Amores de Primavera 4
Capítulo UM
Ralações Amigáveis
Rony colocou o tal falador no gancho, com uma sensação de divertimento e receio ao mesmo tempo.
O primeiro porque acabara de conversar com Harry, com quem não falava já há quase três meses, e porque o amigo lhe dissera que finalmente voltaria para Londres depois de ter passado uma temporada na Alemanha.
O segundo porque Harry dissera que traria um presente para Megan, sua filha, o qual ela gostaria muito. Rony não gostava nem de pensar que poderia ter um animal, dali a poucas horas, em sua casa, babando em cima dele, e pulando e... fazendo mais um monte de coisas que animais irracionais geralmente fazem...
"Papai! Papai!- pequenos bracinhos se enroscaram em volta do pescoço de Rony- Quando o tio Harry volta? Hein? Hein?
"Olá para você também, mocinha!- ele falou, divertido, segurando a filha à frente do corpo- O que você andou contando para o tio Harry, hein?
"Eu?- ela perguntou inutilmente- Não contei nada para ele, papai.- ela falou- Nada que não seja verdade.- acrescentou em seguida.
"Espero que não tenha falado demais, pequena.
"Não falei. Quando o tio Harry volta?
"Você não pode se contentar em ter só o seu pai?- Rony perguntou.
"O tio Harry tem cachorro.- a garotinha respondeu.
"Ah! Só porque o tio Harry tem cachorro e o papai não, quer dizer que você não pode se contentar só comigo?- Rony fingiu estar magoado. Soltou a filha em cima da cama e cruzou os braços, fazendo bico.
"Papai, não fica assim...- Megan falou, com nítida preocupação- Eu não queria...- Rony abriu um largo sorriso e agarrou a filha de repente. Os dois caíram na cama, abraçados.
"Eu te amo, sabia?- ele falou, olhando profundamente nos olhinhos azuis da filha, que eram bem mais intensos do que os dele, mas tinham o mesmo brilho nesse momento- Muito.- acrescentou. Megan passou a mãozinha pelo rosto do pai. Primeiro na bochecha, a boca, o nariz. Rony fechou os olhos, apenas sentindo o toque carinhoso da menina em seu rosto. Ele nunca poderia imaginar sensação melhor.
"Eu também te amo, papai.- a vozinha doce dela o fez abrir os olhos. Megan deu um beijo selinho rápido no pai, que retribuiu- E, então, agora eu posso ter um cachorro?- ela abriu um sorriso maroto que ia de lado a lado do rosto.
"Esse assunto de novo, Megan...- ele queria falar seriamente, mas não conseguiu disfarçar seu tom divertido.
"Está bem, papai. Então, como eu nasci?- Rony arregalou os olhos, diante da pergunta inesperada da filha.
"Sinceramente, eu preferia o outro assunto.- ele tentou desconversar- Você ainda quer um cachorro?
"Depois.- a garotinha disse- Agora eu quero saber como eu nasci.- conhecendo a filha que tinha, Rony não teve como fugir da pergunta.
"Bem...- ele começou, medindo as palavras- você, bom, foi um acidente... quer dizer, um acidente bom...- ele não sabia exatamente o que falar e agradeceu profundamente quando a porta do quarto se abriu e, atrás dela, Hermione apareceu. Megan largou o pai rapidamente e correu para ela.
"Tia Mione! Tia Mione!- pulou nos braços dela, dando um beijo estalado na bochecha da tia- É verdade que eu sou um acidente?
"Como?- Hermione não entendeu.
"Papai disse que eu sou um acidente bom.- Hermione lançou um olhar indignado para Rony, ainda deitado na cama. Este apenas retribuiu o olhar, mas de um modo claro que dizia "o que eu poderia ter feito? Explicado como se faz um bebê?". Hermione voltou o olhar para Megan.
"Você não é um acidente, Meg.- ela falou, dando um beijo na bochecha da menina- Você é a melhor coisa que aconteceu na vida do folgado do teu pai.- Megan jogou a cabeça para trás, numa risada gostosa.
"Mione, não diga para a minha filha que eu sou folgado.- Rony replicou- O que ela vai pensar de mim?
"Que você é o melhor pai folgado do mundo.- Megan se desvencilhou dos braços de Hermione e correu mais uma vez para o pai, abraçando-o com força- Eu te amo, mas ainda quero um cachorro!
"Vai brincar, pequena.- Rony disse, e a filha saiu correndo do quarto.
