(Notas antes do capítulo)
Oi, gente! Bom, aqui está mais um capítulo! Essa notinha aqui é para esclarecer algo XD Eu não sei se eu consegui deixar isso claro no último capítulo, mas há um corte entre aquela cena em que o Hee-chan decide tirar o Duo do laboratório e aquela outra na qual o doutor Mason descobre que o Duo não está mais no Calvário. Os acontecimentos desse novo capítuloocorrem exatamente entre estas duas cenas!
Acho que é só isso! ;) Obrigado por lerem a droga da minha fic!
Boa leitura!
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Aletherium
Capítulo 2:
" Não vou te deixar na escuridão"
Sua decisão fora clara. Aqueles olhos tristes haviam mudado algo dentro da sua alma. E cada segundo dizia ao lingüista que precisava mudar o brilho melancólico naquele olhar. Por que mantinham Duo preso ali? Era óbvio que o rapaz se encontrava acima de qualquer explicação possível, afinal, um ser humano comum não conseguiria romper uma barreira de vidro resistente com apenas um toque. Mas Heero não se importava com isso. Não se importava se aquele jovem era diferente dos demais. Só queria o ajudar a fugir dali.
Arquitetou um pequeno plano enquanto ainda encarava o teto metálico sobre sua cabeça. Sabia que suas chances seriam mínimas, pois com certeza um lugar como aquele deveria ser repleto de proteções e guardas. Porém isso não pareceu relevante quando as luzes se apagaram, o sinal que Heero esperava para pôr seu plano em prática.
Aliviado, percebeu que suas suposições estavam certas: as luzes de todos os corredores estavam apagadas. Sabia que grandes estruturas como a daquele laboratório costumavam utilizar horários específicos para determinadas operações, como a interrupção da iluminação para contenção de gastos.
As sombras densas serviram com um manto que o ocultou até que encontrasse o que procurava. Avistou um sentinela parado diante do Calvário. Bom, ao menos era apenas um.
Heero forçou o olhar, tentando vencer a penumbra e estudar o seu alvo. Era um homem consideravelmente grande, porém não aparentava ser tão perigoso. Mas algo o tornava uma ameaça: ele tinha uma arma. O metal negro reluzia na penumbra, iluminado por uma fraca luz que Heero não sabia de onde vinha. De qualquer forma, aquela arma era um perigo, logo não poderia executar um ataque direto. Mas com certeza poderia arranjar outro método. Que Deus o ajudasse.
Rapidamente, bagunçou ainda mais os próprios cabelos, para sem seguida amassar como pôde a camisa branca de linho. Sabia que estava prestes a cometer uma loucura, e que tinha grandes chances de ganhar uma bala no meio da testa, mas preferia confiar na própria sorte.
Simulando um acesso incontrolável de tosse, Heero fingiu cambalear, tropeçando propositalmente até o guarda:
- Por favor...me ajude...- tentando parecer realmente mal, o lingüista se jogou no chão, praguejando pelo exagero de sua atuação e pela dor nas costas que com certeza teria depois. Isto é, se ainda estivesse vivo.
Um sorriso discreto se desenhou em seus lábios quando observou, aliviado, o sentinela se aproximar. Agora seria tudo ou nada...
- Você está bem, rapaz? – ao reconhecer o tom preocupado na voz cavernosa, Heero por um momento até sentiu pena do pobre homem, mas esta logo desapareceu quando o rosto triste de Duo eclodiu na sua memória.
Agravando o seu falso ataque com uma convincente dificuldade em respirar, Heero agarrou a calça negra do segurança, escalando suas pernas, fingindo sofrer bastante a cada movimento. O homem parecia atordoado demais para esboçar qualquer reação, o que foi bastante cômodo para Heero. Tudo durou apenas alguns segundos. Suas mãos chegaram ao cinto largo, alcançando a arma presa ali. Num impulso, arrancou-a da tira de couro, e sua perna cortou o ar numa rasteira desajeitada, mas forte o bastante para abater o grande homem.
