Desci pra sala novamente. Olhei o relógio. Faltava pouco tempo e teríamos que sair em breve pra levar Maggie. Fiquei na dúvida se obrigava Julie a ir, ligava pra Susan... Enquanto eu pensava vi que Maggie descia com as malas.

- Que burrada que fui fazer...- eu disse pra que ela escutasse.

- Não vou discordar, não...- ela foi até perto de mim- mas entenda, ela tá fazendo de tudo pra chamar atenção e te provocar...É normal..

- Mas eu não posso deixar que ela me trate assim, mãe!- eu buscava a resposta que eu queria ouvir.

- Eu sei, você está certa. Mas não é por aí...procure entender mais o lado dela, filha..- ela sentou do meu lado e pegou na minha mão.

- Vou chamá-la pra vir com a gente...- eu disse e me levantei, logo ouvindo a campainha tocar- ué, quem será?- eu olhei estranhando para Maggie que disfarçava um pouco.

Fui até a porta e me assustei ao ver que era quem eu mais esperava agora: Susan.

- Que você tá fazendo aqui?- eu nem a cumprimentei. Minha surpresa era nítida.

- Eu vim assim que sua mãe ligou...- ela disse e eu vi Maggie arregalar os olhos.

- Minha mãe ligou? – eu mais que afirmei do que perguntei.

- Ela disse que Julie não tinha com quem ficar enquanto você a levava pro aeroporto... – ela desviava o olhar entre mim e a minha mãe - então eu disse que poderia busca-la...

- Busca-la? – eu cruzei meus braços olhando agora pra Susan – eu nem sei se ela merece isso...

- Deixe de ser besta Abby.. – Maggie fala cumprimentando Susan – obrigada pela ajuda.. se ela não agradece eu agradeço...

- Estamos pro que precisar... – ela me encara e eu já sabia o que ela ia perguntar – como você esta levando isso?

- Do jeito que eu posso... – tento dar um sorriso em vão. – prometo pega-la assim que eu deixar minha mãe.. não vai demorar nadinha..

- Sem pressa.. – ela pisca e olha pras escadas. – Cadê ela!

- Deve estar lá em cima chorando.. – eu passo minhas mãos no meu cabelo e começo a rir pra não chorar de novo. – é só isso que rola nessa casa agora..

Depois da minha leve "piada" percebo que as duas ficaram sem reação. Tudo bem.. quem se importa com isso? Começo a subir as escadas e vou atrás de ajeitar Julie para que Susan a levasse.

Abri a porta e a vi, ainda na mesma posição, de costas para a porta.

- Julienne...- eu a chamei pelo nome todo para ela saber que mesmo eu fazendo sua vontade, não estava tudo bem- tia Susan tá aqui- eu esperei que ela olhasse pra mim- vem trocar de roupa pra você ir com ela.

Ela levantou da cama imediatamente, para ver se era verdade.

- Tia!- ela correu pro colo de Susan- que bom que você veio!- ela a abraçou pelo pescoço exatamente como fazia comigo quando estava manhosa.

- Vim, sim. Mas não tô gostando nada dessa história de você brigar com a mamãe, não...- Susan piscou pra mim e eu sorri um pouco.

Ela ficou com aquela carinha um tempo e depois começou com a manha de novo.

- Tia...- Susan a olhou. Nisso eu já estava pegando as coisas dela e um agasalho. A chuva não perdia tempo e o temporal estava se formando- já que você veio até aqui..bem que podia ficar aqui, assistindo filme comigo- ah, eu não estava ouvindo isso! Que folgadinha essa minha filha...

- Julie, sua tia tem dois filhos, um marido e uma casa pra cuidar. Ela não é sua babá.

- Ah, mas é legal ficar aqui, não é tia?- Susan olhou pra mim, sem saber o que responder. Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, ouvi Maggie entrar novamente no quarto.

- Abby, vamos? A gente vai se atrasar...- ela disse, procurando algo na bolsa.

- Aham- eu disse, ainda vendo como poderíamos ajeitar a situação- só vou trocar de roupa - eu corri no quarto e troquei de calça. Ia até tirar o moletom dele, não queria ficar desfilando por aí com ele... Mas estava tão frio e aquele cheirinho de Carter me fazia tão bem que resolvi deixar, afinal eu só iria deixa-la e voltar pra casa. Olhei pros lados e vi que a bolsa continuava na sala. Tornei a sair do quarto e vi Susan sentada na cama com Julie.

- Vou ficar aqui com ela... – ela me encara antes que eu falasse algo. – já liguei pro Chuck avisando..

- Não tem problema mesmo Susan? Você não deve se privar de ficar com seus filhos so por causa dela não... – eu olho pra Julie que me encarava ainda com certo receio - ela pode muito bem ir pra sua casa..

