Amores de Primavera 4

Capítulo DOIS

Conversas de Criança

Megan olhava atentamente para a foto da bela mulher sobre a mesa de centro na sala. Aquela era a única foto em que ela podia ver seus pais juntos, ou melhor, todos três juntos, ela ainda na barriga da mãe.

"Você se parece muito com a sua mãe, Megan.- a garotinha olhou sorridente para Hermione- Saiu bem veela, como Fleur."

"Eu não queria que ela tivesse morrido. Sinto falta dela."

"Seu pai sente também, Meg, mas ele está com você, lembra?"

"Eu sei.- Megan abraçou-se a Hermione, quase que buscando o abraço da mãe que ela nunca recebeu- Por que você não se casou com o meu pai, tia? Por que você não é minha mãe?"

Hermione paralisou. Seu coração bateu tão forte que, por um instante, ela pensou que não iria agüentar a surpresa da pergunta. Abriu e fechou a boca algumas vezes, na tentativa de formular uma boa resposta.

Afinal, desde sempre Megan via Hermione como sua mãe, apesar de chamá-la de tia. E a garotinha era suficientemente inteligente para observar e entender os olhares furtivos dela e seu pai.

"Bem...- ela começou."

"Eu sei que o papai te ama, e sei que você o ama também.- ela falou, para total embaraço de Hermione- Tio Harry me contou sobre vocês. Contou que uma flor separou vocês. Mas uma flor não pode separar duas pessoas, porque flores são bonitas. Eu vejo quando meu pai ou o tio Harry dão flores para as mulheres, elas gostam. E o tio Fred e o tio Jorge inventaram a flor do amor, então flores não podem separar ninguém e nenhuma flor deveria ter separado você e..."

"Megan, Megan!- Hermione interrompeu- Calma, mocinha. Eu sei que tudo isso parece bem...lógico para você, mas entenda que não é tão simples assim."

"Claro que é simples, tia. O papai te ama. Você ama ele. Pronto. Fim de papo. Começo de romance. Beijem-se e se casem.- Hermione riu. Na perspectiva de uma criança de cinco anos o amor parecia realmente uma coisa fácil."

"Eu gostaria que as coisas fossem tão fáceis assim, Meg."

"E por que não é? Você não ama o papai? Ou você não quer beijar o papai porque ele não gosta de cachorros e é preguiçoso?"

Hermione riu. Aquela pequena Weasley Delacour era, definitivamente, inteligente e engraçada. Porque ela não iria querer beijar Rony? Não gostar de cachorros era um bom motivo para não querer fazê-lo. Na opinião de Megan, principalmente. Ser preguiçoso era um motivo para beijá-lo, afinal, ela conhecia o beijo de Rony, tão carinhoso e, na opinião dela, de certa forma um beijo preguiçoso, com um lento e irritantemente bom roçar de lábios...

Ela abanou a cabeça. A lembrança recente dos lábios de Rony roçando os seus, no quarto dele há alguns minutos, era confusa.

"Acho que não gostar de cachorros é um bom motivo para não beijar o seu pai.- ela concluiu, fazendo Megan rir, satisfeita."

"Então, tia, não se preocupe com isso. Em breve o papai vai gostar de cachorros, porque o tio Harry está trazendo um pra mim, eu sei que está, então você não vai ter mais motivos para não beijá-lo e depois se casar com ele e me darem um irmãozinho."

A mulher analisou muito bem a questão. A conversa estava evoluindo muito rapidamente para um espaço tão curto de tempo. Primeiro eram apenas beijos, depois viria o casamento, e agora filhos...se continuasse assim Megan poderia dar a idéia de netos e constituir uma família tão grande como a própria família Weasley...

"De quantos irmãozinhos estamos falando?"

"Gêmeos, como os tios Fred e Jorge, uma menina como a tia Gina e um domador de dragões como o tio Gui."

"Quatro filhos?"

"Cinco comigo."

"Certo, vamos parar por aqui. Discutiremos isso outra hora...quando você estiver mais velha."

Quase que segundos depois de Hermione terminar a conversa, a campainha tocou.

"Quem é?"

