Things I'll never Say
Avisos:- Duo Pov, tentativa de humor, possível angst lá pra frente, mas coisa leve...
Casais:-2+1 , 3+4
Spoilers:- Esse fic se passa 3 anos após Endless Waltz, portanto, pode ser que ajam algumas referências a série e aos OVAS
Disclaimer:- Ontem,chamei meu advogado em casa e perguntei para ele se eu era a dona da série Gundam. Ele jogou um livro gigante sobre direitos autorais na mesa, e mandou que eu lesse...portanto, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Mais uma vez, eu repito a fórmula que utilizei no "Blurry Arc", por que aparentemente trabalho melhor dessa forma. Esta fic é baseada nas estrofes da música "Things I'll never say" de Avril Lavigne. Porém, existem diferenças claras, por que enquanto "Blurry" é composto de vários fics que são ligados, este daqui é um fic mesmo, com uma duração aproximada de 10 capítulos, um atrás do outro, totalmente interligados. Boa Leitura!
Agradecimentos a Lien Li por ser uma beta na velocidade da luz e pelos ótimos comentários
Agradecimentos especiais a todos aqueles que acompanharam o fic até aqui e que continuam a acompanhá-lo apesar de minha demora. Vocês são muitos, mas espero que saibam quem são, sendo assim: Obrigada , pessoal
"What's wrong with my tongue?
These words keep slipping away
I stutter, I stumble
Like I've got nothing to say"
" Qual é o problema com minha língua?
Essas palavras ficam me escapando
Eu gaguejo, eu tropeço
Como se não tivesse nada a dizer"
Acordei.
E o simples gesto de abrir os olhos me assalta com tantas impressões e sentimentos estranhos, que por um segundo sinto-me próximo a cair na tentação de fechá-los novamente e tentar esquecer que os havia aberto em primeiro lugar. Mas, obviamente isso é uma idéia sem qualquer chance de concretização, então decido parar de agir como um adolescente mimado que não quer acordar para ir para a escola, e encarar os fatos estranhos acontecendo comigo nesse exato momento, um por um.
O primeiro, e mais imediato deles, é uma indagação genuína de por quê diabos eu estava dormindo? Afinal, pelo que posso notar pelo simples movimento de abrir minhas pálpebras, estou em um local naturalmente iluminado. O que significa que é dia. E eu absolutamente não durmo durante o dia.
Mas esse raciocínio me leva imediatamente para uma linha nova de pensamento. Uma linha mais importante.
Rapidamente obrigo minha mente a passar pela rotina estranhamente familiar de identificar meus arredores e verificar se não me encontrava amarrado ou restrito de alguma forma. Movendo meus braços suavemente em seus postos, ao lado de meu corpo, mantenho meus movimentos vagarosos e discretos, sem ter qualquer intenção de entregar o fato de que estava acordado nas mãos de um provável inimigo.
No instante seguinte, tento esquecer desse meu último comentário mental, mais ou menos ao mesmo tempo em que percebo que estou em um quarto, provavelmente o meu, instalado sob uma cama, confortavelmente colocado sobre lençóis macios e olhando para a cor creme familiar da pintura do teto.
Sinto-me idiota por meus pensamentos prévios.
Prevejo o surgimento de uma dor de cabeça iminente por conta de tantas coisas acontecendo em meu cérebro em um espaço tão curto de tempo.
Passa pela minha mente que minha reação inicial tinha sido no mínimo um tanto quanto patética, afinal, a anos eu já não era capturado. Mas meu momento de auto-depreciação durou apenas alguns segundos, pois no instante em que me movi novamente, minha consciência praticamente deu um pulo, buscando respostas – preferencialmente rápidas e lógicas, por favor– para os porquês de meu corpo estar rígido como uma tábua e minha boca estar seca como se minha última refeição tivesse sido um prato cheio de bolas de algodão.
Essas duas sensações, unidas com a mecânica levemente mais confusa e lenta do meu pensamento só podiam significar uma coisa...
Eu estava medicado.
