Abri a do quarto de Julie, esperando encontrar ela toda descabelada no meio dos brinquedos. Não acreditei quando vi que ela já estava toda trocada, penteada, só colocando as meias e o sapatinho.
- Que surpresa, vó? - ela perguntou toda empolgada, enquanto Eleanor falava alguma coisinha - mãe! Olha!-ela pulou da cama e me mostrou o conjunto completo. Eu sorri amarelo de novo, pela décima vez naquela uma hora.
- Quis te dar uma ajuda - ela me olhou sorrindo.
- Obrigada - eu vou até Julie, conferir. Tudo impecável, mas eu ainda queria saber a que "surpresa" ela se referia quando eu entrei no quarto.
- Olá minhas mulheres.. - John aparece na porta do quarto com um sorriso suspeito. O que sera que eles estavam aprontando!
- Uau - Julie fala correndo para os braços dele - esse é definitivamente o pai mais lindo do mundo.. não é mamãe?
Eu aceno e ele se aproxima sentando ao meu lado.
- Adorei a roupa - ele me beija e Julie começa a rir. Sera que ainda era a historia dos bebês?
- Alguem ja chegou? - eu vejo Eleanor saindo do quarto e de uma vez me da um alivio para conversar com eles tranquilamente.
- Uma, duas pessoas.. meu pai esta recepcionando os convidados que estão chegando...
- Hum... - eu o encaro vendo o mesmo sorriso de antes - a que surpresa a sua mãe se referia a Julie hein!
- É..-ele pareceu meio tonto com a pergunta- a gente precisa conversar- ótimo, pela feição dele eu sabia que não vinha coisa boa por aí. Quem sabe esse ano não ganharia o prêmio de pior aniversário da vida da minha filha? Eu sabia que isso tudo era demais pra gente agora...só dor de cabeça. Mas não...tem que fazer todas as vontades dela, né? Agora eu me via rodeada de gente pra recepcionar, agradar, dar de comer...Meus sogros me observando a todo momento, me julgando e testando... Pensei que tivesse passado no teste "ser uma Carter" há tempos, mas vejo que estou completamente enganada. Agora John me vem com mais problemas e eu não tirava aquele teste de gravidez da minha cabeça... Se piorasse, melhorava.
Eu percebi como Julie encarava nós dois. Ela estava tão curiosa quanto eu, com a única diferença que a tal "surpresa" devria ser algo bom e legal pra ela. Já pra mim, não tenho tanta certeza.
- Fala logo, Carter- eu disse, já prevendo a minha irritação.
- É que...digamos que meus pais se empolgaram um pouco...- ele sorriu meio tímido. Ele me conhecia muito bem, e dependendo do que fosse, eu com certeza ficaria uma arara.
- Defina "empolgação"- eu disse, séria e Julie não tirava os olhos da gente.
- Bom.. - ele passou as mãos pelo cabelo e eu podia ver a bomba que ia explodir na minha frente nesse exato momento - acho melhor você ver...
Imediatamente me levantei daquela cama e fui andando escada a baixo. Johnlogo me alcançou e Julie fez o mesmo seguindo-o. Mal cheguei na metade das escadas já me deparei com minha decoração "destruida". O meu pequeno nemo, tinha virado um boneco gigante pulando no meio da sala. As lembrancinhas dobraram de tamanho, o bolo ganhou um anexo, os doces, balões, garçons, animadores, carrinhos de guloseimas. EU estava na festa certa? Fui caminhando em silencio analisando tudo aquilo. Tudo era demais. Estava mais que na hora dos pais de John aprenderem que tudo tem seu limite e que alem disso o que eu lutava para educar minha filha, não poderia ser destruído num piscar de olhos. John me seguiu ate o jardim e Julie já havia ficado no meio do caminho pulando com alguém no meio da sala.
- Você sabia disso Carter? - eu o encarei e com certeza a minha cara estava de pouquíssimos amigos.