"É o bicho-papão.- Hermione riu e abriu a porta. Analisou atentamente a figura parada na frente dela, com uma enorme caixa aos seus pés."

"Engraçado, eu não tenho medo do Harry...- ela observou, antes de dar um longo abraço no amigo."

"Você não deveria sair abraçado papões por aí, Mione.- ela falou, com graça- Eu poderia ser um novo tipo de papão."

"Claro que poderia.- ela confirmou, dando espaço para que ele entrasse."

"TIO HARRY!- Megan correu para o colo de Harry- Você trouxe o meu cachorro? Trouxe?"

Não foi necessário que Harry mostrasse a caixa. O latido fino de filhote denunciou o presente. Ela abriu com pressa e viu um pequeno cachorro, com o pêlo meio avermelhado escuro.

"É um cocker.- Harry falou- São inteligentes e não crescem muito."

Não demorou mais que um minuto para Rox aparecer na sala e saltar em cima de Harry, derrubando-o ao chão, enquanto Hermione observava tudo e Megan mimava o seu novo cachorrinho.

"Vai se chamar Bilius.- ela disse, alegre."

Harry e Hermione pararam. Até mesmo Rox parou para observar Megan e o filhote.

"Você não pode dar o nome do seu pai ao cachorro, Megan.- Harry disse."

"Faz parte do plano, tio."

"Que plano?"

"De fazer o papai gostar de cachorros. Aí a tia Mione vai querer beijá-lo, eles vão se casar, vão me dar irmãozinhos para eles terem mais filhos e brincarem com os meus filhos e sermos uma família feliz, grande família feliz."

Harry olhou para Hermione, com um olhar de quem perguntava 'Que história é essa de beijo, casamento, netos e família feliz?'. Hermione sorriu de um jeito engraçado.

"Na última versão não tinha os meus netos e a grande família feliz.- ela falou, meio embaraçada."

"É o meu plano perfeito número 3.- Hermione olhou desconfiada."

"Qual foi mesmo o número 1 e 2 que eu não me lembro?- Hermione perguntou."

"O 1 foi a parte de eu contar tudo o que estava acontecendo pro tio Harry.- Hermione olhou estranho para o amigo."

"Meg, querida, você está entregando tudo...- ele sussurrou para a criança."

"E o 2 seria?- ela esperou- Depois nós conversaremos sobre a sua cumplicidade, Potter!"

"Deixar você e o papai sozinhos no quarto dele.- ela falou com grande pesar- Mas não deu certo porque o Rox atrapalhou.- e deu de ombros."

"HARRY!- era a voz de Rony, visivelmente surpresa- Não achei que fosse chegar tão cedo...- Harry deu de ombros."

"Bom te ver também, Rony."

Mas Rony não estava prestando atenção a Harry. Seus olhos estavam fixos no filhote avermelhado que puxava a orelha de Rox de um modo brincalhão.

"O que é esta coisa peluda e vermelha?- ele perguntou, apontando."

"É o Bilius, pai, meu cachorro."

"Bilius?- Harry e Hermione abafaram risadinhas."

"É, assim podemos resolver dois problemas de uma só vez."

"O problema a ser resolvido agora é quando essa coisinha vai sair de cima do meu tapete."

"Não pai, não é este problema. Nós poderemos fazer com que você goste mais do seu nome e com que goste mais de cachorros.- Rony virou-se para Harry e Hermione, meio indignado."

"O que vocês fizeram com a minha filha?- os dois caíram na gargalhada."

"Pai, isso é psicologia.- Rony olhou de Megan para Hermione."

"Mione, você tem certeza que você nunca teve uma filha?"

"Não, pai, eu já conversei sobre isso com a tia Mione. Mas agora- Megan apanhou Bilius e levou-o para o pai- Olhe como ele é lindo."

Rony apanhou o filhote nas mãos e olhou atentamente para ele. Os olhos do cachorro eram extremamente caídos e chegavam a dar pena. Era uma coisa extremamente carente.

"Ele é...- Rony começou- ...bem...fofinho...- Megan riu."

"Viu? Estamos progredindo. Mais algumas dessas seções e você estará curado."

