Things I'll never Say
Avisos:- Duo Pov, tentativa de humor, possível angst lá pra frente, mas coisa leve....=
Casais:-21
Spoilers:- Esse fic se passa 3 anos após Endless Waltz, portanto, pode ser que ajam algumas referências a série e aos OVAS
Disclaimer:- Ontem,chamei meu advogado em casa e perguntei para ele se eu era a dona da série Gundam. Ele jogou um livro gigante sobre direitos autorais na mesa, e mandou que eu lesse...portanto, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Mais uma vez, eu repito a fórmula que utilizei no "Blurry Arc", por que aparentemente trabalho melhor dessa forma. Esta fic é baseada nas estrofes da música "Things I'll never say" de Avril Lavigne. Porém, existem diferenças claras, por que enquanto "Blurry" é composto de vários fics que são ligados, este daqui é um fic mesmo, com uma duração aproximada de 10 capítulos, um atrás do outro, totalmente interligados. Boa Leitura!
Agradecimentos a Lien Li por ser uma beta na velocidade da luz e pelos ótimos comentários
Este capítulo vai dedicado a Carol Yuy. Hey Carol, você é uma pessoa mega bacana e realmente, muito, muito fina Saber que você curtiu o fic me deu o maior gás, então ele vai pra você. Espero que goste =
"If I could say what I wanna see
I wanna see you go down, on one knee
Marry me today
Yes, I´m wishing my life away
With these things I´ll never say..."
Ao entrar em meu apartamento fiquei contente e emocionado, ao dar de cara com dois de meus melhores amigos, no meio de minha sala, com seus braços entrelaçados nos corpos um do outro, enquanto estes dividiam um beijo caloroso, cheio de saudades reprimidas e sentimentos que eles não conseguiam mais conter dentro de seus corações.
Rá! Até parece.
Isso dito, eu acredito que fique clara a razão da minha surpresa quando retornei ao meu lar – com um sorriso, de dar inveja a um cabide, indo de um lado ao outro do rosto – e encontrei meu vizinho e minha visita, parados exatamente no mesmo local que em que eu os havia deixado um momento antes de sair. E, se é que isso era uma possibilidade viável segundo padrões da física, eles pareciam ainda mais tensos.
Da maneira que as coisas vinham caminhando eu esperava dar de cara com, pelo menos, uma proximidade um pouco maior. Sim, eu sei que o beijo era forçar a barra... mas, hey, acho que uns meros passos na direção um do outro ainda não era pedir demais certo?
Aparentemente era.
Talvez minha expressão fosse um tanto quanto estranha – algo entre alegria e desapontamento, com uma pitada suave de choque – porque Quatre soltou um suspiro, que parecia estar segurando a pelo menos meia hora, e Trowa me olhou como se eu estivesse usando duas tranças no alto da cabeça como uma caipira de festa junina, e convenhamos, isso seria realmente assustador.
Eu apenas os olhei, virando a cabeça alternadamente de um para o outro, tentando fazer minha face voltar ao normal e não entregar, ainda mais, minhas expectativas a respeito dos dois.
Meus esforços não estavam realmente surtindo muito efeito.
Pensei em várias alternativas para colocar nós três fora daquela situação estranhamente embaraçosa. Pensei em pedir para Quatre fazer um chá, pensei em fingir um desmaio repentino, contemplei até mesmo gritar que o circo havia chego, só para me certificar de que Trowa não havia morrido no meio de minha sala e que agora encontrava-se em rigor mortis, como eu estava começando a suspeitar que tivesse acontecido.
Mas meus amigos foram mais rápidos do que meu raciocínio, e um segundo depois, tinham parecido recuperar, a esquecida e lendária, capacidade da fala. Ao mesmo tempo. Não vou sequer comentar nada a respeito de maus momentos para se falar em sincronia.
'Er...Duo', ambos falaram ao mesmo tempo, para em seguida recuperarem sua tonalidade vermelha, e continuar, ' Desculpe, fale primeiro. Não, você primeiro... não, você...'
E por mais divertido - e de certa forma assustador- que fosse assisti-los falando involuntariamente ao mesmo tempo, como em algum tipo de musical improvisado, decidi tomar as rédeas da situação, antes que ambos ficassem vermelhos ao ponto em que eu precisasse levá-los ao hospital por conta da falta de sangue no restante do corpo.
