Things I'll never Say
Avisos:- Duo Pov, tentativa de humor, possível angst lá pra frente, mas coisa leve...
Casais:-2+1 , 3+4
Spoilers:- Esse fic se passa 3 anos após Endless Waltz, portanto, pode ser que ajam algumas referências a série e aos OVAS
Disclaimer:- Ontem,chamei meu advogado em casa e perguntei para ele se eu era a dona da série Gundam. Ele jogou um livro gigante sobre direitos autorais na mesa, e mandou que eu lesse...portanto, por mais que eu queira, eu ainda não sou dona dos Garotos Gundam e nem nada relacionado sobre a série. Isso aqui é um trabalho de ficção sem fins lucrativos (infelizmente TT)
Quanto ao fic:- Mais uma vez, eu repito a fórmula que utilizei no "Blurry Arc", por que aparentemente trabalho melhor dessa forma. Esta fic é baseada nas estrofes da música "Things I'll never say" de Avril Lavigne. Porém, existem diferenças claras, por que enquanto "Blurry" é composto de vários fics que são ligados, este daqui é um fic mesmo, com uma duração aproximada de 10 capítulos, um atrás do outro, totalmente interligados. Boa Leitura!
"Yes, I'm wishing my life away
with these things I'll never say
If I could say what I want to say
I'd say I wanna blow you..away
Be with you every night
Am I squeezing you to tight?"
" Sim, estou jogando minha vida fora
com essas coisas que nunca vou dizer
Se pudesse dizer o que queria dizer
Eu diria que queria te soprar...pra longe
Estar com você toda noite
Estou te abraçando muito forte?"
Macios...e quentes.
Firmes, mas ao mesmo tempo gentis e carinhosos.
Assim eram os lábios de Heero em meus sonhos.
Mas havia mais do que isso, é claro. Afinal, não há razão para timidez quando se está sonhando, certo? Pelo menos, no lindo mundo do subconsciente adormecido, as coisas sempre tendem a dar certo.
Mas não vinha ao caso pensar nisso agora, uma vez que, pensar em qualquer coisa que não fosse a boca de Heero, inevitavelmente me tiraria de uma linha de raciocínio da qual eu não tinha a menor vontade ou intenção de sair.
Sendo assim...aonde eu estava mesmo? Claro, os lábios. A perfeição deles já havia sido estabelecida, o que deixava com que eu pudesse pular para uma descrição longa e detalhada da língua.
Hmmmm...sim, a língua de Heero. Eu podia praticamente senti-la contra meus lábios, gentilmente pedindo permissão para me invadir. E quem seria eu para negar um pedido desses?
Uma vez dentro de minha boca, ela me explorava , procurando com destreza cada um de meus pontos mais sensíveis. Passando delicadamente pela gengiva. Colocando sua ponta no céu de minha boca. Encorajando minha própria língua a participar de uma dança lenta e sensual.
E o gosto... sempre imaginei que Heero teria um gosto que seria uma mistura de algumas das coisas mais deliciosas na face na Terra. Como uma mistura impossível de morangos, menta e orvalho. Nem excessivamente doce e nem excessivamente fresco, mas cheio de uma essência pura, única, e completamente repleta de energia...como a chegada de uma nova manhã. O gosto de Heero Yuy.
Mas quanto a isso eu havia me enganado. O soldado perfeito não tinha o gosto de nenhuma dessas coisas.
Ele possuía um sabor totalmente diferente do que eu imaginava. Diferente e...melhor.
E foi nesse momento de realização que percebi...de novo.
Eu realmente não estava sonhando.
E talvez as pessoas se perguntem, como exatamente meu – ainda parcialmente – esfumaçado e confuso cérebro havia chego a essa estonteante e surpreendente, senão um tanto quanto óbvia, conclusão?
Na verdade, a resposta é bem simples: Eu, muito particularmente, não acredito na singular teoria do 'é bom demais para ser verdade.'
É, é isso mesmo. Acredito sim, que minha mente é capaz de conjurar idéias e sensações absolutamente extraordinárias. Mas nunca, NUNCA, devemos subestimar o quão melhor a realidade por ser.
E acredite quanto digo...ela sempre é.
E foi exatamente essa noção que me acordou para os fatos ocorrendo a minha volta naquele exato momento. Se os beijos de Heero eram impossivelmente melhores do que os beijos – e não foram poucos! – com os quais havia sonhado, logo, eu não estava sonhando.