Ah, mas como eu odeio medicamentos. Os malditos fazem coisas extremamente estranhas com minha mente, por começar com um tipo de névoa que não me deixa lembrar das coisas sem que haja um grande esforço da minha parte, entre outros efeitos igualmente desagradáveis.
A falta do raciocínio linear sendo um deles. Aonde estava mesmo?
Claro, eu havia acabado de acordar – durante o que provavelmente já eram horas avançadas da manhã – e estava me sentindo um pouco estranho. Mas apesar da rigidez e confusão terem sido explicadas pela inconfundível sabedoria que eu agora tinha de estar medicado, isso não explicava a enorme sensação de deja-vu que me assolava naquele momento.
Em geral, não sou o tipo de pessoa que leva esse tipo de coisa muito a sério. Dessa vez todavia, a impressão era forte demais para ser ignorada.
Os medicamentos certamente não poderiam ser tão fortes assim...certo?
Eu só podia esperar.
Em todo caso, não era como se realmente fosse a qualquer lugar tão cedo, afinal, mal podia sentir os meus pés, o que significava que as pernas estavam igualmente dormentes, assim como todo o restante do corpo. Ok, isso me daria algum tempo para tentar lembrar de tudo.
Mas esse procedimento não era tão simples quanto inicialmente parecia.
Resisti a vontade de dar um soco em minha própria cabeça, chegando a rápida conclusão de que o ato, além de não ajudar, só traria dor adicional, da qual realmente não precisava no momento.
Hmmmm, se eu conseguia pensar isso, talvez não estivesse tão mal assim...
Pense, Duo Maxwell, pense.
Ok, eu conseguia me lembrar de algumas imagens embaralhadas e me lembrava de estar numa posição horizontal. Certo, isso não ajudava muito, melhor tentar puxar uma memória mais distante, algo que me ajudasse a traçar uma linha de possíveis acontecimentos que chegasse até minha atual situação.
Tentei voltar mais, puxar pela minha mente a última memória que tinha, antes do estranho espaço em branco que havia em minha cabeça, e que eu esperava poder preencher.
A primeira imagem totalmente clara e inconfundível que me veio a mente foi de Heero, e ele vestia um paletó. Nossa, mas ele estava lindo. Como eu gostaria que essa tivesse sido uma daquelas lembranças embaralhadas nas quais ainda me encontrava na horizontal...aquele corpo forte sobre o meu...
Foco, Maxwell, mantenha o foco.
Ok, tínhamos agora no ínicio do hall das lembranças, Heero usando um paletó. Por que ele estaria de paletó em primeiro lugar?
Essa pergunta desencadeou uma outra série – drasticamente rápida, se é que posso dizer – de memórias que me assaltaram de uma só vez. Heero de paletó. Eu de paletó. Trajes sociais. Uma festa. A Festa de Relena.
E não parava por aí.
Relena cumprimentando Heero. Relena sendo fria e desagradável. – r� essa era uma memória mais do que familiar – Relena dançando com Heero. O Jardim. A gravata azul. Heero novamente. Heero se aproximando. Heero colocando sua mão suavemente sobre meu rosto. Seu rosto aproximando-se levemente do meu...
E foi exatamente quando as lembranças estavam finalmente tornando-se boas – um fato praticamente inédito, devo dizer – que uma delas me atingiu como um verdadeiro golpe. Literalmente.
Dor. Muita dor. Uma mão enorme e pesada contra meu estômago. Heero gritando meu nome. Um rosto desconhecido afastando-se de mim e...escuridão? Como assim? Eu havia desmaiado? Eu havia tomado um soco e desmaiado? E bem na frente de Heero, entre todas as pessoas?
Que. Patético.
Suspirei diante disso, pensando que minha mente nem sequer servia para me poupar da lembrança de um momento tão vergonhoso, agora que a chance de esquecê-lo havia me sido apresentada.