'Certo rapazes, eu sei que vocês tem muito o que conversar ainda, mas eu preciso levar as malas de Quatre para o quarto e começar a arrumar as coisas por aqui...', falei em minha melhor imitação de um tom usual e cem por cento livre de vestígios de sarcasmo.
Trowa me olhou com uma expressão que tinha uma ponta de desconfiança, e eu mordi minha própria língua para evitar que as palavras me escapassem e eu lhe aconselha-se a levar as malas de Quatre para um quarto em SEU apartamento ao invés do meu.
Felizmente, para o bem de nossa amizade, a faísca sumiu de sua expressão tão rapidamente quanto havia aparecido, e num piscar de olhos, Trowa estava de volta ao normal. E quando digo "normal" eu me refiro a sua expressão normalmente...er...neutra.
'Sim, eu também tenho alguns afazeres que tenho de resolver ainda pela manhã, então... eu vou indo.' Ele falou, e em seguida ele e Quatre aproximaram-se e hesitaram na frente um do outro. Ambos pareciam extremamente interessados na decoração de meu apartamento, olhando em volta como se isso fosse capaz de fazer com que eles tornassem-se invisíveis ou algo parecido.
Essa pequena dança durou por alguns momentos, até que finalmente Quatre estendeu sua mão e eles se cumprimentaram civilizadamente. Talvez civilizadamente demais. Por todos os diabos, eu já tinha cumprimentado pessoas completamente estranhas com algo mais caloroso do que a cena que presenciava a minha frente.
Mais uma vez fiz um esforço sobre-humano para resistir a minha vontade de avançar nos dois e forçar um abraço entre ambos. Ou talvez bater as duas cabeças juntas bem forte. Talvez isso desse um jeito naquela situação embaraçosa...
Tão rápido quanto começou, o aperto de mão terminou, e num piscar de olhos Trowa estava na porta, fechando-a em seguida, atrás de sua figura. Caramba, ele continuava sendo muito rápido. Por um momento estranho quase dei um suspiro de alívio, lembrando-me de que ele havia estado do mesmo lado que eu durante a guerra.
Mas antes de finalmente sumir atrás da barreira de madeira, ele inclinou-se e falou suavemente, quase em um sussurro, seu rosto já escondido de meus olhos e dos de Quatre, 'Foi muito bom te ver novamente'.
Tenho a impressão de que aquele comentário tinha sido direcionado para apenas um dos dois ocupantes do cômodo, mas, hey, era bom que eu tivesse escutado, assim, caso Quatre tivesse perdido o comentário, eu poderia repetir as palavras para ele, ou interpretá-las, afinal, se ele tinha perdido a capacidade da fala, a audição podia muito bem ser a próxima.
Mas ele não havia perdido as palavras de Trowa, e eu soube disso da maneira mais óbvia possível. Uma vez fechada a porta, meu amigo praticamente desabou no sofá atrás de si, e seus braços apoiaram-se instintivamente em seus joelhos para segurarem o peso da cabeça, que caiu em seguida.
Assisti por um momento, enquanto ele esfregava seus olhos tentando talvez apagar a memória do que havia acabado de acontecer, ou talvez quem sabe, reavaliar a situação. Eu realmente não saberia dizer exatamente o que se passava na cabeça dele, mas posso adivinhar que provavelmente não era nada muito agradável, porque seus ombros estavam caídos em um sinal claro de derrota.
Sentei-me a seu lado colocando meus braços em volta de sua figura, passando minhas mãos suavemente por seus ombros tentando meu melhor para fazer com que parte da tensão que meu amigo sentia fosse dissipada de alguma forma. Alguns minutos passaram-se até que ele recuperasse sua usual calma novamente.
Quatre levantou sua cabeça de suas mãos e me olhou com olhos levemente vermelhos e um sorriso triste.
'Eu sei que sou patético, Duo', ele falou, baixando seu olhar para o chão, evitando olhar-me diretamente enquanto falava.
'Não, você não ', respondi com firmeza, estacionando minhas mãos e puxando-o com um pouco de força para que ele pudesse apoiar-se por completo sobre mim.
