CAPÍTULO 01:

A luz que insistia em atravessar as grossas cortinas, já estavam irritando sua íris azulada quando resolveu se levantar. Eram exatamente seis e cinqüenta e oito da manhã. Em poucos minutos o despertador estaria tocando para que fosse iniciada aquela sexta-feira. Encarou o teto branco do quarto pensativo. Ao seu lado, Hermione ainda descansava os poucos minutos que lhe restava. Tão calma. Tão serena. Ele adorava observá-la dormindo...longe...sem que ela pudesse perceber seus olhos nela.

Sete horas. O despertador então invade o silêncio com sua irritante função. Após desligá-lo, pode, enfim, encontrar o par de olhos castanhos que ele estava esperando. Hermione sorriu ainda sonolenta.

"Bom dia Rony".

"Bom dia, minha querida!".

Rony se aproximou beijando-lhe a testa. Sabia o quanto Mione detestava que lhe beijasse com o hálito matutino. Rony não se importava, mas respeitava sua vontade.

"Se eu pudesse, passaria o dia inteiro nessa cama", disse dengosa.

"Não seja por isso", Rony disse malicioso aproximando-se da namorada.

"Nem pense Rony", disse se afastando. "Tenho um dia cheio hoje. Não posso sequer pensar em me atrasar dois segundos".

Ele sorriu insatisfeito. Sabia que seria em vão argumentar. Ela ganharia. Ela sempre ganhava.

"E que horas você sai hoje?".

"No final da tarde, assim espero".

"Vai me deixar o dia inteiro sozinho?". Rony franziu a testa. "Isso não é justo. Você se mata de trabalhar e eu fico contando moscas aqui".

"Não vai até o Departamento de aurores hoje?".

"Já desisti de passar lá. Nunca tem o que fazer. As coisas ficaram paradas depois que acabou a guerra".

"Você fala com uma frustração". Mione indo em direção do biombo, para se trocar.

"Então não há possibilidades de ir até a Toca comigo?".

"Ah Rony... eu não posso!", lamentou-se com o tom de voz levantado.

"Mione... mamãe ficará triste por você não poder ir. Ela já fica sensível nessa época do ano".

"Três anos, huh?". Hermione voltou para junto de Rony, que também se arrumava em frente ao espelho.

"Três anos...", repetiu com um tom mais lamentável que da namorada. "Eu não acredito que já tem todo esse tempo que papai se foi".

Rony sentou-se ao pé da cama de casal que dividiam naquele apartamento em Londres. Mio se aproximou acariciando-lhe o cabelo.

"Não fique assim Rony!", beijou-lhe a cabeça.

Rony a puxou pela cintura jogando-se na cama.

"Você precisa ir comigo. Quem vai me animar?".

"O Harry", ela disse esquivando-se.

"Harry, Mione? Você sabe estragar um momento, não é mesmo?".

"Oras, ele estará lá com a Ginny".

"Harry é todo ocupado e estará do lado da Ginny...".

"Não comece Rony... eu já disse que não posso".

"Mas...".

"Você viu meus sapatos brancos?", perguntou enquanto procurava pelo quarto.

"No banheiro", ele resmungou vencido.

"A-há! Achei", disse calçando-os. "Termine de se trocar, eu vou preparar o café".

Mais uma vez vencido, Rony trocou-se rapidamente, sem se importar com o que vestir, diferente de Hermione que estava impecavelmente trajada para mais um dia de expediente no Ministério da Magia, onde trabalha há quase dois anos, e no momento ansiava uma promoção.

Há dias Rony sentia-se insatisfeito. Parte dessa insatisfação resultava-se das suas excessivas horas livres, desde que já não era mais tão necessária sua função como Auror. Desde que a Guerra havia terminado e o Lorde das Trevas definitivamente destruído, suas funções foram se limitando até se tornarem inexistente. Embora ainda fosse um Auror, Rony estava praticamente desempregado. Maldita paz que reinava no mundo mágico nos últimos tempos. Sem revoltas de duendes, sem invasões de trasgos, sem resquícios de gigantes.

"Ai!".

A voz de Hermione, na cozinha, tirou a atenção dos pensamentos de Rony que correu até ela.

"O que foi?".

"Meu dedo. Cortei meu dedo", choramingou enquanto apertava o dedo para que o sangue não vazasse.

"Deixe-me ver". Rony se aproximou com a varinha e no instante seguinte o corte estava fechado.

Hermione agradeceu e os dois sentaram-se para o desjejum. Rony comia sua omelete em silêncio enquanto Hermione folheava o Profeta Diário enquanto bebia uma xícara de café sem perceber os olhos em cima dela. Os olhos azuis de Rony. Concentrados. Opacos. Estudando-a minuciosamente, como se estivesse a esperar um momento para quebrar o silêncio. Entretanto, Rony não ousou.

