo do que tô dizendo. Não tô afim nem de perder de novo, nem de arrumar problema contigo outra vez."

"Perder"? Certo, eu imagino que eu vá entender isso mais adiante.

"Vá em frente, Milo; sou todo ouvidos."

"Isso começou com a minha passagem lá na casa de Virgem."

"Ah, mon Dieu, não me diga que você foi perturbar o Shaka mais uma vez?"

"... Ouvido não fala, Camus."

"Pardon."

"Sem problema. Bem... Eu passei lá e, sim, tá certo, fui perturbar o Shaka mais uma vez. Mas sabe como é, eu não podia contar com você - e ele ergue os olhos, um ligeiro ar de censura; não protesto -, e o Shaka me parece ser suficientemente ponderado. Ou não, como eu concluí depois, mas aí já não importa. O importante é que fui falar com ele!"

"Pois bem, entendi. E presumo que algo tenha acontecido, hm?" - Esse é o momento em que teço um breve comentário sem qualquer utilidade além de mostrar que estou atento.

"É, é. Ainda saí da casa de Virgem com a coisa do outro lá na cabeça mas, conforme fui esfriando os ânimos, comecei a pensar em outras coisas..."

... E se Milo pensa em "outras coisas", é hora de me preparar para desatar um emaranhado de nós feitos por pontas soltas.

"... Por exemplo: já notou como o Shaka tem andado esquisito? Digo, esquisito ele sempre foi, mas ultimamente ele parece pior."

"Decerto que sim. Mas, não que eu não esteja preocupado, Milo, acredito que o Shaka saiba cuidar de seus próprios problemas. Creio, inclusive, que ele não queira saber de interferências."

"Do jeito que ele me expulsou da casa, pode apostar que não quer mesmo!"

Percebo algo como um sorriso, surgindo-lhe discretamente do lado esquerdo da boca. A expressão de "carta na manga", sem dúvida. Nesses momentos, ele mais parece uma criança que aprendeu um truque de mágica e pondera quanto a dividi-lo com os amigos ou encantá-los com uma apresentação. É envolta nessa aura de magia infantil que as histórias do Milo surgem e, apesar de todas as voltas e erros de percurso, sempre prendem o menino que quer ser adulto aqui.

"Onde você quer chegar com isso, Milo?"

"Ah, eu fiquei pensando sobre o Shaka, nesse meio-tempo. Sabe, a coisa mais difícil do mundo é um de nós aqui - e olha que isso vale até pro pessoal de Prata, sem falar nos moleques de Bronze - pegar uma gripe que seja. E o Shaka, agora, desse jeito. Justo o sujeito" - pausa dramática, com gesto indicando aspas - "'mais próximo de um deus'."

"Milo, ainda que ele o seja, seu corpo é apenas humano..."

"Não, não, liga os pontos comigo!"

"Pois bem, Milo." - Cruzo pernas e braços, respirando fundo: ele decidiu ensinar a mágica com uma demonstração. Conseguiu realmente prender minha atenção, afinal. - "Ilumine minha mente."

"Você não tá sendo irônico, né?" - Desconfiança, agora. Bem entendo, e quase chego a rir.

"Não, não, de forma alguma, Milo. Só não consigo ver onde você quer chegar."

"Pra ser sincero, nem eu; por isso que vim pedir a tua ajuda." - Fecha um olho, coça a franja.

"Então diga-me como, oras!"

"Ahn, eu também não sei... Mas não me olha assim, não! É que eu tô com algumas coisas martelando na minha cabeça, e acho, acho mesmo, que tem algo de importante por aí. Então vim ver se você conseguia, ah, pensar por mim." - Ele explica, não sem um mínimo de constrangimento.

Suspiro, ao notar que minha missão hoje é ser a parcela pensante que falta a esse escorpiano puramente passional e intuitivo. Mas me alegro em ver que ele foi capaz de relevar nossa última discussão - qualquer coisa a respeito do novo Meste, e do fato de eu apoiá-lo, de certa forma. É sempre assim, agora.

"Vamos em frente, então: o que, mais especificamente, está incomodando você?" - Novamente me movimento, assumindo uma posição semelhante à adotada por Milo.

"Algo em torno dessa coisa de 'homem mais próximo de um deus' e de 'reencarnação de Buda'. Tem isso também, não tem?"

"Exato. Se não estou enganado, vem do sânscrito 'o iluminado'." - Mas não pretendo esperar para me enganar; levanto e, depois de conferir alguns títulos gravados nas lombadas, logo encontro em minha modesta coleção uma obra que trata do assunto. - "Aqui: 'o iluminado', ou ainda 'aquele que despertou'. E essa nomenclatura é dada a mestres religiosos que, por sua sabedoria, virtude e desprendimento, foram e serão considerados encarnações da divindade. Embora se refira, comumente, ao fundador do budismo, o Buda Siddhartha Gautama."

