É impressionante como um mês passa voando e tudo o que a gente vem planejando só acaba sendo acertadas mesmo de ultima hora. Julie perturbou uma, duas, dez vezes pra esse aniversario acontecer. Carter já estava ficando balançado com aquela chantagem mas eu sempre dava o meu jeito de cortar aquilo pela raiz.
O presente compramos com cuidado, a roupa de aniversario também. Festa temática era uma graça pesquisamos em todos os locais para conseguir as coisas mais baratas e tudo saiu mais barato do que eu imaginava. Deu ate para caprichar um pouco nas lembrancinhas.
Só outra coisa, eu não esqueci a promessa de Carter se vestir de palhaço. Mas ele relutou tanto que eu preferi chantagea-lo com outras coisas em outras ocasiões. Pode-se dizer que eu sai ganhando nessa historia toda.
- John.. – eu sussurro abrindo a porta do quarto de Julie – esconde bem esse presente...
Eu entrei no quarto de Julie com um café da manha para uma criança se fartar. Entramos em silencio e deixamos a bandeja em cima do móvel. John se aproximou sentando na cama de Julie começando a cantar baixinho parabéns para ela.
Em primeira instancia, ela nem se mexeu. Eu fui até a cama e deu um beijo na test dela. Nada. Tivemos que partir para as cócegas, que sempre surtiam efeito. Logo ela acordou começando a gargalhar, sentindo as cócegas.
- Pára, mãe!- ela puxava minha mão pra baixo -pára com isso - ela quase chorava de rir e essa felicidade com certeza era transmitida pra mim e Carter.
- Chegou o dia, bebê...- eu disse enquando John pegava a bandeja. Ela sorriu grande olhando pra tudo aquilo que tinha la em cima.
- Brigada, mãe...- ela disse, começando pelo bolo de chocolate. Nós dois sentamos na beirada da cama, olhando-a comer.
- Come devagar, Julie - John disse e eu passei a mão na franja dela, tirando o cabelo do rosto.
Já toda lambuzada, ela terminou com o pedaço de bolo e tomou o suco.
- Não quer mais nada, filha?- eu estranhei. Tanta comida e só isso de comida?
- Guardar espaço pra minha suuuuuuuuuper festa!- ela disse, voltando a empolgação inicial. Eu e John sorrimos e ela saiu da cama, quase derrubando tudo no chão - come o resto, mãe!- ela disse e saio correndo - cadê me presente, hein? Cadê?
- Oxe.. não foi você mesma que disse que não queria presente – eu olhei pra Carter que acenou fazendo uma cara "seria".
- Ah... – ela sentou desanimada na cama – é mesmo... – ela agarrou o seu travesseiro e segurou a bandeja brincando ainda com um pedaço de bolo.
Olhei pra Carter que se levantou da cama e pegou o presente que havíamos comprado, colocando atrás dela.
- Fica assim não pequena.. – eu falo me aproximando dela – assim que tiver outra oportunidade você vai ganhar presente.
Ela sorri e torna a olhar pra baixo. Aquela ceninha já estava cortando o meu coração. Carter chegou a sua frente e se ajoelhou encarando-a.
- Porque você não senta mais pra trás? – ele pisca pra mim e ela nos olha sem entender aquilo.
Ela imediatamente se virou e viu uma embalagem de presente atrás dela. Pulou em cima do brinquedo e começou a rasgar aquilo parecendo que estava achando era um tesouro.
- O que é? O que é? – ela repetia jogando o papel no chão.
- Abre e vê, Julie- eu sorri a ansiedade dela. Parecia "alguém" que eu conheço.
- Que legal!- ele disse extasiada ao ver a boneca nova. Bonecas e mais bonecas. Realmente não éramos o que se chama de "pais originais", mas Julie vivia pra bonecas... e essa não era qualquer uma.
- Ela fala, Julie- Carter disse, abertando a barriga da coitada. Logo ela tagarelava. Talvez essa não tenha sido lá um boa idéia. Se não bastasse Julie falando pelos cotovelos, agora mais uma...Pelo menos essa acaba a pilha.
Ela abraçou a boneca cheirando o cabelo dela.
- Que nome vou dar pra ela?- ela perguntou , perguntando não sei ao certo pra quem.
