Doce ilusão. Quem disse que eu conseguiria? Será que Julie ja estava na cama? Do jeito que eles eram deviam estar os dois na sala vendo desenho animado. MAs dessa vez eu vou ser mais forte e vou me manter quetinha na minha cama. Qualquer coisa eu ouço barulho no corredor e é mais um motivo para alguma discussão entre a gente.
Não sei como nem porque cai rapidamente no sono. Eu acho que acordar cinco da manha e trabalhar oito horas me deixava realmente quebrada. Acordo com uma luz na minha cara. Ja havia amanhecido? Abro meus olhos e percebo que não era sol coisa nenhuma e sim Julie parada ao lado do interruptor se abraçando com uma boneca sua.
- O que foi? - eu olho par ao lado e vejo John se levantando da cama estendendo os braços para que ela se aproximasse.
- Posso dormir aqui? - ela pergunta, coçando os olhos. Eu olho no relógio: 2:46. Eu já havia dormido um bocado. Ela se aproximou da cama e sentou. John bateu a mão para que ela deitasse no meio mas ela olhou de cara feia.
- Paaai! Não gosto de dormir no meio...- ela fez uma carinha triste e veio pro meu lado- posso dormir desse lado?
Eu olhei pra ela que não ria. Se isso fosse uma plano ela com certeza cairia no riso. Olhei discretamente para Carter que estava normal também. Ok, ou eles eram ótimos atores ou não havia maldade alguma.
- Vai ficar meio apertado, filha...- eu disse e ela olhou pra John com "aquela" carinha.
- Não posso fazer nada, Julie. Dona Abby é quem manda...- ele nem me encarou. Disse e se deitou novamente.
Eu não tinha alternativa. Aquela carinha cheia de medo dela me convencia de tudo. Fui um pouco para o lado, nunca tocando nele. Não iria dar esse gostinho. Nunca. Ela ligou o abajur , apagou a luz e veio correndo pra cama. se deitou e eu virei de costas pra Carter, abraçando-a por trás. Ela me deu um beijo e desligou a lâmpada. Enfim. Silêncio e calmaria.
Sentia a minha respiração pesada por aquela situação. Ele estava longe de mim, era o que eu achava. Em menos de dois minutos, senti o corpo dele se aproximar um pouco. Agora, mais um pouco. E cada vez mais. Até que senti a respiração dele na minha nuca. Permaneci imóvel. Se ele achasse que eu estava dormindo, talvez parasse e eu não tivesse que lutar contra isso.
Quando eu pensei que ele tivesse sossegado, senti a respiração se aproximar do meu pescoço. Logo senti a boca dele junto a minha nuca e o caminho de beijos leves começar a ser traçado.
Calma. Era tudo o que eu precisava. Me mantive na mesma posição, sem mexer um músculo. Ousado quando era preciso. Forte, intendo e preciso. Ele sabia onde me atacar, onde eu não tinha defesa. Logo senti ele se aproximar mais e colocar o corpo bem junto do meu. Senti cada parte dele nas minhas costas e a língua assanhada começar a lamber o meu pescoço de um jeito que só ele fazia.
Será que ele não se tocava? Além de estarmos brigados, Julie estava ali na nossa cama. Era muito descaramento mesmo. Tentei ser forte o maximo que eu pude, mas era melhor cortar aquilo de uma vez.
- Para John. - falei o mais seria que pude e com uma "moral" na voz que eu esperava que funcionasse.
- O que? - Meu Deus! Ta usando de novo do artificio "cara de pau", eu tinha mesmo que aguentar isso. Eu mereço. Isso, mereço.
Fiquei muda. Ignoraria que tinha ouvido aquilo, por mais uma vez tentei dormir sem sucesso. Suas mãos agora me atacavam de vez. Senti elas subindo pela minha barriga e de uma vez por todas eu coloquei minha mão sobre a sua impedindo que ele avançasse naquilo.
- Julie esta aqui.. - eu sussurro mas falhei ao falar isso. Frase de duplo sentido. Agora ele iria tentar tira-la do quarto para continuar com aquilo.
- E se ela não estivesse? - Suas mãos param a um passo de tocar meu busto. Não me viro para dar uma lição nele naquele momento, pois esperava que ela caísse no sono logo, senão eu que teria trabalho para coloca-la para dormir.
- Mas ela esta.. portanto.. vê se dorme.. amanha você trabalha cedo...
- Aham.. sim sra. - ele não tira as mãos de mim e eu não tentaria repelir. Não vou negar que amava dormir sentindo seu corpo junto ao meu. Fechei meus olhos e ele não tentou nada. Uma coisa que ele respeitava era nossa "intimidade" quando Julie estava por perto. Tentamos ao máximo manter a coisas longe dos olhos e ouvidos nela para não causa nenhum "trauma" na criança.
A mão parou de se mexer, mas o corpo não descolou do meu. Sentia cada parte dele junto a mim. Saudade daquele corpo pertinho de mim, me fazendo carinho.
