Guardei uns presentes que Julie havia ganho numa caixa e a campainha tocou novamente. Atravessava a sala para atender a porta e Eric e Carter continuavam conversando. Parece que pelo menos naquele momento ele deixou de ir puxar o saco dos pais. Passei batido por eles, mas alguma coisa me dizia que John estava falando de mim. Só me faltava essa... Ir contar nossos problemas pessoais pro meu irmão

Bem, esse seria mais um ponto a ser discutido no fim de tudo aquilo. Abri a porta na esperança de encontrar Susan com as crianças e Chuck, mas só encontrei Neela, que chegava juntamente com a nova assistente social do County.

Os presentes já nem cabiam mais na caixa que havíamos deixado. Tinha presente que era maior do que Julie. Esse povo realmente exagerava em algumas coisas. Entediada com tudo aquilo, resolvi ir atrás do fotografo que tinha na festa. Yes, nós tinhas fotógrafos, câmeras e tudo mais. Pedi para que ele tirasse algumas fotos de Julie. Já que ele estava ali, eu iria explora-lo. Tirei Julie de alguma brincadeira e fui arrastando-a comigo até a mesa do bolo. Ajeitei o seu vestido e deixei-a pronta para tirar algumas fotos.

- Agora uma com os pais.. – o fotografo pede e eu me viro procurando por John, mas nem precisei de esforços, ele logo apareceu e se juntos a nós para tirar a foto. – Coloca ela na cadeira em pé e mãe, por favor, aproxima mais do pai... – sorri sem jeito e tentei me aproximar dele sem mostrar que não estávamos lá muito bem. Ele colocou uma mão ao redor da minha cintura e nesse momento eu comecei a me sentir incomodada com tudo aquilo. Como eu poderia estar assim no aniversario da nossa filha? Tudo era pra ser perfeito, éramos para estar felizes. Eu não quero olhar para uma foto e me lamentar depois por não ter aproveitado direito o 4º aniversario de Julie.

Respirei fundo e sorri para a uma ultima foto. Julie imediatamente se afastou e nós permanecemos calado, nos encarando até que a campainha tocou novamente.

- Finalmente... – eu abro a porta e talvez pela primeira vez na noite me sinto realmente aliviada.

- Cosmo estava perturbando para se trocar.. mas cá estamos nós.. – Susan me abraça e logo eu ouço um grito de Julie do meio da sala vindo correndo para falar com a sua madrinha.

O cabelo dela já estava caindo todo. A vó deve ter prendido como o nariz! Susan a pegou no colo, aproveitando que o neném estava com Chuck, que entrava logo atrás. Depois de receber o presente, Julie saio correndo com Cosmo e Susan veio me interrogar, vendo a minha "super cara".

- Que houve? Brigaram de novo?- ela provavelmente quis aproveitar nossos cinco minutos de paz. Não demoraria nadinha pra que Chuck, Cosmo ou Julie viessem nos tirar da fofoca.

- E ainda pergunta? Olha só pra essa casa...- ela passou os olhos por tudo e sorriu de volta a mim

- E você ainda reclama? Foram os sogrinhos?- ela ainda tem coragem de fazer piada com a minha cara...

- É lógico! Se acha que a gente trabalha onde pra ter grana pra fazer tudo isso...?- eu sorri e ela concordou comigo.

- É, mas eu não reclamaria não. Não pagar nada e ter uma festona dessa? Que é isso! Se eu fosse você, estaria é curtindo...- ela continuou a olhar todos aqueles balangandãs e,m volta de casa.

- E a educação que eu quero dar a menina fica onde? Pra que crescer com uma realidade que não é nossa?- eu questioneu, sabendo que pelo menos ela, sendo mãe como eu, iria me entender.

- É, nisso você razão...- ela parou pra pensar e concordou comigo- e ele, que diz sobre isso?- eu sorri a pergunta. Esse era o meu problema.

- Ele simplesmente.. – eu ia continuar a falar e logo vi Susan arregalar os olhos. Era a deixa para que eu me calasse.

- Oi John... – ela sorri e eu permaneço de costas pra eles vendo-a vir abraçar Susan.

- Só estava faltando você... – ele provavelmente sorriu e eu senti sua mão no meu ombro – não era Abby!

Eu aceno sorrindo e Susan finge que não sabia de nada começa a elogiar a festa, falar que tínhamos caprichado e bla bla bla. Num instante só era eu e ela ali conversando, em menos de um minuto já havia uma comitiva de gente ao redor. Definitivamente Susan devia se candidatar a prefeita.

Me retirei da confusão e fui procurar por Julie que eu já sabia que estava toda suada e descabelada.

- Olha a mãe da aniversariante – eu me viro e vejo o palhaço com Julie nos braços – vamos participar de uma brincadeira mamãe?