"O Rox está lá em baixo, Meg.- Hermione gritou antes que os cabelos louros da menina desaparecessem no final do corredor- E não corra nas escadas!- acrescentou.
"Você não trouxe aquele babão para a minha casa, não é mesmo?- Rony perguntou, imaginando o cachorro de Harry deitado em seu sofá, babando em cima do tapete.
"Ele está lá em baixo. Quando o deixei ele estava se acomodando no sofá.- Hermione respondeu e, vendo o olhar indignado de Rony, continuou- Eu não podia deixá-lo sozinho lá em casa. E se ele sentisse falta de uma companhia?
"Certo, então você não quer que ele destrua a sua casa e a saída seria trazê-lo para destruir a minha casa! Você já viu o tamanho daquele cachorro?- Rony continuou, com a mesma voz indignada.
"Ele nem é tão grande assim.- ela retrucou.
"Claro que não, imagina. Ele só é maior do que eu, Hermione!
"Tá, ele é um pouquinho grande, uns cinco centímetros maior do que você quando está em pé e, afinal, você também não é tão alto, Rony.
"1.88m não é alto o bastante para você?
"OK! O Rox é um pouquinho grande demais, mas o que importa é que ele é muito sentimental e não gosta de ficar sozinho.
"Eu só espero que ele deixe a minha casa em pé depois que for embora.- Rony levantou-se da cama para cumprimentar Hermione com um beijo na bochecha- Como você está? Faz tempo que não vem aqui.- ele indicou uma poltrona para que ela se sentasse- Ou a cama se preferir...
"Vou ficar com a poltrona.- ela sentou-se de frente para Rony, que sentara-se novamente na cama- Que história era aquela de acidente?
"Ah, aquilo.- Rony suspirou- Megan me perguntou como ela nasceu.
"Rony, você não pode dizer para a sua filha que ela é ou foi um acidente.
"E não foi? Acidente bom, mas foi.
"Foi, quer dizer, não... ela não é um acidente, e nem diga para ela que ela é. Meg só tem cinco anos, Rony, você não pode sair por aí dizendo que ela é um acidente, mesmo que um acidente bom. O que a criança vai pensar?
"Mas ela me perguntou como ela tinha nascido. O que você queria?
"Você podia ter contado a história das fênix que trazem os bebês bruxos presos em seus bicos, ou a do Papai Noel, que dá os bebês de presente aos pais...- ela sugeriu- Mas dizer que ela é um acidente, por favor, Rony!
"Ela não acredita mais na história das fênix porque ela acha muito perigoso caso uma dessas aves pegue fogo no ar e os bebês caiam lá de cima.- ele informou- E ela disse que é impossível, entendeu, impossível, que o Papai Noel traga todos os bebês para os pais porque o Papai Noel só trabalha no Natal, ou seja, no inverno, e ela nasceu na primavera.
"Cegonhas?- Hermione sugeriu outra idéia.
"Uhm-uhm!- ele balançou a cabeça negativamente- Essas são aves tropicais, não existem na Inglaterra, a não ser as que estão presas no zoológico. Ela mesma me deu essa informação.
"Hipogrifos?
"Muito grandes, chamam muito a atenção.
"Testrálios?
"Os bebês não os vêem. Eles podem ficar com medo de ficarem sozinhos lá em cima.- Rony apontou divertidamente o teto.
"E que tal corujas?- Hermione já não tinha mais idéias.
"Pequenas demais para carregarem um bebê. Megan tentou colocar uma de suas bonecas dentro de uma trouxinha, amarrada na pata da Íris semana passada. E ela mesma constatou que era mentira.
"Coitada da coruja.- Hermione comentou.
"E da boneca, que despencou lá de cima alguns segundos antes da coruja... fico pensando se Megan não poderia ser sua filha... Não pode ser normal ela ser inteligente desse jeito. Daqui a pouco ela vai estar me perguntando como se fazem os bebês, ao invés de como eles nascem...
"Você pode contar a história da "semente".
"Mamãe me contou essa história quando eu era criança.
"E você?
"Acreditei. Peguei uma semente de laranja e pedi para a Ginny engolir, para ficar dentro dela, sabe? E ver se nascia um bebê dali. Só que não nasceu e eu achei que a Ginny que era problemática.- terminou com uma risada e foi acompanhado por Hermione.
"Realmente não daria certo com a Meg. Ela diria que come sementes todos os dias e que nunca teve um bebê por causa disso.- os dois se olharam e riram- Você tem uma filha espetacular, Rony.- nesse momento, os olhos dos dois se encontraram. Rony parou de rir e pegou as mãos de Hermione junto às dele.