- Você é quem escolhe, bebê. Você tem que batizar - eu sorri vendo-a olhar pra tal boneca com uma pedra preciosa.
- Posso dar o nome da tia, pai?- ela virou o olhar a John, que instantaneamente concordou.
- Então pronto. Essa é a Bárbara, então...
Falando em tia eu logo lembrei da família toda que viria pra festa. Maggie não deu certeza que vinha, mas acho que Eric com certeza daria um jeito de vir. Da outra parte da família, pelo menos, não precisávamos no preocupar em acomodações. A mansão poderia ajudar pelo menos nisso.
Passamos o resto da manha junto com Julie. Hoje nos dedicaríamos somente a ela. Começamos a arrumar as coisas na casa. Era balão pra la, lembrancinha pra cá, docinho na geladeira, eu brigando para que ela e Carter não inventassem de tocar naquilo. O bolo já estava na mesa da sala. Os enfeites, a toalha de Procurando Nemo. Ela gritando pela casa que era a Dory.. enfim, pode-se imaginar um pouco a minha situação. Estava prestes a puxar meus cabelos.
- Cadê as velas John? – eu pergunto já cansada de procura-las por todos os lados.
- E eu sei la.. você não comprou não!
- Você que ia comprar! – eu jogo minhas mãos no ar e ele me encara surpreso.
- Você disse que tinha comprado o tal do Nemo e tudo mais...
- Ah meu Deus.. – eu me recostei a parede – eu esqueci completamente...
- Eu posso ir comprar se você quiser.. – ele passou as mãos no cabelo e Julie aparece na sala colocando a mão na cintura.
- Eu agradeceria – eu encaro ainda tudo o que tinha pra organizar - você sabe quem é nemo ne?
- Eu posso ir comprar se você quiser.. – ele passou as mãos no cabelo e Julie aparece na sala colocando a mão na cintura.
- Eu agradeceria – eu encaro ainda tudo o que tinha pra organizar - você sabe quem é nemo ne?
- Sei Abby.. - ele apontou para a toalha.
- Leva ela contigo.. sei lá, depois tu compra a pequena sereia.
Ele a pega no colo e pega a chave do carro.
- Vem Julie...vamos mostrar a mamãe que nós entendemos mais de Nemo do que ela pensa.
Logo que eles saíram, eu voltei aos meus afazeres. Era comida, decoração, presente, parente. Tudo pra eu organizar. Nem tinha tomado café da manhã ainda no meio daquele fusuê. Ajeitei o máximo que deu, agora só faltava terminar de arrumar a mesa central e tudo estaria pronto.
Fui até o jardim, conferindo tudo também. Carby estava preso, com comida e água. Fui até o quarto dela e vi se a roupa ainda estava em ordem. Por incrível que pareça ainda estava no cabide, sem nenhum amassadinho.
Voltei ao meu quarto vendo se tudo estava certo também. Tudo o que eu menos queria era que a casa bagunçada. Tirei umas roupas do chão e pus tudo no cesto de roupa pra lavar. Passei no banheiro de Julie e fiz o mesmo, descendo as escadas pra colocar tudo na máquina. Por hoje, chega.
Aproveitei para tomar um banho rápido e me trocar. Mas eu sabia que estava esquecendo alguma coisa, so não sabia o que. Já não importava mais, se faltasse o pai iria comprar no meio da festa. Parei em frente ao espelho e fiquei analisando meu cabelo. Horrível, sem corte, talvez era hora de passar bem ali e dar uns retoques nele. Deixei um recado na geladeira e planejava estar em casa em menos de uma hora. Peguei as chaves do meu carro e fui para um salão perto da minha casa.
Cortei, sequei, escovei, enfim, dei um trato nos meus "cachos". Sai de volta pra casa e decidi passar em uma loja de conveniência para ver se achava mais alguma coisa para levar. Passei de estante em estante, peguei alguns guardanapos, mais alguns chapeuzinhos e levei tudo ao caixa.
- U$9,30 – a moça fala e eu abro minha carteira catando o dinheiro. Por um instante desvio o meu olhar para tudo o que estava ali na minha frente. Era impressionante que eles tinham desde o alfinete ao sabão. Encarei algo que pensava ser fundamental em alguns meses olhei a validade e mandei acrescentar a compra. Talvez eu esteja ficando paranóica com algumas coisas. Mas não custava nada verificar.