Sim, senhoras e senhores, essa é a beleza do estilo Duo Maxwell de raciocínio: ele segue uma trajetória que não poderia estar mais distante o possível do linear.
Ok...passando para questões mais importantes...por que diabos perco meu tempo pensando na lógica do funcionamento de minha própria mente quando tenho o cara por quem estive apaixonado perdidamente pelos últimos três anos de minha vida finalmente nos meus braços?
Ah...mas é claro.
Falta de oxigenação.
O que me lembrava do fato de que mais cedo do que tarde, eu teria de respirar. Mas...precisaria mesmo? Estava me sentindo tãããoooo bem naquela posição...na verdade, eu estava bem como já não me sentia a pelo menos algumas semanas.
O que seriam mais alguns momentos de inconsciência induzida pela falta de ar nos pulmões e cérebro quando eu poderia trocar tudo isso por mais alguns momentos beijando Heero? Na minha opinião até um pequeno aneurisma poderia ser considerado pouco...
Mas Heero obviamente tinha idéias diferentes das minhas, por que antes mesmo que eu pudesse completar mais esse pensamento totalmente desconexo, seu rosto afastou-se do meu, da forma mais lenta e gentil possível, meus dedos desenlaçando-se de seus cabelos e escorregando suavemente por seu rosto antes de cair junto a meu braço ao lado de meu corpo sobre a cama.
Aquele rosto perfeito afastou-se do meu exibindo um olhar que eu jamais havia visto ali antes. E eu era alguém que ainda me gabava de ser um dos maiores acervos mentais do que gosto de chamar de 'Expressões Faciais Heeristicas'. Claro que alguns desses dados provavelmente poderiam ter sido perdidos nos últimos cinco minutos, dependendo exatamente de sua localização em minha massa cinzenta...
'Duo'. A voz de Heero me retirou de meus devaneios, fazendo com que focalizasse novamente em seu rosto.
'Duo...o que você falou antes...eu...você...', ele começou a dizer, apenas para parar antes de concluir, e me lançar um olhar que, mesmo no estado ainda levemente confuso no qual me encontrava – do qual eu felizmente podia notar que estava rapidamente me recuperando, graças a presença quase bem vinda de uma dor em meus músculos do estômago – era perfeitamente claro em seu significado.
Aquelas orbes azuis estavam tentando verificar se eu realmente havia falado sério.
Heero provavelmente havia notado meu estado de estupefação inicial ao acordar. E ao perceber em seguida que eu me lembrava exatamente do que havia dito antes, nas minhas primeiras horas menos privilegiadas de consciência, queria confirmar o que havia acontecido. Confirmar se o que eu dizia, e acima disso, se o que eu sentia, era verdadeiro.
E claro que minha reação inicial foi de negar tudo com veemência.
Afinal de contas, o quão patético é admitir – depois de protagonizar o encontro mais desastroso de que já se teve notícia, e fazer não uma, mas duas pequenas passagens por alas hospitalares diferentes em um intervalo de menos de um mês – que se está apaixonado por alguém?
Isso sem contar outros detalhes bastante peculiares, como o fato de se estar apaixonado a cerca de três anos, e de que o objeto de minhas afeições não só lutou a meu lado duas vezes em duas guerras inter-espaciais diferentes, como também é um homem, da mesma forma que EU sou.
Hunf! Aposto que minha história viraria uma novela muito mais interessante do que qualquer uma das que estavam atualmente no ar...não que eu as acompanhasse. Talvez até tivesse chances de virar um anime, ou coisa parecida...
De qualquer forma, estava saindo da minha linha de raciocínio mais uma vez.
Voltando a minha reação inicial. Claro, haviam muitas razões para que eu negasse tudo. Mais razões do que gostaria de admitir a qualquer um. Por outro lado, depois de um abraço singelo, um convite inesperado, um gesto – um tanto quanto violento, mas mesmo assim – de proteção, e um beijo doce, tive de parar por um momento para pesar os prós e contras de mentir para Heero.
Por fim, juntando todos os fatos que possuía nos dois lados daquela estranha balança, as lembranças dos últimos três anos de minha vida, as memórias do sentimento constante de que faltava alguma coisa para que me sentisse realmente completo, e acima de tudo isso, a certeza de que se havia alguém que merecia minha total e completa honestidade nesse planeta, esse alguém certamente estava diante de mim naquele exato momento...cheguei a uma conclusão.