Uma dor desconfortável em sua perna indicou que estava ficando enferrujado naquilo. Ainda lembrava dos pequenos treinamentos que tinha com o tio, que trabalhava como policial. Heero aprendera coisas simples quando criança, como imobilizar alguém ou desacordar um agressor. Seu tio sempre o alertara a nunca usar tais movimentos por motivos pessoais ou em brigas sem sentido, e deixara bem claro que apenas o ensinava a se defender devido à região perigosa onde moravam. Porém, no dia em que Heero foi assaltado e espancado por um bandido armado quando voltava de uma de suas aulas, o seu tio percebeu que apenas defesas simples não adiantariam. Com muito pesar, ensinou-o a manipular uma arma, em segredo.
O seu bondoso parente morrera em serviço dois meses depois, durante uma troca de tiros com alguns assaltantes. O lingüista tivera muita sorte por ter arranjado um emprego alguns dias antes do assassinato. A bolsa de estudos veio pouco tempo depois. Sentia muitas saudades do humilde e corajoso Hao Yuy, o melhor tio e policial que já conhecera. E, enquanto apontava a arma para o sentinela caído no chão, agradeceu silenciosamente por todos os ensinamentos e lições que recebera do valente policial. Com certeza, já estaria morto se não soubesse o que fazer.
Mas no momento, precisava concentrar-se em tirar Duo dali. Apertou a arma entre os dedos, deixando claras as suas intenções. Por pouco não gargalhou da expressão amedrontada do homem, que agora percebia ser uma réplica perfeita de um primata das cavernas. Mas que tipo de sistema de segurança aquele lugar possuía? Com certeza contratar um gigante sem o mínimo de conhecimentos sobre reação diante de um ataque não era algo inteligente.
Provavelmente, haviam colocado aquele cara ali apenas para assustar qualquer possível invasor com o seu olhar mal-encarado e tamanho. Felizmente, Heero sempre soube que nem tudo é o que parece. E que essa teoria fosse louvada, porque ela salvara sua vida.
- Abra isso! – o lingüista sussurrou, indicando as imensas proteções de aço por alguns segundos, mas não queria dar tempo para uma improvável reação do troglodita, e logo a arma estava novamente apontada para a cabeçorra de cabelos negros.
- Eu...eu não posso! – a resposta sussurrada numa voz chorosa não o agradou em nada.
Uma nova olhada para o corpo trêmulo sob a mira de sua arma o alertou para um detalhe que não percebera à distância.: um pequeno cartão magnético preso à camisa negra do uniforme do sentinela. Só poderia ser uma chave eletrônica, a maioria dos sistemas de segurança mais sofisticados possuíam aqueles pequenos dispositivos que guardavam códigos para a execução de algumas tarefas, como abrir e fechar portas.
Bingo! Definitivamente o tal guarda não era muito inteligente se pensava que o lingüista cairia naquela história. Heero piscou algumas vezes, erguendo uma das sobrancelhas para avaliar o medo no rosto do homem:
- Como você se chama? – era uma pergunta simples, e esperava uma resposta também simples, mas não recebeu algo diferente de um lamurio desesperado.
Suspirando, Heero revirou os olhos com irritação, acariciando o gatilho da arma, enviando um sinal claro ao sentinela: ou ele respondia, ou sua falta de reação poderia virar algo bem doloroso.
- Vince... – o guarda gemeu, temeroso.
Um sorriso que mais tarde poderia ser considerado como sádico surgiu nos lábios do japonês, ao obrigar o segurança a se levantar com um maneio da arma.
- Muito bem, Vince, estamos num impasse aqui. Você parece ser uma pessoa sensata... – calmamente, Heero fingiu-se por demais interessando no gatilho da arma, cutucando-o demoradamente para o desespero evidente do sentinela – ...e tenho certeza de que me ajudaria se pudesse. Mas já que não pode abrir estas portas...talvez eu deva procurar alguém que realmente tenha capacidade para isso...
Uma tentativa fracassada de conter um grito aterrorizado escapou dos lábios do tal Vince, soando como música aos ouvidos do lingüista. E sob o seu olhar divertido, o segurança cambaleou até um pequeno painel eletrônico, acionando algum comando por uma senha, tarefa que foi claramente dificultada por seus dedos trêmulos.
Heero aguardou pacientemente que as portas se abrissem, mantendo a arma apontada para o estranho homem. Uma pontada irritadiça fez os dedos do lingüista desejarem ardentemente puxar o gatilho ao observar a imobilidade da passagem, mas não queria realmente ferir o guarda. Além disso, ele era o seu caminho mais rápido para chegar até Duo.