Coloquei a última coisa que comprei na bolsa. Pra que despertar preocupação e desconfiança em algo sem base nenhuma? E hoje também não era dia... Tínhamos muitos mais coisas com que se preocupar agora.
Voltei pra casa e vi que eles já tinham voltado. Aliás, não só o carro dele como um outro, que eu não fazia a mínima idéia de quem poderia ser.
Parei o carro na garagem, peguei as sacolas e a bolsa e fui entrando. Tudo como eu havia deixado, excesso a mesa com o bolo, que agora tinha uma velha em cima.
Vi um movimento na cozinha e foi lá que fui. Carter estava de costas pa porta e a primeira pessoa que eu vi foi ninguém mais ninguém menos do que minha "querida sogra". Com aquele carro? Estranho.
Entrei mais um pouco e vi o pai dele. Menos mal. Pelo menos ele ia mais com a minha cara do que ela. Se bem que, a medida que o tempo foi passando, Julie nasceu e cresceu, ela me trata cada vez melhor.
- Olha aí, falando nela, chegou - ele disse e Carter virou, me olhando. - Nossa - ele sorriu olhando meu novo visual- ficou legal..- "legal"? Nossa, ótima reação.
- Cadê Julie? – eu antes sorrio e logo mudo de assunto.
- Deve estar em algum canto com seu presente novo – Eleanor fala e eu sorrio me aproximando para cumprimenta-los.
Conversamos sobre algumas coisas e sai um pouco para procurar Julie. A encontrei no seu quarto, esparramada com milhares de objetos para brincar com suas bonecas, ate casa elas haviam ganho.
- Olha mãe.. – ela se levanta me puxando pra mais perto – a casa da Bárbara...
- Linda.. – eu sorrio sentando na cama observando o brinquedo.
- Gostou do presente meu amor? – eu olho para a porta e vejo Eleanor que se aproximava ainda mais e vinha sentando na cama ao meu lado.
- Sim... – Julie sorri sem jeito – obrigada..
Fiquei um pouco incomoda com ela ali ao meu lado. Vim aqui em busca de sossego e sou perseguida pela sogrona. Nós nos víamos umas cinco vezes ao ano e nunca tínhamos nos acostumado uma a outra. Pedi pra Julie esperar e fui pro meu quarto, daqui a puco todo mundo chegaria e eu ainda estava assim. Precisava tomar banho. Ahei que a avó fosse, ficar com Julie, mas pelo contrário, foi me seguindo até o meu quarto.
- Ela esta tão grande.. – Eleanor fala tentando puxar assunto.
- O tempo passa e a gente vê...- eu digo, abrindo o guarda-roupas pra escolher a roupa que usaria.
- Quem diria... - não, não e não. Ela não ia começar a confabular sobre o meu casamento pela enésima vez - pensei que vocês não fossem ficar juntos nunca...- Deus, dai-me paciência para agüentar isso o dia todo.
- É, nós também- eu só podia era rir com tudo aquilo.
Tirei a calça comprida preta e a blusa de seda que eu tinha ganho de John no último Natal.
- Gostei do cabelo...- ela disse, olhando pra tudo no nosso quarto. Desde as fotos, meus perfumes e os móveis. Eu sorri amarelado, abrindo minha bolsa e tirando um remédio pra dor de cabeça. Se dependesse da minha sogra, uma cartela seria pouco hoje.
Sem perceber a "utilidade" que havia comprado mais cedo também desliza da bolsa e num reflexo eu a coloco de volta e coloco a bolsa dentro do meu armário. Por sorte ela não viu nada disso. Sento na cama vendo se ela se tocava e capava o gato dali pois eu precisava me trocar.
- Pois é.. – eu falei sem saber em que assunto tocar.
- Você e John pretendem ter outro filho? – ela me encara e eu agora tenho certeza de que ela viu aquilo.
- Ainda não.. porque? – me fiz de desentendida para melhor passar.
- Por nada.. – ela começa a me encarar e me olhar de cima a baixo – pensei que você poderia estar grávida..