'Heero', falei, suspirando profundamente, muito mais numa tentativa frustrada de me acalmar do que pela necessidade de abastecer o ar em meus pulmões. 'Você sabe que eu não minto', conclui. 'É... tudo verdade', terminei, virando meu rosto, concentrando-me na parede do outro lado do quarto como se ela fosse a coisa mais fascinante do mundo.
E como se a situação toda já não fosse suficientemente embaraçosa, eu ainda podia sentir minhas bochechas queimando. Talvez pudesse alegar uma febre gerada pelos remédios...
Mas antes que pudesse me concentrar em possíveis futuras desculpas para justificar a belíssima imitação de tomate que estava fazendo naquele momento, dedos longos gentilmente traçaram a curva de meu rosto parando no queixo e em seguida virando-me para que eu fosse novamente ao encontro dos olhos de Heero.
E eles brilhavam com uma intensidade que fez com que me sentisse ainda mais quente, sendo repentinamente invadido por um sentimento que se espalhou por meu corpo como o calor de um cobertor macio num dia frio. Morno, acalentador, e extremamente reconfortante.
Heero estava sorrindo pra mim.
'Fico feliz em ouvir isso', ele disse, dando voz a tudo aquilo que sua expressão já havia me dito. Então, deixou que sua outra mão também fosse até meu rosto. Esta, retirou minha franja delicadamente do caminho de meus olhos, e arrisco-me a dizer que seja lá o que Heero procurava em minha face, foi encontrado, por que seu sorriso alargou-se ainda mais,e de uma forma tão bela, que tive o impulso de fazer uma pequena prece para que minha mente - ainda parcialmente sob a influência dos remédios - deixasse que eu guardasse aquela imagem junto de minhas memórias mais preciosas.
Permanecemos assim por alguns segundos. Heero segurando meu rosto em suas mãos e sorrindo como se tivesse algum tipo de tesouro sob suas palmas. Eu, de minha parte, me dei ao luxo de colocar minha mão boa também sobre sua face, e fechar meus olhos.
Com eles fechados, respirei lentamente. Deixei que o cheiro dos travesseiros, dos lençóis, das roupas e do quarto em geral invadisse minhas narinas. Senti o calor das mãos em meu rosto. E por fim, movi meus próprios dedos, traçando-os lentamente sobre a pele que havia embaixo deles.
Abri então meus olhos para, pela primeira vez, ser agraciado por uma visão idêntica a que eu tantas e tantas vezes tinha tido em sonhos: o rosto de Heero, olhando somente para mim.
Sorri, e observei por um momento enquanto ele realizava o mesmo ritual, fechando seus olhos apenas para abri-los pela metade enquanto lentamente aproximava seu rosto do meu...
E então ambos enrijecemos diante da nova presença que adentrou o quarto, previamente tão tranqüilo.
'HEERO! Aonde você está?', a voz falou num tom alto o suficiente para despertar até o último de meus neurônios adormecidos. Passos apressados podiam ser ouvidos caminhando na direção do quarto, até que abruptamente pararam.
'Heero, Duo não voltou para...', alguém falou enquanto entrava no cômodo, brecando repentinamente. A nova proximidade da voz me permitiu reconhecer o visitante antes mesmo de fazer uma confirmação visual, e a parte mais sarcástica – coincidentemente, também a mais rápida – de meu cérebro, riu em alto e bom som diante da cena que estava prestes a se desenrolar.
Heero e eu viramos ao mesmo tempo na direção da voz apenas para encontrar ninguém mais ninguém menos do que Quatre Winner, parado a alguns metros da porta do quarto, vestindo uma samba-canção cinza, e uma blusa de pijama verde que eu tinha certeza de já ter visto em algum lugar.
Ficamos alguns segundos nessa situação, observando enquanto Quatre abria e fechava sua boca sem que nenhum som saísse dela. Para alguém que era um líder diplomático profissional, ele não estava realmente manejando muito bem aquela situação.
Quem quebrou o silêncio, por incrível que pareça, foi Heero.
'Pois não, Quatre?' , ele perguntou, tirando suas mãos de meu rosto e envolvendo-as na minha, levantando-se levemente de forma a poder olhar diretamente para meu amigo estupefato.
