Things I'll never Say
Avisos:- Duo Pov, tentativa de humor, possível angst lá pra frente, mas coisa leve....
Casais:-21 , 34
Spoilers:- Esse fic se passa 3 anos após Endless Waltz, portanto, pode ser que ajam algumas referências a série e aos OVAS
Disclaimer:- Ontem,chamei meu advogado em casa e perguntei para ele se eu era a dona da série Gundam. Ele jogou um livro gigante sobre direitos autorais na mesa, e mandou que eu lesse...portanto, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Mais uma vez, eu repito a fórmula que utilizei no "Blurry Arc", por que aparentemente trabalho melhor dessa forma. Esta fic é baseada nas estrofes da música "Things I'll never say" de Avril Lavigne. Porém, existem diferenças claras, por que enquanto "Blurry" é composto de vários fics que são ligados, este daqui é um fic mesmo, com uma duração aproximada de 10 capítulos, um atrás do outro, totalmente interligados. Boa Leitura!
"If ain't coming out
We're not going anywhere
So why can't I just tell you that I care?"
" Se não está ficando claro
Nós não estamos indo a lugar algum
Por que não posso simplesmente lhe dizer que me importo?"
'Heero?' ouço minha própria voz dizer antes que consiga conter minha surpresa diante da cena a minha frente.
Pela primeira vez em muitos dias não me sinto um completo idiota por estar surpreso. Dessa vez, minha reação é completamente justificada. Alguns minutos atrás eu havia deixado meu apartamento – ou fugido dele, como preferir - com toda a intenção de visitar Wufei e desfrutar de sua companhia, talvez ganhando mais uma ou duas xícaras de chá como um brinde nesse processo.
A imagem de Heero Yuy vestido em roupas casuais porém, era um brinde infinitamente melhor. Em termos de comparação, seria algo como achar o melhor brinquedo dentro da caixa de cereal, aqueles que todas as crianças cobiçam mas nenhuma jamais ganha, ou talvez um palito de sorvete premiado.
Minha mente fez o favor de fazer associações com essas duas comparações. Primeiramente ao fato de que Heero realmente era um item altamente cobiçado sobre o qual ninguém – ninguém de que se tinha notícias de estar vivo, pelo menos – tinha colocado as mãos. E ainda houveram algumas outras associações envolvendo sorvete, que tratei de banir rapidamente de meu cérebro para o bem estar de minha dignidade.
Porém, para compensar o caminho pouco ortodoxo de meus pensamentos, estes ao menos evitaram que eu perguntasse o que Heero estava fazendo ali, esta sendo a minha indagação clássica para todos os momentos nos quais ele surgia repentinamente a minha frente, nos mais inesperados locais.
Acreditem quando digo que não passar vergonha na frente de Heero durante os primeiros segundos de um encontro é um grande passo para mim.
'Duo, o que aconteceu com sua mão?', ele pergunta repentinamente, retirando-me de meus pensamentos felizes com a velocidade de um raio caindo numa árvore e partindo sua pobre vítima ao meio.
Merda! E por um minuto realmente pensei que conseguiria sair com minha imagem intacta pelo menos uma vez...
'Sally disse que ele deixou um armário cair em cima da própria mão', Wufei respondeu em um tom de semi-divertimento de seu lugar, sentado em uma de suas poltronas no meio da sala.
Claro, esqueci de citar que, sempre que eu milagrosamente conseguir não envergonhar a mim mesmo sozinho – como se já não fizesse um ótimo trabalho nesse sentido – posso contar com meus melhores amigos, pessoas maravilhosas que são, para fazer isso por mim.
'Foi...um acidente', me apresso em dizer, pensando um segundo depois das palavras já terem deixado minha boca que esse pequeno fato provavelmente faria com que Heero pensasse que eu era ainda mais estúpido. Um ex-piloto de Gundam se deixar ser atingido por um armário. E não estamos falando de um Móbile-armário ou coisa parecida, e sim somente... um armário.
Patético.
Quase rio diante de minha situação. Aparentemente, sou capaz de me fazer passar por um completo idiota diante da pessoa que mais quero me veja de outra forma, sem sequer pronunciar mais de cinco palavras. Tenho praticamente certeza que isso é algum tipo de recorde mundial ou coisa parecida. Talvez seja um dom...
A movimentação de Heero me retira de meus pensamentos auto-depreciativos. Ele pega suavemente em minha mão machucada fazendo com que eu instintivamente puxe o machucado para longe do alcance de seus dedos.
Rapidamente recuperando-me do choque e percebendo suas intenções de apenas verificar a condição de meu braço, coloco minha mão enfaixada novamente sobre a mão que ele manteve estendida gentilmente em minha direção. Heero analisa as bandagens e o possível dano por debaixo dessas, e o calor de seu toque, mesmo com a barreira das faixas, faz com que minha pele formigue.
Depois de virar meu braço em todos os ângulos possíveis e parecendo finalmente satisfeito com o trabalho feito em meu machucado, Heero solta minha mão suavemente. Então olha para meus olhos e diz, sua voz entregando um certo tom de preocupação que eleva meu já elevado nível de surpresa mais alguns níveis. 'Tome mais cuidado ok, Duo?'