Mas o ato de suspirar fez com que eu esquecesse do quão cruel minha mente podia ser, apenas para direcionar esses pensamentos diretamente para meu estômago, que me lembrou, com uma pontada de dor que quase fez com que me contraísse ainda mais, de que ele também ainda não se encontrava em um estado nem sequer próximo de seus 100.
Decidi fazer um pequeno intervalo na cansativa tarefa de tentar lembrar de tudo de uma única vez, e levantei minha cabeça do travesseiro para olhar para minha barriga, mostrando para ela com meu olhar matador que era melhor que ela se recuperasse logo, do contrário enfrentaria a fúria de Shinigami.
Certo, como se isso fosse adiantar alguma coisa. Foi apenas um pensamento impulsivo, ok? Não jogue na minha cara que posso ser um completo imbecil. Estamos lidando com um enfermo aqui!
E foi no ato de levantar a cabeça do travesseiro que pude notar que não estava vendo exatamente o que esperava ver.
Aquelas não eram minhas paredes. Aqueles não eram meus móveis. Aquela não era minha porta, e por fim, aquela certamente não era minha cama.
Os medicamentos não podiam ser tão fortes assim...ou podiam?
Obriguei minha consciência a concentrar-se em a manter a calma, respirar fundo e...ouch, ok, depois disso passamos a não respirar fundo, mas tentar manter a calma mesmo assim.
Mas meu cérebro tinha outras idéias, porque, ao finalmente passar os olhos no quarto a minha volta, um enorme 'clique' ressoou em minha cabeça. E de uma momento para o outro, a procedência da gigantesca sensação de deja-vu, finalmente brilhou diante de mim como uma luz no fim do túnel.
Eu já havia estado nesse quarto. Na verdade, eu havia acordado da mesma maneira, olhando rapidamente para o mesmo teto pintado de tinta creme, tendo a mesma realização rápida de que estava sob o efeito de medicamentos e fazendo uso dos mesmos instintos, que não me deixavam simplesmente acordar como qualquer ser humano normal que abre os olhos e boceja longamente, ao invés de ficar o mais silencioso possível esperando pela reação do possível inimigo.
E podia me lembrar claramente de uma voz me tirando de minha avaliação dos arredores, e me colocando numa nova e um tanto quanto inesperada situação.
'Pode relaxar Duo, você está no meu quarto.', a voz calma e levemente nasal que só podia pertencer a uma pessoa em todo o universo falou diretamente dentro de minha mente, e lembro-me de pensar por um instante que, caso isso fosse uma alucinação, meu cérebro provavelmente havia se tornado mais sádico do que eu imaginava.
'Heero... é você?', perguntei ainda com meus olhos fechados, apenas a título de esclarecimento, e vamos manter em mente aqui que eu ainda estava lutando com uma névoa mental ainda mais densa do que aquela com a qual estava lidando nesse exato momento, ok?
'Sim, sou eu' , a voz respondeu suavemente, e senti em seguida a pressão do que possivelmente era uma mão passar suavemente pelo lado direito de meu rosto, acariciando minha bochecha.
Abri meus olhos novamente, apenas para ter uma confirmação visual de que os batimentos acelerados do meu coração já haviam me confirmado. Heero estava ao meu lado, sentado próximo a cama, e ao notar que eu havia aberto meus olhos, imediatamente sentou-se ao meu lado.
Então, debaixo de meu olhar confuso, ele moveu-se lentamente e começou a abrir o botão da minha calça.
Wow!
Foi quando cheguei a conclusão de que estava definitivamente alucinando.
Lembro-me até de ter pensado que os medicamentos eram realmente muito cruéis, se eram capazes de me fazer ter uma fantasia dessa natureza.
Isso em mente, resolvi parar de duelar com minha consciência e simplesmente tirar proveito de seja lá quais fossem os planos que meu cérebro tinha para mim. Conhecendo o caminho comum que meus sonhos não-induzidos por remédios costumavam tomar, eu só podia esperar que o de hoje provavelmente não fosse muito diferente.
'O que você está fazendo?', perguntei, algo no fundo da cabeça apontando que minha voz parecia anormalmente rouca e embaralhada. O meu 'eu' de sonhos em geral tinha uma voz mais sensual...