- Vince...não estou vendo as portas se abrirem...- uma nova onda de tremores assaltou o corpo de Vince quando o tom perigoso na voz de Heero chegou aos seus ouvidos.
- É necessária uma...permissão do centro de comando, senhor. – o japonês ouviu-o gaguejar, sorrindo ao ser chamado daquela forma. Com certeza o pobre homem estava realmente amedrontado.
- Você pode fazer isso, não pode? – sua pergunta não deixava margens para uma negativa, e Heero sorriu aliviado ao receber uma confirmação frenética e temerosa de Vince.
Enquanto observava o segurança acionar um pequeno link auditivo, Heero manteve-se alerta para qualquer deslize. Vince, pelo que pudera ver, não era dos mais inteligentes, mas não era burro o bastante para fazer algo suspeito sob a mira de uma arma.
- Aqui é o guarda do setor 23, Vince Hawkins. Solicito permissão para acesso ao Calvário. – O sentinela logo percebeu que estaria perdido se cometesse algum erro, e adicionou uma tentativa de naturalidade na solicitação.
- Permissão negada. O Calvário somente pode ser aberto sob as ordens do doutor Mason.
Mesmo estando um pouco afastado, o lingüista pôde ouvir a réplica negativa. Droga...precisava se apressar. E para tanto, deveria contar com a "cooperação" de Vince. Heero engatilhou a arma, cuidando para que o guarda percebesse que agora sim estava sob um perigo real. Pareceu funcionar, para o alívio do japonês:
- O próprio doutor Mason mandou-me abrir estas portas, porque aparentemente descobriu o significado do restante dos manuscritos, mas ainda está ocupado codificando os dados. As minhas ordens são para retirar o garoto daí de dentro e conduzi-lo até a sessão 12, para novos testes.
- Entendido. Permissão concedida. Nível blindado agora aberto. E não se preocupe, o Messias foi sedado, está desacordado.
Pelo visto, o tal Vince não era assim tão burro. Mas quem não se tornaria mais inteligente com uma arma apontada para a cabeça?
Ambos voltaram suas atenções para a blindagem metálica, que rangia levemente ao encerrar a proteção, permitindo sua passagem. Perfeito! Agora...precisava dar um jeito de tirar Duo de lá sem chamar as atenções. E só uma pessoa poderia entregar o seu plano...
- Muito obrigado, Vince, eu não vou esquecer disso. – suspirando, Heero desengatilhou a arma, observando o curto alívio do segurança. Mas o pobre homem não pôde sentir-se livre por muito tempo.
A coronhada que atingiu a cabeçorra de cabelos negros não foi nada aliviadora. Heero não havia gostado de fazer aquilo, mas fora muito necessário. Com certeza o homem logo acionaria os demais ocupantes do laboratório sobre a sua fuga, se o deixasse ir. Mas não queria perder mais tempo. Deixando o guarda desacordado, o japonês atravessou o imenso portal blindado, adentrando no Calvário.
Pensava se estava realmente fazendo a coisa certa. Seria justo tirar Duo dali? O brilho de tristeza estampado naqueles lindos olhos violetas denunciava sua total infelicidade, e pelo que ouvira de Mason, a tal marca em sua mão esquerda se tornou nítida quando ele desejou sair dali. E, há pouco, quando vira o rapaz trancado naquela cúpula, a marca estava bem nítida. Se era assim, Duo estava infeliz por estar preso naquele lugar. E se ele estivesse doente e recebesse tratamento naquele laboratório? E se ele estava ali apenas para o seu próprio bem?
Poderia estar se metendo numa bela encrenca, porém seu coração mandava-o seguir em frente. Estava surpreso. Desde quando seguia tão fielmente o que o seu coração dizia? Talvez...desde o momento em que sentiu toda a tristeza e melancolia emanadas dos olhos de Duo.
Heero repentinamente foi engolfado por um sentimento de urgência incomum. Precisava chegar até Duo, sentia que o rapaz o chamava. E o lingüista não demorou a encontrar quem procurava. Ele estava l� e por Deus, Heero não queria acreditar no que via.
Seus pés tocaram o chão metálico da parte central da cúpula. Aquele lugar era assustador. Seu corpo foi balançado quando uma onda agonizante se infiltrou em sua alma, dilacerando qualquer lembrança de felicidade. Era tanta tristeza...tanta dor. Heero sentia-se preso em uma estranha bolha de aflição, que o mantinha mergulhado num mar de temores terebrantes. E o mais doloroso era saber que aquelas sensações eram parte de Duo.