Me vejo instintivamente assentindo com a cabeça, um sorriso brincando em meu rosto diante da perspectiva de que Heero talvez esteja genuinamente preocupado com minha saúde e bem estar.
Logicamente esse pensamento dura cerca de um segundo, porque o lado mais racional e menos romântico de minha mente começa a rir alto me dizendo para deixar de ser um babaca e me tocar do fato de que Heero agora provavelmente tem a confirmação de que precisava para ter certeza de que sou um completo imbecil, e que sobrevivi a duas guerras por pura sorte.
Fato esse, que eu SEI que é mentira. Mas esse lado de minha mente é realmente uma criaturinha muito, muito cruel...
Enquanto debato internamente sobre as razões das palavras de Heero, este continua simplesmente parado a minha frente, me olhando como se esperasse uma resposta mais elaborada de minha parte. Quando percebo isso, olho diretamente para seu rosto e por um minuto encontro algo em seus olhos que me paralisa por completo, roubando de mim qualquer palavra que decidisse arriscar-se a quebrar o momento quase mágico. Ficamos olhando um para o outro, e os segundos esticam-se no que parece um momento no qual apenas eu e ele existimos.
O que obviamente não é verdade, já que um longo acesso de tosse de Wufei – que mais parecia com um artifício para esconder um ataque de risos – faz com que ambos olhemos para meu amigo chinês dentro do apartamento, quebrando nosso prévio contato visual.
E isso me traz de volta a situação inicial. Este ainda é o apartamento de Wufei, Heero ainda está do lado de dentro, e eu ainda estou na porta.
Seguro o suspiro resignado que ameaça escapar de meus lábios diante da necessidade que agora surge, para que eu diga a amaldiçoada frase. Eu realmente não tenho como evitá-la nesse momento. Então simplesmente decido acabar com a farsa de que algum dia eu talvez não tivesse sido um pateta, e digo o que tenho que dizer, como manda o script.
'Então Heero,' resisto por alguns segundos, preparando-o para o que ele talvez já saiba que está por vir, 'o que você faz aqui?', pergunto finalmente, pronto para chutar meu próprio traseiro caso ele não o faça.
Mas Heero não parece sequer minimamente incomodado com minha questão. 'Na verdade eu estava indo para o seu apartamento. Eu queria falar com voc' , ele responde com naturalidade, sem notar, ou talvez ignorando, o leve, quase imperceptível, grunhido de surpresa que faço diante de sua declaração.
'Comigo?', pergunto, ainda um tanto quanto incrédulo, ao que ele responde assentindo levemente com a cabeça. 'Oras, pois então fale, eu estou bem aqui', respondo com um sorriso e tom despreocupado, resolvendo entrar no jogo, mesmo estando ainda um pouco confuso quanto as regras.
'Eu ia falar com você para lhe dar isso' e com essas palavras, Heero estende em minha direção um envelope de papel cartão com bordas douradas. Eu posso ver que trata-se de um convite antes mesmo de abri-lo, mas antes que possa descobrir mais coisas sobre o que tenho em mãos, Heero continua.
'É um convite para o baile de aniversário de Relena.'
Ok, vamos fazer o mundo parar por apenas um instante para que eu possa me decidir, sim?
Eu realmente preciso de ajuda para descobrir sobre qual das coisas que acabaram de acontecer diante desses olhos que a terra um dia há de engolir, me surpreende mais: o fato de que Heero me convidou formalmente para um baile, o fato de que ele o fez na presença de Wufei, sem sequer parecer incomodado com isso, ou o fato de que, entre todas as pessoas do mundo, ele me convidou para o baile de aniversário de Relena. E quando digo Relena, me refiro a uma única Relena. AQUELA Relena. Relena Peacecraft. Ou será possível que exista que exista uma outra Relena? Eu juro que não duvido de mais nada.
Façam suas apostas senhoras e senhores, qual dessas três revelações é mais bombástica?
'Duo?', a voz de Heero novamente me retira de meus pensamentos e percebo que o mundo não parou para que eu pudesse resolver. Então, mesmo com a dúvida ainda rodando em minha cabeça como um gira-gira descontrolado, recomponho-me rapidamente para tentar entender logicamente o cenário praticamente bizarro no qual me encontro.
Descartando a possibilidade da porta do apartamento de Wufei ser na realidade uma porta para uma outra dimensão, respondo o olhar questionador de Heero com uma pergunta. 'Hã... Heero... você disse que é um convite para o aniversário de Relena, certo?'
Ele assente com a cabeça e eu resolvo tirar esse repentino problema da frente. As coisas definitivamente não podem ficar mais confusas do que já estão no momento, então decido que devo me arriscar para ter pelo menos algumas de minhas dúvidas respondidas.
'Você acha que isso é realmente sábio, Heero? Você sabe...eu...na festa de Relena?', perguntei, evitando me aprofundar muito mais no assunto. Eu esperava que Heero não tivesse sido tão alheio ao mundo a sua volta durante a guerra para não notar que Relena me odiava com fervor. O olhar da garota praticamente me perfurava com adagas todas as vezes que tínhamos a infelicidade de ser colocados no mesmo cômodo.
'Relena me deu dois convites, e disse que qualquer amigo meu seria muito bem-vindo', ele respondeu simplesmente. Logicamente esta resposta não me dava qualquer pista sobre ele ter ou não consciência da rixa Peacecraft-Maxwell.