As mãos recostaram na minha barriga e lá ficaram até eu adormecer. Eu ainda acordei algumas vezes a noite, quando Julie se mexia ou para cobri-la quando ela tirava o cobertor e vi que a mão dele continuava no mesmo lugar. Só espero que esse bom humor dure até amanhã cedo.
Acordo com o latido forte de Carby. Abro os olhos e encaro o relógio:6:57. Droga! Agora teria uma hora para arrumar Julie apenas. Tinha prometido trocar de turno com Neela, portanto entraria as 8h. Tudo as pressas, mais uma vez.
Olhei pra frente, vendo Julie dormir com as mãozinhas jutas abaixo da cabeça. Vi a mãe de John meio cedo, mas ainda assim, sobre o meu abdômen. Ele deveria é estar com o braço formigando.
Eu sabia que ele tinha que trabalhar hoje mas não tinha idéia de que horas seriam. Tentei sair da cama sem acordá-lo mas isso seria impossível. Julie quando dormia um pouco mais sempre tinha a doce ilusão de que poderia faltar aula e logo fazia escândalo batendo o pé no chão.
Primeiramente tirei sua mão de mim e fui me ajeitando tentando por Julie no meu colo para acordá-la no corredor. Tentei uma, duas, três vezes... nada, nem conseguir levanta-la eu consegui. Ou ela estava ficando muito pesada ou eu muito velha... mas nunca os dois.
- Julie.. – eu a balancei de leve passando a mão pelos seus cabelos, logo ela gemeu e eu continuei insistindo – Vamos levantando.. você tem aula... – ela gemeu de novo mas não disse nada. Olhei ao meu lado com pena ao ve-lo em um sono tão profundo, mas não teria jeito, ele teria que acordar pra me ajudar.
- John.. – eu falei num tom de voz normal – Julie não quer acordar... vê se levanta que eu sozinha não agüento isso.
Me vendo em uma encurralada, me levantei na cama com tudo fazendo-os perceberem que pelo menos era dia pois eu estava de pé.
- Todo mundo acordando! – eu fui puxando a coberta da cama, puxando cortina, ligando som. Enfim.. utilizei de todos os artifícios que eu sabia que poderia me acordar.
Ou eles estavam tirando uma com a minha cara, ou estavam em como. Sem saída, fui de novo até a cama e dei um empurrão nos ombros de John.
- Vaaai, me ajuda!- ele finalmente abriu os olhos com aquele sorriso de quem estava fingindo a bastante tempo. Quando eu pensava em me afastar para ele me ajudar com Julie, ele colocou a mão com força na minha cintura, me puxando pra perto dele.
- Bom dia pra você também..- ele disse, baixinho, me puxando ainda mais, fazendo com que eu caísse sobre ele. E aliás, quase que sobre Julie também.
- Seu louco...- eu disse, antes dele vir me beijar. Não dei muita bola ao beijo, respondi "quase" na mesma intensidade.
Separei a gente assim que vi Julie se mexendo.
- Agora ela acorda, né?- eu disse e ele sorriu comigo.
- Oi!- ela acorda num bom humor antes nunca visto.
- Ola.. – John sorri para Julie que pisca imediatamente pra ela. Opa! Será que eu tinha perdido algum detalhe?
Olhei para ele com uma cara de desconfiada e ele logo tratou de se levantar e pegar Julie nos braços.
- Que horas você trabalha hoje? – ele se vira com um sorriso no rosto tão grande ou maior que o de Julie. Definitivamente eu havia perdido algum lance na historia.
- Oito.. – eu falo ainda meio encucada com o bom humor daquela dupla. O quer será que eles tramaram na noite anterior? - daqui a pouco.. deixar Julie e ir.. e você?.
- Oito também.. – ele agora aumenta o sorriso. Ok.. dessa vez coincidiu.. teríamos provavelmente um almoço super romântico no Jumbo Mart e logo após alguns momentos a sós antes de pegar a pequena na aula.
- Deixem de papo senão eu vou me atrasar! – Julie fala gargalhando alto atraindo toda a nossa atenção. Definitivamente esse bom humo matinal ela não herdou da mãe.
Sorri a ela e logo fui indo para seu quarto. Todo aquele processo iria recomeçar. Banho, roupa, café. Hoje sem boneca, se eu não quisesse ficar louca. A manha começou a dar suas mostras e eu cortei antes que ela a dominasse.
- Sem choro, Julienne - ela me olhou feio. Ela não gostava muito de ser chamada pelo nome todo - vamos, vai...- eu disse quando ela saiu do banho, espirrando água por todos os lados.
Logo ela foi pro quarto e eu a ajudei se vestir. Desci-a até a cozinha e voltei para meu quarto correndo, para me arrumar, enquanto John ficava com ela lá embaixo.
Quando desci, surpreendentemente, a mesa do café estava posta e eles comiam. Julie via um desenho na TV e Carter encarava um papel. Um papel que eu poderia jurar ser...