Os olhos de Quatre arregalaram-se ainda mais diante daquele gesto terno. 'Eu...eu...', ele gaguejou, tentando recuperar-se de um possível choque. 'Eu fui até o apartamento de Duo e...ele não estava lá. E como ele saiu com você ontem...'
'Quatre!', uma quarta voz interrompeu , guiando três pares de olhos para a nova figura presente agora na porta do quarto.
Era Trowa, aparência de quem havia acabado de cair da cama, usando apenas uma calça de pijama verde.
Claro! Era daí que eu conhecia esse pijama! Já tinha visto Trowa usando-o algumas vezes. Hmmmm... isso era uma informação, no mínimo, interessante...
'Trowa', Quatre disse, 'Eu...eu encontrei Duo. Ele estava aqui, com Heero...', ele terminou, enrubescendo levemente, certamente sem saber como completar o que queria dizer, ou mesmo sem querer tirar conclusões precipitadas.
Trowa olhou de seu companheiro diretamente para a cama onde eu estava deitado com Heero a meu lado. Seu olhar vagou de Heero para mim, para nossas mãos, e novamente para mim. E então, um pequeno sorriso positivamente malicioso desabrochou em seu rosto.
'Até que enfim', ele falou, o sorriso não abandonando seu rosto nem por um momento sequer.
'Cale a boca', um coro de vozes respondeu, e levei um segundo para perceber que estas pertenciam a mim e a Heero. No momento seguinte, olhamos um para o outro com semblantes de surpresa e rostos igualmente tingidos de rosa.
Trowa riu. O maldito. Eu teria de lembrá-lo um dia desses que ele só não estava usando as duas partes de seu horrível pijama verde naquele exato momento por conta da minha intervenção, aquele mal-agradecido...
Quatre escolheu esse exato momento para finalmente fazer uso de suas características mais diplomáticas e limpou sua garganta em uma tentativa óbvia de desviar os olhares de ódio que estavam sendo lançados na direção de seu namorado.
'Bem, Duo, que bom que você esta aqui, e está bem. Eu fiquei preocupado', ele falou, e eu podia sentir pelo tom de sua voz que a preocupação era genuína. Não tinha como realmente esperar menos de Quat.
'Eu estou muito bem Quatre, desculpe por te preocupar', respondi com um pequeno sorriso de desculpas. Antes que pudesse me explicar mais, todavia, Heero gesticulou em minha direção com um copo de água, silenciosamente pedindo permissão para colocar o canudinho em minha boca. Assenti levemente com a cabeça e bebi um pouco, agradecido pela sensação de alívio em minha garganta seca.
Percebi Quatre nos olhando como se fossemos a coisa mais meiga depois de filhotinhos, e Trowa ainda com aquele mesmo sorrisinho nos lábios. Por todos os diabos, eles podiam ao menos tentar disfarçar!
Pensei que isso se estenderia por tempo o suficiente para que eu explodisse devido a vergonha, mas Quatre recuperou-se de seu transe a tempo de, se eu tivesse alguma sorte, evitar essa pequena tragédia. Sua expressão mudou, e ele pareceu contemplar o que diria por alguns segundos antes de falar, 'Mas Duo...você...passou a noite aqui?'
Eu engasguei com a água.
Heero tirou o copo de meus lábios e lentamente levantou minha cabeça do travesseiro para que eu parasse de tossir. Aparentemente satisfeito quando minha respiração voltou ao normal, ele voltou-se para Quatre. 'É uma longa história', ele respondeu com um suspiro.
Os outros dois simplesmente olharam para ele como se esperassem que ele espontaneamente elaborasse.
Heero suspirou novamente. 'Bem...', ele começou, apenas para ser interrompido por mais uma nova voz.
'YUY!' , a voz gritou, fazendo com que agora quatro pares de olhos fossem parar diretamente na porta, aonde encontrava-se um Chang Wufei, o único dos cinco homens do recinto que não estava vestindo um pijama ou variáveis disso.
'Ninguém mais tem o hábito de bater!', Heero perguntou numa voz um pouco irritada, e não pude conter o pequeno riso que me escapou os lábios diante dessa exclamação. Fiquei fascinado em seguida, ao perceber que Heero, ao me ver rindo, imediatamente perdeu o semblante irritado, este sendo substituído por uma sorriso suave em seu rosto.