Mas esse detalhe voou para longe de minha mente diante do que Heero havia acabado de dizer. Novamente, pela milésima vez no dia, estava me sentindo dividido entre duas coisas bastante diferentes. Eu simplesmente não conseguiria dizer se me sentia feliz por Heero estar me convidando para o baile, me considerando alguém que ele gostaria de ter ao seu lado durante um evento, ou se me sentia triste pela idéia de que ele talvez estivesse convidando um... amigo.
Era perfeitamente possível que ele tivesse acabado de convidar Wufei e ter sido recusado. O pequeno Duo sendo sua segunda escolha como par para a ocasião, o típico alívio cômico para bailes chatos e reuniões desinteressantes de pessoas esnobes.
Decidi parar com essa atitude pessimista por tempo o suficiente para não jogar a chance que se apresentava diante de mim no lixo. Sorri levemente em sua direção, assentindo com a cabeça. 'Ok então Heero. Pode contar comigo.'
'"timo', ele respondeu, presenteando meus olhos com aquele sorriso que povoava meus sonhos a dias, desde a primeira vez que eu o tinha visto. 'Eu te pego em seu apartamento na sexta-feira as oito, tudo bem?'
'Claro. Está combinado então.' respondo em um tom casual que trai meu conflito interno diante do fato de que tenho apenas dois dias para me preparar para esse baile. Não que eu precise de aulas de etiqueta ou coisa parecida. Sou muito bem educado e posso ser refinado se o ambiente e situação requisitar tal comportamento.
Mas eu REALMENTE preciso colocar minha cabeça no lugar se quiser evitar alguma tragédia. Eu já não tenho qualquer responsabilidade para com Relena, o que faz com que minha paciência com ela não seja exatamente o que costumava ser. Posso até imaginar as manchetes: ' Agente dos Preventers ataca vice-ministra em noite de gala'.
E também não tenho um terno social.
Heero despede-se de mim e de Wufei caminhando na direção de seu lar, me deixando no batedor da porta dançando entre felicidade e confusão diante do que acabou de acontecer.
Ao ouvir o barulho da última porta do corredor fechando decididamente, olho para Wufei com ímpetos de lhe perguntar se o que acabou de acontecer realmente aconteceu ou mesmo me certificar de que aquela porta realmente não dava para uma outra dimensão estranha e diferente aonde Heeros convidam seus ex-companheiros de guerra platonicamente apaixonados por ele para bailes de aniversário de ministras loiras e irritantes.
Mas Wufei simplesmente me dá um sorriso e um sinal de positivo, e eu não pergunto nada. Ao invés disso, lhe dou um sorriso em resposta e saio no corredor novamente, fechando a porta de seu apartamento atrás de mim.
Tenho um terno para comprar.
Para minha sorte, essa parte particular da cidade possui um centro comercial consideravelmente famoso, e apesar de já ser tarde, as lojas ficariam abertas por mais algum tempo. O que me dava mais algumas horas para fazer uma bela compra.
Ando por algumas lojas olhando vitrines sem saber realmente pelo que estou procurando. Por um instante, desejo que Quatre estivesse ao meu lado para ajudar a escolher a roupa mais apropriada para o tipo de ocasião que fui convidado. Aposto que ele tem ternos até para as situações mais absurdas, como festas do cabide ou coisa do tipo.
A idéia de ter meu amigo árabe ao meu lado me traz duas boas lembranças. A primeira é que nesse exato momento, ele e Trowa estariam provavelmente amaciando o estofado do sofá de minha casa , e a segunda – e mais importante – era de uma dica essencial de estilo para a qual ele havia me despertado apenas alguns dias atrás.
Preto. Preto sempre foi minha cor favorita, e esse caso não seria exceção. Além do mais, não há realmente como errar estando vestido de preto, certo?
Entrei no que me pareceu uma loja extremamente decente e dividi minha idéia de um estilo clássico com a simpática vendedora que me abordou. Ela concordou com minha escolha de indumentária e partiu imediatamente para a tarefa de me mostrar diversos conjuntos que cabiam em meus recém-adquiridos parâmetros.
E, por incrível que pareça, essa tarefa durou cerca de meia-hora. Quem diria que existiam tantos modelos de ternos? Sempre pensei que eles eram todos iguais.
Finalmente me decidi por um terno de microfibra preto que me caia como uma luva, acompanhado de uma camisa do mesmo tom, meias e sapatos igualmente negros. Olhei para minha própria imagem no espelho, satisfeito com a aura de suave sensualidade que o preto parecia despertar em mim. Dei uma pequena piscadela marota para minha própria imagem, e prossegui a dizer para a simpática vendedora que tínhamos um conjunto vencedor.
Enquanto caminhava para o caixa, um brilho azul praticamente puxou meus olhos, e aproximei-me da peça que havia chamado minha atenção. Era uma gravata azul cobalto numa cor que imediatamente fez com que eu lembrasse de Heero, a semelhança com a cor de seus olhos sendo impossível de não ser percebida.
'É uma linda cor, senhor', a vendedora falou, interrompendo meus pensamentos. 'Se o Sr. me permite dizer, ela combina com a cor de seus olhos. Eu diria que é um complemento perfeito para seu conjunto.'