- Acho improvável – eu busco o seu olhar que teimava em me reparar. Se ela soubesse o quanto eu amava que as pessoas faziam isso comigo.
- Então deve ser só gordura mesmo – eu pisco duas vezes e a encaro esperando que ela risse e falasse que aquilo não passava de uma piadinha de mal gosto.
- Ando comendo muito mesmo – tento ainda ser simpática. Mas a minha vontade de falar que gorda é a mãe dela! Quem já se viu... gorda, eu nem to gorda. John diz que eu estou perfeitamente bem. Eu estou com o mesmo peso de sempre. Sorrio o mais amarelo que eu posso e ela se vira olhando pra porta do quarto.
"Vai tarde!" era a minha vontade de dizer. Ainda assim, fui simpática até a última gota. Esperei que ela saísse para me trancar no quarto. Agora eu saia quando estivesse pronta, sem ninguém me perturbando.
Terminei de pegar a roupa e ia pro banheiro quando a cena me veio na cabeça novamente. Gorda eu? Sério mesmo? Eu passo a semana toda comendo mato pra minha sogra vir e acabar com tudo? Não, mesmo. Tiro a roupa e ponho em cima da cama, indo pro banheiro, me encarando no espelho.
Tá, ok. Talvez ela tivesse um pouco de razão...Mas só um pouco, o mínimo possível, diria eu. Grávida eu definitivamente não estava...né? Bem, espero tudo. Tudo o que eu menos poderia esperar e, cá entre nós, querer, era outro filho. Essa possibilidade era um tanto quanto remota. Sempre fomos cuidadosos com tudo e não seria agora que iríamos falhar.
Ou seria? Maldita hora que eu comprei esse teste. Eu ia lá muito com a cara deles. Como uma boa médica, achava que nada como bom e velho (não tanto assim exame de sangue). Mas agora...como eu receberia os meus convidados, daria a festa a minha filha com essa dúvida maldita. Essa mulher realmente só aparecia em ocasiões próprias...Próprias pra me atazanar a vida.
Decidi tomar primeiro o meu banho. Eu tinha que ficar calma. Aquilo provavelmente era stress. Era isso, eu precisava tirar umas férias. Essa festa so faltou me deixar louca. Mas graças a Deus amanha já terá passado tudo.
Tomo um banho com cuidado para não molhar os cabelos. Me seco e volto para o quarto pegando uma calcinha na gaveta. Mas a primeira coisa que encaro é a bolsa.
- Ah meu Deus – eu repito comigo mesma. Visto a calcinha e pego a minha bolsa. Quer saber? Vou fazer logo essa porcaria pra ver que tudo não passa de mais uma loucura da minha sogra. Assim eu poderia sorrir pra ela e estampar na minha testa um "viu como eu estava certa".
Segui todas as instruções direitinho e deixei passando o tempo de teste. Enquanto isso, fui me trocando vendo que já começava a ouvir uma movimentação no andar de baixo. Corri de um lado para o outro, me olhei cem vezes no espelho e quando fui terminar de me maquiar relembrei que tinha que conferir algo. Fui na brincadeira pegar o teste que com certeza daria azul.
Pisquei duas, três, oito vezes. Rosa? Eu encaro a caixa mais uma vez. Eu ia ligar pra porcaria dessa indústria de teste e falar que eles estavam fazendo essas porcarias erradas.
- Quem merda! – repeti comigo jogando o teste em cima da pia. Comecei a me maquiar e desviar o olhar para aquilo. Quem sabe ele ainda mudaria de cor?
Estava prontinha e aquilo nada de voltar a uma cor primária. Eu já tava começando a ficar desesperada. Exame errado, boca santa daquela...pessoa. Eu ia ter um colapso nervoso ainda hoje. Do nada comecei a rir feito louca. Ri tanto na frente do espelho, sempre olhando pra aquela maldita coisa rosa, que logo comecei a chorar. Meu nervoso era tanto que nem discernir os sentimentos eu podia.
Respirei fundo e retoquei a maquiagem. Isso era uma coisa a se pensar mais tarde. Eu ainda teria de enfrentar aquele mundaréu de gente, a pressão das duas famílias e John que ficava meio "abobado" perto da família. Me olhei uma última vez no espelho e abri a porta.
Continua..
