Subimos e ela quis tomar um banho rápido. Achei até bom, afinal ela estava toda suada...Mas de nada adiantaria mesmo, uma vez que ela iria se sujar toda de novo.

Assim que ela terminou, eu vesti a roupa que tinha separado pra ela e antes de descermos de novo, ela segurou minha mão.

- Mãe...- eu percebi nos olhinhos dela que falaria algo que ia me fazer chorar. Ela era muito boa nisso, mesmo sem querer.

- Fala, bebê - eu sentei de novo na cama e a pus no meu colo.

Ela me encara com um olhar cansado e leva as suas mãos até as suas pernas, encarando-as.

- Você e o papai brigaram? – ela sobe o seu olhar até o meu e eu fico sem reação para responder – Não briga com o papai não... ele já tinha me falado que não ia poder dar uma festa grande.. isso é culpa da vovó.. eu prometi que nem ia pedir mais.. mas ela deu ne? É feio recusar as coisas...

Eu sorri a ela sem saber ao certo o que falar. Ela havia percebido o clima ou seria ele que teria tocado no assunto com ela?

- Ta certo meu amor.. – passo minha mãos no seu cabelo e ela me responde com um olhar, o qual eu poderia jurar que era ele que estava me encarando. – mas a mamãe vai ter que conversar com o papai.. a vovó tem que aprender que algumas coisas não se deve interferir...

- O que é interferir? – ela segura minha mãos e eu busco as palavras certas para explicar.

- É quando uma pessoa quer ajudar, mas essa ajuda não é necessária.. Não sei se você me entende...

- Humrum.. – ela pareceu entender – mas vai ficar tudo bem. Não é?

Eu evito encara-la. Queira eu ter resposta pra isso. Se eu soubesse não teria passado a noite inteira incomodada com algumas atitudes dele. Nos precisávamos sentar e falar muito. O que iria sair dali seria o que deveria ser seguido. Mesmo que isso implicasse em algum sofrimento, alguma perda, ou quem sabe... Prefiro nem pensar.

Fiquei sem lhe dar resposta. Respirei fundo e por mais uma vez desci com ela ate a sala. Ela sem entender bem o que estava se passando, foi sentar e brincar mais um pouco com as crianças que ainda estavam presentes. Me sentei na ponta do sofá e comecei a esperar que algum raio partisse a minha cabeça. Pelo menos era só o que faltava para completar o dia.

- Posso sentar aqui? – Susan reaparece, puxando uma cadeira e sentando a minha frente.

- Que pergunta...- eu digo, ainda pensativa e com o olhar parado. Vejo que ela se senta e fica a me encarar por alguns segundos antes de começar a falar.

- O clima não melhorou?- ela pergunta estranhando. Naturalmente o meu teatro deveria ter convencido a todos e ela estranhava minha cara agora.

- Até que sim, mas não vai durar muito tempo...- eu lamento, pensando o que seria daquela situação quando a festa acabasse. Chegava até mesmo me dar um frio na barriga ao pensamento. E com o frio na barriga, eu me lembrava do bendito teste, que só me traria mais problemas. Ela acenou negativamente, talvez desaprovando minha atitude. Ela ia começar a perguntar algo novamente, quando vi que Eric juntava suas coisas e começou a se despedir do pessoal- o que é bom dura pouco, meu irmão já vai embora...- eu disse, saindo até o meio da sala, quando percebi que havia deixado-a falando sozinha. Quando olhei pra trás, ela estava atrás de mim.

- Calma- ela disse meio a um sorriso estranho- vou falar tchau pra ele também..- nós duas caminhamos até onde eles estavam e Carter se despedia dele.

- Vou vir pra cá nas férias...- Eric e aquele humor dele- estragar a vida de vocês..- ele piscou pra mim e eu sorri amistosamente.

- Não vai mudar muito...- escutei Carter sussurrar pra si mesmo. Ai, era o fim! Ele me provocava até de longe. Ele sabia o quanto isso me irritava, que eu odiava expor meus problemas pessoais pros outros, principalmente os nossos problemas. Fazia muito de me abrir com Susan na maioria das vezes...