Decidindo que aquelas palavras tinham realmente uma enorme quantidade de razão, retirei a gravata de seu suporte e solicitei que ela fosse embrulhada junto com o restante de minha compra.
Voltei para o apartamento extremamente satisfeito com minha mais recente aquisição e tive o cuidado e presença de espírito de bater levemente em minha própria porta antes de entrar cuidadosamente no apartamento.
Encontrei o cômodo vazio, e um bilhete de Quatre anexado do lado de dentro da porta. O pedaço de papel com sua caligrafia perfeita dizia que ele e Trowa tinham saído para jantar, e para que eu não esperasse acordado.
Ri diante da escolha de palavras de meu amigo, tão parecida com as minhas quase uma semana atrás quando havia tido meu primeiro encontro com Heero. Retirei o bilhete da porta, coloquei meus sapatos no pequeno tapete da entrada e as chaves num recipiente sobre o armário.
Fiz um sanduíche rápido e depois de assistir televisão por algum tempo, fui dormir contente com o saldo geral do dia. Eu havia, no espaço de vinte e quatro horas, conseguido juntar um casal de amigos loucamente apaixonados um pelo outro a anos, e ainda por cima receber um convite para sair com Heero-Soldado-Perfeito-Yuy.
Claro que isso tinha gerado um débito inesperado em meu cartão de crédito, mas encarei isso como um investimento do qual pretendia não me arrepender no futuro. Deixei que as forças do sono me carregassem para suas profundezas, desejando estar absolutamente certo sobre isso.
Acordei cedo no dia seguinte, indo para o escritório depois de um rápido café da manhã. Durante a tarde, depois do almoço, encontrei-me repentinamente com a agenda livre e sem aulas para ministrar no QG pelo resto do dia. Aproveitei a deixa para pegar uma enorme quantidade de relatórios de rendimento não-preenchidos e os levei para minha própria residência.
Entrei em meu apartamento fazendo um esforço para equilibrar a gigantesca pilha de papéis em uma mão e abrir a porta com a outra. Encontrei Quatre do lado de dentro numa situação bastante semelhante a minha, com a diferença de que eu tinha uma pilha em mãos, já meu amigo tinha diversas pilhas, todas espalhadas em volta de seu laptop que repousava sobre a mesinha de minha sala.
Finalmente conseguindo entrar, coloquei meu bloco de problemas cuidadosamente sobre o armário ao lado da porta e parei colocando as duas mãos na cintura para olhar longamente para meu amigo, sentado no meio da sala, rodeado por pilhas gigantescas de papel, vestindo um conjunto de shorts e camiseta que só podia ser um pijama, seu cabelo amassado e completamente desordenado.
Naquele momento, sorri diante da noção de que ele me parecia mais feliz agora do que eu já o via a muito tempo.
Quatre me recebeu com um enorme sorriso e um abraço.
'Duo , eu...' ele hesitou com as palavras por alguns instantes, 'eu queria te agradecer por...'
'Shhhh, você não tem que me agradecer por nada, Qat', lhe interrompi com um sorriso e um segundo abraço. 'Eu é que tenho que te agradecer por...tudo. Todo o seu apoio e amizade'
'Ah Duo, você não tem que me agradecer por isso' Ficamos alguns segundos olhando para as faces um do outro e sorrindo como uma dupla de perfeitos idiotas, fascinados por um momento com a profundidade do sentimento de companheirismo que dividíamos.
Finalmente, deixamos que o momento passasse e voltei a minha pilha ao mesmo tempo em que Quatre voltava ao sofá para sentar atrás de sua própria pilha de problemas. Peguei duas xícaras de café na cozinha, e levei ambas até a sala, sentando ao lado de meu amigo para fazer uma pausa antes de começar meu serviço.
Qat me mostrou alguns dos relatórios de múltiplas reuniões que ele teria de ler, reler e analisar antes da reunião final a qual ele atenderia no dia seguinte. Em troca, lhe mostrei alguns dos formulários que eu mesmo teria de passar a tarde preenchendo e ambos simpatizamos com a quantidade de trabalho um do outro.
Estávamos tomando nossas respectivas xícaras de café quando de repente meu amigo me fez uma pergunta que fez com que eu engasgasse com o líquido que tinha em minha boca, e por sorte eu não era um apreciador de café extremamente quente, por que do contrária teria queimado minha língua numa cena vergonhosamente memorável.
'Então você vai ao baile de aniversário de Relena, com Heero?', ele perguntou num tom completamente inocente que contrastava com sua expressão quase maliciosa, aqueles olhos verdes praticamente rindo em alto e bom som da surpresa que com certeza estava estampada em minha cara.
'Quatre!', tentei parecer nervoso, falhando miseravelmente, 'Como você sabe?'
'Wufei me fez uma visita pela manh', ele comentou casualmente, fechando o relatório que tinha em mãos para dedicar-se inteiramente a me torturar. 'Mas não é como se você não fosse acabar me contando não é mesmo?'
Suspirei reconhecendo minha derrota. 'Eu suponho que sim', falei dando de ombros.