- Juro que não Abby... - ele respirou fundo olhando ao redor - estou tão surpreso como você...
- Pelo menos você concorda que isso tudo é um absurdo?- eu disse, esperando que ele me apoiasse.
- É exagero, Abby, com certeza. Mas não é absurdo. É a única neta deles, eles querem dar o melhor...- eu não podia acreditar. Era impressão minha ou ele estava defendendo os pais?
- Melhor? Quem disse que esse monte de bugiganga é o melhor?- nessa hora eu já tinha perdido toda a paciência - a gente dá um duro danado pra educar ela dentro do que a gente pode, fazer ela enxergar que nem tudo são rosas. Eu não quero que ela cresca feito uma riquinha mimada, Carter!- eu sei que ele não gostava nem um pouco quando eu falava assim, afinal, era um indireta pra ele. Mas nós dois sabíamos o quanto ele era diferente. Não dava tanta importância assim pro dinheiro ou o nome.
- Será que é isso mesmo?- agora o bicho tinha pegado. Eu e ele brigando no jardim e a festa começando. Paciência, não tinha alternativa- será que é isso mesmo ou você quer que ela passe pelo mesmo que você passou? Abby, você tem que entender que não é porque você teve uma infância difícil, cheia de necessidades e com a família desestruturada, ela tem que passar por isso também. Ela pode viver bem, feliz e se tomar uma mulher tão linda, inteligente e forte como você - ele disse tudo isso extremamente sério. Achou que me elogiando assim ia terminar com tudo? Pelo contrário! Quem ele pensa que é pra achar alguma coisa do que eu penso?
- Que que é isso, hein? - eu já estava indignada no modo que ele falava comigo. Tudo tinha começado de novo... briga, bate-boca. Era só início da tarde que prometia ser uma das mais longas da minha vida - você tá falando que eu desejo mal pra ela?
- Não põe palavra na minha boca, Abby! - ele ficou irritado. Ah, era isso mesmo. Me deu patada, vai levar também.
- Ah certo.. desculpa. Tadinho do John Carter – eu continuo andando pelo jardim ate que me viro vendo-a atrás de mim - Você imagina que com esses gastos todos, essa palhaçada toda, ainda haverá espaço pra gente ousar em pensar em ter outro filho! – nesses momentos eu sabia exatamente em que pontos da conversa tocar. Agora queria vez ele se safar de uma dessas.
- E o que tem a ver isso com esse aniversario? – ele por um instante aumenta o tom de voz mas logo o baixa vendo que tinha gente por perto - Daqui que a gente tenha outro filho.. bote tempo...
- Você tem certeza disso? – eu solto um sorrisinho sarcástico e me recosto a uma arvore cruzando meus braços.
- O que você esta querendo insinuar? – eu permaneço calada e me odiando por saber que a qualquer instante eu poderia deixar escapar uma lagrima. – Abby? – ele repete se apoiando na arvore e me encarando.
- Entenda como queira John.. – eu saio do meu canto e me dirijo a outro local – e quer saber? To mais nem ai com porra nenhuma, mime bem muito a sua filha, faça o que bem entender.. afinal, eu sou uma louca desestruturada que nunca sabe o que esta fazendo mesmo...
Eu sai da frente dele e me segurei ao máximo, sem derrubar uma lágrima. Mesmo assim, se o fizesse, seria de raiva, não de tristeza. Raiva por ele se transformar na frente da família e sempre dar razão a mãezinha, raiva por ele querer mimar Julie e raiva de mim, por não conseguir controlar tudo isso. Eu, que sempre fui taxada de "mandar" em John, quando me deparava com a hierarquia Carter, perdia de levada.
Fui pra dentro com aquela cara,que mesmo sem chorar, estava péssima. Vi que alguém do hospital já tinha chego, mas não tive nem o trabalho de ver quem era. Fui para o lavabo que ficava ao lado da sala e me pus a lavar o rosto. Sequei e me encarei no espelho. Essa situação já estava insustentável. briga todo mês...não concordávamos mais em nada. Nossa relação tinha se transformado em Julie.