Wufei olhou a cena diante de si e fui capaz de praticamente assistir em seu olhar o momento no qual algumas peças daquele quebra-cabeças encaixaram-se em sua mente. Um sorriso discreto adornou sua face, e fiz uma nota mental de agradecê-lo mais tarde por não ter comentado nada.
Ele limpou sua garganta diplomaticamente. 'Eu peço desculpas por ter entrado tão repentinamente', ele disse. ' Mas eu gostaria que você me explicasse...', ele continuou, desdobrando um jornal que tinha em suas mãos, e jogando-o em cima da cama, sobre meus pés, ' ...isso!'
Quatre e Trowa rapidamente aproximaram-se para olhar o jornal ao mesmo tempo em que Heero o tirou de cima dos meus pés, trazendo-o para perto de seu rosto, e consequentemente, de mim. Em uma das manchetes da página inicial, lia-se 'Ex-combatente causa tumulto em festa de Ministra'. Junto à manchete havia uma foto borrada do que pareciam ser duas pessoas, uma delas – obviamente maior – aparentemente caída de joelhos com as duas mãos sobre o rosto.
A outra figura, obviamente era Heero. Eu reconheceria aquele semblante a muitos metros de distância,logo, uma impressão de jornal mal feita não era sequer um desafio para olhos que, como os meus, estavam treinados em cada aspecto do corpo daquele homem.
E eu sinceramente esperava ser a única pessoa a ter tal capacidade...
Observei enquanto seus olhos percorriam o conteúdo da notícia, e então, mais senti do que propriamente ouvi o grunhido de Heero, afinal ele ainda tinha uma de suas mãos sobre a minha, enquanto a outra segurava o jornal. Virei minha mão na sua, apertando gentilmente em sinal de apoio, e ele olhou em minha direção por um momento, antes de soltar um longo suspiro.
'Sentem-se', ele falou finalmente, retribuindo meu gesto com uma caricia de seus dedos e gesticulando para que Trowa e Quatre sentassem-se nas duas cadeiras disponíveis do outro lado do quarto.
Ele suspirou novamente, e não seria necessário ser nenhum tipo de gênio para notar que Heero não estava nada contente em ter que recontar a situação.
'Duo e eu fomos até a festa de Relena, e as coisas estavam indo muito bem até que ela pediu, ou na verdade me arrastou, para que dançássemos, e enquanto isso, Duo...foi até o jardim', ele apertou minha mão suavemente contra a sua enquanto dizia isso, como se quisesse silenciosamente se desculpar pelo que havia acontecido.
'E depois disso?', Quatre perguntou.
'Depois que a dança terminou, eu mesmo me dirigi até o jardim para procurar por Duo', ele falou, fazendo uma pausa para me olhar por um momento. 'Depois que o encontrei, estávamos conversando quando esse...', Heero apontou um dedo para a figura de joelhos no jornal, com força o suficiente para quase rasgar o papel, '...esse sujeito, um dos seguranças da festa, apareceu do nada e acertou Duo no estômago.'
'O quê?', os três ouvintes responderam em união. Eu de minha parte, apenas senti um grande sentimento de alívio por finalmente compreender um daqueles brancos que persistiam em povoar a minha memória. Agora eu sabia O QUE tinha acontecido, apesar de não fazer qualquer idéia do POR QUE eu havia sido espancado por um dos seguranças da rainha do mundo.
'Exatamente o que vocês ouviram', Heero respondeu, aquele semblante de irritação voltando a seu rosto. 'O filho da mãe simplesmente surgiu e agrediu Duo sem qualquer aviso prévio ou razão.'
'Duo, você está bem?', Quatre perguntou, parecendo finalmente notar que eu não estava realmente me mexendo muito. Ele então levantou de sua cadeira, Trowa em seu rastro, e ambos, assim como Wufei, aproximaram-se da cama.
'Eu estou bem, rapazes...' comecei a responder, apenas para ser interrompido pela voz de Heero.
'Fraturou duas costelas', ele constatou em uma voz levemente clinica, levantando a coberta de meu corpo para em seguida levantar também minha camiseta e revelar minhas recém adquiridas bandagens aos olhos de meus vizinhos.