Qat não parece se importar com o fato de que estou claramente tentando evitar o assunto. Conhecendo-o da maneira que conheço, o que estou fazendo trata-se de nada mais nada menos do que uma estratégia de sobrevivência. Tenho a certeza absoluta de que em poucos minutos meu amigo árabe vai se sair com algum plano mirabolante do qual não vou gostar no início, mas no qual me verei inevitavelmente envolvido.
Ele me pergunta detalhes sobre a festa, o local, a maneira como Heero havia me convidado e minha roupa. Demora cerca de cinco minutos para que ele lance sobre mim aquilo que eu já esperava.
'Duo, você tem idéia do que isso significa, não?', ele diz, com um tom de voz que transborda expectativa.
Tenho medo de perguntar. 'Não, eu não sei', respondo coçando um dos lados da cabeça. ' O que isso significa Qat?'
'Significa que você e Heero vão dançar juntos!', ele exclama com um sorriso que ameaça dividir o rosto dele em dois e um leve gesto de mãos, imitando passos de dança.
'O quê?', respondo, quase derrubando meu café em meu colo na pressa de contestar a idéia absurda, e resolvendo colocar a xícara sobre a mesa para evitar futuros acidentes indesejáveis. Só então volto a olhar para a face sorridente de meu companheiro. 'Quatre, que diabos Trowa fez com sua cabeça ontem? Você perdeu completamente a razão se pensa que Heero Yuy vai me tirar para dançar num salão cheio de gente. Ou pior ainda, no salão cheio de CONVIDADOS da festa da rainha do mundo!' terminei com um grunhido desgostoso diante da menção do apelido.
Assisto enquanto seu rosto fica momentaneamente vermelho diante de meu comentário, mas ele se recupera rapidamente. 'Mas Duo, o princípio básico de chamar alguém para um baile, é dançar com essa pessoa.'
'Quem disse?', rebato indignado.
'Eu disse', ele responde num tom de voz quase esnobe, 'e eu já convidei, fui convidado e promovi eventos o SUFICIENTE desse tipo para saber mais do que você!', ele termina, batendo suas duas mãos juntas em um sinal de vitória.
Suspiro resignadamente admitindo silenciosamente que Quatre, de fato, sabe muito mais sobre acontecimentos sociais do que eu. Ele não pode realmente me culpar, afinal, rodadas de cerveja em bares são muito mais freqüentes e populares do que bailes entre os Preventers.
Repentinamente sou assaltado por uma idéia quase maligna para dar o troco em meu intrometido companheiro de quarto.
'Certo, certo, Sr. Quatre Raberba Winner', eu falo, levantando do sofá e dirigindo-me até o aparelho de som em um dos cantos de minha sala, olhando perspicazmente por minha coleção de cd's e encontrando algo que deve servir para o que tenho em mente. Coloco o cd dentro do aparelho e viro-me de volta para meu amigo que me observa de forma atenta e curiosa. 'Se você sabe tanto sobre bailes, eu suponho, que deva saber dançar como um bailarino russo, não?'
'Olha Duo, eu...', ele responde rapidamente, rindo antecipadamente da idéia que ele já pode prever estar surgindo em minha mente só por conta do brilho de pura gozação em meus olhos. Mas antes que ele possa terminar sua frase, eu ligo o rádio fazendo com que o som invada todo o cômodo.
'Você me concede o prazer dessa dança?' eu digo, inclinando-me com um floreio exagerado e esticando minha mão na direção de meu amigo loiro.
Ele ri divertido de meus gestos, até finalmente entrar na brincadeira. 'Mas é claro que sim', ele responde, colocando sua mão sobre a minha com um floreio ainda maior do que o meu.
Nos entreolhamos por alguns segundos sem saber o que fazer, e é nesse momento que percebo que nenhum de nós sabe realmente dançar. Quatre e seus malditos blefes. Me passa pela mente a idéia de que essa não é uma boa característica para um líder diplomático, e guardo a informação em um dos cantos do cérebro. Ela pode ser útil mais tarde, quando eu quiser chantageá-lo.
Finalmente nos aproximamos sem muito jeito e começamos a girar desconfortavelmente, tentando acertar nossos passos com o ritmo da música que invade o ambiente.
Trowa escolhe esse exato momento para entrar em meu apartamento sem bater. Eu não deveria realmente ficar surpreso com isso, mas por alguma razão, congelo em meu lugar e olho nos olhos de meu vizinho tentando ler nesses exatamente o que ele estaria pensando diante da cena a sua frente.
Quatre tinha uma das mãos em um de meus ombros enquanto uma das minhas estava em sua cintura. Nossas outras mãos estavam entrelaçadas. Juntos, parecíamos um casal tentando dançar sem ter qualquer pista de como fazê-lo.
Isso estava bastante perto da verdade. Agora eu torcia para que Trowa fosse capaz de enxergar isso, e não ver segundas intenções numa estúpida brincadeira entre amigos.
Eu não tinha realmente que ter me preocupado.
Trowa olhou para Quatre e então para mim, uma de suas sobrancelhas subindo ao mesmo tempo em que sua boca esboçou um sorriso de divertimento. Ele fechou a porta atrás de si, e nos observou, agora paralisados, claramente esperando por algum tipo de explicação sobre a cena a sua frente.
'Não pergunte', eu disse, numa fraca imitação de um tom indignado, do qual Quatre riu abertamente.