Brincadeira? Eu fiquei paralisada com aquela intimação. Eu sabia que não tinha escapatória e tudo o que eu menos queria nesse momento era brincar com um palhaço. Quando me dei conta eu já estava no meio da roda, com milhares de crianças ao meu redor, os adultos todos olhando pra mim e olhei pro lado vendo Julie que sorria de orelha a orelha pela oportunidade de brincar com a... os pais.

- Vamos brincar de que? – John chega ao centro da roda e pega Julie nos braços aproveitando para ajeitar o seu vestido.

Ótimo, pelo menos não estaria sozinha nessa. Acho que ele foi lá dentro e tomou uma dose de "semancol". O palhaço continuava super animado e começou a colocar casais no centro da sala, sobre o tapete. Julie ficou com Cosmo.

Então o palhaço pediu que colocassem uma música romântica. eu mereço... Logo vi sua assistente (desde quando palhaço tem assistente? Que eu saiba, são só os mágicos) trazendo algumas laranjas.

- Em suas posições- aquele palhaço berrava demais pro meu gosto- vai começar a DANÇA das LARANJAS! - sério. Ele precisava ser tão feliz assim?

Carter segurou na minha mão e nós fomos para um canto da "pista". Eu já devia estar corada, de tanta vergonha. Julie não parava de olhar pra nós e sorrir. A moça nos entregou a tal da laranja e a música começou a tocar.

- Vocês conhecem as regras! Boas sorte a todos!- o palhaço disse novamente. Eu, definitivamente, depois daquele dia, poderia ser uma assassina de palhaços idiotas como aquele.

Começou a tocar uma musica e fomos seguindo no nosso ritmo. Eu não via a hora daquela laranja cair no chão para eu poder ficar livre daquilo. Mas para agradar minha filha eu tinha que fazer um sacrifício de vez em quando.

- Hei... – eu desvio o meu olhar e vejo a assistente colocar as mãos nas nossas costas – dancem mais colados...

Respirei fundo e dei um passo a frente e dessa vez eu senti a sua respiração em cima de mim. Quando me dei conta só estávamos competindo nós e um casal de crianças. Julie estava na expectativa ao nosso lado dando altos gritos para nos incentivar.

- Vai paiiii – ela praticamente pulou em cima da gente e John estendeu o braço indicando pra ela ficar longe.

O ritmo das musicas foram mudando e como se era de imaginar, a laranja das crianças ao lado logo despencou.

- Aeeeeeeeeeeeeee! – o palhaço grita tão alto que eu levo um susto pulando pra trás. Julie não perde um segundo e pula em cima da gente. Definitivamente ela estava feliz.

O babaquinha (será que esse era o nome dele?), nos chamou e foi na sacola pegar um presente.

- Uma boneca e um carrinho pra você.. – ele deu o carro pra mim e a boneca pro John. – Ops... ao contrario – eu olho para o lado e todos riam daquela idiotice. Meu Deus do céu. Não se fazem mais palhaços como antigamente.

Agradeci a minha recompensa mas Julie já estava de olho na boneca, que era tão bonita assim.

Pra contentar Julie era fácil: sorvete e boneca, nunca vi igual.

Feito isso, fiz o favor de me livrar daquele palhaço. Era bom que eu nem visse mais a cara dele até o fim da festa. Notei que rolavam umas batidas e cockteis pros adultos e resolvi tomar alguma coisa pra ver se parava se pensar em besteira.

Chamei o garçom disfarçadamente e ele disse a variedade que tinha na bandeja.

- Maracujá, por favor- ótimo, combinação perfeita. Não ia ficar mais nervosa nem por decreto do Papa.

Eu peguei o copo nas mãos e antes de levar a boca, deparei com Eleanor me encarando. No mesmo instante a cena que aconteceu lá em cima. Aquela fitinha rosa não saia da minha cabeça, mesmo sabendo que não tinha a menos possibilidade. Quer dizer, a menor tinha, mas era bem pequena mesmo. Ainda sim, aquela peso me bateu. Aquele maldito "e se". Imediatamente larguei o copo com a bebida e fui pra cozinha, o único lugar que parecia vazio naquela casa.

Puxei uma cadeira e me sentei tentando relaxar com aquela confusão toda. Nem beber, muito menos tomar café eu podia. Dei um tempo pra minha cabeça e meus pensamentos. Sorri a dança anterior. Pagamos cada mico por causa dos filhos. Olhei para os lados e comecei a pensar. Que diabos eu estou fazendo sozinha nessa cozinha? Me levantei, fui a geladeira beber um pouco de água gelada pra poder retornar a sala. Estava na hora dos parabéns. Quanto mais se aproximava o final dessa festa, mas eu ficava nervosa.

Será que eu conseguiria esclarecer tudo? Deixar minhas idéias claras? As vezes eu ficava pensando que eu exagerava um pouco nas coisas. Mas se ele nao me entender, quem vai? Eu teria que permanecer firme nas minhas decisões e escolhas. O que tivesse que ser. Seria.

Peguei a caixa de fósforos como desculpa para a minha demora, passei de novo no banheiro sorrindo para o espelho e retornei a sala.