Quatre levou uma de suas mãos a boca num gesto claramente chocado, Trowa deu um longo assovio, e Wufei aproximou-se como que para verificar mais de perto.
Enquanto isso eu pensava seriamente se poderia me esconder debaixo das cobertas para nunca mais sair. Seria aquele o dia nacional da humilhação?
Satisfeito com o fato de todos terem visto o estrago operado em mim, Heero finalmente puxou as cobertas sobre meu corpo novamente e pegou minha mão mais uma vez. O gesto infelizmente não passou despercebido por Quatre, que me deu uma piscadela, colaborando ainda mais para a campanha 'Faça Duo ficar vermelho eternamente'.
Heero ou não notou nada ou simplesmente ignorou, por que logo em seguida voltou a contar sua história.
'Bem, Duo caiu desacordado, e eu não gostei nada daquela situação, portanto resolvi dar um corretivo no cara', ele disse.
'Heero, aqui diz que você quebrou o nariz dele, entre outras fraturas', Wufei interrompeu, apontando para a matéria no jornal.
'E?', Heero respondeu, como se tivessem acabado de lhe fazer um comentário qualquer sobre o tempo ou algo igualmente mundano e sem grande importância.
Wufei suspirou. 'E, que você não acha que é um pouco de exagero quebrar o nariz de uma pessoa como forma de... corretivo?', ele perguntou.
'Você não diria isso se estivesse no meu lugar.', Heero respondeu, claramente colocando-se na defensiva. ' É claro que esse imbecil estava só obedecendo a ordens, mas isso não faz dele menos idiota. Ele mereceu cada hematoma que recebeu', ele terminou com um pequeno sorriso sarcástico, e por um momento notei um flash do antigo Soldado Perfeito passar rapidamente por seu rosto.
'Você disse ordens?' Quatre interrompeu, 'Que tipo de ordens?'
Heero repentinamente olhou para o outro lado, como se finalmente tivéssemos chego na parte da história que mais lhe incomodava. Então numa voz baixa, ele continuou, 'Relena deu ordens para que os seguranças cuidassem de qualquer pessoa que chegasse...muito perto... de mim.', ele terminou olhando para nossas mãos unidas, com uma expressão extremamente culpada.
'Oh!', a exclamação escapou de meus lábios sem que eu sequer percebesse. Naquele momento todas as peças se encaixaram em minha cabeça.
Os outros pareceram compreender também.
Pensei rapidamente no fato que uma mulher, ou melhor, uma princesa, ciumenta, realmente não tem limites.
Ficamos em silêncio por alguns momentos até que Trowa pegou o jornal apenas para exclamar não muito tempo depois, 'E é isso que eles chamam de 'tumulto'?'
Heero ergueu a cabeça e piscou algumas vezes antes de responder. 'Eu suponho que sim.'
'E as fotos?', Wufei perguntou, 'De onde vieram?'
'Malditos paparazzis espalhados pela festa toda'.
'Hmmm', Wufei murmurou em compreensão. 'Bem, eu suponho que os danos não tenham sido dos piores, afinal, aqui nem citam que você é um Preventer.'
'Tenho que agradecer Une por isso', Heero respondeu, e fiz mais um nota mental para também agradecê-la mais tarde...quando saísse dessa embaraçosa jornada, de volta a meu trabalho.
Ugh! Eu já podia até imaginar o tipo de comentários que teria de enfrentar dos novatos, e sem perceber o que estava fazendo, suspirei longamente, todo o peso das explicações daquela manhã finalmente caindo sobre meus ombros.
Heero me lançou um olhar e em seguida voltou-se para os outros. 'Rapazes, Duo ainda está sob o efeito de analgésicos e acho que seria bom pra ele descansar mais um pouco. Podemos conversar sobre isso mais tarde ok?', ele falou, e havia um tom não tão sutil de finalidade em suas palavras.
'Mas é claro, Heero. Você tem toda razão', Quatre respondeu com um sorriso, levantando-se. 'Duo, não se preocupe, eu cuidarei de seu apartamento.'
'Obrigado, Quat', respondi agradecido.
Os outros se levantaram em seguida e partiram logo atrás de Quatre, Trowa lançando-me um pequeno sorriso e um 'cuide-se', e Wufei com promessas de voltar pela tarde com um pouco de chá.