'O baile de Relena ?', ele respondeu, e meu parceiro de dança riu ainda mais alto.
Mas quando foi que ex-pilotos de máquinas mortais trocaram de profissão para tornarem-se fofoqueiros profissionais?
Assenti com um pequeno sorriso instintivo, admitindo silenciosamente a dedução de meu vizinho e desistindo da noção de que algum dia teria privacidade com relação a meus assuntos envolvendo Heero.
'E eu suponho', Trowa falou, aproximando-se e cumprimentando Quatre com um rápido beijo nos lábios, 'que você esteja interessado em aprender a dançar?'
'Não, na verdade nós estávamos só...', eu comecei a responder, sendo interrompido pelas palavras seguintes de meu amigo, que fizeram com que o cômodo todo caísse em silêncio, apesar da música que ainda tocava no fundo.
'Eu posso te ensinar', ele disse, como se essa declaração fosse a coisa mais comum do mundo.
Quatre e eu nos olhamos completamente estupefatos antes de voltar a olhar para o rosto inalterado de nosso futuro professor de dança.
'Só não perguntem como aprendi', ele falou, sentando sobre o sofá e tomando um gole de minha xícara de café já semi-frio.
E com isso, alguns minutos depois, os sofás e a mesa central de minha sala haviam sido arrastados para os cantos do cômodo e Trowa e Quatre estavam no meio de dita sala, debaixo de meu olhar atento enquanto a música suavemente preenchia o espaço do silêncio.
'Preste muita atenção , Duo', Trowa falou olhando em minha direção enquanto pegava gentilmente em uma das mãos de Quatre. 'Repare na maneira como quem guia e quem é guiado se colocam, isso é importante.'
Em seguida assisti enquanto meus dois amigos giraram suavemente por minha sala, observando os olhares de pura afeição que um lançava na direção do outro. Podem dizer que estou me tornando um idiota piegas, mas a verdade é que fiquei dividido entre estar fascinado por ter a oportunidade de ver duas das pessoas que eu mais gostava e admirava em todo o mundo estarem envolvidas de uma forma tão profunda, e inveja, por não poder ter o mesmo que eles.
Observei até o momento em que a música acabou e Trowa separou-se de Quatre com um sorriso gentil virando-se então para mim, e estendendo sua mão em minha direção. 'Sua vez , Duo.'
Aceitei a mão ofertada e tive minha chance de girar pela sala com meu amigo, impressionado pela leveza de seus movimentos. Me vi em poucos momentos acompanhando os passos com perfeição, recebendo um sorriso de aprovação de meu guia.
'Está ótimo Duo, você leva jeito', ele disse, antes de girar nossos corpos numa manobra um pouco mais elaborada.
'Trowa...aonde....aonde você...?', eu não podia evitar a dúvida que assaltava minha mente.
'Não pergunte', ele respondeu franzindo as sobrancelhas rapidamente, como que para espantar uma memória indesejada, e em seguida me girou novamente.
Resolvi não tocar mais no assunto durante o resto da noite.
Tive cerca de duas horas de aula, com Trowa, Quatre e eu nos revezando na pista de dança. Quando meus dois amigos me deixaram em prol de um jantar - para o qual fui convidado, mas sabiamente recusei – coloquei meus móveis em seus lugares de origem e trabalhei por algum tempo em meus relatórios antes de retirar-me para a cama num horário um pouco mais cedo do que o habitual.
A verdade é que eu pretendia ganhar horas de sono extra para que no dia seguinte pudesse permanecer completamente acordado e atento por quanto tempo fosse necessário. Se você me perguntasse, eu diria que essas festas tem a tendência de durar a noite toda, mas a verdade era que eu esperava poder passar minha noite acordada de formas mais...prazerosas.
Obviamente era um pedido ridiculamente ambicioso, mas um homem pode sonhar, certo?
A sexta-feira passou como um borrão arrastando-se diante de meus olhos, o único momento do dia que eu conseguia distinguir dos demais sendo aquele no qual Heero apareceu na porta de meu escritório para confirmar que estaria passando em meu apartamento às oito horas.
Quando a noite finalmente chegou, tratei de voltar a meu apartamento algumas horas mais cedo para me preparar para o evento, e não encontrei Quatre, lembrando-me somente mais tarde que hoje seria sua reunião final com a bancada de políticos com a qual ele tinha vindo encontrar-se na cidade.
Aproveitei a liberdade de um apartamento vazio para me preparar caminhando por todos os cômodos da casa. Tomei um banho demorado e sai do banheiro com água pingando para todos os lados. Vesti meu conjunto, e em seguida trancei minhas mexas com cuidado praticamente milimétrico. Por fim, coloquei a gravata, simplesmente adorando o contraste do azul profundo da peça contra a escuridão do restante da roupa.
Tinha acabado de passar perfume quando a campainha tocou. Olhei para meu relógio de pulso. Oito em ponto. Não era de se esperar outra coisa por parte do soldado perfeito.
Abri minha porta com um sorriso firmemente em meu rosto, e esse alargou-se em óbvia aprovação quando vi a imagem diante de meus olhos.
