Capítulo VII - Ninth Key II
Eu pulei quase um metro quando ouvi aquela voz. Certo, eu faço isso há muito tempo, mas nunca me acostumo com o modo que eles aparecem. Não seria possível arrastar umas correntes?
"E então? O que você quer? Eu não tenho o dia inteiro, sabe? Por que você me chamou?"
Encarei aquela mulher, espantada. Eu não tinha chamado ninguém, apenas fiquei ali, olhando a foto dela.
"Sra. Graffin?"
"Sim, sou eu. Você me chamou, não foi?"
"Mas o arcano nove..."- eu ouvi a voz de Pru (a tia de Dee Dee) dizendo.
"É, acho que chamei."- eu disse, confusa.
"Bem? O que há?"
"Hm...eu gostaria de saber se... se foi o Sr. Beaumont que a matou. Foi ele, não foi?"
Então, a expressão carrancuda da Sra. Graffin mudou. Ela disse:
"Merlim, finalmente alguém descobriu!"
"Sim, eu descobri e vou impedir que ele machuque mais alguém."
"Você?"- ela disse em tom desdenhoso.
"É, eu."
"Você vai impedi-lo? Você é uma criança, uma garotinha."
"Sim. Eu só tenho aparência de garotinha, mas a verdade é que já sou bem grande e sei cuidar desse tipo de gente. Eu sou uma mediadora."
"Mediadora? E isso melhora o quê?"
"Olha, senhora, eu sou nova, mas sei o que devo fazer, apenas me diga onde está enterrado seu corpo."
"Meu corpo? Você enlouqueceu? Beaumont não deixou nenhum vestígio do seu crime, livrou-se de todas as provas, inclusive do meu corpo. Nada restou. Não há como você acusa-lo, não existe nada que prove o quanto ele é culpado. Ele é um monstro."
Antes de eu conseguir dizer algo, Dee Dee surgiu do nada, atravessou o fantasma da Sra.Graffin e disse:
"Arrggh... que arrepio..venha Gina, vamos sair daqui."
"Sinto muito, Gina, mas algo deu errado e não pude ver muito claramente as cartas para você" - dizia Tia Pru, tristonha.
"E então, Gina, conheceu alguém assim como a Tia Pru?"- disse Brian
"Não exatamente."
Mas a verdade é que sim, conheci gente de todo o tipo, devido ao meu incrível dom.
Assim que voltamos para o carro consegui esquecer totalmente a história da Sra.Graffin, pois agora estava mais preocupada em saber o que fazer com aquele gato medonho. Não, não é que eu odeio gatos, mas esse era muito estranho. Tinha uma orelha meio cortada, o pêlo alaranjado raspado e seus olhos pareciam me dizer algo. Além disso, tive que ir, a viagem de volta inteira, lutando com ele.
Depois de muitos minutos de sofrimento, tentando não perder Spike e também, tentando preservar minha bolsa, eu cheguei em casa.
Quando saí do carro vi minha mãe na porta me esperando. Achei estranho. Fui até ela e com um sorriso enorme no rosto, ela disse, toda feliz;
"Gina, olha quem veio te ver! O Sr. Beaumont e Tad estavam passando aqui perto e resolveram te visitar, não é ótimo?"
Vi Tad sorrindo para mim e apontando para uma foto minha com dez anos, em que meus dois dentes da frente, faltavam.
"Oi"- eu sorri do mesmo jeito da foto, mas claro que com os dentes.
"Gina, o Sr. Beaumont e Tad queriam te convidar para jantar na casa deles, não é ótimo?"
Sim, sim, tudo que minha mãe dizia, para ela, era uma beleza. Mas eu não estava achando nada "ótimo" por ali.
"Ok. Vocês se importam se eu for trocar de roupa?"
Eles disseram que não e eu subi as escadas, apressada, numa tentativa frustrada de não correr.
Entrei no quarto e soltei Spike que saiu destruindo tudo que via pelo local. Entrei no banheiro para trocar de roupa e pude ouvir Draco perguntando o quê era Spike.
"É um gato."- eu gritei do banheiro.
"Tem certeza? Parece com um pônei."
"Tenho, olha, Draco, eu estou frita."
"Ahm?"
Às vezes ele não entende muito bem o que eu falo. Sabe como é, o cara nasceu há mais de um século.
"Eu estou numa encrenca."
"O que foi dessa vez, Ginevra?"