'A situação toda é patética...', ele continuou, aceitando meu apoio, mas ainda recusando-se a me olhar.
'Ok, a situação talvez seja um pouco...', falei, tentando animá-lo pelo menos um pouco, e minha tentativa foi recompensada com um pequeno riso.
'A gente pensa que muda durante os anos, mas no final continuamos sendo os mesmos covardes de sempre...', ele continuou e sua voz havia assumido um tom quase melancólico.
'De jeito nenhum!', exclamei, virando-me para ele e pegando seu rosto com uma de minhas mãos fazendo com que ele olhasse para mim, enquanto eu pronunciava minhas próximas palavras. 'Nós evoluímos muito. VOCÊ evoluiu muito. Por todos os diabos, você é, e sempre foi, uma das melhores pessoas que eu já conheci em toda minha vida, e se tem algo do qual eu posso me gabar é de conhecer uma infinidade de pessoas.'
Os olhos dele aumentaram levemente em surpresa, como se ele jamais pudesse ter sequer imaginado algo como a afirmação que estava ouvindo naquele exato momento. Às vezes chega a ser engraçada a forma como as pessoas não notam os fatos mais óbvios.
' E nem sequer TENTE me falar o contrário', continuei, em falsa irritação, 'Porque se você me disser que não evoluiu, então teremos de ir até o mercado da esquina comprar bananas, porque eu ainda sou um macaco!'
Isso fez com que ele realmente risse, e a tristeza abandonou seu rosto por completo, dando espaço a uma expressão menos preocupada e mais inclinada a alegria. Missão cumprida.
'Mas Duo, admita que já era hora de eu ter conseguido reunir coragem o suficiente para falar para ele! São anos e anos e nada parece mudar entre nós... se é que a situação não está piorando...' ele falou, olhando para suas mãos, contemplando-as como se estas contivessem a resposta para suas perguntas.
Para essa, nem mesmo eu tinha a resposta. Afinal, eu estava em uma situação vergonhosamente semelhante, com a diferença de que era claro, aos olhos até mesmo de um cego, que Trowa e Quatre eram positivamente apaixonados um pelo outro, enquanto que no meu caso e o de Heero...bem...digamos que as coisas já não eram assim tão fáceis de serem lidas nas entrelinhas.
'Por todos os diabos, pelo que eu sei até mesmo Wufei conseguiu chegar em Sally antes de eu chegar em Trowa!', ele falou, em um tom de semi-desespero. '...e convenhamos que Wufei não era exatamente o mais romântico entre todos os pilotos...', ele terminou de forma mais suave, sua voz retornando ao normal.
Três coisas na afirmação de Quatre me causaram uma certa quantidade de medo. O fato de que ele talvez tivesse falado alto o suficiente para que Wufei tivesse escutado e em seguida entrasse em meu apartamento como um furacão, katana em mãos, pronto para nos cortar em pedacinhos pelo insulto proferido. O fato de que ele sabia sobre o caso Sally/Wufei, que eu sinceramente pensava que fosse uma informação conhecida apenas por um grupo selecionadíssimo de pessoas; e finalmente, por último, mas não menos importante, Quatre havia falado "por todos os diabos". Isso indicava que ele estava realmente frustrado com a situação.
'Veja bem Quatre, as coisas não são assim. Você tem de fazê-las a seu tempo, quando achar que está pronto...', tentei acalmá-lo da melhor maneira que sabia como.
'É...', ele concordou suavemente com a cabeça, voltando a olhar para mim, e pude perceber que ele estava voltando lentamente a seu estado normal, ' eu espero não perder mais uma chance... caso ela venha a se apresentar diante de mim...'
Eu estava pronto a acenar com a cabeça e oferecer-lhe mais algumas palavras de conforto quando ele repentinamente livrou-se de meus braços e se virou por completo no sofá para me olhar da cabeça aos pés. ' E como é que você está aproveitando SUAS chances, hein?', ele perguntou, o humor de volta em seus olhos e palavras, e eu soube nesse momento que ele estava completamente de volta ao normal.
E que, como já era de se esperar, eu teria de contar tudo para ele.
