Ele mal chegou em casa, tomou um banho e saiu pro trabalho. Nesse processo todo se ele dirigiu alguma palavra pra mim foi muito. Se ele continuasse com essas besteiras o problema era dele, não meu. Eu que não iria mais me estressar com essas coisas.
Passei o resto do dia com Julie que estava enjoada e também não queria dormir. Descartei possibilidade de resfriado vendo que ela não apresentava nenhum sintoma mais "exagerado". Deve ser só cansaço, alem de ficar na piscina o dia inteiro, mal comeu e não dormiu nada de tarde.
Dei um banho nela e enquanto ela foi comer um sanduíche e assistir um pouco de TV no quarto, eu aproveitei pra tomar banho. Entrei no chuveiro do banheiro dela mesmo. Não gostava de ficar longe quando ela ficava sozinha.
Me troquei e coloquei as nossas roupas do churrasco na máquina, incluindo o biquíni maldito e aquela sunguinha linda dele. Realmente formávamos um casal preto e branco muito bom.
Voltei pro quarto vendo-a toda encolhidinha na cama. Isso era sinal de doença ou pura carência. Como a primeira opção estava descartada por hora, decidi assumir um pouquinho mais o papel de mãe e ver pela milésima vez naquela semana o tal do Bob Esponja...Ah, legal! O desenho tinha mudado..Caliu, o menininho feliz.
Deitei na cama atrás dela e a cobri, abraçando-a por trás. Ele ficava toda escorada em mim. A coisa mais fofa do mundo. Comecei a fazer carinho no seu cabelo para ver se o sono a pegava de jeito. O pior era que quanto mais o tempo passava, mais eu também ia ficando com sono. mas eu só poderia dormir quando ela finalmente fechasse os olhos e mostrasse que havia caindo num entrado profundo de sono.
- Shhhh... – eu cantarolava alguma coisa e via seus olhinhos ficarem pesados. Ela tentava ainda ver alguma coisa na televisão, mas logo tornava a fecha-los de novo.
Depois de uma luta grande contra aquela vontade de ficar acordada, bocejou mais uma vez (repercutindo o mesmo em mim) e fechou os olhos de vez. Vendo que ela estava realmente dormindo, agora era eu que estava como sono e com pena de me mexer e acabar acordando-a.
Eu nem sei mais o que deu em mim a partir daquele momento. Só sei que fechei meus olhos um pouco e viajei para outras galáxias nos meus sonhos. Julie provavelmente estava dormindo e eu também, sentada, pronta para ter uma "baita" dor nas costas amanha. Algumas vezes parecia que eu iria acordar para sair dali, mas a preguiça mais o sono resultavam em ficar com minha pequena. Tomada pelo sono, eu não vi ou escutei mais nada por algum tempo. Quando senti meus olhos entreabrirem já estava bastante escuro e o relógio marcava perto da meia-noite.
Meus olhos ainda pesados abriram lentamente e eu pensei ter escutado a porta lá embaixo, as chaves mexendo e o trinco. Não sei se era frito da minha imaginação, John ou um ladrão. Eu só sabia que qualquer que fosse a alternativa, eu não iria sair dali.
Meu subconsciente escutou uns passos mais fortes e eu senti o vulto de alguém passar pelo corredor. Logo senti uma presença no quarto. Não demorou muito pra eu senti ser pega no colo por aquele homem que mesmo depois de horas de plantão, cheirava também.
Abrir os olhos não era uma opção. Nem acordada eu estava direito. Esperei ele me colocar na cama do nosso quarto e me ajeitei nos cobertores enquanto ele tirava a roupa.
Cansados ou não, com raiva ou não, ele logo deitou do meu lado, desligou a luz do abajur, balbuciou alguma coisa e logo se deitou, colocando o seu braço ao redor do meu corpo. Eu não me canso de repetir, é nessas horas que me sinto abençoada por ter alguém que cuide de mim, se preocupe comigo apesar de tudo.
