A/N: Mais uma coisa esporádica que saiu da minha cabeça...

Disclaimer: Os irmãos são os donos, não eu...

Passatempo

Ele detestava todo aquele branco, toda aquela limpeza. Ele se sentia morto naquele lugar imaculado. Mas, verdade seja dita, ele estava mesmo morto.

Ele ficava sentado no chão, com as costas apoiadas em uma das pilastras e ficava fitando o breu do túnel a sua frente. Ele sabia que não adiantaria entrar alí. Ele acabaria voltando para o mesmo lugar. Ele não tinha saída.

Se ele estivesse sozinho, talvez fosse mais fácil. O tempo não seria tão sentido. Cada segundo a mais passado com uma companhia tão desagradável fazia a vontade de sair dalí crescer como uma colônia de bactérias.

"Onde eles estão?", ele perguntou, quebrando o silêncio.

O outro, muito calmo, apenas suspirou em frustração. O sentimento de repulsa era mútuo.

"Eles sabem que estamos aqui?", ele insistiu, queria ouvir uma voz diferente da sua, mesmo que fosse do outro.

O silêncio foi a sua única resposta. O outro não queria falar.

"Você acha que eles vêm nos buscar?", ele continuou, mais para si mesmo do que para o outro.

Ele resolveu levantar-se e esticar as pernas. Há quanto tempo ele estava sentado? Não sabia, mas parecia ser um bom tempo.

"Eu não quero ficar esperando o resto da vida.", ele disse, ignorando que não havia mais "vida" para passar esperando. Não para um cara morto.

Ele andou um pouco, observou os detalhes do lugar, para se lembrar de como eram da primeira vez em que os viu. Não havia mudado nada, nada havia envelhecido alí. O banco continuava polido, os azuleijos continuavam terrivelmente brancos e limpos, as letras da inscrição "Mobil Ave" continuavam negras como se tivessem sido pintadas instantes antes. Isso o irritava profundamente.

Ele não aguentava mais. Ele se sentia fora de sua própria sanidade. Ele precisava ver destroços, sujeira, vida. Ele precisava destruir alguma coisa bonita. E só havia um jeito de fazê-lo satisfatoriamente. Lutando com o outro.

"Vamos brigar.", ele disse, casualmente.

O outro o ignorou completamente. Ele então percebeu que o outro precisava de um incentivo, um estímulo para partir para briga. Uma provocação.

"Sabe de uma coisa?", ele não queria desperdiçar palavras, ele queria acertá-lo com a provocação certa, uma que jamais seria ignorada, "Eu ainda sinto os cheiros."

Por algum instante, ele recebeu atenção. Desdenhosa, mas ainda uma atenção.

"Trinity tinha o pior deles.", era isso, ele tinha o outro em suas mãos. Eles iriam brigar. Seu passatempo estava garantido.

O outro se levantou do banco em que havia permanecido todo o tempo e seu rosto deixava nítido. Era hora do pau.

"Vá à merda, Smith."