"E você é responsável por grande parte do que ela se tornou, Mione.- ele falou carinhosamente, beijando as costas da mão dela- Obrigado por você me ajudar todo esse tempo. Eu não teria conseguido criar a Megan tão bem se você não estivesse ao meu lado, obrigado, mesmo...- Hermione não conseguiu distinguir o brilho nos olhos de Rony. Não soube precisar se eram os olhos dele que brilhavam tanto ou se eram os seus próprios olhos vistos através dos dele.
"Não foi nada, Rony...- ela estava intensamente corada e não tinha palavras para dizer a Rony, de modo que os dois ficaram em silêncio, o qual parecia constrangedor, mas nenhum dos dois quebrava o contato visual que mantinham.
Hermione tentou de tudo mas não conseguiu desviar seus olhos dos de Rony. Eram os mesmos olhos azuis que um dia amara. O mesmo brilho, com a mesma intensidade e, o que ela não queria acreditar, o mesmo amor, ou até mais amor que um dia ele dera a ela. Aquilo começava a assustá-la.
Rony não queria por nada parar de olhar para Hermione. Ele não queria perder aquele brilho que vinha dos olhos dela. Ele não queria perdê-la novamente. Ele se recusava a acreditar que, se parasse de olhar para ela, voltaria à realidade, e ela não estaria ao seu lado como ele queria que ela estivesse. Ela voltaria a ser somente a sua amiga, Hermione Granger, madrinha de sua filha, e nada mais.
Ela sentiu seu coração se apertar quando notou que Rony se aproximava dela. Não o amava mais, ela sabia disso, ou achava que sabia, ou melhor, queria acreditar que sabia. Mas, mesmo assim, ela não conseguiu impedir que ele se aproximasse mais. Ela não teve forças para afastá-lo, não diante do amor que ele demonstrava com o olhar.
Rony se aproximou ainda mais, por vezes parando para ver se podia ou não avançar. Hermione permanecia estática, apenas olhando para ele. Rony aproximou-se mais, encostando a sua testa na de Hermione.
O cheiro dela penetrou suas narinas, inebriando-o. Como fazia tempo que não sentia aquele cheiro, e permanecia exatamente como ele lembrava. O hálito quente dela se misturava ao seu, e unidos formavam uma cortina fina de vapor no espaço reduzido que ainda existia entre seus rostos.
Seus narizes se tocaram, ambos gelados, provocando uma sensação gostosa ao se misturar com o vapor quente, que intensificara-se ao mesmo ritmo que as respirações deles.
Hermione sentiu a mão de Rony soltar a sua e pousar em sua perna, fazendo movimentos delicados em sua coxa. E, diante disso, ela não controlou a sua mão livre, que atentou-se na nuca dele, com movimentos circulares com as pontas dos dedos, como só ela sabia que ele gostava. Ele sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha ao sentir os dedos gelados dela em contraste com a sua pele, que naquele ponto estava quente.
Ela podia ouvir o coração dele bater aceleradamente. Ou talvez fosse o dela própria, não sabia dizer. Ou talvez ambos, batendo a ritmos sincronizados, como se fossem um só, sentindo a mesmo coisa, no mesmo instante e na mesma intensidade. Aquilo a assustou ainda mais.
Não poderia estar acontecendo de novo, poderia? Não, definitivamente. Ela não poderia estar gostando de Rony novamente. Por quê? – uma voz distante fez essa pergunta na cabeça de Hermione, mas ela não respondeu. Talvez ela não tenha sequer ouvido. A proximidade de Rony já era tão grande, e o que ela sentia já se tornara tão sufocante dentro dela, que ela não conseguia pensar em nada que não fosse ele.
Ele levou a sua mão até a dela novamente, fazendo-a se levantar junto com ele, ainda com os rostos quase colados e sem quebrar o contato visual. Logo depois, passeou com sua mão pela cintura dela, trazendo-a mais para perto do seu corpo.
Ela tremeu ao tocar com seu corpo o corpo de Rony. E ela quase perdeu as forças quando a mão dele, gelada, passou pelas suas costas, por debaixo da blusa. Aquilo ela não poderia agüentar, não resistiria por muito mais tempo. Aliás, ela não resistira em momento algum até ali.
"Eu te amo, Mione...- ele sussurrou quase que num tom inaudível, mas que só alguém que estivesse tão próximo a ele como Hermione estava agora, o ouviria.