Seu estômago se revirou desconfortavelmente ao se aproximar do centro da cúpula. Duo estava lá. Só esperava que estivesse vivo.
O lingüista não pôde conter o grito de ódio gutural que escapou da sua garganta ao encontrar uma imensa cruz metálica erguida firmemente sobre o chão. Ela o estava prendendo. Aprisionando o Messias.
Sem dúvida alguma, o japonês nunca esqueceria do que vira. Havia sangue escorrendo pelo metal frio da cruz. Sangue...de Duo.
O garoto de olhos tristes estava preso àquela cruz. Seus punhos e pés algemados por braceletes de aprisionamento, como outrora o mundo conheceu Jesus Cristo. Suas mãos e pés continuavam a sangrar, derramando o líquido viscoso por seus braços e corpo, maculando a pele alva e espalhando pelo metal o símbolo de todas as suas lamentações silenciosas.
Ele estava desacordado, Heero tinha certeza. Era melhor assim, pois se os olhos violetas tingidos de infelicidade se abrissem, o lingüista perderia qualquer capacidade de reação. Duo tinha esse efeito estranho sobre ele. Seu olhar cativava sua alma e coração, fazendo-o desejar ardentemente envolver o corpo frágil com o seu e não permitir que qualquer outro mal o tocasse.
Antes que enlouquecesse com os próprios pensamentos confusos, Heero decidiu-se por se concentrar no seu objetivo. Primeiro, deveria encontrar um jeito de desativar as trancas que prendiam Duo àquela cruz. Rompe-las com as mãos estava fora de cogitação, pois o metal de que eram feitas parecia ser bem resistente. Precisava encontrar um modo...
Algo se iluminou em sua mente quando avistou o pequeno main de controle instalado no metal reluzente da cruz. Provavelmente precisaria de uma senha, ou uma chave eletrônica. Mas onde encontraria uma?
Claro! Reprimindo-se mentalmente por ser tão distraído, o japonês se apressou em chegar até o corpo desacordado de Vince, arrancando o cartão eletrônico preso em seu uniforme.
- Isso deve servir...
Torcendo para que suas expectativas fossem confirmadas, Heero inseriu o cartão na pequena fenda do main. Um suspiro de evidente alívio abandonou seus lábios quando um leve e agudo sinal sonoro indicou a confirmação do sistema.
O japonês se apressou até o outro lado da cruz, a tempo de amparar o garoto desacordado em seus braços.
Merda! A pele dele estava fria...fria demais. Duo poderia até mesmo se passar por um morto, a não ser pela respiração quase imperceptível que elevava seu peito.O seu sangue era quente, e ainda fluía abundantemente das marcas em seu corpo.
O japonês temia que a perda de tanto sangue fizesse mal ao lindo rapaz, mas segundo o doutor Mason, o líquido vermelho era as "lágrimas" do Messias, fluindo do seu corpo sempre que estava triste. Então, deveria deduzir que Duo não era afetado, pelo menos não tanto quanto uma pessoa "normal" seria, pela perda de sangue. De qualquer forma, Heero não queria esperar mais tempo para descobrir.
- Duo...espere só mais um pouco. Eu vou te tirar daqui... – sua voz soou antes que pudesse perceber, movida por um instinto estranho de posse pelo garoto frágil em seus braços.
Certamente precisaria pensar muito sobre essas sensações novas e assustadoras depois.
Seus braços mantinham o corpo de Duo contra seu peito quando atravessou o portal do Calvário, atento a qualquer movimentação estranha nos corredores. O japonês sabia que estariam perdidos se por algum acaso fossem descobertos, pois vários outros guardas apareceriam aos montes. Portanto, deveria tomar o maior cuidado possível.
Passando por cima do corpo desacordado de Vince, o lingüista foi assaltado pela desagradável constatação de que não sabia para onde ir. Nem mesmo sabia sobre a entrada daquele lugar, pois a venda presa a seus olhos durante o trajeto até ali impediu que descobrisse sua localização.
Heero suspirou, acomodando melhor o corpo de Duo em seus braços. Não poderia falhar. Não deixaria o Messias por mais tempo naquele lugar que o trazia tanta tristeza.