Maggie deu um beijo nele e Neela aproveitou a porta aberta pra ir também. No fim, ela ofereceu uma carona pra ele até o aeroporto, pois não tinha o que fazer. Não sei não...conhecia meu irmão...pra mim aqueles dois...bom, não vou falar do que não sei. Dei um abraço nele, talvez transpondo toda o peso que eu sentia sobre as minhas costas ali. Ele me deu um beijo na testa e sorri daquela maneira que me confortava tanto.

- Vai dar tudo certo...- ele disse no meu ouvido, quando me abraçou de novo

Assisti ele indo embora e tornei a voltar a nossa realidade. A casa já estava ficando vazia, e mesmo cansada, Susan permanecia ao meu lado por onde eu fosse. Sentamos dessa vez em um canto mais isolado na sala e ficamos caladas, observando nossos filhos que ainda brincavam.

- Quando essa pilha acaba? - ela fala tentando me fazer sorrir, porém sem sucesso.

- Não dou nem meia hora... - eu suspiro observando os passos de John. Ela percebe o meu olhar e faz com que eu me vire para encara-la.

- Qual foi a real razão dessa briga Abby? - ela sussurra tão baixo que quase eu não pude ouvir. Encaro todos ao meu redor e retorno o meu olhar a ela. Pra mim era muito dificil fazendo com que alguem participasse, soubesse o que realmente estava passando na minha vida.

- Nem eu sei Susan... - eu me viro colocando uma mão na minha no sofá para conseguir falar melhor - sabe quanto tudo vai acumulando e tem uma hora que explode?

Ela de alguma forma sabia tudo o que acontecia com a gente. Quando eu estava mais assim sabia que ou era briga ou hormonios. Carter ja se abria mais com ela. Era ela uma das unicas pessoas que conheciam todos os nossos problemas. Então ela segura minha mão e busca por palavras que provavelmente eu iria rebate-las.

- O que eu mais admiro na relação de vocês é o amor que um sente pelo outro. Abby... vocês deveriam superar essas intrigas. Dinheiro não deveria ser motivos pra discussões e sim uma solução de problemas. O que é que tem se as vezes ele quer gastar um pouco mais! Julie é uma criança admirável.. tem uma ótima educação.. eu coloco a minha mão no fogo como ela nunca viraria uma riquinha mimada- ela falou de uma vez por todas tudo o que tinha que falar. Eu sabia de tudo aquilo perfeitamente. Mas tinha algo que me fazia sempre dar um passo pra tras e controlar essa mania dos Carters de se intrometerem em nossas vidas.

- O nosso amor sempre foi barrado pelas nossas famílias. Sempre os problemas com lgum parente refletia na nossa relação- eu refleti um pouco e disse o que sentia naquela hora- talvez isso tenha me feita ficar traumatizada e..- antes que eu pudesse continuar com mais uma só palavra, ela me interrompeu, parecendo discordar de mim.

- Agora eu vou ter que falar que você está errada, Abby- ela cruzou os abraços e eu confesso sentir que estava na frente da minha mãe, depois de ter aprontado alguma. Bem, como na teoria, quero dizer...- foram vocês mesmo que deixaram isso aconter todas as vezes. Eu não quero julgar, ou meter o dedo onde não sou chamada, mas eu realmente me sinto, se não no direito, no dever de falar tudo isso. Todo mundo sabe que eu sou amiga dos dois, escuto os dois e sempe torci pra que ficassem juntos... Sou mais do que madrinha do casamento e da filha de vocês e os dois sabem disso...

Eu sorri ao comentário. Nada além da verade. Susan pra mim era mais que amiga..era irmã..e quem sabe posso dizer que até um pouquinho mãe... Observei o movimento de tudo. As luzes da sala apagadas, só a cozinha e o abajour da sala, além da luminária do corredor.

- Se nós erramos por tanto tempo Susy...- todo aquele peso venho de uma vez na minha voz. A dor de pensar no pior, pensar na minha vida... Do meu casamento do jeito que estava... A voz embargada e as malditas lágrimas começaram a cair devagar- podemos estar errando agora mesmo. Eu não quero mais errar, Susan... Não quero que a gente erre mais...- eu limpei o rosto rapidamente. Tudo o que eu menos queria é que ele percebesse o clima. Ainda mais agora, com Maggie aqui.

