Disfarço um pouco evitando que estivesse sendo "seguida". Nunca se sabe... Depois de algumas voltas, vou a loja que queria e me aproximo dos biquinis procurando pelo mais "sensato".

Eu olho, olho e olho. Talvez eu tivesse exagerado em entrar aqui. Eu queria algo ousado, que fizesse a minha vingança mas também tinha senso de ridículo e vrgonha na cara. Era uma mulher casada. Aqui as coisas estavam indo longe demais.

Sai daquela e entrei na loja ao lado, que parecia um pouco mais "eu". Olhei alguns modelos até observar, do outro lado da loja, um biquíni branco olhando pra mim. Fui até lá e peguei na mão. Perfeito, diria eu. Branco, de tirinha, sem detalhes e pequeno, mas descente.

Era esse, não tinha que ver mais nada. Nada seria melhor do que isso. Carter sempre diz que mulher de branco é tudo o que um homem pediu a Deus. Nessa eu me sai bem, escolhi a profissão certa. E quando se tratava de biquíni, a opinião não divergia. Branco era o "sexy", branco era o "melhor" era o q deixava "boa". Eu sempre ri disso tudo, mas finalmente esses comentários me seriam úteis.

Feita a escolha, decido levar mais alguns acessórios e uma saída de banho que achei a cara de Julie. Paguei tudo e olhei par ao relógio. Estava cinco minutos atrasada. Um ótimo motivo pra ele encher o meu saco por alguns instantes.

Apresso o passo e logo os avisto sentado num banco. Carter com cara de poucos amigos e Julie sorrindo contente segurando alguma coisa em suas mãos.

- Enfim ne! – ele fala encarando o relógio.

- Sem drama Carter... – eu me sento ao seu lado e Julie logo pula no meu colo querendo ver o que eu havia comprado. – Epa.. – eu tiro suas mãos de cima – deixe isso aqui.. amanhã vocês vêem..

- Trouxe nada pra mim? – ela faz uma carinha triste e eu pego a sacola que estava ao lado de John.

- E o que é isso que o seu pai comprou! – eu falo pegando a sacola em minhas mãos e desviando o olhar para John. Definitivamente ele estava com cara de poucos amigos.

- Olha.. – ela fala puxando umas camisetas da sacola – duas... uma pra mim e uma pra você... deixa eu ler o que tem escrito pra você...

"Visto com muito orgulho essa camiseta que o meu amor me deu declarando que me ama." – ela fala sem saber ao certo se é aquilo que esta escrito, passando o dedinho por cima das letras.

Olho para Carter sorrindo e que ainda se fingia de magoado por ter sido "abandonado".

- Oh, que fofo - eu olho pra ele que olhava pra frente, sem rumo - brigada- eu dou um beijo nele e ele mal se move.

Eu olho para Julie sem entender e ela sorri.

- Ele tá bravo. Disse que não gosta quando você fica misteriosa demais...- ela riu e olhou pra ele, que continuava na mesma posição.

- Misteriosa? - eu repito tentando entender - saio sem ele, você quer dizer - eu sorri e ela encolhe os ombros, sinalizando que "lavava sua mãos".

- Não é isso não- ele finalmente sai de seu coma mental e vem falar conosco.

- Não, é?- eu digo desmentindo-o - sei, sei.

- Você tá muito engraçadinha, sabia?- ele diz, num tom que não poderia ser considerado de brincadeira.

- Você ainda não viu nada..- eu replico.

- Vamos né? - Julie interrompe o principio de uma briga. Bom.. pelo menos por agora.

- Vamos sim.. - eu me levanto e pego minha sacola "protegendo-a". Seguro a mão de Julie que logo cutuca John.

- Pai... - ela mexe no ombro dele e se abaixa ate o seu ouvido pra falar - acorda!

Ele se levanta sem mudar muito sua expressão e eu vou andando na frente até o carro. Ele ativa o alarme e eu abro a porta de trás para que julie sentasse. Instalada ela, sento no meu local e vamos tomando rumo de casa.

- Aluga filme pai! – ela fala quando paramos no sinal perto da locadora.

- De novo Julie? – ele olha pra trás e aposto que ela começa a fazer chantagem – ta bom.. talvez seja melhor mesmo.. – ele olha pra mim e torna a dirigir. Ok, eu já entendi. Iríamos tem uma longa e boa conversa.

Descemos na locadora e Julie sai correndo para a sessão infantil. Eu a acompanho enquanto John estacionava o carro.

- Eu já vi esse, mãe? – ela segura um filme e eu o pego constatando que sim.

- Leva esse.. – eu mostro pra ela um filme e ela segura ele procurando por outros em outras sessões.

Eu ando pelos corredores seguindo os olhos, vendo-o entrar pela porta da vídeo. Ele vê Julie empolgada com os filmes e caminha pra frente. Eu não me deixo se vista, com o intuito de ver aonde ele iria. Vou seguindo-o, feito num filme. Vejo-o encarar a prateleira dos filmes de ação e parar em frente a um, pegando-o e lendo o comentário. Não se mostra interessado e continua a seguir.

Eu dou uma olhada pra trás, vendo se estava tudo ok com Julie. Vendo que sim, continuo caminhando na fileira paralela à que ele estava. Eu já até imaginava o que ele ia fazer. Conhecia esse joguinho emocional "de outros carnavais".

A placa "PARA MAIORES DE 18 ANOS" era bastante visível. Eu não perderia essa oportunidade por nada desse mundo. Ele parou em frente a porta daquele acesso restrito e encarou dentro, sem entrar. Eu caminhei pra bem perto dele, uma vez que ele estava de costas pra mim. Cheguei bem pertinho do ouvido dele.

- Trouxe o R.G, mocinho?- eu acho que dei um susto nele. Ele olhou pra trás, me encarando ainda sem sorrir.

- Não só trouxe como vou utiliza-lo.. - ele entra na sessão e pega o primeiro filme que vê pela frente. - Vamos? Não vejo a hora de fazer uma pipoquinha pra ver um bom filme..

O encaro ainda sem acreditar muito que ele iria proceder com aquilo. Julie se aproxima de mim e fica me puxando para ir ao caixa. Na maior cara de pau ele passa o filme de Julie e o dele e o caixa ainda faz o favor de soltar uma risadinha pra cima de mim.

Saimos da locadora e fomos ao carro. Julie queria segurar a sacola que estavam os filmes, e eu logo peguei o outro filme escondendo-o entre as minhas pernas. Imagine, minha filha de 3 anos vendo uma capa de filme nomeado: "No buraco da maldade".

Torno a olhar para ele que continuava sem muita expressão. Dirigiu em silêncio, estacionou o carro, tirou Julie e se aproximou de mim puxando o filme das minhas mãos.

Olho incrédula pra ele e fico sem reação sentada no banco do carro. A brincadeira havia passado dos limites, perdido a graça. Me levanto e esperei um segundo ate que Julie perguntou.

- Que filme vamos ver primeiro pai? O meu, ou o seu?

- Pode por o seu primeiro, filha...- ele disse no tom mais normal e cara-de -pau. Como assim "pode ser". Filho da mãe! Agora era demais pra mim. Eu fechei minha cara de "bons amigos". Se ele queria brigar, pois bem. Ele colocou o DVD pra ela e sentou no sofá, com ela deitada no seu colo.

Peguei a minha sacola com a "a minha vingança" e subi pro meu quarto. Já havia anoitecido e eu pretendia de tomar banho e trocar de roupa antes de ter que cuidar de Julie.

Continua...