Acordo realmente bem tarde. Tanto que ele nem estava mais deitado ao meu lado. Permaneço ainda um bom tempo com meus olhos fechados na cama pensando ainda nos acontecimentos dos últimos dias. Ouvindo barulho na casa, decido abrir os olhos e lutar contra a preguiça. Mas antes que eu fizesse isso, Julie me aparece sorridente, banhada, arrumadinha e agarrada com um sanduíche vindo em minha direção.
- Mãe.. – ela fala baixinho perto da minha orelha. Eu me viro e a vejo escalando a cama vindo me entregar o sanduíche.
- Pra mim? – eu pergunto vendo-a sorrir. – Obrigada.. – eu pego e me estico para lhe dar um beijo.
- Papai me ajudou a fazer pra você... – ela se senta na cama e eu me ajeito mordendo o sanduíche e claro, elogiando-o. Logo ele e aparece na porta com uma feição diferente da de ontem.
- Seu suco... – ele fala também sentando na cama e estendendo-a a mim.
Eu nem ousaria dizer alguma coisa. Às vezes é melhor deixar quieto. Se não é pra ser discutido, melhor que fique assim. Pequei o copo tomando um gole e dando um pouco pra Julie também.
Ele sentou no pé da cama e me assistiu comer. Clima estranho, estranhamente bom. Comi e antes de pensar em fazer alguma coisa pra acertar os últimos detalhes pro aniversário, me lembrei que teria que fazer plantão noturno essa noite. Aqueles horários acabam comigo, mas pelo menos eu tria um dita todo pra descansar e pra minhas costas parar de doer.
Dei uma ajeitadinha na casa e fomos almoçar fora. A minha vontade era dormir a tarde toda, mas acabamos assistindo um filme na TV. Julie pegou no sono logo no começo e eu fiquei sentada no sofá, ao lado dele.
Logo senti a mãozinha dele ser passada sobre meu ombro. Não ia me fazer de difícill não mesmo. Estava mesmo na hora de resolvermos uma briga sem ser aos berros. Aproveitei que Julie tinha ido se deitar no chão e me esparramei no sofá, colocando a cabeça no colo dele. O cafuné logo veio e com ele o meu sono mortal.
- Não é melhor você ir deitar na cama? - ele pergunta já vendo eu me render ao meu sono.
Eu aceno negativamente e sorrio permanecendo ali recebendo cafuné. Quando em minha sanidade normal eu iria deixar de ficar com minha família, receber carinho pra ir deitar numa cama? Nunca.
Eu não dormi, agüentei o filme inteiro que passava na televisão. Durante todo o tempo que permanecemos ali, recebi beijos, abraços.. ate que Julie pareceu se cansar daquilo tudo e sentar ao lado de John, querendo fazer o mesmo em mim.
Suas mãozinhas começaram a tocar de leve meu cabelo me fazendo olhar pra ela. Meu Deus, eu tinha a filha mais perfeita do mundo. Vi o meu sorriso, quer dizer, o sorriso de John refletido no dela. Ela o encarava as vezes para saber se estava fazendo certo e logo continuava. Quando cansou, pulo do sofá, sentou ao meu lado e se aproximou me dando um beijo na bochecha.
- O que você ta querendo? – eu pergunto já sabendo que dali poderia estar vindo alguma coisa.
- Vocês sabem.. – ela nos encara sorrindo.
- Sabemos o que? – eu me sento já imaginando que poderia ser mais um complô.
- Falta pouco mãe.. – ela escala o meu colo e puxa a mão de Carter para ele sentar mais próximo.
Pronto. Sabia. Ultimamente de meia dúzia de palavras que Julie dizia, 5 eram sobre esse aniversário. Ela só pensava, falava e respirava esse acontecimento.
- Sabe..que não quero presente..- ela veio se encostando em mim, e olhando com carinha de pidona pra Carter. Eu mantive meu olhar forte e fiz o mesmo, pra que ele não se deixa-se levar.,
- Julie, já conversamos sobre isso - eu me mantive firme diante do joguinho dela.