- Vocês não tão errando Abby!- ela parecei inconformada com toda essa situação. Será que ela não tinha problema com Chuck, não?

- Estamos... E muito. Isso não clima pra se educar uma criança, Susan. A gente briga todo santo dia! Eu nem pensar em..- de novo aquela imagem volta a minha cabeça. A dúvida... E se aquele exame estivesse certo? Eu estava perdida...

- Pensar em que, Abby?- ela me encarou na dúvida e a partir dali eu não controlei o choro não. A pressão a tarde toda, essa coisa martelando aqui...

Tentei abafar o barulho do meu choro para não chamar atenção, mas isso foi em vão. Susan me puxou e eu desabei no seu ombro. Chorei como há tempos não fazia. Seu abraço me deu a proteção que meu corpo pedia o dia inteiro. Evitei levantar meu rosto para não mostrar minha maquiagem molhada. Tudo o que eu menos precisava aqui era de gente perguntando o que eu estava sentindo.

Algum tempo depois, ainda ali com Susan, senti uma mão acariciar minhas costas. Se eu bem conhecesse aquele toque, era o que eu mais esperava e mais temia o dia inteiro. Susan se afastou de mim e sem olhar me entreguei ao seu ombro. Ele se manteve em silencio por algum tempo, mas logo me afastou, me encarando com uma cara de "o que esta acontecendo aqui?".

- O que foi Abby? – ele me pergunta buscando o meu olhar.

Será que ele queria mesmo falar dessas coisas numa hora dessas? Desviei o meu olhar pela sala procurando ver se minha filha estava bem. Susan tratou de distrair os últimos convidados, Julie, e minha mãe.

- Abby? – ele insistiu e eu virei para olha-lo. Minhas mãos, meu corpo tremia mais do que não sei o que. Susan precisava ainda ouvir minha duvida. Eu queria que ela me falasse que era mais uma paranóia minha. Eu ainda não sabia ao certo o que fazer com ele aqui na minha frente.

- Deixa pra la John.. – eu ia me levantar, mas ele me puxou pelo braço e eu cai de volta no sofá.

- Deixar pra la? – ele olhou ao redor e se aproximou tentando não falar muito alto - Você passou a festa inteira com uma cara estranha. Todo mundo estava perguntando o que você tinha e agora eu te acho chorando. Você acha realmente que isso não é nada?

O leve aumento do tom de voz dele fez com que a minha dor de cabeça enrrustida começasse a explodir.

- Sem escândalo...- eu pedi, no tom de voz mais calmo que eu consegui.

- Não quero escândalo, quero saber o que tá havendo!- ela estava definitivamente abalado com a situação.

- A gente precisa conversar...só isso- por incrível que pareça, acho que todo o meu nervosismo tinha ido junto com o choro. Eu estava mais calma e serena do que nunca.

- Pelo menos concordamos em alguma coisa...- ele diz naquele tom irônic, tirando só um pinguinho da minha paciência.

Eu finjo não escutar aquilo e continuo a encarar o chão.

Que impaciência toda era aquela? Ainda se achava no direito de exigir? De falar grosso comigo? Ok, então vamos falar de igual pra igual. Quero ver se ele agüenta escutar tudo o que eu tenho pra dizer.

- Não dá mais pra viver assim, Carter- eu soltei de vez, antes que não conseguisse mais falar.

- Assim?- ele pareceu não entender muito bem sobre o que eu falava... Será que pra ele nada estava acontecendo mesmo?

- Carter.. – eu respirei procurando forças e paciência para conseguir falar tudo o que eu queria - você se faz de desentendido para melhor passar..

- E agora sé me faltava essa... – conforme ele ia falando o tom de voz ia aumentando também, eu não via a hora daquilo virar a maior confusão - tu que anda toda estressada pelas cantos da casa e ainda vem me falar que eu que causo todos os horrores que acontecem com a gente!

- E se a carapuça serviu.. – sorrio trazendo nele o efeito que talvez eu estivesse buscando, mesmo que inconscientemente.

- Depois ela quer conversar pois se acha a madura... – ele se levanta do sofá e se vira me encarando mais uma vez – vê se cresce Abby...