"Sabe, o pai do Tad e ele estão lá embaixo. Eles me convidaram para ir jantar na casa deles. O negócio é que descobri que Red Beaumont é um assassino ou um vampiro e não sei como me livrar dessa. Então, você pode me fazer um favor?"
"Claro, mi hermosa."- disse Draco numa voz sensual e cariñosa.
"Bem, se eu não chegar até meia noite, você pode ir até à Escola e avisar ao Prof.Dom?"
"Tudo bem, mas se ele é tão perigoso, por que você..."
Ouvi batidas na porta e minha mão falando:
"Gina, já está pronta?"
"Sim, mamãe."
Peguei minha bolsa com meu "kit sobrevivência", que era composto por um soco inglês, uma cruz (no caso do cara ser vampiro), minha varinha, spray de pimenta, lanterna e, bem, uma pena.
Ela me acompanhou até a sala e lá nos despedimos. É, despedida, poxa, eu não sabia se ia ver minha mãe de novo. Parti para a casa de Tad e deixei tudo "rolar".
Chegando lá, Tad e eu comemos, mas o pai dele, o qual ME convidou para o jantar, não comeu nada. Eu comi. E Tad também, comeu um bocado, aliás.
Mas ele sentou-se à mesa com uma taça de vinho tinto, quer dizer, parecia vinho, mas eu não sei se era sangue ou se era a bebida.
Depois do jantar, fomos até à sala de estar, onde foi servido café para todos. No meio da conversa entre mim e Tad, percebi que em um minuto ele falava alegre e feliz comigo, mas depois de um gole no café ele simplesmente desmaiou.
Entrei em pânico. O pai matou o filho. Imagina o que ele ia fazer comigo?
"O que o senhor fez? MATOU O TAD!"
"Claro que não! Ele apenas tomou um pouco de poção do sono, amanhã ele acordará normalmente, como se nada tivesse acontecido."
"O senhor é um louco varrido."
Então, cheguei perto dele borrifei o spray na cara dele, mas não foi bem uma borrifada, foi apenas um spif que não deu em nada. Fiquei desesperada. Em casos assim, um spray de pimenta sempre funcionava, era a ocasião para eu fugir, mas logo agora ele me falta.
"Ah, spray de pimenta? Que infantil, Ginevra!"
Ele me agarrou e eu comecei a gritar:
"Solta ou vai se arrepender."
"Você tem que me ajudar a falar com as pessoas que eu causei a morte. Eu sei que pareço um monstro, mas não sou."
"Diga isso à Sra. Graffin!"
Mas ele não me ouviu.
"Você não sabe como eu me arrependo. As horas que eu passo me culpando..."
Sem ele perceber comecei a mexer na minha bolsa.
"Então, para acabar com isso o senhor deve confessar seus crimes. Esse é o melhor remédio."
"Não, eu não posso. Eu sou diferente e a polícia não ia entender..."
Então ele sorriu e eu na sabia se era verdade ou fruto da minha imaginação, mas eu vi os incisivos dele bem pontudos. Fiquei pirada, nessa hora. Eu sabia como lutar com fantasmas, mas com vampiros? Eu até podia encarar, mas nunca lutei com um. Por isso, eu acho que minha reação seguinte é até explicável.
Peguei a pena e enfiei no peito dele. Ele olhou para mim e disse:
"Merlim."
"Vai se catar!"- eu disse, tirando as mãos dele de cima de mim.
Ele tombou para o lado e caiu em uma poltrona.
Bem, então é isso.
Eu tinha acabado de cometer um homicídio.
Então, para minha surpresa, eu comecei a gritar. Pedi socorro e então surgiu Marcos, que disse:
"O que houve por aqui?"
"O Sr. Beaumont deu uma poção para o Tad e bem, eu fiquei nervosa e matei o Sr.Beaumont."
Realmente eu não sabia o que estava dizendo.
Marcos foi até o corpo de Red e disse:
"Não, ele não está morto, só desacordado."- ele tirou a pena do suéter do chefe e foi até Tad.
"Os dois só estão desmaiados, Srta. Weasley."
"Bem, é que o Sr. Beaumont ele me assustou com aqueles dentes, e a sensibilidade à luz, então eu achei..."
"...que ele é um vampiro. você sabe?"
"Ele tem um problema psicológico. Ele não é vampiro, mas pensa que é. Pensa que matou dezenas de pessoas, mas garanto que não, ele é inofensivo. Nem sei como me desculpar."