- Esta na hora dos parabéns.. - eu avisei a um garçom e tratei de me aproximar do palhaço para que ele também o fizesse.

Cheguei perto da mesa e Julie veio mais descabelada do que antes. Me abaixei a sua altura, passei minhas mãos soltando e ajeitando o seu cabelo. Ela ja estava com carinha enjoada de sono.

- Tá com soninho! - eu pergunto e ela nega com a cabeça. Ela por nada afirmaria isso essa noite. Eu dou um beijo na testa dela e a pego no colo, ajeitando a roupa e a pondo atrás da mesa enquanto procurava por John.

- Ele está lá fora...- alguém gritou no meio da multidão que já se armava ao redor da mesa para o parabéns. Eu olhei pra tudo, tentando enxergá-lo lá no fundo. Olhei, olhei e nada. Quando estava quase desistindo, o vi indo até a porta. Quem estaria chegando no fim da festa?

Da próxima vez que olhei, a pessoa já tinha entrado e estava de costas pra mim. Eu definitivamente não reconhecia a baixinha com o cabelo pretinho. Quando ela virou, eu sorri grande. Deus, minha mãe. Nessa confusão toda acabei ate esquecendo da coitada.

- Mãe!- eu gritei de onde estava e deixei Julie com Susan para poder cumprimentá-la. Atravessei a sala e a recepcionei com um forte abraço. Realmente eu devia estar muito mal. Até a presença de Maggie me fazia tão bem...

É, talvez eu sempre tenha exagerado um pouco. Mãe é mãe, nada importa. Por mais que ela tenha me feito sofrer, eu sei que ela me ama, e sei que o sentimentos é recíproco. Eu tento esconder, mas eu adoro Maggie, principalmente agora que ela está fazendo o tratamento corretamente, e passou a viver como uma pessoa "normal".

John segurava as malas dela. Quando eu os alertei que já era a hora de Julie apagar as velinhas, eles s colocou no primeiro degrau da escada e nós fomos para o centro, onde todos esperavam por nós.

Julie abriu um enorme sorriso com a presença da outra avó. Mesmo vendo muito menos e Maggie não tendo as mesmas condições de Eleanor, eu sempre achei que Julie tinha mais afinidade com a minha mãe.

Fomos todos para trás da mesa, acendi a vela e Julie subiu em cima de uma cadeira para poder apagar a velinha sem dificuldade. Pela primeira vez naquela noite esqueci raiva, esqueci briga e me aproximei de John segurando junto com ele Julie pela cintura. Ele me olhou sorrindo e juntos nos abaixamos para vê-la assoprando.

- ÊêÊêê! – ela bateu palmas quando viu a vela apagada e sorriu olhando pra nós.

- Parabéns meu amor.. – John lhe deu um selinho e ela se virou me puxando pra mais perto do pai. Ela fica nos encarando e eu sorrio sem jeito pra John. Ela então me da um beijo na bochecha e ele vira pra frente, provavelmente para tirarem alguma foto.

- As lembrancinhas.. – Julie aponta pra baixo e eu pego uma faca para ela partir o bolo (claro que com a minha ajuda).

Coloco a faca em sua posição, junto a mão de Julie a minha e quando vamos começando a partir o bolo, Carter coloca a sua mão junto me fazendo olhar pra ele.

- De quem vai ser o primeiro pedaço! – Maggie pergunta quando conseguimos colocar o bolo em um pratinho.

- Hum... – ela nos encara com um sorriso sapeca. Ela então se abaixa, pega um garfinho e corta um pedacinho. – Primeiro... – ela coloca o prato nas minhas mãos. – mamãe e papai...

John me encara e Julie pega com o garfo o pedaço que havia cortado e me da na boca, e em seguida pra John. Nisso todo mundo ao nosso lado babava pela nossa filha, eu ouvia os comentários de como aquilo era lindo, o que me fez arrancar um sorriso de orgulho pela filha que nós temos.

Eu sorri comendo o bolo que estava um delícia, à propósito. Os garçons serviram os outros convidados que logo começaram a ir embora, aos poucos. Os que mais ficaram foi mesmo o pessoal do ER, mais íntimo. Os pessoas contratadas começaram a tirar o "grosso" da decoração e recolocaram o sofá no lugar certo, assim tivemos um lugar para sentar na sala.

Vi que Maggie conversa com Eleanor e Susan. Chuck, por sua vez, estava em uma roda com John e seu pai, e Eric também estava tentando entrar no assunto. Acho que no final de tudo, a festa foi uma boa para reaproximar as pessoas, tornar um convívio social mais agradável.

Acomodei o pessoal que ainda tinha ficado nos sofás e puxei Julie de canto.

- Vamos trocar de roupa, Julie?- eu via que aquele vestido já estava a incomodando e com uma roupa mais a vontade ela poderia aproveitar até o fim a presença de Cosmo alí e brincar mais, gastando todas as energias possíveis.

Continua...