Rony olhou esquisito para a filha, como se não a reconhecesse. O brilho nos olhos de Megan eram misteriosos e engenhosos, e o sorriso era quase que maníaco, no melhor dos sentidos, mas dava arrepios, como se a garota estivesse planejando algo mirabolante em sua cabecinha de criança.

E ele já ia argumentar algo, mas Harry interrompeu, convenientemente, e chamou Megan para subirem até o quarto dela, com Bilius e Rox, para que ele pudesse lhe mostrar mais presentes que ele lhe trouxera da Alemanha.

Hermione e Rony olharam-se e riram dos gestos infantis de Harry para com a afilhada.

"Ele é tão bobo quando se trata da Megan.- Hermione comentou."

"Eu também sou. Por isso agradeço sempre a você por ter ajudado na criação dela. Sem você ela seria uma garota mimada por dois marmanjos e provavelmente seria chata."

"Vocês não seria muita coisa sem mim, eu sei."

"Convencida.- ele falou divertido e, logo após, o silêncio pairou entre eles."

Um silêncio incômodo, que nenhum dos dois parecia querer quebrar. Olhavam-se casualmente.

"Então...- ele começou- O que vocês três conversavam antes de eu descer?- Hermione analisou muito bem a questão."

"Teorias mirabolantes da sua filha, a respeito de nós- ela respirou fundo- ...e da Luna e do Harry- completou, sabendo que a última parte não era verdade. Rony deu de ombros, não estava afim de entrar a fundo nessa história da Megan."

Ele sentou-se na frente de Hermione e fitou os olhos dela. Era aquele olhar novamente. Aquele olhar carinhoso e cheio de amor.

"Rony...- ele riu."

"Uma vez eu disse que meu amor por você nunca iria morrer, Mione..."

"Rony, por favor..."

"Eu não estava mentindo."

Rony se levantou e estava planejando sair da sala, quando sentiu uma mão segurar graciosamente a sua, obrigando-o a virar-se e ver Hermione, em pé diante dele, com os olhos brilhando.

Ele não fez nada, apenas continuou olhando. Ela se aproximou rapidamente, envolvendo o pescoço dele com os braços e apanhando seus lábios num beijo. Um beijo consumado depois de tantos anos. Um beijo apaixonado e, na perspectiva de Hermione, preguiçoso, com um lento e irritantemente bom roçar de lábios, para depois, então, tornar-se profundo e voraz, selvagem e ansiado.

E os dois, nem mesmo perceberam dois pares de olhos observando-os no alto da escada, que logo depois sumiram detrás da porta de um dos quartos.

Hermione, num instante, percebeu o que estava fazendo. Sentiu medo. Do que exatamente ela não soube. Então, ela se afastou. Olhou de um jeito meio confuso para Rony.

"Eu...preciso ir...- ela falou, desajeitada e embaraçada."

"Eu espero que você não tenha se arrependido disso.- ele aproximou para dar um beijo no rosto dela e depois subiu para o seu quarto."

"(...)"

Rony deitou-se na cama, olhando para o teto. Sua cabeça não conseguia parar de pensar no beijo de Hermione. Seus lábios ainda sentiam o gosto doce da boca dela e seu corpo ainda sentia os arrepios provocados pelo toque dela.

Não soube quanto tempo ficou pensando. Ele só teve seus pensamentos desviados quando ouviu a porta do quarto se abrir e se fechar com um certo barulho. Olhou para quem estava parada encostada na porta, com a cara séria.

"Está na hora de termos uma conversa definitiva."

Rony engoliu em seco e abaixou a cabeça. Não teria como fugir daquela conversa, teria?

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N/Rbc: espero que tenham gostado desse capítulo tbm, pq eu me diverti ao escrevê-lo. Eu realmente gosto da Megan. A idéia original era ela não gostar da Mione, mas eu percebi que o encanto e inocência de uma criança podem muito colaborar na união dos dois.

Agradecimentos a: Kamila, Thaty, Chris, Dudynha, Mary e Pri, que comentaram a fic.

Bjinhos...

Rebeca Maria!