Hermione andava muito ocupada com sua provável promoção ao Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Era sua ambição desde que entrara no Ministério e foi para isso que ela se empenhou nos últimos tempos. Exageradamente, assim como era a Hermione Granger de sempre.

Rony se orgulhava do triunfo da namorada, mas sentia falta dos momentos juntos. Eram cada vez menores. Mas, ás suas vistas, só ele se importava. Ele não via em Hermione, a mesma tristeza, a mesma saudade que sentia de seus momentos juntos, a dois. Só ele e Hermione. Há dias não a sentia por tanto tempo. Por horas, por uma noite inteira. Noites que simulavam dias... anos... a eternidade.

"Que horas você vai para a toca?". Hermione perguntou sem tirar os olhos do jornal.

"Vou passar no Departamento de Aurores só para me certificar de que não há nada para se fazer e depois vou".

Mione encarou o relógio. Eram sete e cinqüenta e seis.

"É melhor eu ir. O dia vai ser cheio hoje".

Hermione fechou o jornal engolindo o resto do café de uma vez, o que a deixou com uma cara estranha, pelo líquido excessivamente quente que descia pela garganta.

Rony prontificou-se a pegar seu casaco que ficava pendurado na entrada do apartamento deles.

A porta de entrada era de madeira, emoldurada por ladrilhos de vidro que a enfeitavam belamente.

Só quando pisou nos vidros, pôde perceber um par de ladrilhos estilhaçados no chão. Na porta, um buraco relativamente grande, onde foi feito o estrago.

"Mione... venha rápido!".

"O que foi?", segundos depois a jovem estava ao seu lado. "Meu deus, o que aconteceu?".

"Eu não sei...", Rony respondeu.

"Você fez isso?".

"Não. Eu cheguei e estava assim. Deve ter sido à noite".

"Nós teríamos ouvido o barulho", Hermione respondeu inconformada. "Ah... vândalos!".

Rony abriu a porta que tinha vista para a sua, visto que o apartamento era praticamente no térreo se não fossem as escadas de fácil acesso. Enquanto isso Hermione resmungava um "Reparo".

"Pronto, novinha em folha", disse satisfeita.

"Ou não...". Rony disse. "Venha ver isso!".

"Que brincadeira mais idiota é essa?". Hermione esbravejou olhando para os quatro cantos da rua.

"Você acha mesmo que é uma brincadeira?".

"Só pode ser Rony!".

Na parte externa da porta do apartamento 12, brilhava o desenho de uma Marca Negra.

"Isso não passa de arte de algum engraçadinho".

"Mas Mione... eu já disse que...".

"Não me venha de novo com o papo de Comensais da Morte. Aqueles que têm a sorte de estar livre devem ser muito burros para ficar brincando assim. Azkaban os espera, mais cedo ou mais tarde".

"Se você diz... De qualquer forma, vou conversar com Harry, ver se ele sabe de alguma coisa".

"Por Merlin... estou mais do que atrasada. Nos vemos mais tarde". Hermione correu para vestir o casaco.

"Mione...".

"O que foi Rony? Estou com pressa...".

"Não vai me dar nem um beijo?".

Hermione sorriu e voltou para perto de Rony beijando-lhe levemente os lábios.

"Vamos combinar o seguinte", ela disse. "Assim que eu chegar do trabalho irei preparar um jantar especial para você, certo?".

"Quando você chegar?".

Hermione surpreendeu-se com o semblante decepcionado de Rony quando esperava um entusiasmo maior por parte do namorado.

"Sim, assim que eu chegar!", ela insistiu.

"Você está brincando, não é mesmo?".

Hermione hesitou em responder. Não foi difícil para que Rony entende-se o motivo do seu silêncio.

"Você se esqueceu não foi?".

Hermione continuava calada, sem reação.

"Quadribol? Hoje? Meu teste para entrar no time? Estou a meses tentando a vaga de goleiro. Meu primeiro jogo é hoje".

"Oh Rony... me desculpa! Me esqueci completamente!".

"Está tudo bem...".

"não, não está...me perdoa querido. Mas minha cabeça ultimamente anda a mil. Jantaremos depois, então...".

"ESTÁ TUDO BEM!", Rony aumentou a voz fazendo Hermione calar-se. "Agora vá, você já está atrasada. Não quero que se prejudique por minha causa".

Sentindo-se ainda culpada, Hermione deu mais um beijo em Rony e em seguida,ainda carregando um semblante totalmente constrangido, aparatou.

Rony continuou alguns minutos do lado de fora do apartamento. Desgostoso com a vida, com a sua vida, ou como ela havia se transformado. Segundos depois também aparatou.