- Isso – eu falo antes que tivesse que gritar para ele ouvir – fuja.. como você sempre fez.. eu já estou bem acostumada com isso.

Ele se virou com um olhar que eu juro que eu jamais tinha visto na sua cara. Foi se aproximando lentamente de mim, tornou a sentar e me puxou pelo braço trazendo consigo uma respiração alterada.

- Se você quer mesmo conversar, então vamos.. você também só levanta daqui quando me falar tudo e quando tudo estiver resolvido.. sou todo ouvidos..

Eu fiquei meu assustada com a reação dele, confesso. Acho que nunca o tinha visto assim, nesse misto de descontrole e nervoso. Vi que Susan deu uma leve olhada e veio caminhando para nós, com a neném dela no colo.

- Ei, vocês...- ela parecia tão assustada quanto eu- calma!

- Relaxa, Susan- eu levantei do sofá- nós vamos subir agora mesmo...- eu deixei os dois e fui na frente, subindo as escadas com a pior sensação da minha vida. Sensação de quem iria decidir seu futuro, mudar sua vida ou desencaminhar seu destino.

Quando subi o último degrau, olhei pra baixo e via que Susan estava visivelmente desesperada com a situação. Ela falava com Carter, mexendo as mãos, olhando e apontando pra cima, sem me ver. Essa seria uma conversa que não afetaria apenas as nossas vidas...

Quando percebi que Susan voltaria pra cozinha e ele, consequentemente, subiria, me apressei em ir pro quarto. Fechar a porta do banheiro foi a primeira coisa que fiz. Uma coisa de cada vez, Abby. Quando tivéssemos falado tudo, surgiria, então, o fato gravidez nada esperada.

- Abby... – instantaneamente eu ouço batidas na porta – saia daqui... – ele começou falando com um tom mais leve. Acho que a breve conversa com Susan deve ter servido pra pelo menos ele ter um pouco de paciência.

Fiquei receosa ao abrir a porta, mas se eu ficasse ali no banheiro pecaria ao que tinha dito a ele. Virei a chave devagar, me olhei no espelho mais uma vez e abaixei o olhar, passando diretamente por ele indo até a janela do quarto. Ouvi seus passos se aproximarem de mim e antes que ele pudesse falar qualquer coisa, eu comecei a falar.

- Eu sempre imaginei que um momento nós teríamos que conversar sobre algumas coisas, mas eu nunca idealizei que esse momento seria hoje... – senti sua respiração atrás de mim e ele tocou meu ombro, sem que exigisse que eu o olhasse.

- E eu nunca imaginei que eu precisaria ter uma conversa dessas... – senti sua voz ficando embargada e me virei, percebendo que seus olhos estavam marejados.

- Mas infelizmente nada é como a gente sonha... – eu evito o encarar muito e fujo meu olhar para o chão – e quando se trata da nossa vidas.. – eu o encarei mais uma vez – Carter.. a nossa vida não pode só se resumir a brigas..

- Brigas tolas.. – ele finalmente fala me encarando.

- Brigas sobre coisas que devem ser discutidas sim.. mas não como fazemos...

- Abby – ele passa as mãos pelos seus cabelos – você não sabe o quanto eu tento falar as coisas direito com você... mas sempre que eu tento t falar as coisas direito com você... mas sempre que eu tento, você tem essas reações... A gente não consegue conversar sem brigar, você tem sempre um chilique antes de eu me explicar... Desculpa, mas eu realmente acho que a culpa é sua...

Eu estava atônita. Estava ouvindo direito? Ele realmente falou que a culpa era minhA?

- Escuta aqui...- adeus paciência, adeus calmaria. Ela achou o que tava procurando - eu to tentando ser civilizada, conversar numa boa...e você vem com essas sua arrogância pro meu lado?- eu já falava bem mais alto e ele parecia ter perdido o controle novamente

- Não é arrogância!- ele começou a gritar também- você sempre quer colocar a culpa em mim, pra fugir da sua culpa, Abby. Pára com isso!- ele me virou para encara-lo e eu não sabia se tinha vontade de berrar ou dar um tapa na cara dele! Uma raiva me subiu e eu chorava e ria da cara dele ao mesmo tempo. Era preciso ser muito cínico...