"Então espera aí." - Aparentemente, começamos a ter uma linha de raciocínio. - "O Shaka é dito 'reencarnação de Buda' como esses tantos outros mestres aí? Só isso?"

"Ahn, Milo, convenhamos, isso não é pouco."

"Pro que eu esperava, é sim! Ah, Camus, pensa só: não é qualquer Buda que faz tudo que o Shaka faz, é?"

"Bem, além de ser um Buda, Milo, ele também é um Cavaleiro de Athena. E um Cavaleiro de Ouro, lembra? Imagino que nem todo nativo da Grécia domine a técnica da 'Agulha Escarlate', hm?"

"Camus, eu devia te mandar pra um lugar muito, muito feio, agora."

"... Mas você não vai fazê-lo porque ainda não chegou ao ponto que queria." - Por mais irônico que soe, esfriar os ânimos é uma especialidade minha. Principalmente se eu puder manter-me no topo.

"É, seu infeliz. Você tá certo, pra variar." - Contrariado, ele faz bico. Sinto uma vontade imensurável de rir, mas não pretendo perder minha suposta superioridade. É uma atitude patética, bem sei, mas me divirto.

"E chega, Milo. Vamos, o que mais você pensa?"

"Sei lá. Mas, com essa coisa toda de Buda e tal... Ah, não sei, e se ele for mesmo uma reencarnação do Buda, digo, do primeiro? O Si.. Sidar... Gato..."

"Siddhartha Gautama."

"Ah, tanto faz! Deu pra entender, né?"

"Decifrar suas pequenas incógnitas já virou um passatempo meu, Milo."

"Blé." - Língua. Atitude extremamente madura de sua parte, meu amigo.

"Sem 'blés', Milo. Volte ao assunto."

"Era sua vez de opinar, não era não? Eu já disse, e se ele for a reencarnação do primeiro?"

"Ah, sim. Pardonez-moi, me perdi. O que não é difícil, considerando a qualidade labiríntica de seu raciocínio. Mas, sim, é uma possibilidade. E..."

Estalo. Agora sou eu quem percebe uma ligação tentando se formar. Suponho que isso esteja estampado em minha face - ou mesmo na forma como viro as páginas do livro -, considerando o olhar de Milo.

"Ahn, Camus? Tá com aquele ar esquisito. Que foi?"

"Acho que começo a entender o que o incomoda, Milo. E, se eu estiver certo, a perspicácia do seu subconsciente me impressiona."

"Então me diz o que que foi!" - A impaciência de meu amigo torna minha busca ainda mais aprazível. Depressa, leio algumas linhas, sem sequer me preocupar em pegar os óculos de leitura sobre a mesa.

"Em poucas palavras, Milo: se tomarmos somente o Budismo como ponto de referência, a definição que lhe dei de Buda é suficientemente apropriada. Agora, se nós..."

Shaka.

Automaticamente, eu me calo e Milo acompanha-me no silêncio. Os versos de Baudelaire voltam às minhas mãos e, sabe-se lá por que razão, meu companheiro toma para si a taça. Talvez teria sido educado se eu tivesse lhe servido uma. Bem, tarde demais. Agora nossa preocupação é o Cavaleiro de Virgem, educadamente pedindo passagem. Sei que ele percebeu que há algo de errado, mas não vai questionar, não é de sua natureza. Cumprimentamo-nos com gestos breves, o foco de nosso assunto bruscamente interrompido atravessa minha casa e, instantes depois, Milo parece derreter na cadeira.

"... E o que mais, Camus?" - Ele se aproxima, o olhar correndo de um lado ao outro.

"Não creio que precisemos murmurar, Milo." - Mesmo assim, murmuro. Provavelmente é a sugestão.

"Como fica a coisa do Budismo, então? Sabe, o que você tava dizendo!"

"Hm, simplificando ao máximo: o Budismo seria como que derivado do Hinduísmo, religião ainda mais antiga, sendo uma das principais na Índia. O Budismo propriamente dito foi mais difundido em outras regiões - como o Japão, por exemplo."

"E o Shaka é indiano. E, se o Budismo meio que veio do Hinduísmo, então os hindus também têm Buda e tudo mais, né?"

"Exatamente." - Sem pausas, nossas falas (ainda murmuradas, sabe-se lá porque) quase atropelam umas às outras. Pensamentos se encaixam e, ainda que tudo isso me pareça loucura, faz sentido.

"Pois bem: segundo o Hinduísmo, Buda seria um avatar de Vishnu, deus da manutenção, um dos três deuses mais notórios do panteão hindu - os outros seriam Brahma, da criação, e Shiva, da destruição e renovação."

"Espera, 'avatar'?" - Certo, me empolguei. Melhor explicar com mais calma.

"Como se fosse uma encarnação, Milo. Podemos dizer, por exemplo, que Mademoiselle Kido é um avatar de Athena."