- Eu sei mãe, mas a festa vai ter...- dái em diante ela falou 5 minutos sem parar. Não deu brecha pra eu ou John abrirmos o bico. Essa menina tinha uma lábia e tanto.
Quando ela finalmente parou pra respirar, eu intervi para que aquilo tivesse fim.
- Julie...eu e seu pai ja discutivo isso inúmeras vezes. Vamos fazer de tudo pra sua festa ser linda. A única coisa que você tem de entender, é que as coisas sempre podem ser do jeito que a gente quer. Existem várias coisas que implicam em tudo isso, entendeu?- eu olhei pra carinha confusa dela. certo, talvez eu tivesse exagerando um pouquinho.
Não podia esperar dela, a maturidade que eu tive que ter na marra.
- A gente vai fazer o possível, Julie...- John encerrou a conversa ali. Talvez assim fosse melhor
Cara de manhosa dessa vez ela não fez. Talvez estivéssemos indo pelo caminho certo. Vendo que já estava anoitecendo e que teria uma longa noite pela frente, decidi me levantar para me arrumar para o trabalho.
- Vai onde? – ele pergunta quando eu saio do sofá.
- Esqueceu que hoje eu trabalho?
- Hoje! – ele me encara surpreso – tem certeza disso?
- Já tive quase três dias de folga.. uma hora a gente tem que retornar ao trabalho...
Deixo minhas duas crianças na sala e vou ao meu quarto me trocar. Abro o guarda-roupas e quando menos espero lá vem elas dois sentar na cama e me observar.
- Que foi hein? – eu mexo nas minhas coisas sem olhar pra trás e sinto umas mãozinhas percorrerem minhas calças.
- Essa... – ela fala puxando a perna de uma – essa é a mais bonita.. – ela sorri e eu a encaro em descrença mais aceito a sua opinião.
- Ta certo.. – coloco a calça na cama e volto para o armário vendo-a tentando pegar uma camisa minha. - Essa também é bonita Julie! - eu coloco-a no braço e ela sorri ao conseguir puxa-la.
- A dona que a faz bonita... – eu me viro segurando Julie, amassando a camisa e.. será que eu estava ouvindo bem? - Você vai tomar banho?
- Não, muito frio...- eu fiz um carinha de enjoada e ele riu- quando eu chegar, eu tomo- eu pus a bota e fui no banheiro amarrar o cabelo. Escolvei os dentes e passei creme das mãos. Voltei pro quarto, com Julie toda esparramada na nossa cama.
- Tá na hora da mocinha dormir. Amanhã tem aula cedinho...- eu disse, enquanto me abaixava na gaveta do escrivaninha, tentando achar uns papéis.
- Ela vai comigo te levar...- escutei ele dizendo, e iniciando um movimento de quem aparentava que ia sair.
- Me levar? Por que? Vou de carro...- eu mostrei a chave do meu carro pra ele.
- Não, eu te levo. Você sabe que eu nao gosto que você fique dirigindo a noite. E vir pra casa amnha cedo casada dirigindo? Nem pensar...
Nossa, brigar, na maioria da vezes, fazia muito bem. Quem diria...Acho que na antiga situação ele me mandaria ir a pé. Mas pensando bem, não erta nada legal ficar levando Julie pra lá e pra cá. Ela precisava era dormir.
- Não, melhor eu ir. Coloca ela na cama- eu parei e ajeite o sapato- e tá ótimo.
- Mas eu quero ir mãe.. – ela entrou na joga se levantando da cama – quando voltar eu juro que durmo cedinho!
Eu me virei pra rebater mais uma vez aquilo e quando os vi juntos, na cama me bate um "porque não?". Se ela não dormisse cedo, ela aprenderia agora a dormir na hora certa.
- Ta certo.. vocês podem ir.. mas só se você se trocar em menos de um minuto – eu apontei pro relógio e foi só o reflexo dela sorrir, dar um pulo e sair correndo pro seu quarto. Criança ficava feliz com cada uma.
Continua...