- Eu já prometi a ela.. – ela sorri para Julie - vai com sua mãe.. depois eu preciso falar com você com mais calma..

- Ta certo.. – eu me aproximo delas e me abaixo beijando Julie e passando a mão no seu cabelo – se comporte.. por favor...

Ela acena se abraçando a Susan e eu me viro para sair do quarto.

- Mãe.. – Julie me chama e eu me viro pra ver o que era – fala com o papai... manda ele ligar pra mim... fala que eu to pedindo pra ele voltar porque a gente ama muito ele..

Eu olho pra Susan que encarava Julie com um olhar. Eu respirei fundo e tentei sorrir ainda olhando pra ela.

- Mamãe vai ver o que pode fazer.. – sai sem olhar pra trás. Desci as escadas e achei Maggie recostada a porta. Peguei a minha bolsa, as chaves do carro e abri a porta vendo a chuva que já caia lá fora.

Corri pro carro e abri a porta pra que ela entrasse depressa também.

- Ufa!- ela disse entrando no carro e colocando as malas no banco de trás- que chuva, hein?

- É...- tipico diálogo de quem não tem assunto.

Liguei o carro e fui pro aeroporto. Milagrosamnte o trânsito estava calma e não tivemos problemas pr chegar lá. No meio do caminho ela veio falando de Eric e do serviço dela, nunca tocando no assunto da minha família. Nem eu fiz questão. Em pouco tempo lá estávamos nós numa sob uma chuvarada, tirando as malas do carro. Nem um guarda-chuvas nos passou pela cabeça de trazer.

Peguei minha bolsa e ativei o alarme do carro, pegando uma mala pra entrar no lugar. Ela foi até o balcão e eu a esperei perto da área de embarque. Ainda faltavam alguns minutos para a última chamada e por isso nós sentamos por mais alguns instantes.

- Bom...Assim que eu chegar eu dou uma ligada, ok?- eu acenei- então, tocando pela última vez no assunto...- ela parecia um pouco insegura em perguntar, mas mesmo assim o fez- abriu o exame?

- Ainda não...- eu disse, sem encará-la demais.

- Ai, Abby...Só você mesmo..Como é que você consegue?- ela fez uma expressão que trouxe nós duas pro riso.

- Prometo que assim que eu sair daqui eu vou olhar... – eu segurei minha bolsa lembrando que estava com ele em mãos.

- Espero que sim.. – ela sorri ouvindo a chamado do vôo - e espero que você coloque essa sua cabecinha em ordem não importando o que venha escrito nesse exame..

Eu sorrio e ela se levanta da cadeira pegando uma mala.

- Bom.. chegou minha hora.. – eu me levanto e ela me puxa pra um abraço forte – releve as coisas Abby... ouça o seu coração.. não faça nada do que você venha se arrepender... – nós nos afastamos e ela me encara seria - eu espero que você saiba o que esta fazendo...

- Ate mais mãe.. – eu aceno e ela começa a andar rumo ao portão de embarque.

Saio andando pelo aeroporto e penso duas vezes antes de voltar pro carro. A chuva havia piorado... mas eu tinha que ir pra casa pra Susan poder ir cuidar das suas coisas. Começo a andar na chuva ate o carro. Nem me dar trabalho em correr eu me dei.

Desativei o alarme e me sentei no banco do motorista colocando a chave para dar a partida no carro. "Espero que você saiba o que esta fazendo". Será que isso era uma piadinha vinda da minha mãe? Porque definitivamente, se eu soubesse o que estou fazendo não estaria no estado que estou.

Abro a minha bolsa e penso em acender um cigarro. Só ele para me fazer esquecer que eu estava toda molhada e ainda por passar por muitas coisas na minha vida. Procurando pelo cigarro me deparo com o bendito exame. Porque eu não tinha deixado ele em casa mesmo? Largo o cigarro de lado e pego o exame encarando o meu nome naquele papel branco.

Não tinha mais como adiar. Pra que eu ia ficar me torturando mais? O resultado estava lá. Ele não iria se modificar ou sair andando por aí. Peguei na etiqueta e fui abrindo normalmente. Peguei a folha de dentro, ainda no verso. Respirei fundo e pedi a quem quer que fosse para ver algumas letrinhas juntas dizendo "n.e.g.a.t.i.v.o".

Fechei os olhos e virei o exame, colocando-o na altura da minha visão. Eu comecei a sentir um frio na barriga como muitos que já havia passado.A mesma emoção de quando John e eu nos casamos. A mesma sensação de quando fui saber se estava grávida de Julie. A mesmo friozinho de quando percebi que estava entrando em trabalho de parto...

O coração disparado como quando Julie disse a primeira palavra, andou seu primeiro passo, teve sua primeira doença.Tudo aquilo passou na minha cabeça e eu fui abrindo os olhos aos pouquinhos.

Continua..