Tive de contar a Quatre a história completa, desde meu primeiro e embaraçoso encontro com Heero na sala de Une, coberto de lama, passando por meu segundo encontro, também coberto de lama, até finalmente chegar em nosso último encontro, apenas algum tempo atrás, no apartamento de Trowa. Ao contar a história, tive o cuidado de não citar para Quatre o peitoral brilhante do objeto de sua afeição, simplesmente para não lembrá-lo do que ele estava perdendo.
Quando finalmente cheguei ao final da história - que teve seu clímax com minha ida ao apartamento de Heero e conseqüente o convite para jantar - Quatre parecia com uma criança na véspera de natal. Eu podia jurar que seus olhos praticamente brilhavam.
'Duo, isso é maravilhoso!', ele exclamou alegremente, me abraçando como se eu tivesse acabado de passar na faculdade, tido meu primeiro filho, ganho na loteria ou algo igualmente impressionante e digno de comemoração.
'Na verdade está mais para um milagre...', respondi em um tom sarcástico, que foi respondido com uma expressão de leve descontentamento. Eu sei que Quatre tinha todas as intenções de me dizer que eu estava sendo ridículo, mas acredito que talvez ele tenha lembrado de sua própria situação, e resolveu ficar calado.
Lhe dei um último abraço carinhoso, e partimos para fazer as coisas que realmente tinham de ser feitas durante o dia. Depois de algumas horas, havíamos colocado-o suas malas e pertences confortavelmente no outro quarto do apartamento, o que eu usava como escritório, por não sentir necessidade para um quarto de hóspedes. Felizmente, esse cômodo possuía um sofá-cama bastante confortável.
Almoçamos algum tempo depois e Quatre deixou que eu provasse de seus dotes culinários. Não sei dizer com exatidão como pessoas que vivem metade de sua vida nas proximidades do deserto podem cozinhar frango de uma forma tão deliciosa, afinal, não acredito que muitas galinhas conseguissem sobreviver ao calor da região por tempo o suficiente para serem cozidas depois. Mas de alguma forma, Quatre tinha certamente um dom para isso, e tive de me obrigar a parar de comer, para deixar um espaço em meu estômago para o jantar que eu sabia que viria mais tarde. Apesar de não ter certeza se meu estômago deixaria comida entrar nele, por conta das borboletas que estariam ocupando-o.
Passamos o restante da tarde apenas conversando e colocando anos de conversa atrasada em dia, e eu não podia deixar de pensar o quão incrível era o fato de que, mesmo depois de uma distância de praticamente anos, Quatre continuava sendo a mesma pessoa agradável e amável de sempre. Eu sentia como se jamais tivéssemos nos separado, e o lembrete de que a distância havia existido apesar de tudo, trazia uma certa dor ao meu peito. Um tipo de arrependimento por não ter me esforçado mais para manter aquela amizade tão valiosa.
Cerca de uma hora e meia antes de meu encontro, me retirei da sala, deixando meu amigo para trás a fim de poder me arrumar sem pressa. Tomei um banho longo, e fiz questão de passar tanto o shampoo quanto o condicionador duas vezes, só por garantia. Quando sai do banheiro, senti uma certa quantidade de orgulho ao notar que o cheiro de maçã verde dos produtos tinha invadido todo o meu cômodo.
Fiquei um pouco surpreso ao notar que havia duas peças de roupa sobre minha cama: uma camisa preta, e uma calça social igualmente preta. Eu não tinha separado roupas antes de tomar banho, mas estas pareciam realmente perfeitas para ocasião. Provavelmente Quatre havia feito isso. E caso não tenha ficado claro, sim, preto ainda é minha cor favorita. Eu fico realmente sexy vestido todo de preto.
Fiz minha trança com um pouco mais de cuidado que o habitual, e coloquei minha cruz dourada no pescoço, empurrando-a para dentro da camisa em seguida. Dei uma última olhada no espelho, e satisfeito com o vi, voltei para a sala.
Quatre estava lendo um livro, e levantou seus olhos ao notar que eu havia entrado no cômodo. Ele me olhou da cabeça aos pés e assoviou com ênfase.
'Quatre!', falei, inevitavelmente envergonhado pela reação anormal de meu amigo.
'Hey, eu posso estar gamado por outro cara, mas eu ainda tenho olhos sabia?', ele me falou com uma pequena piscadela, enquanto levantava do sofá deixando o livro em uma das almofadas e aproximando-se de mim. 'Eu sabia que você ficaria muito bem todo de preto. Costumava ser sua especialidade.', ele continuou, enquanto arrumava a gola de minha camisa.
