Título:
Armadilha
Autor: Ptyx
Casal: Severus Snape/Harry
Potter
Censura: M
Aviso: inclui informações
constantes no sexto livro (spoilers). Violência, mas não
entre o casal principal.
Gênero: Flangst
Resumo:
Amor e ódio não são assim tão
distantes.
Disclaimer: Os direitos pertencem a J. K.
Rowling, Bloomsbury, Scholastic, Warner Brothers, etc., e só
eles ganham dinheiro com isso.
Armadilha
Estou calmamente sentado em meu sofá em Spinner's End, lendo o necrológio do Daily Prophet, quando Pettigrew aparata diante de mim, ofegante.
— O que foi? — pergunto.
— Mul-Mulciber e... Fenrir. Eles pe-pegaram Potter.
Meu coração dispara.
— Onde?
— Em Godric's Hollow. O Mestre... mandou eles vigiarem a casa. Ele sabia que Potter iria lá.
— E por que você veio para cá?
— Eles me mandaram avisar o Mestre.
E você veio avisar a mim? Que jogo você está jogando, Peter? E eu? Que jogo devo jogar?
— Fique aqui — ordeno-lhe. — Eu cuido desse caso.
Aparato imediatamente em frente à casa que pertencera a James Potter em Godric's Hollow. Um vento gelado está soprando. Abro a porta com um simples Alohomora. Entro. Tudo está às escuras, e o vento frio penetra na casa junto comigo. Lanço um Lumos para iluminar a ponta de minha varinha. Arrepio-me ao escutar um gemido profundo e intenso vindo do andar de cima. Subo correndo as escadarias, atravesso um pequeno hall e entro no quarto de onde estão vindo gritos e gemidos.
A cena com que me deparo, creio que jamais esquecerei. Potter está nu, na cama, sendo brutalmente violentado por Fenrir enquanto Mulciber lança-lhe vários Cruciatus seguidos.
Mulciber me saúda com um sorriso sádico e, por um momento, se esquece da tortura. Mas Fenrir continua investindo contra Potter com toda a força, e cravando as unhas na carne do jovem.
Livre dos Cruciatus de Mulciber, Potter luta para se libertar, mas Fenrir o esbofeteia.
— Snape — diz Mulciber. — Junte-se a nós. Ele não parece delicioso? Pena que não vá sobrar muito dele, quando Fenrir acabar. Quem sabe você experimenta essa linda boquinha? — Mulciber toca os lábios de Harry, que tenta, inutilmente, mordê-lo. — Crucio — murmura o Comensal, e a expressão de Potter se desfigura em dor outra vez.
Ainda assim, ele é tão belo. É a primeira vez que o vejo nu. A pele clara, macia, os músculos discretos mas bem definidos, o membro involuntariamente semi-ereto.
Os olhos impossivelmente verdes agora também vermelhos. O sangue escorrendo-lhe pelas pernas.
Ainda assim ele é belo, e eu o desejo. Há muito tempo eu o desejo. Talvez porque ele seja exatamente o que nunca poderei ter.
Desejo cada pedaço de seu jovem corpo esguio e firme.
Eu me envergonho de meus pensamentos e me recomponho.
— Parem já com isso. O Mestre me deu ordens de levar Potter direto para ele.
Mulciber parece disposto a me atender, mas Fenrir está grunhindo e pronto a começar a estraçalhar Potter com unhas e dentes. Não posso deixar que o morda. Em um gesto desesperado, lanço um Stupefy não-verbal sobre Mulciber e, logo em seguida, Fenrir.
Vendo seu antagonista desmoronar, Potter lança seus olhos a mim. Não há súplica neles, nem depois de tudo isso. Há ódio. Puro ódio.
Melhor assim.
Agora Potter, em desespero, tateia em busca de sua varinha. Eu a encontro no chão, e a recolho.
— Me dê minha varinha!
— Potter. Fique calmo. Há ferimentos em todo o seu corpo, e você está sangrando. Eu vou lhe devolver a varinha, depois. Agora vou aplicar feitiços curativos em você. Com minha própria varinha, claro.
— Não! Não quero que você me cure. Quero matar você.