Antes que pudesse se controlar, o lingüista se apressou até um corredor à sua direita, ignorando a penumbra extensa que ocultava o seu destino. Não, ele não temeria a escuridão. Duo estava em seus braços, precisando de ajuda. E Heero faria com que todas as luzes do mundo fossem acesas, se preciso, para iluminar o caminho de Duo.
Ao se aproximar de um pequeno declive marcado por uma escada, Heero concordou consigo mesmo: aquele lugar era um labirinto. Porém, estranhamente, tanta dificuldade parecia mínima quando comparada à dor que sentia vinda de Duo, provocando lágrimas confusas em seus olhos azuis. Sentia uma mão agarrar o tecido fino de sua camisa, ensopando-a de sangue morno.
- Duo...
O corpo menor tremia imperceptivelmente, acusando a agonia crescente fervilhando por suas veias. O lingüista arfou, repentinamente tomado pela ânsia de explodir os desgraçados que haviam deixado o rapaz de beleza andrógena mergulhado em tanta tristeza.
Um alarme explodiu aos seus ouvidos, e luzes avermelhadas e giratórias encerraram a penumbra silenciosa do laboratório. Por alguns segundos, o lingüista permaneceu estático, procurando entender o que acontecia. Olhando por cima do próprio ombro, sentiu seu sangue gelar ao distinguir Vince, novamente acordado, sussurrando sua localização pelo ponto auditivo.
- Droga!
Em meio à confusão de sons, Heero distinguiu os galgares de vários passos, ecoando no chão metálico e alcançando seus ouvidos como uma melodia fúnebre. Precisava sair dali o mais rapidamente possível.
Vozes misturaram-se aos passos, indicando a proximidade dos demais guardas do laboratório, que com certeza não estavam dispostos a permitir sua fuga. Que se danassem! O japonês trouxe Duo para mais perto, fazendo com que as pernas esguias circundassem sua cintura, e os braços ensangüentados envolvessem seus ombros.
A sensação do corpo magro moldado ao seu era estranhamente acolhedora, e por breves segundos, o lingüista esqueceu de tudo, mergulhado apenas na doce sensação que rodeava seus pensamentos. Parecia extremamente verdadeira a cadência do sentimento diferente que emanava do Messias. Parecia...alívio! Sim, Duo guardara sua confiança no japonês, seu salvador. As marcas não mais sangravam, e sua pele ganhava calor pouco a pouco, como se voltasse à luz do Sol depois de tempos mergulhado num mar frio e distante. O Messias ganhava a ressurreição em seus braços.
E assim, tudo se tornou claro. Sua mente foi libertada de qualquer incerteza ou dúvida. O caminho para a saída foi trilhado em seus pensamentos por um rastro repentino de certeza.
- Obrigado, Duo... – um sorriso se desenhou nos lábios do lingüista ao plantar um beijo na testa do garoto desacordado, se arrepiando brevemente quando uma onda de calor sacudiu seu corpo.
Não pôde pensar muito nos seus atos impensados. Heero apertou Duo contra si enquanto aplicava velocidade aos seus passos, até que ultrapassasse o corredor. Sombras se alongavam nos reflexos das paredes de metal, anunciando que a perseguição era real. Sua mente trabalhava quase que mecanicamente, fervilhando em lapsos de sensações e imagens. A saída estava cada vez mais próxima, podia sentir.
Heero tateou os bolsos à procura do cartão eletrônico que tomara de Vince, algo que se provou um pouco difícil enquanto corria. Droga! Não estava ali! Provavelmente caíra na fuga!
Libertando um palavrão, o lingüista se viu obrigado a mudar o seu curso, alcançando um corredor paralelo. Ao longe, pôde avistar outro imenso portal blindado, muito parecido com o próprio Calvário, e este logo se tornou o seu destino.
As vozes estavam cada vez mais próximas, ecoando por todos os lados. Só mais um pouco...precisava alcançar a passagem!
Um zunido cortante partiu o ar, acompanhado de um baque estrondoso e curto. Quatro disparos secos. Heero ouviu o impacto de pelo menos dois deles contra as paredes de metal, e ao mesmo tempo, sentiu seu braço direito ser balançado por um desagradável choque, seguido de uma dilacerante ardor. A sensação do líquido viscoso e quente acariciando sua pele foi esquecida quando a dor explodiu em suas veias, vertendo-se em um gemido surdo fugido dos lábios de Heero. Não poderia parar agora...não trairia a confiança de Duo!