'Obrigado por ter separado a roupa', falei, olhando-o nos olhos com alegria.
'Pra que servem os amigos?', ele respondeu, com um sorriso genuíno estampando-lhe os lábios. 'Só falta isso', ele falou então, puxando minha cruz suavemente para fora da camisa, e parecendo satisfeito com o contraste que o dourado fazia com o negro do restante da roupa. Ele me deu um leve tapinha no ombro, 'Agora vá. E boa sorte! Apesar de que eu acho que você não vai precisar, garanhão...'
Ri junto com ele da pequena piada, e agradeci os cuidados de meu amigo antes de sair de meu apartamento, em direção ao de Heero. Eu estava cerca de quinze minutos adiantado, mas conhecendo Heero, ele provavelmente já estaria pronto também.
Sendo assim, não fiquei realmente surpreso ao ser recepcionado por um Heero completamente preparado para sair. Detalhe é que, o fato dele estar pronto pode até não ter me surpreendido, mas não posso dizer o mesmo da roupa que ele usava. Heero estava vestido em uma calça cinza chumbo e uma camisa vermelha, e por um momento eu quase fiz uma pequena oração, dizendo a Deus que agora ele podia me levar da Terra, porque minha missão aqui estava completa e eu morreria feliz.
Felizmente eu não acredito em Deus.
Então, após alguns poucos segundos de apreciação mútua, nos quais olhei Heero por completo e tentei gravar aquela imagem divina em minha mente para que está me acompanhasse para sempre e sempre, nos cumprimentamos brevemente e ele fechou a porta de seu apartamento.
Sugeri que fossemos a um restaurante próximo, um local que eu sabia que teríamos privacidade e um ambiente agradável, e ele concordou com a minha idéia de que fossemos caminhando até o lugar, para aproveitar o clima da noite, que estava realmente agradável. E perfeita, acrescentei mentalmente.
Caminhamos lentamente, falando sobre o clima, sobre nossas salas no QG dos Preventers e coisas insignificantes do tipo. Antes de chegarmos ao restaurante passamos na frente de uma pequena floricultura, e na frente do local havia um recipiente com uma enorme quantidade de tulipas. Eu parei por alguns segundos observando as flores. Elas eram simplesmente maravilhosas, e não pude resistir a vontade de me abaixar para sentir seu perfume intoxicante.
Resisti porém, a vontade quase avassaladora de comprar uma delas para dar a Heero, porque quando me virei em sua direção, ele estava parado a meu lado, assistindo a cena – provavelmente estranha – que eu compunha enquanto cheirava as flores com os olhos fechados, como se nunca tivesse feito isso na vida. Sentindo-me envergonhado por aquela demonstração de romantismo, simplesmente sorri um pouco sem graça e voltamos a caminhar na direção do restaurante, chegando nele logo em seguida.
Foi então que a noite começou a tornar-se um inferno.
Fomos atendidos por uma garçonete muito simpática, talvez um pouco animada demais, mas educada de qualquer forma. Ela sugeriu que provássemos o espaguetti e eu concordei, deixando que Heero escolhesse seu prato em seguida, mas ele sugeriu que ela trouxesse uma porção dupla.
Com a saída da garçonete, ficamos finalmente sozinhos e numa posição que não nos deixava muita opção, a não ser a de olhar um para o outro. Sentindo-me um pouco nervoso debaixo dos olhos azuis penetrantes de Heero, eu não notei quando meu braço bateu em uma das taças sobre a mesa, derrubando-a e fazendo com que o líquido caísse em meu colo.
A garçonete imediatamente notou minha trapalhada e avançou com um pequeno pano, talvez com intenções de passá-lo sobre meu colo. Intenção que claramente deixou seus pensamentos um momento depois de ela ver o olhar que eu estava lhe dando. Um olhar que prometia morte certa, caso ela fosse adiante com seu plano de encostar aquele pano em qualquer lugar sequer PR"XIMO ao meu colo.