Heero todavia, não pareceu incomodado. 'Eu vou te colocar numas roupas mais confortáveis.', ele disse, puxando a peça de roupa com eficiência , de modo que eu não mexesse sequer um músculo.
Ele então caminhou até um dos armários, e prosseguiu na tarefa de me vestir em confortáveis calças de moletom e uma camiseta branca.
Durante todo o tempo, tudo o que passava pela minha mente era o quão maravilhosa era a sensação de ter Heero perto de mim, seus olhos em mim, suas mãos cuidadosamente passando pela minha pele enquanto ele me vestia.
Sorte a minha que eu tinha colocado uma de minhas cuecas 'boas' na noite anterior.
'Heero?' ouvi a voz que aparentemente era minha chamar.
'Fale, Duo', o meu Heero de sonho respondeu pacientemente, movimentando-se na cama até ficar sentado ao meu lado.
'O que aconteceu?' perguntei, e quase ri diante da tentativa patética do lado racional de minha mente de tentar assumir o controle da situação. A pobrezinha aparentemente ainda não tinha percebido que estávamos sonhando...
'Bem', ele começou a responder, 'nós estávamos na festa da Relena e...', ele hesitou por um momento.
'E? ' , pressionei, me arrependendo um segundo depois, por conta da dor que senti na garganta. Estranho, sonhos não deveriam deixar que sentíssemos dor...
'E um dos seguranças dela... te deu um soco no estômago.', ele respondeu, deixando uma de suas mãos planar suavemente até a borda da camiseta branca que eu agora usava puxando-a para cima e revelando o que parecia ser uma bandagem que aparentemente dava a volta no meu corpo inteiro. 'Fraturou duas costelas.'
Ergui minha cabeça para poder enxergar melhor as ataduras, e fui tomado por uma onda de náusea que me jogou com uma velocidade incrível de volta nos travesseiros.
Tive o tempo de piscar rapidamente para tentar fazer as coisas pararem de rodar a minha volta antes de sentir a mão de Heero pousar delicadamente sobre minha testa, mantendo-me parado para que eu me estabilizasse. Com a cabeça de volta ao travesseiro que era dele, cheguei a uma estarrecedora conclusão.
'Eu adoro o seu cheiro', falei , olhando para o seu rosto e percebendo os olhos arregalarem-se e então suavizarem um momento mais tarde.
'É mesmo?', ele respondeu instantes depois , mantendo sua mão em meu rosto, indo da testa para o bochecha, e fazendo com que eu instintivamente inclinasse meu rosto na direção do calor de sua palma.
'Hu-hum', respondi, feliz como um bichano junto a seu dono, movendo minha face lentamente e adorando a ilusão de ter aquela pele contra a minha. 'E não só isso. Eu adoro um monte de outras coisas sobre você', continuei, achando estranho o fato de que meu Heero de sonho parecia quase fascinado pelas minhas palavras. Ele já deveria saber de tudo isso...
'Como o que?', ele perguntou, pegando minha mão enfaixada em sua mão livre, e beijando-a suavemente sobre as bandagens.
'Coisas como a cor dos seus olhos. O jeito como você anda. A maneira como seu cabelo sempre fica do jeito que bem entende, embora você tente ajeitá-lo...' falei, passando a minha mão livre – a que não tinha curativos – por sua franja, jogando-a momentaneamente para trás e rindo suavemente quando as mexas imediatamente voltaram para seu lugar de origem.
Vi a face de Heero aproximar-se lentamente da minha e senti seus lábios beijarem minha testa, minha bochecha, minhas pálpebras. Suspirei longamente, meus olhos fechados, pensando que naquele momento, eu simplesmente ADORAVA meus medicamentos. Eles tinha me dado a fantasia mais real de toda a minha vida até então...
Cheio de coragem diante da reação de meu Heero, resolvi falar algo que tinha vontade de dizer a muito, muito tempo.