Ignorando os demais disparos que cortavam o ar à sua volta, Heero cambaleou até a passagem, sentindo sua vista vacilar confusamente. Apenas mais alguns passos...apenas isso...
Não pôde esperar mais. Os guardas se aproximavam, prontos a dar um fim naquela perseguição. Heero viu suas esperanças se esvaírem lentamente, junto com a passagem blindada que se fechava diante dos seus olhos.
" Eu confio em você..."
Sua mente novamente mergulhou no mundo de paz criado por Duo. O japonês esqueceu-se de toda a dor, da escuridão, e do receio, ao se lançar em direção à blindagem. Seus corpos atravessaram a passagem poucos segundos antes que esta estivesse completamente fechada. Às suas costas, as trancas exteriores foram acionadas.
A escuridão cobria aquele lugar. Alguns disparos atingiram as portas blindadas, mas nem mesmo foram capazes de perfurar a superfície rígida.
Heero suspirou, aliviado, abraçando o corpo de Duo desesperadamente, procurando algum ferimento. Felizmente, nenhum dos disparos alcançara o garoto. Sentiu o rosto de Duo afundado em seu peito, e finalmente pôde sorrir:
- Não vou te deixar na escuridão, Duo...nunca mais...
Sua voz ecoou na penumbra, ressoando nas paredes metálicas e frias. Heero não mais se importava com perguntas ou dúvidas. Apenas uma certeza dominava sua mente: jamais permitira que Duo derramasse sua tristeza avermelhada novamente.
Permaneceu abraçado ao corpo esguio do garoto, acompanhando aliviado o calor voltar totalmente à sua pele, e sua respiração se normalizar. Tudo o que o japonês mais desejava era encontrar a felicidade no luar violeta dos olhos de Duo, mesmo que apenas uma vez.
As mãos agarradas firmemente à sua camisa relaxaram, descansando finalmente. Um suspiro de contentamento escapou dos lábios cheios do Messias, provocando novamente o calor envolvente e surpreendente na alma de Heero. Era estranho, mas ao mesmo tempo encantador...precisava da certeza de que Duo estava ali, ao seu lado.
Sabia que estava agindo como um louco, mas nada mais importava. Os lábios entreabertos de Duo exalavam a mais profunda paz que o lingüista jamais provara, cativando seu coração com a mais linda história contada no silêncio da penumbra.
Heero suspirou, sentindo-se docemente tonto ao beber a respiração quente e serena soprada pelos lábios do Messias. Os seus próprios queimavam em uma doce inquietação, clamando por um toque real. A dor em seu braço fora esquecida. Apenas a essência de luz irradiada de Duo existia, chamando-o, atraindo-o, selando a certeza de que algo forte, muito maior que qualquer mistério, surgia entre seus corpos, almas e corações.
Mas tudo foi partido como o silêncio de uma noite chuvosa quebrado por um trovão poderoso . Os passos rompendo a penumbra alertaram a mente de Heero, e o lingüista agarrou a arma presa em sua cintura instintivamente, apontando-a às cegas para a escuridão. Estava cada vez mais perto...os ruídos dos passos eram aumentadom pelo eco das paredes, causando o mesmo ódio irracional e violento que tomara o japonês quando vira a tristeza estampada nos olhos do Messias pela primeira vez. Não! Não tirariam Duo dos seus braços! Não o levariam de volta para a escuridão!
CONTINUA...
Notas bobas e sem futuro do autor:
Ol� todo mundo! Tudo beleza! XD Bom, aqui está mais um capítulo da droga da minha fic! n.n Eu sei que vocês já estão de saco cheio de ler as porcarias que eu escrevo, como essa fic, mas eu não consigo evitar de postar ;.; Por favor, não me matem T.T Ahhhh, e não pensem que eu esqueci de Snack Bar ! Eu acho que vou postar o capítulo novo dela amanhã XD Por um motivo que eu não posso revelar ainda, o capítulo 9 foi bem mais difícil de escrever XD
Bom, esse capítulo é dedicado à minha suni linda, Dee-Chan! Espero que goste, moça! Muito obrigado pelo apoio!
Ah, e também gostaria de agradecer muito mesmo a todos que comentaram! Valeu mesmo, gente! XD E se não for incômodo...mais reviews são muito bem vindos!
Beijão, gente!