Aproveitei o momento de medo da garota, para pegar o pano de sua mão, e tentando por mim mesmo dar um jeito na sujeira que eu tinha acabado de fazer. Devolvi-lhe o pano, e agradeci, fazendo meu melhor para não deixar que ela visse a irritação, que certamente tentava estampar meu rosto.
Alguns momentos se passaram antes que nosso pedido chegasse, trazido pela mesma garçonete, e no espaço breve de tempo entre meu acidente e a chegada do pedido, Heero continuou nossa conversa prévia como se nada tivesse acontecido, sem sequer citar o ocorrido.
Sem dar aqueles pequenos 'hunft' insatisfeitos, que costumavam ser sua marca registrada na guerra, sem me chamar de 'baka', nada disso. Estranho. Mas se ele não queria comentar sobre meu comportamento anormal, eu também não seria idiota o suficiente para comentar o dele.
Pedir o macarrão, a primeira vista, parecia ter sido uma idéia realmente boa. O gosto do prato era maravilhoso e não pude evitar de pensar em uma cena clássica de um desenho muito, muito antigo chamado 'A Dama e o Vagabundo' [1], na qual dois cachorros pegavam o mesmo fio de massa. Mas Heero e eu não éramos cachorros. Tive certeza disso poucos minutos depois de começar a comer, já que, com certeza, nem mesmo cachorros seriam estúpidos o suficiente para fazer o que eu fiz.
Derrubei macarrão na minha camisa. Um belo bocado, que escorregou de meu garfo diretamente pro meu peito. Molho para todos os lados em que se olhasse. Eu sei que você pode imaginar. Olhei para minha camisa, cheia de espaguetti, e com uma mão que quase tremia de ódio, peguei meu guardanapo para tirar os fios de massa. O próximo passo seria pegar a faca e enfiá-la com toda a força nesse mesmo peito.
Enquanto tentava limpar a mancha escura que cobria boa parte da frente de minha camisa, notei com certa quantidade de raiva que a garçonete não tinha aparecido com o pano desta vez. Eu realmente tinha assustado a pobre menina. Levantei minha cabeça para pedir a Heero que ele chamasse a garota, e capturei o mais estranho dos olhares em seu rosto.
Heero estava com os olhos fixos na mancha, e os lábios cerrados como que contendo um grito ou algo parecido. Completamente confuso e assustado, olhei novamente para minha camisa e notei que, pelo fato dela ser preta, a mancha com o molho era ainda mais negra sobre o tecido, e numa primeira impressão aquilo poderia muito bem passar por... sangue. Uma poça de sangue.
Mais do que rapidamente puxei o guardanapo dele, cobrindo-me com o objeto, e esse ato pareceu tirá-lo de seu transe. Sem que eu pedisse, ele chamou a garçonete rapidamente solicitando um outro guardanapo, que a garota trouxe com uma agilidade impressionante.
Depois de limpar a segunda parte de minha sujeira, voltamos ao jantar terminando-o rapidamente, quase que em silêncio total. Heero ainda parecia levemente perturbado, e eu estava simplesmente frustrado demais com meu próprio comportamento.
Assim que terminamos o jantar, depois de trocar umas poucas palavras sem sentido, imediatamente tratei de pedir a conta, antes que derrubasse mais algum dos conteúdos da mesa sobre o restante de meu corpo. A garçonete voltou com nossa conta, e com uma taça de sorvete em mãos.
'Eu não pedi isso', falei quase que imediatamente após ela colocar a taça de sorvete a nossa frente. Para minha completa surpresa, ela sorriu.
'É por conta da casa senhor. Por conta de meu...incomodo', ela falou, hesitante.
Droga! Agora eu me sentia ainda pior. A garota era um docinho, e eu tinha deixado que minha irritação por conta das coisas que eu mesmo tinha feito, fosse descontada sobre a gentileza dela. Duo Maxwell você pode ser um completo cretino quando quer.
Decidido a não cometer mais nenhuma gafe pela noite, aceitei o sorvete, sorrindo e notando em seguida que haviam duas colheres neste. Empurrei a taça para o meio da mesa, sinalizando a outra colher na direção de Heero.
Provei uma colherada da sobremesa e ao notar que a garçonete certamente tinha um ótimo gosto para doces, continuei a comer. Mas não sem antes pegar meu maltratado guardanapo e deixá-lo debaixo da mão com a colher de sorvete a cada movimento que eu fazia com esta levando o doce a boca. Eu realmente não precisava de mais nenhum grupo alimentício estampando minha camisa.