Heero acompanhou-os, e pude ouvir o som da tranca sendo colocada na porta, momentos antes dele reaparecer na porta do quarto com um olhar que dizia claramente, 'enfim, sós.'
Ele aproximou-se da cama novamente. 'Como se sente?'
'Bem', respondi simplesmente, suprimindo a vontade de minha criança interior de dizer que nunca havia me sentido tão bem em toda a minha vida. Eu já havia me envergonhado o suficiente por um dia. 'Só um pouco sonolento.'
'Então tente descansar mais um pouco, e quando você acordar novamente podemos arrumar alguma coisa para você comer', ele disse, suavemente colocando uma mecha rebelde de cabelo para trás de minha orelha.
A proximidade dele me chamou atenção para o fato de que depois de apenas alguns minutos de abstinência, eu já sentia uma falta gigantesca do sabor de seus beijos, e isso deve ter ficado muito claro em meu rosto, por que no momento seguinte, percebi que Heero aproximava-se de mim com toda intenção de me beijar novamente.
E foi quando me toquei...eu devia estar com um gosto horrível na boca.
Por todos os diabos, será que NADA podia dar completamente certo comigo pelo menos uma vez?
Tentei evitar o beijo de Heero futilmente afastando minha cabeça e a pressionando contra os travesseiros.
Ele logicamente notou a minha pequena 'manobra'.
'O que foi?', ele perguntou, uma expressão repentina de confusão com uma pitada de...dor? Pintada em seu rosto.
Oh não! Eu tinha feito Heero pensar que eu não queria que ele me beijasse...não, não!
Coloquei uma mão sobre a boca antes de falar, agora totalmente consciente do fato de que deveria provavelmente ter o bafo de uma pessoa que dormiu durante muitas horas, multiplicado por três por conta dos medicamentos ingeridos com o estomago vazio. Argh!
'Heero, eu não escovei meu dentes...', comecei a dizer, apenas para ser interrompido pelo som de...risos.
Risos. Gargalhadas. Heero estava rindo da minha cara.
Ok, estava oficializado: hoje ERA o dia nacional da humilhação.
E enquanto eu pensava seriamente em talvez montar uma pequena escala dos níveis de vergonha pelos quais uma pessoa seria capaz de passar num único dia, com direito a um pequeno desenho da minha pessoa bem no topo, Heero retirou minha mão da frente de meu rosto e me beijou suavemente.
Eu podia sentir seus lábios claramente sorrindo enquanto estes se encontravam com os meus e não consegui evitar um sorriso recíproco.
Quando nos separamos, ele beijou minha bochecha, e suspirou. 'Você é um grande idiota, sabia?'
'Sim. Mas não dizem que todos os apaixonados são idiotas?', respondi com um sorriso.
'Hmmmm', ele falou, roçando sua bochecha carinhosamente em minha mão desenfaixada. 'Eu acho que isso faz de mim um idiota também. Um idiota que não consegue parar de te tocar.'
'Então não pare', falei, aceitando seus carinhos com a certeza de que, apesar das coisas não darem totalmente certo para mim – muito pelo contrário - isso não diminuía em nada a alegria de finalmente ter do meu lado a ÚNICA coisa que eu vinha querendo mais do que tudo ha três anos.
Heero do meu lado.
FIM DO CAPÍTULO 9
Obrigada a todos que ainda acompanham esse fic apesar das demoras praticamente NOJENTAS que eu imponho nos meus trabalhos. As razões para isso são muitas e não valem a pena ficar sendo citadas aqui, portanto, citarei apenas o que vale citar, ou seja, VOCÊS que continuam acompanhando , apesar de todos os apesares, MUITO OBRIGADA PELO APOIO.
Ah sim, e eu tenho milhões de fics pra dedicar a muitas pessoas ultra especiais pra mim, e sendo assim, para evitar desconfortos e tudo mais, não dedicarei esse daqui para ninguém. Mas não temam xuxus a quem eu devo dedicatórias: todos vocês terão seus fics in no time, eu prometo!
Ok, e em algumas observações sobre o fic, por favor levem em conta que não existe maior prova de amor do que beijar alguém com bafo! Nyahahaahha isso é coisa de gente genuinamente apaixonada
brincadeirinha, brincadeirinha...
Ah sim, e agora só falta mais um capítulo para que Things acabe TT
..no próximo, o fim! E quem sabe...um lemon...veremos...
See ya /