Marcos me levou até a entrada e na porta, disse:
"Eu acredito que isso não aconteceria se a Srta. não tivesse inventado aquela história de paranormalidade. Que fique claro, não conte nada do que viu hoje a ninguém ou então terei que contar aos seus pais a sua 'breve' ficha policial."
O sacana me pegou. E ele sabia disso, muito bem.
"Boa noite, Srta. Weasley."
E, mais uma vez, para provar que essa vida e mediadora é um pé no meu saco, eu nem comi a sobremesa!
Aparatei para casa e minha mãe quis saber de tudo. Eu dei a desculpa de que estava com sono e subi. No meio do caminho, Mestre perguntou por quanto tempo Spike (como ele tinha descobrido o gato eu não sabia) ia ficar em casa e eu disse que apenas naquela noite.
Entrei no quarto e ouvi minha mãe gritar lá debaixo que tinha alguém querendo falar comigo pelo telefone. Incrível como às vezes eu penso que vivo em um mundo trouxa, tanto aqui em casa como na escola, há muito mais objetos trouxas do que mágicos.
Desci de novo e peguei o telefone, ouvi a voz do Prof. Dom:
"Ah, olá, Ginevra! Desculpe a hora, ma eu precisava falar da reunião do conselho de estudantes..."
"Pode falar, professor, minha mãe não está ouvindo."
"Ginevra, como você pôde? Ir sozinha até aquela casa quando eu disse que você não fosse! E esse tal de Draco? Quando você pretendia me falar dele?"
Eu sabia que ele ia receber a notícia de ter um rapaz morando no meu quarto, desse jeito, por isso mesmo que não falei.
"Ele disse que está morando no seu quarto desde que você e mudou para cá!"
Eu tive que afastar o telefone do meu ouvido, pois ele gritava muito e sabe como é, não preciso de uma surdez, agora.
"Você pensou no que sua mãe vai dizer quando souber? Não sei o que vou fazer com você, Ginevra!"
Ainda bem que eu vi o sinal de chamada em esperar piscar, então eu disse ao Prof. Dom:
"Ah, um minuto, por favor, Prof.Dom."
Na outra linha era Dee Dee.
"Ei, Gina, eu descobri mais algumas coisas sobre o pai do seu namorado."
"Ele não é meu namorado."
"Ok, do seu futuro namorado. Bem, desde que a mulher dele, mãe de Tad morreu, há dez anos, de um ataque cardíaco, que as coisas realmente pioraram para o Sr. B."
"Como assim?"
"O Sr. B. perdeu o interesse por suas empresas e começou a se isolar, então ele passou quase todas as responsabilidades para seu irmão."
"Irmão?"
"Sim. Marcos Beaumont."
Marcos? Mas eu pensei que ele era um mero lacaio.
"O Sr. Beaumont é o dono de tudo, mas quem controla as coisas, há dez anos, é Marcos Beaumont."
Gelei.
Então não foi o aspirante à vampiro que matou a Sra. Graffin. Foi Marcos.
Quando perguntei quem a tinha matado, eu só disse o sobrenome Beaumont, não disse o nome Red.
O sinal de chamada em espera piscou de novo e eu me despedi de Dee Dee.
Pensei que fosse Prof.Dom, mas na verdade era Tad.
"Oi, Gisele."
Ok, ele não sabia meu nome.
"Hm...olá."
"Gisele, eu sinto muito...não sei porque apaguei daquele jeito..."
"Não tem problema, Tad."
"Olha, eu não estava achando sua conversa chata, quer dizer, aquele negócio de conselho estudantil é chato, mas você não é chata..."
Não sei, mas eu penso que ele me acha chata, afinal fica repetindo o contrário todo tempo.
"Gisele, você está com raiva de mim? Olha... você não é chata... desculpa mesmo..."
Não sei o porquê de eu agir tão agressiva, em seguida, talvez porque ele simplesmente na podia entender meu nome?
"Olha, Tad... vai crescer."
"O quê?
"VocÊ dormiu? Não foi porque eu sou chata, foi por causa do seu pai, ele te deu a poção do sono."
"Gisele, porque você está dizendo isso?"
"Primeiro, meu nome é Ginevra. E depois, o seu pai é meio perturbado."
"Não, ele não é..."
"Claro que é! Um cara que acha que é vampiro? Na próxima vez que você estiver comprando um desses carros chiques ou esses seus cordões de ouro, bregas, você se pergunte de onde vem esse dinheiro. Não, pergunte ao seu tio."