Esse meu ato pareceu divertir Heero, porque ao notar que sua colher tinha parado de se mover no doce, olhei para seu rosto e encontrei-o com aquele sorriso misterioso, desta vez, amplificado. Sorri de volta para ele, não conseguindo evitar o movimento de meus lábios diante da visão a minha frente.
Com uma mudança praticamente palpável no clima na mesa, terminamos de comer para em seguida nos retirarmos. Não sem antes de eu deixar um gorjeta extremamente generosa para a garçonete.
Andamos de volta para o prédio em um silêncio confortável. Não sei quanto a Heero, mas eu estava pensando em exatamente qual teria sido o saldo dessa noite. Infelizmente, as coisas não pareciam as melhores para mim.
De certa forma, tínhamos acabado o jantar de forma agradável, mas o mesmo não podia ser dito dos momentos que se passaram antes. Em especial o momento envolvendo a mancha de molho. Na melhor das circunstâncias, Heero achava que eu era atrapalhado, desajeitado e sem coordenação, para dizer o mínimo. Em duas palavras: um completo idiota.
Suspirei em resignação. Logo em seguida prendi minha respiração instintivamente, porque ele pegou em minha mão suavemente.
Olhei-o com uma expressão de surpresa, abrindo minha boca para falar alguma coisa que se recusava a sair. Claro, eu não sabia o que falar.
Ele, ao contrário sabia. 'Nós chegamos', ele falou, virando a cabeça na direção do prédio a nossa frente, 'vamos'.
Ah sim, isso explicava a movimentação de mãos. Ele tinha feito isso para chamar minha atenção. Mas se isso era verdade, porque ele não soltou minha mão até chegarmos na porta de seu apartamento?
Ao pararmos, ele soltou minha mão deixando-me praticamente com frio pela falta do calor que ele transmitia. Em seguida, tirou a chave do bolso, abriu a porta e virou-se para mim. Mais uma vez, me senti na eminência da falta de palavras. Na dúvida, gagueje, é o que eu sempre digo.
'Er...Heero, eu...', comecei, mas fui interrompido da maneira mais inesperada o possível.
Heero me abraçou. Forte.
E teria sido minha impressão ou ficamos nisso por alguns minutos? Não saberia dizer com certeza. Só posso afirmar que foi por tempo o suficiente para que eu respondesse o abraço, colocando meus próprios braços em volta dele.
Quando finalmente nos separamos, notei que a camisa dele agora estava um pouco manchada com o molho da minha. Eu podia praticamente me socar. Isso era o final perfeito para o pior encontro da minha vida.
Mas ele não pareceu se importar. Na verdade, ele não pareceu sequer notar. Ele simplesmente me olhou com aquele pequeno sorriso, e antes de entrar em seu apartamento e fechar a porta suavemente atrás de si, falou em um tom de voz baixo, 'Boa noite, Duo'.
Antes que eu pudesse responder, estava face a face com a madeira fria da porta.
Essa certamente tinha sido uma noite infernal...
'Boa noite, Heero', respondi para o vazio, sorrindo para mim mesmo sem razão aparente.
Mas talvez ainda houvesse esperança.
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Fim do Capitulo 5
[1] Sim, eu sei que "A Dama e o Vagabundo" não é um filme tão antigo assim, mas tenham em mente que na linha temporal do fic passaram-se muito séculos. Estamos em 198 DC, que já é um tempo MUITO avançado depois do século vinte. Portanto, nesse contexto seria correto chamar " A Dama e o Vagabundo" de muito, muito antigo. Só a titulo de esclarecimento.
Agradecimentos aos maravilhosos reviewers: Kagome, Serenity Le Fay e Karin Kamya. Obrigada pela força pessoal /"
Queria aproveitar o espaço para agradecer a uma lista de pessoas que comentaram em "Walking After You" e "Sete Dias", meus fics já previamente completos! Non pensem que me esqueci de vocês: Daphne Peçanha, Anônimo, Kagome Higurashi, WW, Maika, Serennity Le Fay, Nana, Kagome e Mariana! -Misao abraxa a todos- Vocês são demais =