"Ah, peguei! E... manutenção?"

"Responsável por manter o mundo seguro em tempos de dificuldade; algo desse gênero."

Emudecemos.


Deus meu, esse capítulo demorou.

Antes de mais nada, peço desculpas a todo mundo pela demora, e agradeço (muito) pela bondade e consideração de quem quer que ainda passe aqui, depois desse sumiço! E agora, às 00:32, enquanto meu gato implora por comida, eu corro com as explicações.

Deixei o texto de lado quando começou a correria de fim de ano na faculdade (e agora o Désir, meu gato, começa a puxar a bandeja do teclado), sendo que desde então não me senti muito inspirada a retomá-lo. Provavelmente isso se deve um tanto ao desafio que esse capítulo seria. Afinal, eu precisava explicar um pouco, mas sem jogar todas as respostas na cara de quem estivesse lendo, sem o menor pudor. Além do mais, escrever longe da ECO fica mais difícil - principalmente considerando que os pitacos e as discussões com a Prudence são absolutamente necessárias! XD

Enfim, já tinha 3 versões diferentes do início do capítulo 08 e ontem passei cá no (Agora estou rindo do Désir, que caiu depois de escorregar ao tentar subir no circulador)
Quando vi o review deixado pela Caliope, decidi que já tinha passado demais da hora de optar por uma das versões e dar continuidade, pra chegar logo ao meu tão sonhado capítulo 09 - não, a fic não acaba no nono capítulo. XD

Sobre o escrito aqui: bem, acho que vocês podem falar mais do que eu. Particularmente, admito que adorei escrever o POV do Camus (principalmente quando vi que ele selecionava palavras que eu nem sequer tinha como parte de meu vocabulário padrão), e amo o Milo - oras, ele já teve capítulo próprio, participação significativa em um e uma ponta em dois outros, pelo menos! Mais pop que isso, só o Shaka! E, bem, espero que esteja funcional... Ainda vale dizer: escrever os diálogos entre eles foi uma delícia! Ah, contrastes...

Agora, sobre reviews: além de toto mundo que já comentou, agradeço muito à Bélier (sempre é muito feliz achar uma notinha tua, moça:) ), à Akane Kittsune, à Patii e, claro, à moça Caliope! Muito, muito obrigada! (E, falando em Caliope, acertaste! Capítulo do Camus! XD)

Ô dona gêmea (a.k.a. Prudence!
Valeu mesmo pela ajuda!

E, no próximo capítulo: o Mestre! XD (É, o bolão vai acabar.)

Hm! Prometo que não demoro mais, ok? (Não tanto... Shame on me.)

(Nota final sobre o Désir: deitou-se na porta do quarto, e está me encarando de lá.)

Opa, já ia esquecendo!
O poema no início é "La Chevelure" - de Baudelaire mesmo, claro. Se alguém quiser o poema completo, só caçar por aí, ou me pede que eu mando! Já a tradução completa, eu faço questão de postar aqui:

A CABELEIRA

Ó tosão que até a nuca encrespa-se em cachoeira!
Ó cachos! Ó perfume que o ócio faz intenso!
Êxtase! Para encher à noite a alcova inteira
Das lembranças que dormem nessa cabeleira,
Quero agitá-la no ar como se agita um lenço!

Uma Ásia voluptuosa e uma África escaldante,
Todo um mundo longínquo, ausente, quase morto,
Revive em teus recessos, bosque trescalante!
Se espíritos vagueiam na harmonia errante,
O meu, amor! Em teu perfume flui absorto.

Adiante irei, l�, onde a vida a latejar,
Se abisma longamente sob a luz dos astros;
Revoltas tranças, sede a vaga a me arrastar!
Dentro de ti guardas um sonho, negro mar,
De velas, remadores, flâmulas e mastros:

Um porto em febre onde minha alma há de beber
A grandes goles o perfume, o som e a cor;
L�, onde as naus, contra as ondas de ouro a se bater,
Abrem seus vastos braços para receber
A glória de um céu puro e de infinito ardor.

Mergulharei a fonte bêbada e amorosa
Nesse sombrio oceano onde o outro está encerrado;
E minha alma sutil que sobre as ondas goza
Saberá voz achar, ó concha preguiçosa!
Infinito balouço do ócio embalsamado!

Coma azul, pavilhão de trevas distendidas,
Do céu profundo dai-me a esférica amplidão;
Na trama espessa dessas mechas retorcidas
Embriago-me febril de essências confundidas
Talvez de óleo de coco, almíscar e alcatrão.

Por muito tempo! Sempre! Em tua crina ondeante
Cultivarei a pérola, a safira e o jade,
Para que meu desejo em teus ouvidos cante!
Pois não és o oásis onde sonho, o odre abundante
Onde sedento bebo o vinho da saudade?

(... Meninas fãs de yaoi, esse é meu presente velado pra vocês. XD)