"Eu vou perguntar."
"É para você fazer isso mesmo."
E bati o telefone na cara dele.
Voltei para o meu quarto e dei de cara com Draco. Ele e Spike se entenderam muito bem. O gato estava deitado no colo do rapaz, enquanto este coçava suas orelhas.
"Epa, essa é uma cena digna de Eu só acredito vendo".
Draco riu.
"Ele gosta de mim."
"Nem se apegue muito. Ele vai embora em breve."
"Por quê?".
"Porque Dunga é alérgico e minha mãe nem sabe que eu estou criando um gato aqui".
"Agora a casa é sua, portanto você pode ficar com o gato."
"Não. Eu ainda me sinto hóspede aqui."
"Então, tente ficar aqui durante cento e cinqüenta anos e você se acostuma."
"Muito engraçado. Além do mais, o gato não me suporta."
"Ele só não te conhece. Gato, essa é Ginevra. Ginevra, esse é o gato."
"Spike."
"Como?"
"O nome dele é Spike."
Draco olhou para o gato apavorado.
"Que nome horrível para se dar a um gato."
"Então, Draco, você foi ver o Prof.Dom?"
"Por que você não contou a ele que eu morava aqui?"
Interessante como todos os homens que eu conheço me dão um olhar de reprovação.
"Bem, é que ele já é idoso e não ia entender, sabe? Então, vocês não se deram muito bem, né?"
"Não. Entre seu pai e professor, eu prefiro seu pai."
"Amanhã vou contar ao Prof. Dom como você me ajudou, então ele vai te aceitar."
Draco parecia bem magoado. E pela cara dele eu sabia que ele não achava que ia ser tão simples.
"Olha. Desculpe mesmo. Eu deveria ter contado. Deveria ter apresentado vocês! Vamos almoçar os três juntos, assim o Prof. Dom fica conhecendo você melhor."
Ele me olhou como se eu fosse louca.
"Eu não como, Ginevra."
"Ah, é...esqueci..."
Draco continuou brincando com Spike e eu, na maior cara de pau, disse:
"Se existisse um modo de fazer com que você não estivesse morto, eu faria."
"Sério?"
"Sim, mas o problema é que se você estivesse vivo você não ia querer ficar comigo. Você estaria na faculdade, saindo com garotas loiras, peitudas e muito mais bonitas que eu."
"Claro que não. Eu ia querer ficar com você."
"Não. Eu sou chata e você está morto há tempo demais para saber do que eu estou falando, não sabe das coisas."
"Claro que sei!"
"Não, você não pode me fazer sentir melhor. Eu sei que há coisas que não podem mudar."
"Como estar morto."- disse Draco num sussurro.
Bem, isso acabava a conversa. Eu estava deprimida- por Draco estar morto, por Spike, por Tad- quando de repente, Draco levantou meu queixo e virou meu rosto para ele. E pareceu que tudo mudou para melhor, do nada.
A luz da lua no rosto de Draco deixava-o mais misterioso e conseqüentemente, mais bonito. Percebi uma pequena cicatriz na sua sobrancelha, bem fina, quase imperceptível.
Foi aí que percebi que, todas minhas tentativas para não me apaixonar por ele foram em vão. Eu pude comprovar isso quando o toque dele fez meu coração bater muito forte, quase pulando do peito.
Mas nunca descobri se ele ia ou não me beijar, porque de repente, apareceu no meu quarto a louca furiosa, a defunta histérica.
Juro que pulei meio metro, eu não consigo me acostumar.
"Ah, Merlim"- eu disse colocando as mãos nos ouvidos- "o que foi dessa vez?"
"Você não disse ao Red."
Ela tirou o capuz que cobria o rosto dela. Não parecia nada com Sra.Graffin, essa era muito mais jovem e mais bonita.
"Claro que eu disse!"
"Não! Você não disse! Tem que dizer."
"Draco, diga a ela. Eu disse, não foi?"
"Sim, ela disse."
"Não..."
"Espera... que Red é esse? É o Red Beaumont?"
"Não! É o Red! Red! Você o conhece!"
"Eu?"
"Sim."
"Espera...primeiro, vamos nos apresentar, qual seu nome? O meu é Ginevra."
Mas foi tarde demais. A mulher sumira.
Eu acho que minha licença de mediadora devia ser tirada. Eu não presto. Não sei fazer nada.
"Acho que peguei o Red errado."- eu disse a Draco, num tom desapontado.
: A Mediadora :