Não podia-se dizer nem que a nossa vida sexual ajudava, porque até isso estava complicado. Filhos realmente são uma benção, uma luz na nossa vida. Mas ninguém pode negar que eles geram conflitos. Podem tanto salvar como desestruturar casamentos. Os pais tem de ter muita maturidade e responsabilidade pra criar filhos juntos. E eu acho que isso não estava mais rolando.
Eu nem queria pensar no que poderia acontecer depois dessa festa. Não poderíamos mais solucionar nosso problemas com uma noitada, sexo e ver o lado bom. Eu já tava cheia de tudo isso. Tínhamos que por um ponto final nessas brigas. Por bem ou por mal, por mais que isso fosse me doer, isso tinha que acabar.
O jeito seria esperar ate o final do aniversario. Pra todos teríamos que aparecer bem. Afinal, já que a festa estava ai, que Julie curtisse. Depois dava um jeito de conversar com ela. E não são os meus problemas conjugais que vão estragar o aniversario da minha filha. Dei um jeito no meu rosto, sorri ao espelho e sai do banheiro procurando cumprimentar quem já havia chegado.
Passei o olhar por todo o ambiente e vi que John também não estava com uma expressão lá muito boa. Eu o conhecia o suficiente para saber quando um sorriso era verdadeiro. Ele me encarou por um instante e eu entendi que tudo ficaria mesmo para mais tarde. Me aproximei de onde ele estava e cumprimentei um de seus parentes.
- Mamãe – Julie aparece e John aproveita para se aproximar um pouco mais de mim – olha o que eu ganhei...
- Lindo.. – eu passo as mãos no seu cabelo e sorrindo ela sai pela sala com seu brinquedo novo. Respirei fundo e olhei pra John que estava ao meu lado, mas parecia estar com a cabeça em outra galáxia.
De repente eu olho para o meu lado e vejo nada mais do que meu irmão. Pelo menos uma felicidade nessa noite. Me desvencilho de John e vou andando em sua direção lhe dando um abraço forte.
- Que foi Abby? – ele pergunta em meio ao abraço.
- Nada.. – eu me afasto rapidamente – quer dizer.. saudades.. - acho que só mesmo meu irmão pra me tirar daquela "semi-fossa"- e Maggie, não vem?- eu estranhei.
- Até parece que não...do jeito que ela é louca pela Julie, sem chances, né?- Ela pegou outro vôo. Vim nesse porque preciso voltar ainda hoje, por causa do trabalho...- ele passou um braço pelo meu ombro e fomos entrando- tá podendo, hein? Olha o tamanho dessa festa!- ela disse, olhando tudo ao redor. Mal sabia ele...
- Nem me fale. Sem comentários. Isso já deu muito o que falar...- eu suspirei e ele continuou a olhar tudo e todos.
- Nossa, toda parentada mesmo? Vão caber todos os Carters aqui?- ele perguntou, descontraindo o clima.
- Espero que não- eu franzi as sobrancelhas, fazendo-o rir.
- Cadê a pequenininha? Quero dar meu presente a ela...- ela trazia uma sacola com uma caixa enorme embrulhada em um papel de presente cor-de-rosa.
- Não sendo um cachorro...- nós sorrimos e ele me deu um beijo no rosto. Percebi que Carter havia notado a presença de Eric e atravessou a sala pra vir cumprimentá-lo.
- E aí, cara?- ele deu um abraço e apertou a mão de John, que mal notou a minha presença na roda.
- Bom te ver - Carter sorriu amistosamente, mas estava claro o clima pesado. Eric começou a falar do serviço e eu pedi licença, pra ir receber o povo que vinha chegando. Quase todo o pessoal do P.S já havia chegado, menos quem eu mais queria: Susan.
Continua