'A verdade é que...', suspirei novamente, franzindo o cenho por conta de uma dor anormal no estômago que aparentemente estava adentrando os confinamentos do meu sonho, 'Eu adoro tudo em você.'.
Assisti com um sorriso enquanto o rosto de Heero ganhava um semblante que era uma mistura adorável de surpresa e algo estranhamente parecido com...esperança? Quem sabe...eu já estava confuso demais a esse ponto para distinguir com certeza.
Respirei fundo novamente, sentindo a dor aumentar vertiginosamente. 'Eu amo você, Heero Yuy.'
Antes que pudesse colher a reação de meu Heero de sonho porém, minha mente foi invadida por mais um daqueles irritantes brancos.
E era exatamente aí que minhas memórias terminavam.
Parei por um momento para tentar entender a coisa toda.
Estranho...eu nunca tinha tido um sonho desse tipo, e apesar dele explicar o porquê da minha inquietante impressão de que boa parte do que estava vivendo agora, eu já tinha vivido antes, ela não explicava como diabos eu sabia exatamente como era o quarto de Heero... se eu o vi em sonhos, o normal seria que o sonho tivesse acontecido no meu quarto, e não no dele, afinal, eu nunca tinha estado no quarto de Heero e...
OH - OH
Virei minha cabeça lentamente no travesseiro e inspirei longamente o aroma nos lençóis. O simples movimento de puxar ar para dentro dos pulmões me agraciou com uma dor estranhamente familiar.
Muita calma, Duo Maxwell, tente se lembrar de que ainda existe a chance que...
Antes mesmo de completar meu próprio raciocínio, puxei as cobertas que me cobriam para longe de meu corpo para notar – com uma grande quantidade de horror – que eu vestia nada mais nada menos do que uma calça de moletom e uma camiseta branca. Eu podia até estar confuso, mas eu definitivamente não tinha trocado de roupas conscientemente em nenhum momento e...
Quem diabos eu queria enganar? Eu estava no quarto de Heero, com as roupas de Heero, deitado num travesseiro com o cheiro do Heero...
Oh. Meu. Deus.
Eu não estava alucinando.
OH. MEU. DEUS.
Eu tinha realmente falado para Heero-Soldado-Perfeito-Yuy que estava apaixonado por ele.
Retiro toda e qualquer afirmação positiva que tenha feito anteriormente aos remédios. Eu os odeio. Eu os odeio com toda a força do meu ser.
Aonde diabos eu ia esconder minha cara agora que tinha dito a Heero que o amava?
A situação era das piores e o fato de que não tinha realmente onde me esconder, também não era um aspecto muito bom. Comecei a me levantar da cama, talvez ainda houvesse como sair despercebidamente e tomar todas as providências que fossem necessárias para me mudar para uma colônia espacial. Afinal, os Preventers tinham QGs em todo o espaço e eu poderia conseguir facilmente uma transferência. Agora, qual seria a colônia mais distante da Terra? L5, talvez?
Meus esforços foram brecados por meu corpo traidor.
Minhas pernas - membros traidores e inúteis que são – ainda estavam dormindo, e o simples ato de tentar move-las retirou rapidamente todo o ar de meus pulmões.
Uma dor excruciante que começou no meio de meu toráx e subiu até minha cabeça, latejando pelo caminho inteiro, me jogou de volta sobre a cama com uma violência que arrancou um gemido involuntário de meus lábios.
Malditas sejam as rainhas do mundo.
Malditos sejam os seguranças e seus socos de direita.
Malditos sejam os remédios que confundem nossa mente, e malditos sejam...
'Duo!', o suave tom de desespero na nova voz soando no recinto me tirou de minha rotina de maldições e impropérios, e antes que pudesse tentar me afundar sob os lençóis para fugir da reprovação que eu já podia visualizar em antecipação naqueles olhos azuis, senti meu corpo sendo firmemente colocado de volta na cama, em sua posição original.