Sinto um cansaço profundo e me aproximo mais. Ele recua, encolhendo-se todo, com certeza enojado com a minha proximidade. Sem tocá-lo, pronuncio um feitiço calmante para combater os efeitos do Cruciatus e começo a entoar um feitiço de cura para os seus ferimentos externos e internos.
Ele não luta mais contra mim, se entrega ao poder dos feitiços curativos.
— Para onde quer que eu o leve? — pergunto. — Quem poderia cuidar de você?
— Não quero que me leve a lugar algum. Eu o odeio.
Perco o que me restava de controle.
— Menino estúpido, não vê que eu quero ajudá-lo?
— Não quero a sua ajuda.
Ele está muito fraco ainda, e deve estar desorientado, em estado de choque. Lembro-me do que Albus sempre me disse sobre ele. Que o que o faz especial é o amor. É uma amarga ironia, que ele receba toda essa violência em troca. Outra amarga ironia é que em algum recanto estúpido de minha mente pervertida eu me ache capaz de dar a ele um pouco do que ele necessita, e que ele me rejeite completamente.
Lembro-me de que há um feitiço que posso usar para devolver-lhe as forças. É um feitiço que transferirá a ele parte de minha magia por algumas horas. Empurro-o contra a cama e encosto minha varinha em seu coração.
— Consocio!
Ele relaxa de imediato. Sinto minha magia fluindo para ele. Sento-me a seu lado. Ele fecha os olhos — a força da magia que o penetra deve tê-lo feito adormecer. Afasto a varinha; o que transmiti a ele já deve bastar. Se lhe passar mais, não conseguirei sequer aparatar para longe daqui. Agora há uma afinidade entre nossas magias. Minha magia está nele.
Queria poder passar-lhe algo tão forte que anulasse a dor, a violência e a humilhação que ele deve ter passado hoje.
Afasto-lhe os cabelos do rosto, e me assusto com a ternura do meu próprio gesto: não sabia que ainda havia em mim esse sentimento. E agora não consigo deixar de acariciar-lhe as faces. Como que por vontade própria, meus lábios se aproximam, e eu deposito um beijo em suas pálpebras.
Quando me afasto, ele abre os olhos e me fita, atônito. Parece tão perdido, tão desesperado.
— Eu não quero gostar de você — ele diz, em tom de queixa, talvez de súplica. — Não quero.
— Eu sei — respondo. — Eu também não quero gostar de você.
Sinto-me patético por ter-lhe dito isso. Ele arregala os olhos para mim. Inadvertidamente, em meu tom de voz, embargado pela emoção, revelei o que jamais poderia ter revelado.
— Você não quer, mas você gosta — ele diz devagar, a compreensão se estampando em seu rosto. — Senão, você não conseguiria ter lançado Consocio.
— Como sabe sobre o Consocio? Com certeza não foi em Hogwarts que aprendeu isso.
— Eu tenho estudado muito desde que saí de Hogwarts.
— Não era sem tempo — digo, tentando resgatar meu sarcasmo e ir embora.
Mas ele segura meu braço, não deixando que me afaste. Não me diz nada, só olha dentro dos meus olhos. Aprendeu Legilimência, também. Por um instante, eu o deixo me ler.
— Precisamos ir embora — eu digo, enfim.
Pego a varinha dele e, com ela, lanço um Feitiço Mortal sobre Fenrir, depois sobre Mulciber.
Ajudo Potter a se levantar e a se vestir.
— Vou levá-lo para a Toca — anuncio, quando ele está pronto.
— E depois?
— Depois o quê?
— O que você vai fazer?
— Vou voltar ao meu Mestre.
Depois de toda a brutalidade a que ele foi submetido, surpreendo-me ao vê-lo se entristecer, aparentemente, por minha causa.
— Eu queria que você pudesse não voltar — ele diz.
Dez minutos atrás ele me odiava e estava pronto a me matar! Ah. Entendo. É apenas um efeito do feitiço.
— Não se preocupe — digo, em voz carregada de ironia. — Quando você recuperar as forças, daqui a algumas horas, você vai voltar a me desprezar e odiar como antes. Isso é só efeito do elo que precisei estabelecer entre nós para transferir-lhe parte de minha magia.
— Mas agora... Agora eu sei o que você sente.