Ela não pensava que aquilo poderia ficar mais torturante do que já estava. Mas, a cada minuto, o que ela sentia ficava mais forte e mais assustador. E piorou quando ela ouviu as palavras de Rony, tão carinhosas e ditas somente para ela. A partir dali, ela temia por seus atos, e não se responsabilizaria por tais.
Os olhos azuis dele ainda a observavam com tamanha admiração, que as dúvidas que ela tinha com relação aos sentimentos dele se dissiparam, e ela teve medo pelo que aquilo pudesse realmente significar.
Qualquer pensamento que ela ainda estivesse tendo naquele momento, foram varridos para longe quando ela sentiu os lábios dele roçarem os seus, num toque carinhoso e calmo, o mesmo toque de anos atrás, ao que ela se lembrava.
Ela estava em tal estado de torpor que pouco importaria a ela se o mundo à sua volta acabasse naquele instante. Ela estava em tão completo transe, que nada importava a ela que não o brilho no olhar de Rony, os lábios dele roçando os seus, a mão dele passeando em suas costas, o corpo dele junto ao seu...nada mais importava...
"ROX, PÁRA! AÍ NÃO! NO QUARTO DO PAPAI NÃO!- a porta do quarto se abriu com estrépito e um gigantesco cachorro negro entrou correndo no quarto, passando pelas costas de Rony e pulando na cama.
Foi como se um balde de água gelada os tivesse atingido. Tudo o que sentiam há instantes, pareceu sumir diante daquela situação.
Rony, com o susto, abraçou Hermione e ambos desviaram de Rox, que provavelmente teria batido neles caso Rony não tivesse agido depressa.
"O QUE ESSE BABÃO ESTÁ FAZENDO AQUI EM CIMA, MEGAN WEASLEY?- Rony gritou, espumando de raiva. Megan estava parada junto à porta, olhando para o pai. Seus lábios tremiam e seus olhinhos azuis eram ofuscados pelas lágrimas que começavam a se formar- ROX, DESCE DA MINHA CAMA, AGORA!- o cachorro parou de pular e olhou para Rony- Eu disse para descer!- falou, num tom mais baixo, mas mesmo assim autoritário. Rox aproximou-se de Rony e, com a língua descomunal, lambeu o rosto dele, enchendo-o de baba. Hermione não pôde deixar de rir, e nem mesmo Megan, que por um instante esquecera-se que estava prestes a chorar.
"Vem, Rox!- Hermione falou e, no mesmo instante, o cachorro desceu da cama- Meg, leva o Rox lá para baixo e não deixa mais ele subir, viu? Eu vou conversar com o papai agora, ele está um pouquinho bravo.
"Ele está bravo comigo?- a voz de Megan saiu trêmula.
"Não, meu amor, claro que não. Papai não está bravo com você.
"Então com o quê?
"Ele só está bravo com o Rox, mas não foi culpa sua, OK?- Hermione deu um beijo em Megan, que saiu correndo com Rox pelo corredor.
"Maldito cachorro!- Rony tentava limpar a baba de Rox em seu rosto- Essa baba não sai?- ele olhou para Hermione e viu um sorrisinho no rosto dela- Não ria de mim! Eu não tenho culpa se aquele babão não me obedece.
"Mas ele gosta de você.- Hermione falou, jogando um lençol para que ele se limpasse- Se não, não teria te lambido.
"Falou a especialista em cachorros.- ele falou com ironia. Era visível a raiva que ele sentia- Atrapalhou tudo!
"Rony, é melhor você se limpar. Toma um banho e esfria a sua cabeça, OK? Depois a gente conversa...- Rony suspirou derrotado. Ele jogou o lençol de volta à cama e, num movimento rápido, tirou a blusa e o casaco que usava. Hermione se virou imediatamente para o outro lado.
"Não precisa se virar, Mione. - falou indiferente- Perdi as contas de quantas vezes você já não me viu sem blusa. - acrescentou com certa graça. Ela corou e sorte dela ele não ter percebido, pois certamente, do jeito que ele estava, seria um motivo para implicância.
"Bem...- ela começou, torcendo para que sua voz não saísse tremida- eu vou lá para baixo enquanto você...toma banho...- ela ouviu o risinho dele e corou ainda mais. Ele provavelmente já percebera que ela estava envergonhada diante da situação.
"Hermione sempre será Hermione!- ele falou num tom como se a frase fosse uma máxima de algum filósofo ou pensador. Algo como se tivesse falado: "Ser ou não ser, eis a questão!"- Ainda quero ter uma conversa definitiva com você, Mione. Mas depois a gente se fala.