Heero estava com um terno azul marinho e uma camisa branca. Ele não usava gravata e os primeiros botões da camisa estavam abertos deixando a vista um delicioso pedaço de pele dourada em seu pescoço. Ele parecia bom o suficiente para ser comido com uma colher.(1)
Sua voz grave me retirou de minha silenciosa reverência a sua figura. 'Você está muito bem, Duo', ele disse, um sorriso de clara apreciação iluminando seu rosto.
'Você também não está nada mal, Heero', respondi, não me atrevendo a dizer o que REALMENTE achava da aparência dele. 'Vamos?', perguntei, enquanto fechava a porta atrás de mim, e Heero imediatamente assentiu, apontando com a cabeça para a direção dos elevadores.
Fomos para o baile em seu carro, conversando sobre trivialidades sem importância durante o percurso. Permiti que o calor agradável da descoberta desse novo aspecto da personalidade de Heero me preenchesse. A verdade era que eu mal podia acreditar que estava em seu carro, jogando conversa fora.
Antes que eu pudesse realmente aproveitar a sensação do que estávamos fazendo e do enorme passo que isso representava em nossa história, havíamos chego, e era hora de entrar na festa.
Logo na entrada do enorme salão de baile, uma garota com cabelos avermelhados e ondulados usando um longo vestido negro , nos olhou de cima para baixo, assoviando levemente diante da visão. (2) Tomei isso como um sinal de que estávamos realmente bonitos juntos.
Algumas pessoas imediatamente aproximaram-se, cumprimentando-nos efusivamente com apertos de mão e tapinhas nas costas. O grupo porém, dissipou-se rapidamente diante de uma nova aproximação.
Um corredor de convidados abriu-se para que Relena Peacecraft chegasse até nós.
Ou melhor, até Heero.
A rainha do mundo abriu um gigantesco sorriso diante da presença de meu par, e deixou que ele educadamente beijasse sua mão antes de abraçarem-se. Um grupo particular de convidadas suspirou em união dando pequenos gritinhos de admiração. Bando de puxa-sacos.
Quando Relena finalmente percebeu minha presença ao lado de Heero, seu sorriso perfeito falhou por um momento infinitamente curto de tempo, o suficiente porém, para que eu percebesse sua reação. Antes que qualquer um dos convidados pudesse notar qualquer mudança em seu comportamento naturalmente diplomático, ela aproximou-se de mim, permanecendo a uma certa distância.
'Voc', ela falou numa voz que mal conciliava seu desprezo, enquanto olhava para mim.
'Muito boa noite Senhorita Peacecraft', falei inclinando-me, para então suavemente tomar uma de suas mãos na minha e beijar sua face, 'Eu agradeço por seu gesto de me convidar, e lhe transmito os meus mais sinceros desejos de parabéns pelo seu aniversário' terminei com um sorriso igualmente falso, mas infinitamente mais acreditável do que aquele que ela exibia em sua própria expressão.
Pude ouvir quando o bando de puxa-sacos sem cérebro suspirou novamente em união, cochichando a respeito de meu charme.
Placar: Maxwell um, Peacecraft zero.
Nossa breve interação foi interrompida por um mar de outros convidados aproximando-se, todos ávidos por um pouco da atenção da aniversariante. Heero e eu aproveitamos para nos dirigir até uma das mesas do salão, e nos sentamos confortavelmente, pegando uma taça de champanhe para cada um antes de nos acomodar completamente.
Esperava ter a chance de conversar com Heero, tirando proveito do ambiente agradável. Eu tomaria cuidado extremo para não derrubar nada em minhas roupas, e com uma pitada de sorte, a noite poderia ser transformada naquilo que nosso último jantar não havia sido: um encontro perfeito.
Ela acabou por tornar-se um verdadeiro inferno.
Durante todo o evento, fui capaz de falar periodicamente com Heero. Éramos interrompidos a todo momento por pessoas querendo saber sobre as negociações e atividades atuais dos Preventers, curiosos fazendo perguntas absolutamente esdrúxulas sobre o funcionamento de Gundams e máquinas de destruição que havíamos utilizado nas guerras, e ainda por algumas das garotas do fã-clube de Relena, que nos rodeavam como um bando de pombos loucos diante de um saco de grãos de milho.
E havia ainda a própria Relena.
A rainha do mundo aproximava-se da mesa a todo momento, levando Heero consigo pelo braço para cumprimentar ou conhecer esse ou aquele figurão.
Em um dos abençoados momentos no qual encontrei-me completamente sozinho, pedi que um dos garçons aproximasse-se e peguei dois copos de champanhe, virando um deles no ato, e colocando o outro sobre a mesa. Dei então um longo suspiro, tentando acalmar minha frustração diante da maneira como os fatos estavam desenrolando-se diante de meus olhos.
Antes que terminasse de virar meu segundo copo de bebida, os músicos começaram a tocar, e a multidão afastou-se do meio do salão, abrindo espaço para que diversos casais dirigissem-se para a pista de dança.
Observei as pessoas resignadamente por alguns momentos, os casais alegremente girando em meio a música que preenchia todo o ambiente. Uma figura repentinamente chamou minha atenção em meio a multidão, e foi quando percebi que Heero estava aproximando-se da mesa, sorriso firme em seus lábios e olhos intensamente buscando os meus.
Deixei que nossos olhares se cruzassem, e no exato momento no qual Heero abriu sua boca para dizer alguma coisa, repentinamente perdemos nosso contato, um corpo surgindo praticamente do nada, colocando-se entre nós.
