II - Dura realidade

A brisa, que como um veludo acariciava o rosto de Artur, de repente se transformou em um vendaval, que balançava violentamente as velas da embarcação. Ele não entendia como todos continuavam a dormir, sendo que a tempestade se aproximava com rapidez.

Em segundos o tempo escureceu, e antes que Artur pensasse, uma voz preencheu seus ouvidos. Apesar de não conseguir distinguir a origem daquela voz, Artur a reconhecia: era Merlim!

Merlim! – gritou - Onde está? Onde estamos? Não está morto? Preciso entender...

Não faça perguntar as quais nunca compreenderás as respostas! – respondeu Merlim – não vim para reconfortá-lo, e sim preveni-lo! É preciso cuidado! Dei minha alma em troca deste feitiço, cujo meu conhecimento e experiência ainda não são capazes de entender completamente. Seu destino é nunca ter paz! E sua missão é cumpri-lo!

Artur respirou fundo. Velhos sentimentos já conhecidos por ele – insegurança, responsabilidade – voltavam a atormenta-lo. Enxergava nitidamente seu futuro. E não via nele um fiapo de esperança. Merlim continuou:

Nos limites do Outro Mundo a janela da vida é a defesa contra a morte. Preserve-na!

Momentos depois, a escuridão desapareceu. O ambiente sombrio dá lugar ao céu azul e à luz do dia. Artur estava atordoado. Sentia que nunca teria paz, e não conseguia compreender as palavras de Merlim. Por um momento acreditou que tudo fora um pesadelo, mas ao olhar a sua volta, seus companheiros, sua esposa e o infinito oceano, percebeu que estava sozinho, e que deveria confiar nas palavras do Taliesin.