Na sua eterna rotina se encontrava a lua, sempre a iluminar lugares vazios ou até lugares que, como ela, nunca dormiam. Sempre a iluminar rostos felizes, tristes, pensativos ou em especial o de um homem, que por uma certa rua de um bairro bruxo, passava. Era um homem muito bonito, andava com rumo definido e totalmente desconfiado da sua própria sombra.
Agora, não mais iluminado pela lua, se escondia em uma casa onde coisas sem a mínima moral aconteciam, lugar freqüentado por pessoas de reputação desconfiável, o que não era o caso do amargo homem, que demonstrava claramente não ser de muitos amigos ou não se importar muito com os outros.
- Três horas – disse o homem – quanto é?
- Meu caro senhor, seja bem vindo! Para você que parece ser um ótimo pagante, nós fazemos três horas por apenas cinco galeões – disse o que parecia ser o recepcionista.
- Ótimo! Chame logo!
- Vou providenciar imediatamente! – virou-se para uma mulher muito bonita atrás dele, com longos cabelos louros e um olho tão azul quanto o céu – Brigit! Trabalho! Agora!
A mulher levantou-se num estalo e levou o nosso homem para um quarto no andar de cima. Três horas depois o homem volta a recepção e sai sem dizer uma palavra. O tempo passa e o lugar continua como sempre, exceto por um detalhe.
- Vamos Brigit, você tem que pagar as contas, até agora você só fez um trabalho, aquele homem não pode ter sido tão traumatizante.
- Munique, eu estou lhe dizendo, nunca vi alguém tão seco, ele nem parecia estar vivo, ele parecia ser muito malvado! Aposto como todos são assim.
- Me poupe das suas besteiras, você tem que se sustentar. Como que você vai pagar seu apartamento se você não ganha dinheiro? O primeiro de todas nós é ruim, mas você tem que continuar, só emagreça um pouco e eu te consigo mais clientes.
- Ai, tá bom, só se você me ajudar mesmo.
- Isso vai ser fácil, você nem está tão gorda.
Passaram–se mais algumas semanas e ao invés de Brigit emagrecer ela só engordava mais, além de estar sempre enjoada. As duas logo perceberam o que estava acontecendo e alguns meses depois nasceu uma linda menina com os olhos da mãe.
Brigit encontrou o misterioso homem visitando a "casa" novamente e tentou lhe contar o que aconteceu, mas ele jogou várias azarações nela e desapareceu da face da terra. Brigit se arrependia muito de, por falta de experiência e cuidado, não ter evitado a gravidez naquela noite, quanto ao homem, certamente pensou que ela evitaria.
Após tudo isso, "trabalhar" com um bebê era cansativo e inviável, a pobre mulher não tinha experiência nenhuma, nem vontade de continuar e precisava constantemente de dinheiro então acabou tomando uma atitude desonrável.
Era uma noite como qualquer outra e não seria nada especial se uma insinuante mulher carregando um bebê em seus braços não tivesse aparecido, ela andava com passos precisos, com certeza sabia aonde ia, atravessou algumas ruas até chegar a um lugar isolado, ali esperou impacientemente quando:
- A Senhorita chegou cedo! – falou uma senhora já de idade – Eu cumpri a minha parte, trouxe o combinado e pelo que vejo você também.
- Por favor, diga-me pelo menos seu nome – suplicou a mulher.
- Não, para depois você se arrepender e vir atrás dela? Esqueça que ela existiu, receba seu dinheiro e viva sua vida! Esqueça de mim também!
- Senhora, não me obrigue a esquecer minha filha, isso é impossível. O único motivo para eu estar...estar...
- Vendendo ela – continuou a idosa.
Repentinamente a mulher começou a chorar e se agachou segurando muito forte o bebê que carregava.
- Você não quer mais o dinheiro? – perguntou para a mulher – Você quer ficar com sua filha?
A mulher que estava no chão ergueu-se tão rápido quanto o choque que ela tomou.
- Não, não vá embora, eu quero esse dinheiro, ele vai me ajudar muito, esta menina só me atrapalha.
As duas fizeram a troca e a velha logo foi embora, deixando a mulher com um saco de dinheiro na mão, olhando fixamente para o lugar onde a velha desapareceu com a linda menina de olhos iguais aos da mãe.
Bem, pelo menos foi isso o que me contaram sobre a minha mãe.