'Heero, você tem que dançar comigo!', Relena falou em seu tom de voz estridente, imediatamente puxando Heero pelo braço e levando-o para o meio do salão, passando pela multidão que automaticamente abria-se para permitir sua passagem.
Heero lanço um olhar breve em minha direção, mas antes que eu fosse capaz de ler o que seus olhos tinham a me dizer, ele já estava rodando pela pista, preso seguramente nos braços de Relena.
Pude ver todavia, o olhar de vitória que ela lançou especificamente em minha direção, um sorriso de puro escárnio adornando a face que todos do salão insistiam em taxar como angelical.
Levantei-me lentamente de meu lugar na mesa, finalmente cansado de toda aquela farsa. Passei despercebidamente pela multidão que assistia fascinada a dança do ex-soldado dedicado e da princesa, e fui até o jardim, respirando profundamente o ar da noite, como se esse fosse capaz de me livrar do ar hipócrita de dentro do salão.
Encontro um banco e me sento pesadamente sobre esse, colocando minha cabeça entre meus joelhos, tentando evitar o latejar que indica que terei uma dor de cabeça das piores em muito pouco tempo.
Minha gravata escapa de seu lugar cuidadosamente presa dentro de meu paletó, e dança suavemente diante de meus olhos. Eu olho para a peça, refletindo momentaneamente no quão patético fui acreditando que podia realmente competir com qualquer um pelos sentimentos de Heero, ainda mais considerando que esse 'qualquer um' era Relena, a pessoa que ele havia protegido repetidas vezes, aquela pela qual praticamente tinha dado a vida em mais de uma ocasião.
Levantei minha cabeça e retirei a gravata de meu pescoço, enrolando o tecido cuidadosamente em meus dedos e olhando para a peça. Por um instante, tive vontade de jogar a gravata longe, em algum lugar aonde não pudesse ver sua cor e não pudesse me lembrar daqueles olhos que me assombravam dia e noite sem nunca cessar.
Por fim, enrolei o tecido em meu pulso e me levantei do banco, pronto para pegar o primeiro táxi que conseguisse encontrar, diretamente de volta para meu apartamento.
'Duo?' uma voz fez com que eu parasse meus movimentos, e eu não precisava me virar para saber que Heero estava logo atrás de mim.
Decidi permanecer de costas, recusando-me a ver aqueles olhos novamente, recusando-me a adquirir mais combustível para meus sonhos sem futuro.
Ouvi o som de seus passos arrastando-se na grama, indicando que ele se aproximava. 'Duo, o que você está fazendo aqui?'
Decidindo que não tinha realmente mais nada a perder, deixei que meus ombros caíssem pesadamente, e virei em um único movimento brusco para encarar Heero e deixar que minha máscara caísse e quebrasse em pedaços de uma vez por todas.
'Você é que me diz, Heero', falei em um tom amargurado, 'o que eu estou fazendo aqui afinal? Por que eu simplesmente não desisto? Por que deixo que você faça isso comigo?'
Heero absorveu minhas palavras e por um momento, sua expressão mudou, ganhando um semblante de pesar. Seus olhos então mudaram repentinamente, ganhando um semblante completamente resoluto, e ele caminhou mais alguns passos, finalmente prostrando-se a meu alcance.
Ele então ergueu uma de suas mãos pousando-a suavemente sobre meu rosto.
Seus olhos buscaram os meus, e esses continham um brilho intenso que me era estranhamente familiar.
'Duo, eu...', ele começou a dizer, mas antes que ele pudesse terminar, fechei minhas pálpebras interrompendo nosso contato diante da sensação inconfundível de todo o ar de meus pulmões abandonando meu corpo em um único golpe seco.
Abri meus olhos apenas a tempo de ver o rosto praticamente horrorizado de Heero, por detrás dos ombros largos de uma pessoa cuja face eu não conseguia enxergar. Senti uma gigantesca mão separar-se de meu estômago, e meu atacante finalmente afastou-se de mim, sua face revelando-se como sendo um dos seguranças que eu havia visto na entrada do salão mais cedo naquela noite.
'Duo!', ouvi a voz de Heero gritar.
E foi a última coisa que ouvi antes que tudo ficasse preto novamente.
Aparentemente, eu não ficaria acordado tanto tempo quanto havia esperado.
Fim do Capítulo 7
(1) Fetiche número 246: Homens em ternos!
Essa foi para você Daph /
(2) Auto-inserção desavergonhada. Sim, eu me coloquei em meu próprio fic, dá licença?
E antes que alguns de vocês se perguntem, eu respondo: sim, essa é uma atitude tipicamente 'Misao'. Eu tenho o hábito de apreciar em alto e bom som quando vejo algo que me agrada.
E eu simplesmente sei que todo mundo ama um belo gancho não é?
Mas nada temam, o próximo capítulo virá em breve!
E ficam agradecimentos muitos especiais a todos aqueles que me deixaram reviews, e acreditaram que esse fic ainda não tinha acabado! Beijos para Kiki-chan, Dani Kamiya, Serenity Le Fay, Mina Baliness, Bulma-chan, Terezinha Fleur e Kurou Maxwell! Valeu mesmo!!!