Desvio os olhos dos dele. Não sei como me justificar. Não sei o que dizer.
— Vamos, Harry — o nome proibido escapa-me dos lábios. Seguro-lhe o braço. — Vamos.
xSxSx
Cinco minutos depois estou de volta a Spinner's End. Pettigrew me olha com ar indagativo.
— Não encontrei ninguém por lá — eu lhe digo. — Acho que você está tendo visões.
Ele sacode a cabeça com veemência.
— Não, eu...
— Se você se comportar, eu não digo nada ao Mestre. Você nem mesmo tinha de estar lá. Afinal, se não me falha a memória, o Mestre mandou Fenrir e Mulciber ficarem lá, e não você...
Ele faz que sim com a cabeça, começando a entender. Não sei bem qual é o jogo dele, mas, de um modo estranho, parece que estamos do mesmo lado do tabuleiro desta vez.
xSxSx
Não é possível. Prongs, o patronus de Harry. O que ele está fazendo aqui? Ele faz um gesto de cabeça para que eu o siga. Mas... para onde? Pego a vassoura e o sigo até a rua. Ele alça vôo. Eu subo na vassoura e vou atrás.
É noite, e o brilho da silhueta prateada do cervo se destaca contra o céu azul-escuro. É uma bela visão. Uma miragem. O destino é uma armadilha na qual irei cair. Não vai ser a primeira vez que me atirarei de cabeça em uma armadilha. A imagem da Cabana dos Gritos e do lobisomem me vem à mente.
Sou um homem procurado pelos Aurors. O que estou fazendo, seguindo o patronus do Garoto de Ouro, o garoto que me odeia e que, se não puder me matar ele mesmo, com certeza me entregará aos Aurors?
Mas uma outra voz dentro de mim diz que não, que ele jamais faria isso. Conheço essa voz; sei que será a minha ruína.
Estamos sobrevoando Hogsmeade agora. Tenho um arrepio ao ver que o cervo segue exatamente o caminho da Cabana dos Gritos. É um mau presságio.
Agora, no entanto, ele deriva um pouco para o oeste e entra em uma caverna.
Não sei que demônios me levam a segui-lo, mas o fato é que eu o sigo. De repente, ele desaparece, sugado pela varinha de Harry.
Aponto minha vassoura para baixo, aterrizo e apeio. Harry segura a varinha iluminada diante de mim.
Meu Deus. Como ele está bonito. Parece, incrivelmente, ter superado o trauma do que lhe aconteceu menos de um mês atrás. Como isso é possível? Estou a ponto de acreditar que ele é mesmo "O Escolhido"!
— Você parece... bem — eu lhe digo. Além de ser uma frase idiota, deve ser o eufemismo do século. Ele me deixa sem fôlego.
Ele sorri.
— Graças a você.
Ele deixa a varinha em um nicho nas paredes da caverna. Em meio à semi-escuridão, vejo o vulto dele aproximar-se de mim. Ele descansa as mãos sobre meus ombros. Meu coração dispara. Não entendo nada, mas também não quero entender. Passo meus braços ao redor da cintura dele e o puxo para mim, possessivamente.
Nossos corpos se tocam, e se encaixam perfeitamente — ele é só um pouquinho mais baixo do que eu. O suficiente para que seja confortável enterrar meu rosto na curva de seu pescoço, e aspirar profundamente o seu cheiro almiscarado e levemente cítrico.
— Eu não sei o que você fez, ou por que fez, mas não consigo acreditar que você seja mau. Sei que você está do meu lado. E não consegui mais parar de pensar em você, desde aquele dia. Acho que você me enfeitiçou — ele diz, e geme diante de minhas carícias.
Eu o aperto com força contra mim. Meus lábios ávidos procuram os dele, e os encontram já entreabertos, macios, maleáveis, levemente úmidos.
Ele é tão insano quanto a alegria que me invade. Não estou mais sozinho. Ele me quer. Eu sou um homem marcado, e tudo está contra mim, mas aqui, com ele, eu estou em casa.
Ele precisa de mim. Eu posso ajudá-lo, e muito. Talvez até venha a morrer por ele. Da forma como analiso a situação, é o mais provável. Não me importo. O que importa é que ele dá um sentido à minha vida.
Fim