- Ei! Cortar isso também?- ele parecia indignado. Virei meus olhos antes de ir até lá checar sobre o que ele falava. Ia começar tudo de novo!
Me aproximei dele e me apoiei na mesa indo em direção aonde o dedo dele apontava.
- Obvio que sim.. – eu nem analisei mais nada e me sentei comendo rapidamente. Chegar mais uma vez atrasada seria abusar da boa vontade de Susan.
- Tudo bem excluir carrinho de pipoca, algodão doce, churros, mas palhaço! Não Abby! Qual a graça de uma festa de criança sem palhaço?
- Eu nunca tive palhaço nos meus aniversários e nem por isso sou traumatizada.. e soube viver muito bem sem eles.. – eu fui falando e engolindo uma torrada enquanto ele me encarava em descrença. Carter às vezes tinha cada uma!
- E quem vai animar a festa? – ele fala jogando o papel em cima da mesa bem a minha frente - Criança odeia festa parada... eu pelo menos odiava.
- Que tal você! – eu engulo goles grandes do meu suco e olho para Julie que já se levantava da televisão voltando para sentar ao nosso lado.
- Não começa...- ele diz baixo, quando Julie se senta no meu colo.
- Como é que é o negócio aí?- baixinha já se interessa ni assunto- papai vi animar a festa?- ela esboça um sorriso.
- Não!- ele nega instantaneamente, com medo de dar falsas esperanças a ela- sua festa vai ser animada com palhaço, mágico e tudo o que você tem direito- ele falou a ela, mas isso mais pareceu um ataque.
- Isso vemos depois, filha - eu tratei de cortar- agora vamos que estamos atrasadas!- ela sorriu e correu para a escada - devagar!- ela diminui a velocidade e logo entrou do corredor para o quarto.
Eu evitei contato com os olhos dele antes que isso virasse mais uma discussão.
- Você podia tentar pelo menos me escutar um pouquinho, né?- eu disse, levantando da mesa - tentar me respeitar e respeitar o poder que eu tenho... - eu parei para pensar um pouco - pelo menos o de mãe, né? Ou será que esse eu também perdi?- eu o encarei, mas ele estava com a cara enfiada no papel das contas.
- Dá um tempo, Abby... - ele jogou o papel longe, ficando todo "irritadinho"- você sempre decidiu tudo aqui!- ele meio que gritou inconformado.
Eu resolvi não responder à altura.
- Olha, se quiser uma carona anda logo. Eu não vou chegar atrasada por sua culpa... - eu disse, antes de começar a subir as escadas.
Passei no quarto de Julie para terminar de ajeitar suas coisas. Infelizmente não se podia esperar muito de uma filha de três anos. Conferi sua agenda e separei o material certo dentro de sua mochila. Entreguei a ela junto com o lanche que havia preparado e vou andando até o meu quarto com ela me seguindo.
Entrei e o vi sentado na cama terminando de colocar seu sapato. Ela correu para cima dele e sentou no seu colo observando me vestir. Ela adorava quando eu a deixava colocar uma roupa minha e sair desfilando pela casa. Mas hoje definitivamente não era dia.
Evito de todas as formas encara-lo e me troco rapidamente correndo contra o tempo. Visto uma roupa que já estava separada na cadeira e termino de passar alguma maquiagem antes de sair.
- Pronta? – Julie aparece na porta do banheiro com um sorriso de orelha a orelha.
- Só um pouquinho.. – passo o perfume em mim e ela se aproxima querendo pegar a minha maquiagem. Olho para ela que apoiava as mãozinhas no mármore da pia, tentando de pontas de pé pegar algo. Mas sem sucesso. Logo cansava e voltava a me encarar com aquele olhar "pidão".
- Vamos? – sou surpreendida em meus pensamentos com Carter parado a porta do banheiro segurando as chaves do carro. Pelo menos falando comigo ele "ainda" estava.
Dou um sorriso amarelo e saio seguindo Julie que segurava uma mão de Carter e esperava que eu os alcançasse para segurar a minha do outro lado.
Julie não era boba nem nada. Era incrível como desde que começou a se formar como "pessoa", ela sempre sabe quando eu e Carter estamos meio "assim". Isso é um instinto das crianças, mas eu até arriscaria falar que esse instinto era meio aguçado em Julie.
Eu finalmente chego a porta, passando a chave antes de sair. Antes de caminhar para o carro, me agacho para fechar mais a blusa do peito e garganta de Julie. Além disso, pego no meu colo para proteger as orelhas. Ela era louquinha pra ficar com dor de ouvido.
A coloco no banco de trás, passando o cinto. Nisso, Carter já estava sentando, com a chave na ignição, somente esperando por mim. Com "aquela" cara, diga-se de passagem. Terminei, indo para o banco da frente, fazendo o mesmo comigo.
Como não poderia deixar de ser, ligo o som. O único amigo nas horas das brigas silenciosas.
Continua..