Pronto, foi só ele berrar um pouquinho pra me dar aqueles "cinco minutos". Eu enxuguei o rosto e fui andando pelo quarto, sem saber ao certo que fazer. Só uma atitude vinha na minha cabeça, só uma palavra ecoava na minha mente: "acabou".

Era isso. Não tinha mais como. Respirei fundo, retirando não sei de onde, todas as forças que me sobravam, que não eram muitas.

Eu ia tomar uma atitude mais drástica, quando mais uma vez, a imagem cor-de-rosa tomou conta da minha cabeça. Não era junto. Nem comigo, nem com ele, nem com Julie e muito menos com essas criança que poderia ser uma realidade. Melhor contar a dúvida que omitir a verdade.

Eu fui caminhando pra porta do banheiro, pensativa, e o sentia me observar todo o tempo. Coloquei a mão na maçaneta, mas antes de abrir a porta, me dei conta de que era preciso ser clara antes de qualquer coisa. Não iria me deixar levar por uma empolgação momentânea. Nossos problemas eram reais, e não era uma possibilidade que iria consertar tudo.

- Eu quero te mostrar uma coisa...- eu disse, com o resto de voz que eu ainda tinha condições de falar. Ele parecia começar a falar, mas o cortei, não me distraindo do meu propósito - mas antes algumas coisas precisam ainda ser esclarecidas...me responde com sinceridade Carter... você realmente acha que esta tudo bem entre nós?

- Sinceramente? – ele veio se aproximando de mim – Nós temos nossas brigas, nossas desavenças, mas Abby.. isso é comum entre todos os casais.

- Hum... – eu respirei um pouco mais aliviada – e você acha certo os seus pais terem essa mania de querem se intrometerem assim na educação que damos a nossa filha?

- Já vem com esse papo de novo Abby? – ele tornou a se exaltar mais uma vez – Por quantos anos você ainda vai repetir isso? Meus pais só querem o bem de Julie.. o que custa dar a ela uma festa melhor?

- Santa família... – eu dei "aquele" sorriso que nunca dava em coisa boa – você fala que não liga pra essas coisas de dinheiro mais é sempre o primeiro a querer usa-lo para comprar sua filha.. – Ops.. talvez exagerei nas minhas palavras. Ele novamente fez aquela cara de antes e saiu andando pelo quarto, batendo a porta com força.

- Você acha que eu sou mesmo tão pequeno pra me usar desses artifícios com a minha própria filha? – ele começou a falar alto, mas logo sua voz foi desaparecendo e eu vi que seus olhos estavam mais uma vez cheios d´água.

- Desculpa.. eu não quis insinuar isso – eu respirei fundo sentindo o meu coração acelerar. Dessa vez eu também tinha ido longe demais.

- Desculpa.. desculpa.. – ele repetiu andando pelo quarto – quantas vezes nós vamos ter que nos desculpar por tudo o que falamos e fazemos?

Eu fiquei quieta pensando comigo. Realmente, ele tinha mesmo razão. Se olhássemos pra trás, iríamos ver muitas "desculpa" e poucos "eu te amo". Que vida era essa? Que estávamos fazendo com a nossa filha e com nós mesmos?

- Você tem razão, Carter - ele olhou incomodado pra mim. Talvez ele mesmo não quisesse ter razão - acho que chegou a nossa hora, Carter- eu disse isso e uma parte de mim saiu junto com aquelas palavras. Acho que essa foi a frase mais difícil que eu disse em toda a minha vida.

- Hora?- talvez ele não tivesse entendido, talvez não quisesse entender. Eu só sei que ele me olhou como nunca, meu rosto molhado pelo choro. Ele me olhou talvez como na primeira vez que ele me salvou. Me salvou do mundo, da infelicidade e da amargura.

Mais uma lágrima escorreu e eu percebi que não teria que dizer mais nada. Ele entenderia meu recado, eu sei disso. Voltei para a idéia inicial, abrindo a porta, localizando logo o papel, ainda sinalizando o POSITIVO.

Percebi que ele não entraria se eu não o chamasse.

- Vem cá - eu disse, com a voz quase que nula. – eu tenho algo pra você em cima da pia...

Continua