'Duo! Não se mexa, você vai piorar seu ferimento!', Heero falou, levantando novamente minha camiseta para checar meu provável estado, e nem sequer notando minha surpresa por sua entrada repentina, apesar do quarto ser dele.
Fiquei completamente imóvel, esperando que ele fizesse sua verificação, e chegando a conclusão de que calado e sem me mover, provavelmente não aumentaria ainda mais os níveis de vergonha pelos quais estava passando no dia de hoje, se é que isso sequer era possível.
Depois de cutucar com a ponta dos dedos em algumas partes de meu estômago, e parecer satisfeito com o resultado, Heero sentou-se a meu lado na cama, praticamente me perfurando com a força de seu olhar, talvez esperando que eu dissesse alguma coisa, provavelmente um pedido de desculpas por minha idiotice anterior.
Abri minha boca para falar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele me interrompeu.
'Duo, como está se sentindo?', ele perguntou, e havia algo de muito genuíno na preocupação em sua voz. Tentei meu melhor para não deixar minhas esperanças alimentarem-se disso e ao invés de me concentrar nesse detalhe, tentei responder que me sentia ótimo e que estava pronto para ir para casa. Quanto mais rápido a mudança começasse, mais rapidamente eu sumiria de suas vistas. Seria um final feliz para todos.
Mas assim como meu cérebro e meu corpo, minha boca não estava disposta a colaborar comigo hoje.
Abri-a simplesmente para que nenhum som saísse, e Heero mais do que rapidamente me estendeu um copo de água com um canudo para que pudesse fazer minha garganta funcionar novamente.
'Er...Heero...' falei, quando finalmente senti que minha voz permitiria, apenas para um momento depois de ter a atenção dele, parar diante do olhar de pura expectativa que me foi lançado.
Fechei minhas pálpebras, repentinamente cansado de tudo e decidindo que seria mais fácil fazer isso se não tivesse que ver a raiva e indignação que manchariam aqueles olhos quando começasse a falar. Se tudo o que me restaria de meu pseudo-relacionamento ou amizade com Heero fosse a lembrança dos sorrisos que ultimamente haviam se tornado tão constantes no rosto dele, então que assim fosse. Eu pretendia manter pelo menos minhas memórias intactas.
'Heero, eu...quero que me desculpe.', falei, olhos fechados, cabeça caída sobre o travesseiro.
'Pelo que, Duo?', ele respondeu, um pouco confuso. Eu não podia realmente culpá-lo por isso. Ultimamente, tudo estava tão confuso...
'Eu sinto muito por...' Tantas coisas. 'Por ter estragado sua festa e a de Relena. Por ter que te fazer me carregar e cuidar de mim. Por atrapalhar sua rotina. Por...'
Por me fazer constantemente de idiota simplesmente por que não consigo controlar o que eu sinto por você. ' Pelas coisas que eu disse antes. E...'
'Duo', ouvir Heero chamando meu nome fez com que instintivamente abrisse meus olhos em surpresa.
'Não peça desculpas!' foi tudo o que tive tempo de escutar, antes de mergulhar em olhos azuis que se aproximavam cada vez mais dos meus.
E antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, os lábios de Heero estavam nos meus.
Suaves, quentes, delicados e levemente possessivos, numa carícia que eu desejava a tanto tempo, que me dava vontade de até mesmo chorar diante da realidade de que aquilo ESTAVA acontecendo.
Um último pensamento me passou pela mente,já completamente desanuviada, antes de eu colocar uma de minhas mãos na parte de trás do pescoço de Heero, entregando-me totalmente as sensações daquele beijo.
Medicamentos me sirvam para uma coisa, uma vez na vida.
Se eu estiver alucinando, que não acorde tão cedo.
FIM DO CAPITULO 8
Esse capítulo ficou menor do que eu queria e maior do que eu esperava xX
Vai entender!
E nãããããoooo temam, por que toda e qualquer dúvida que tenha sido deixada para lá nesse capítulo, vira a tona no próximo ok? 'Things' ainda não acabou...nem coloquei o lemon ainda poxa...sai fazendo cara de santa
